Na sala do Hokage, a equipe Shisui o aguardava para reportar o que havia acontecido durante a missão. Os três shinobis permaneciam em silