Hopeless escrita por vivian darkbloom


Capítulo 13
Capítulo XII - Nem Tudo Se Resolve Com Mágica.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, mil perdões pela demora! Eu não sei se todo mundo leu o aviso no tumblr, então vou colocar aqui também:esse mês que eu passei sumida foi necessário.

Primeiro, eu precisei terminar meu TCC, como eu já havia comentado com vocês (e adivinhem só, eu tirei nota máxima!) e também cuidar de mim - o ensino médio exige muito da gente e, quando temos depressão, exige em dobro. Eu cheguei ao final dele exausta e precisava me cuidar e, além disso, me acostumar com a vida adulta que, confesso, é assustador.

Maaas a fanfic voltou com tudo! Só peço que o pessoal sumido, que veio me explicar porque não está comentando, dê as caras por favor, eu preciso saber quem vai continuar e tudo mais.
Além disso, dia 5 eu vou postar uma interativa nova, sobre a primeira geração, espero que gostem!

Boa leitura!



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Franklin Boutrod.

O natal há muito havia passado, deixando para trás um ar estranho a todos os jovens – era a eminencia de que talvez aquela fosse a última vez que estariam reunidos com suas famílias e amigos sem a eterna desconfiança de qualquer sombra que se passasse ao lado.

E tão rápido quanto veio, também se passou o ano novo. Não é costume dos bruxos comemorar a virada de ano com festas tão grandes quanto dos nascidos trouxas. As famílias mais tradicionais, principalmente, se concentravam em preparar a volta dos filhos à escola nos dias seguintes.

Assim, no dia 3 de janeiro todos os estudantes de Hogwarts já estavam de volta ao conhecido expresso, ansiosos por já terem passado da metade do ano letivo.

Franklin Boudrot estava em sua cabine, em meio aos vagões destinados a Corvinal, tão frustrado quanto no início de suas pequenas férias. Em seu colo, o antigo livro intitulado A Obliquidade das Brumas – Volume Único, repousava aberto, com uma folha cheia de anotações ao lado.

Mais uma vez, ele resistia ao impulso suave que vibrava em sua mente para jogar o objeto longe, irritado com sua complexidade. Havia passado o final do mês de dezembro trancado em seu quarto durante todo o tempo que seus pais permitiam, afundando-se nas páginas velhas, amareladas e indecifráveis.

Celine e Augustus Boudrot viam isso como mais uma demonstração da verdade irrefutável que, durante todos os seus anos em Hogwarts, tentaram negar: o filho era um corvino nato. É claro que isso apenas gerou mais brigas, onde calorosos insultos foram trocados. A raiva ainda lhe esquentava o sangue, cada vez que sua doce família o lembrava que havia quebrado a sagrada tradição deles -  havia sido o único a não entrar para a Sonserina e, de quebra, conseguiu ganhar o desprezo dos pais e a rivalidade com Draco, que costumava ser seu melhor amigo.

Draco. Pensar nele lhe trouxe mais uma pontada de ódio que fez o livro ser fechado com uma certa violência. Se o loiro idiota não tivesse se virado contra si, quando notou que ambos eram tão diferentes quanto um centauro e uma sereia, então definitivamente ele teria uma ajuda extra com aquelas linguagens complexas – até onde sabia, e ele sabia muito, os Malfoy eram instruídos em diversos idiomas.

Mas de nada adiantava lamentar a ajuda que poderia ter tido agora. A amizade infantil que tinham, alimentada pelas proximidades de seus pais, havia sido morta pela arrogância e estupidez do sonserino. E embora sua mãe mantivesse fotos das duas crianças juntas espalhadas pela casa, como uma tentativa de chegar até o lado mais emocional de Frank, ele sabia que o que tinham jamais poderia ser remendado, deveria permanecer enterrado a sete palmos com todos os segredos que, um dia, ambos dividiram.

— Atrapalho? — Ele estava tão distraído que não notou quando a porta de seu vagão se abriu e Tessa colocou a cabeça para dentro, observando-o curiosa, com seus belos olhos de duas cores.

— Não, claro que não — respondeu, tirando a mochila do banco e recolhendo seus pergaminhos para que ela pudesse sentar.

 — Ainda com esse livro? — Esticou a mão para a capa, mas recuou. Sabia que o garoto não gostava quando tocavam em seus objetos particulares. Porém, era claro que já havia captado algumas palavras de suas anotações antes que pudesse esconde-las.

— Estou tendo... dificuldades, digamos assim — deu de ombros, tentando fingir que não era nada.

— Bem, se precisar de ajuda, eu posso tentar — ofereceu, sem desviar o olhar da capa, analisando cada centímetro dela. Não havia muito para ver, na verdade – era simples, com apenas o nome já desbotado gravado em letras cursivas. Sem símbolos que chamassem a atenção ou qualquer tipo de referência ao autor.

Frank hesitou mais de uma vez, abrindo e fechando a boca. Para sua sorte, em momento algum a garota prestou atenção em seu rosto. Bem, era claro que realmente precisava de uma mente extra que pudesse lhe oferecer uma luz.

Além disso, que mal havia em dividir o livro com Tessa? Isso não significava que ela saberia o que houve na floresta, com Soren, muito menos a faria suspeitar dele de alguma maneira. E, afinal, o garoto havia falecido. Sua busca agora era por pura curiosidade, não mais uma tentativa de ajuda-lo. No máximo, de fazer justiça a sua morte.

— Pois bem — concluiu, por fim — o livro está escrito em três línguas diferentes. Inglês, obviamente, latim e alguma que até agora não consegui reconhecer. Algumas partes do latim eu pude traduzir, mas é impossível entender um feitiço ou sequer uma receita de poção inteira.

— Posso ver? — Ela perguntou, visivelmente ansiosa e curiosa pelo objeto que parecia ter sido tão bem estruturado pelo seu dono, quem quer fosse.

Ele concordou com um aceno, entregando-a lentamente o livro. Tessa passou alguns segundos com a ponta dos dedos circulando o título, como se pudesse extrair algo a mais dele. Por fim, com um suspiro, abriu a capa, lendo lentamente o verso que já havia decorado de tanto que repetiu nos últimos dias.

“Aqueles que se aventuram devem ter cuidado,

Segredos aqui inscritos jamais poderão ser repassados.

Leia, estude e reflita,

E somente com certeza e necessidade, execute.”

Franzindo a testa, a garota se dispôs a folha-lo, tentando absorver o máximo de informações que conseguia. Era como se um rio passasse diante dela, suas mãos ansiavam por tocar a água límpida que via em sua frente, mas uma névoa obscura a impedia.

— Interessante... — sussurrou, após passar um bom tempo alterando o olhar entre as páginas gastas e as anotações de Frank.

— O que? — Questionou, imediatamente, se inclinando para ficar mais próximo. Suas cabeças estavam lado a lado, as testas igualmente franzidas.

— Você tem uma pena e tinta consigo? — Pediu, ignorando suas dúvidas. Conhecendo-a bem, não insistiu, apenas abriu a bolsa que sempre carregava e puxou um pequeno tinteiro portátil e uma pena de anotações.

— Obrigada — suas mãos rapidamente começaram a rabiscar junto as anotações dele e, embora sentisse-se extremamente incomodado por isso, conteve os resmungos e reclamações.

Tessa adicionava coisas, trazia uma maior diversidade e pluralidade as suas descobertas. Eles passaram minutos assim – ela em uma profunda reflexão encarando as primeiras páginas do livro, parando apenas para escrever freneticamente ou resmungar alguma cosia consigo mesma e ele lhe observando, com uma animação que, contra seu gosto, lhe subia até o peito e o enchia de esperanças.

Seria ela a luz que iluminaria toda situação confusa em que havia se posto?

— Bem, eu acho que consegui entender um pouco do início dessa primeira poção e, pelo visto, possuí ingredientes proibidos — explicou, lhe estendendo o pergaminho preenchido agora pela sua caligrafia mais cursiva. Seus olhos brilhavam de expectativa, mas, ainda sim, de maneira contida. Nenhum dos dois gostava de colocar esperanças em coisas vãs.

— Uau, não sabia que você entendia tanto de latim assim — disse, surpreso, vendo que a menina havia decifrado quase todo o material e uma parte do modo de preparo.

Ela deu de ombros, não querendo se gabar, mas visivelmente orgulhosa de seu trabalho.

— É uma pena que eu desconheça essa terceira língua, talvez pudéssemos achar coisas bem interessantes...

Você não faz ideia, pensou, lembrando-se de já ter folhado aquele livro mais vezes do que ela poderia imaginar e memorizado os nomes e partes de encantamentos que tinham poderes que nunca havia sequer ouvido falar.

— Para sua sorte, entretanto, conheço alguém que pode nos ajudar — disse, quase pulando no lugar.

— Não! — Rapidamente negou, puxando o livro do colo dela. — Nem pensar, nem você deveria saber disso, muito menos uma terceira pessoa.

— Mas...

— Não, Tessa. — Sua voz saiu firme, decidida, em um tom que faria qualquer pessoa recuar. Qualquer pessoa, exceto ela.

A jovem ergueu o rosto desafiadoramente, olhando irritada para ele.

— Eu não sei porque você está protegendo tanto isso e nem quero saber — começou, revirando os olhos. — Mas parece ser importante. E você não vai chegar a lugar algum, mesmo comigo do seu lado, sendo teimoso desse jeito. Assume que você precisa de ajuda e eu sei como conseguir.

— Tem coisas proibidas aqui, Tessa! Se alguém coloca as mãos nisso e quer usar para algo indevido, a culpa vai recair sobre a gente — argumentou, erguendo o rosto tanto quanto ela.

Se teimosia era uma qualidade corvina, ambos não podiam negar que eram dessa casa até o último fio de cabelo.

— Ela não vai fazer nada, Frank, só traduzir.

— E como você pode saber? Hein? — Questionou, irritado. — Nós sempre achamos que conhecemos uma pessoa, até ela nos trair. E todo mundo pode trair todo mundo, Tessa.

O olhar dela, nesse momento, vacilou. Respirando fundo, desviou o olhar de seu rosto irritado. Sabia que, em partes, ele estava certo, mas seu orgulho jamais permitiria assumir isso.

— Eu confio nela — respondeu, simplesmente.

Ambos se calaram, nenhum querendo dar o braço a torcer. Porém, o garoto precisava assumir: se Tessa confiava na pessoa, era um fator a ser considerado, visto que a mesma raramente agia assim com alguém, sua confiança era tão preciosa a ela quanto os livros raros em sua biblioteca — jamais tocada, jamais entregue de graça.

— Tem certeza? — Perguntou, sem querer demonstrar que, talvez, não achasse a ideia tão absurda assim.

— Absoluta — confirmou, acenando rapidamente. — Olha, não precisamos mostrar tudo, só algumas páginas e ver se ela consegue traduzir. Escolhe o que você acha importante e a gente vê se dá certo ou não.

Relutante, Frank abriu o livro novamente, passando pelas páginas já familiares. Quase no final dele, havia um feitiço pequeno, preenchido em sua maior parte pelo idioma desconhecido. O que ele pode traduzir eram fragmentos que diziam:

“ – Feitiço de memória invocativa”

“Pode ser feito em qualquer lugar”

“Quando a lua cheia atingir o seu ponto mais alto no céu, o bruxo precisa estar concentrado, canalizando toda a sua magia para trazer suas imagens a tona. ”

“Cuidado, o passado traz inúmeras lições, mas carregam dores que podem ser impossíveis de se levar adiante. ”

Puxando sua varinha, ele pegou um pergaminho em branco e o colocou do lado do livro.

Codices.

Rapidamente, todas as inscrições passaram para o papel, o preenchendo com uma tinta escura e mais vibrante que o original.

— Não vou entregar o livro a quem quer que seja — explicou, já o colocando cuidadosamente na mochila, junto com todas as anotações. — Isso deve ser o suficiente para traduzir.

— Com certeza — ela concordou, levantando em pulo. — Vamos?

— Agora?

— Você tem algum compromisso por acaso? — Perguntou, irônica, fazendo o revirar os olhos para si. A verdade é que ele tinha pressa também, por isso nem ousou questionar enquanto Tessa abria a porta rapidamente e pulava para o corredor, passando por diversos alunos.

— Onde estamos indo? — Se apressou um pouco para andar ao lado dela, que mantinha um passo determinado e controlado.

— Aqui — disse, apontando o dedo para um compartimento fechado. Sem bater ou chamar antes, ela abriu a porta, o puxando para dentro. — Sophie, que bom que está sozinha.

— Ah não... — Frank resmungou baixinho, assim que viu a menina de cabelos loiros. Ela ergueu o rosto de uma revista e sorriu, calorosamente, para Tessa.

— Oi Tess, tudo bem? — Se estava incomodada ou assustada pela interrupção bruta, não demonstrou, apenas fez sinal para que se sentassem.

— Na verdade, preciso de sua ajuda.

O garoto resistiu ao impulso de dar meia volta e ir para seu próprio vagão. Nunca havia simpatizado com a Lewis – era adorável em todos os momentos e isso o incomodava. Como alguém poderia ser tão educada sempre? Além disso, pessoas como ela o intimidavam, nunca se sabe o que guardam abaixo de um rostinho bonito.

— Minha ajuda? Para que? — Era claro que sua atenção havia sido imediatamente cativada, visto que até inclinou o corpo em direção a eles.

— Você conhece esse idioma? — Tessa estendeu a folha, animada com a ideia de conseguir um progresso.

Sophie analisou a página por um longo momento, lendo e relendo as linhas diversas vezes e franzindo a sobrancelha de leve.

— É galês, que estranho... normalmente as pessoas preferem se manter só no latim ou até grego — seus dedos passavam pelo pergaminho, um tanto admirada — de onde conseguiram isso?

— Achamos — Franklin mentiu rapidamente, embora fosse óbvio pelo olhar dela que a mesma não acreditava nisso nem um pouco. — Você pode traduzir?

— Claro! — Respondeu, animada. — Vou precisar de uns dois dias, para consultar alguns dicionários, tem umas palavras que eu não conheço e é realmente uma língua pouco estudada, mas... consigo sim.

— Genial — Tessa elogiou, o que era raro vindo de si.

Merlin, pensou Franklin, torcendo o nariz para os sorrisos trocados de ambas, faça isso valer a pena.

Phillipa Lane.

De todos os locais que poderiam se usar para conversar em Hogwarts, o jardim era o mais adequado – não haviam paredes que pudessem deixar escapar seus segredos e qualquer pessoa dificilmente se aproximaria sem ser notada.

Para tanto, sempre estava cheio de alunos, se juntando em grupos para deixar escapar as últimas novidades de suas vidas no castelo. Bem, quando se coloca tantos jovens para conviver, é inevitável que diversas coisas proibidas ocorram.

Assim, Rigel arrastava Phillipa pelo gramado, até estarem perto o suficiente do lago e longe de todos os outros alunos, para que pudessem conversar sem serem notados.

— Então, você quer finalmente me explicar essa história de “eu transei com Draco Malfoy”? — Ele questionou, ansioso pela bomba que a amiga havia lhe jogado e nunca mais tocado no assunto.

Ela levantou os olhos, surpresa pelo modo direto dele.

— Rigel, só aconteceu...

— Nada nesse castelo acontece, você sabe bem.

— Bem, não tem muito o que explicar, você sabe como é... Além disso, quem anda estranho ultimamente é você — tentou desconversar, enquanto a ponta do sapato brincava delicadamente com a grama.

— Phillipa! — Reclamou, sentando-se no chão e olhando irritado para ela. Fez um gesto para que lhe acompanhasse, mas a jovem permaneceu impassível, desejando correr para longe.

Após refletir por alguns segundos, ela soltou um suspiro, sabendo que de nada adiantaria fugir.

— Okay, okay — se deu por vencida, sentando-se ao lado dele e evitando seu olhar. — Eu fui em uma festa na Sonserina, fiquei bêbada e aconteceu.

— Você estava bêbada? Pippa, isso é muito errado! — rebateu, olhando um tanto nervoso para ela. Rigel não era a pessoa com mais consciência do mundo, mas sabia que isso era uma coisa que jamais se deveria fazer.

— Calma, ele também estava — explicou, visivelmente arrependida. — Não acho que nenhum dos dois soubesse direito o que estavam fazendo, até que eu acordei pela manhã na cama dele.

— E ninguém viu você lá? — Os alunos de Hogwarts eram especialistas em espalhar uma fofoca, a última coisa que ele queria era sua melhor amiga envolvida em um boato desse tipo.

— O dormitório estava vazio, acho que cada casal foi para um canto, só me viram de manhã, quando eu saí e o Fimmel estava na sala. — Seu rosto ficou ainda mais corado, lembrando-se de como se enrolou inteira para disfarçar para ele o que realmente fazia naquela sala.

— Então ele sabe?

— Não sei... eu pelo menos, não contei, mas Draco é melhor amigo dele, não é? A Sonserina inteira já deve saber, Rigel.

Ela balançou a cabeça, triste. Não gostava de falar sobre isso, era um grande arrependimento a forma como as coisas tinham ocorrido e tudo que queria era voltar no passado e desfazer esse erro.

Desde aquele dia, ela evitava o Malfoy, tentava não olhar para a cara dele e buscava qualquer meio de fugir sempre que estavam no mesmo lugar. Era irracional, até porque duvidava que o garoto lembrasse do seu nome.

— Eu sinto muito, Pippa — disse, tentando passar confiança na voz, mas conseguindo apenas um balançar de cabeça dela.

Era tão estranho vê-la desanimada por algo, pois normalmente a jovem possuía o brilho e animação do próprio sol. Naquele instante, entretanto, uma nuvem pesada lhe impedir de expressar algo que não fosse um lamento por seus erros.

— Tudo bem, o erro foi meu e além disso, nunca mais vai acontecer algo do gênero — Merlin era testemunha que jamais queria ver uma gota de álcool na sua frente, depois dessa lição.

— Eu estou aqui com você, de qualquer maneira — ele sempre foi meio sem jeito em expressar as coisas que sentia, então de maneira cálida se limitou a segurar a mão dela e demonstrar algum apoio.

— Obrigada... agora, você quer me explicar o porquê anda tão... arisco, para dizer o mínimo? — Nos últimos tempos, Rigel vivia se escondendo pelos cantos, como se tivesse medo que alguém arrancasse algo de si.

Um segredo, talvez ou coisa pior, ela não saberia dizer. Não estava acostumada com as pessoas agindo dessa maneira misteriosa consigo.

Além disso, inúmeras vezes ele desaparecia por horas e só voltava no salão comunal tarde da noite, com uma expressão cansada e até mesmo com machucados.

— Isso é conversa para outra hora — respondeu, dando de ombros, mas visivelmente mais desconfortável. Tirou a mão da dela e ajeitou o casaco, olhando fixamente para o lago diante deles.

— Rigel, o que quer que seja, você pode me contar. — Incentivou, buscando faze-lo se abrir. Se havia alguém no mundo difícil de entender, era ele.

— Não, não posso...

— Nós somos melhores amigos, você geralmente me conta tudo!

— Eu sei! Mas isso... — a voz dele hesitou, de uma maneira tão nervosa que a deixou ainda mais desconfiada e temerosa. No que diabos ele havia se enfiado? — Isso é mais do que você imagina, sério.

— Se você está se colocando em perigo, eu posso ajudar — ofereceu, sentindo um arrepio tomar seu corpo. Não era ignorante de desconhecer como o mundo andava nos últimos tempos.

— Ninguém pode me ajudar — aquela frase, tão simples e banal, gelou o coração de Pippa. Para tudo na vida havia uma saída, mesmo que a mais temorosa delas.

— Rigel, me explica...

— Às vezes, a ignorância é uma cama leve e protetora contra problemas, Pippa — aconselhou, ainda evitando seu olhar. — Então cubra-se com ela e, por favor, não insista no assunto.

— Tudo bem — concordou, balançando a cabeça de leve e dando-se por vencida. Sabia que quando queria, ele poderia ser bem insistente.

Bem, mesmo que não tivesse a mínima ideia do que era, ela sabia: não parecia nada bom. E tudo que a jovem podia fazer era temer pelo garoto que, inevitavelmente, sempre fazia péssimas escolhas.

Lyra Lestrange.

O ritmo escolar voltou tão rápido quanto esperado. Não havia tempo a perder, com os NOMs e NIEMs tão perto. Assim, naquela tarde, todos os jovens de Hogwarts já estavam em suas salas, muito bem acomodados.

Assim, os alunos da Sonserina se amontoavam para mais uma aula de poções, junto com a turma da Grifinória. Naquela manhã, Snape havia separado-os em trios, deixando um ingrediente em casa mesa. Todos olhavam curiosos para as rosas brancas que lhes eram entregues.

Lyra Lestrange estava entre eles, ansiosa para voltar ao ritmo de seus estudos. Estava montando trio com uma garota da Grifinória e uma jovem de sua própria casa, Lara Meyer, ambas olhando ansiosas para o professor esperando qualquer instrução.

A jovem Lestrange, entretanto, examinava a flor atentamente: ela não parecia ter nenhuma propriedade magica, mas ela sabia que não deveria subestimar. Seus livros de herbologia avançada sempre avisavam que, muitas vezes, o mais poderoso encantando se esconde no ramo mais simples.

— Muito bem, espero que essas férias tenham servido para que adquirem o mínimo razoável de conhecimento, mas suspeito que apenas tenham amarrotado a cabeça de mais inutilidades — o professor começou, com seu jeito carinhoso de dar boas-vindas. — A flor na frente de vocês é a Rosa Gélida, alguém pode me dizer algo sobre?

Várias mãos se levantaram ao mesmo tempo, mas Lyra congelou no lugar. Sabia exatamente o que era aquilo, para o que servia e até mesmo suas funções proibidas – havia passado quase o último ano inteiro tentando entender como potencializar seus efeitos, embora jamais tivesse chegado perto de uma de suas pétalas.

Vê-la ali, na sua frente, trazia um pouco de arrepio.

— Aparentemente é uma rosa branca comum, porém cresce entre o gelo das regiões mais frias do planeta, possuindo uma tonalidade azul que se dissipa quando é colhida. É utilizada no controle de diversas doenças — respondeu uma aluna da sonserina, cujo qual Snape havia escolhido.

— 15 Pontos para a Sonserina. — Ele rodopiou pela sala, fazendo a capa ondular atrás de si enquanto ia em direção a própria mesa. — Agora, qual é a sua ligação com a doença de Gwaed?

Lyra conteve uma exclamação de surpresa. Nunca imaginou que estudariam sobre isso. Ela virou o rosto discretamente em direção a prima, notando que Lyanna, ao lado dela, havia feito o mesmo. Mas se a Malfoy havia escutado a pergunta, não demostrou, continuando olhando impassível para frente.

— A doença crônica de Gwaed foi descoberta há séculos atrás e, claramente, não possuí cura nem tratamento a longo prazo, porém muitos curandeiros utilizam a Rosa Gélida para amenizar seus sintomas. — Respondeu Lara.

“Graças a Merlin, é tão rara que poucos bruxos nasceram com ela, porém rumores dizem... bem, rumores dizem que a família Black tem o sangue amaldiçoado e a doença pode se manifestar em vários de seus integrantes. Principalmente mulheres. Causa fraqueza e dores extremas, diminui a fertilidade e, em seu estado mais grave, causa sangramentos tão fortes que podem levar a morte.”

Lyra queria jogar a garota para fora da sala por ter mencionado sua família, graças a ela inúmeros olhares se dividiam entre a Lestrange e Malfoy.

Idiotas, pensou, desejando levantar e se aproximar de sua prima.

Para sua sorte, a doença havia se dissipado conforme os Black pararam de se casar entre si e começaram a se misturar com outras famílias de sangue-puro. Apenas um trauma físico grandioso poderia fazer a Gwaed se manifestar.

Áquila, infelizmente, era a prova do quão verdadeiros eram esses rumores.

— Hoje vamos preparar uma poção calmante e ela é o principal ingrediente, podem começar. — Anunciou, acenando com a varinha para que os ingredientes aparecessem na lousa.

Lyra trabalhou em silêncio, vez ou outra erguendo o olhar para conferir se estava tudo bem na mesa de sua prima. Para sua sorte, Lara era muito boa em poções e ambas conseguiram criar perfeitamente o que o professor havia pedido.

Ela ficou extremamente grata quando finalmente o sinal tocou e pode sair da sala apressadamente, se juntando ao resto do seu grupo.

— Você está bem? — Perguntou, assim que se aproximou de Áquila.

— Claro, por que não estaria? — Ela deu de ombros, continuando a andar, embora sua postura estivesse claramente rígida e ansiosa. Lyra ergueu o olhar para Charles ao lado dela, que apenas balançou a cabeça.

Ambos sabiam que não adiantava insistir.

Para a sorte de todos, os dois tempos de poção vinham logo antes do almoço, então caminhavam animados pelas escadas que levavam ao Salão Principal.

Lyra andava distraída, parcialmente prestando atenção na conversa de seus amigos, quando sentiu alguém esbarrar em seu ombro de maneira um tanto grosseira.

— Ah, me perdoe! — Exclamou o jovem, assim que ela se virou.

Por um instante, a confusão tomou o rosto da garota. Conhecia quase todos em Hogwarts, principalmente aqueles que estavam no mesmo ano que o seu. Mas ele era totalmente desconhecido, embora houvesse algo de familiar em seus cabelos ruivos.

— Claro, sem problemas — respondeu, ganhando um sorriso do mesmo, antes que ele virasse as costas e continuasse seu caminho.

— Quem era ele? — Jonathan perguntou, sem que ela percebesse que estava parado ao seu lado o tempo todo, também olhando para onde o desconhecido havia seguido.

— Não tenho a mínima ideia — disse, balançando a cabeça de leve.

— É Alecxander Fraser — Áquila se intrometeu entre ambos, com um sorriso brincalhão no rosto. — Por quê? Acharam bonito?

— Claro que não! — Responderam os dois ao mesmo tempo, enquanto Lyra corava fortemente. Era óbvio que ele era consideravelmente mais bonito que os alunos de sua turma, mas ainda sim ela não estava prestando atenção nisso.

— Só achei que havia algo de familiar nele — disse a garota, tentando justificar, embora só conseguisse fazer a prima sorrir mais.

— É porque ele é primo dos Weasley, deve ter reconhecido o cabelo ruivo — revirou os olhos, claramente com desprezo.

— O que você tem contra ruivos? — Perguntou Jonathan, enquanto voltavam a andar.

— Tenho meus motivos, mon chéri — respondeu, acentuando um pouco o sotaque francês da família.

— Mas nunca o vi aqui antes — Pansy falou e, se ela também notou isso, é porque com certeza ele jamais havia colocado os pés em Hogwarts até aquele ano. Não havia uma alma sequer naquela escola que fugisse dos olhos bem treinados de Parkinson.

— Foi transferido de Ilvermorny, aquela escola americana. Se eu não me engano, entrou direito para a Corvinal — disse, gesticulando um pouco enquanto entravam no Salão e iam em direção à mesa da Sonserina.

— E como você consegue saber tanta coisa? — Dessa vez, Charles a questionou, surpreso com todas as informações da namorada.

— Bem, é o que meu pai sempre diz: dinheiro gera status e conhecimento gera poder — ela deu de ombros, sentando-se na frente de Lyra. — E eu aprecio os dois.

— Brilhante — ele elogiou, enquanto o resto da mesa ria da frase da garota. Era tão típico dos Malfoy dizer algo assim que ninguém se surpreendia mais.

Lyra se sentia extremamente alegre e satisfeita enquanto servia-se de algumas batatas. Era bom estar de volta a Hogwarts.

O tempo que havia ficado em casa havia sido exaustivo, como geralmente costumava ser – nos primeiros dias, ela sentia-se sempre deslocada dentro da mansão, que era grande demais para poucos habitantes. Lá, nos corredores vazios e noites solitárias, seus pensamentos eram como um veneno que lhe corroía aos poucos e, vez ou outra, pegou-se fugindo para a biblioteca em busca de ocupar sua mente.

Ajudar sua tia com os preparativos de natal havia sido uma boa distração também, se não fosse pelo colapso de sua prima naquela noite e a gradual piora nos últimos dias.

Ela andava particularmente petulante desde então, graças a insistência de Lucius para que não voltasse a Hogwarts e terminasse os estudos em casa, onde os olhos atentos de Narcissa jamais a deixavam por muito tempo.

Claro que isso rendeu uma longa discussão, com gritos de todas as partes, que fizeram pai e filha ficarem olhando feio um para o outro durante dias. A Lestrange conteve mais uma risada ao lembrar – eram tão parecidos em teimosa que chegava a ser cômico.

Imaginou se com seu pai seria da mesma forma, mas não podia afirmar. Ele e Bellatrix foram presos quando ela era nova demais para sequer criar uma memória concretas deles – todas as informações que tinha vinham de sua tia, que sempre enfatizava a semelhança da mesma com a mãe.

— Lyra! — Ouviu Jonathan lhe chamar alto, despertando-a de seus pensamentos.

— Oi, desculpa — sentiu o rosto corar um pouco, pela distração.

— Nós perguntamos se você viu o aviso no Salão Comunal — Áquila repetiu, gesticulando um pouco. — Sobre as reuniões com o Snape.

— Para conversar sobre nossos desejos de carreira? Vi sim, tenho reunião com ele amanhã cedo, inclusive — respondeu, embora o pensamento de sentar em uma sala com seu professor para falar sobre o futuro não lhe agradece nem um pouco. — Você já sabe o que quer seguir?

— Pensei em falar com ele sobre o setor de leis mágicas do Ministério — disse ela. — Acho que é o caminho mais fácil até o Ministro. E você?

— Não tenho a mínima ideia — respondeu, fazendo eles rirem e Draco concordar enfaticamente, pelo menos ela não era a única perdida. — Mas eu gosto de herbologia, então... não sei, quem sabe um estágio como curandeira ou algo assim?

— É uma boa ideia — Charles concordou e ela se lembrou que sua mãe era uma curandeira respeitável. Anotou mentalmente para falar com ela quando tivesse a oportunidade.

Antes que pudesse perguntar a ele quais eram seus planos, notou que Angus vinha correndo pelo salão em sua direção, deixando a mesa da Grifinória, onde almoçava com seus amigos – os gêmeos Weasley.

— Ei, Lyra! — Ele chamou, parando ofegante na sua frente. — Você já viu o jornal?

— Não... achei que ninguém tinha recebido essa manhã — havia tido um problema com as corujas que ninguém soube explicar direito. — Por quê?

— Bem, os Weasley conseguiram um exemplar e.... bem, é melhor você dar uma olhada. — Ele estendeu para ela, que rapidamente pegou e começou a ler a primeira página.

Seu coração parou de bater pelo que pareceu uma eternidade e ela tinha certeza que sua expressão demonstrava todos os inúmeros pensamentos que cruzaram sua mente como um vendaval. Provavelmente estava até mais pálida.

Por um segundo, Lyra esqueceu até como se respirava, enquanto suas mãos apertavam fortemente as folhas.

Todos os seus amigos lhe olhavam preocupados, mas ela viu sua surpresa e temor refletidos em seus olhos quando abaixou o jornal, para que pudessem ler a manchete:

“CASAL LESTRANGE ESCAPA DE AZKABAN.”

Bem-vinda de volta, mamãe, pensou, encarando a foto da mulher histérica na prisão, sentindo todo o seu corpo se arrepiar involuntariamente.


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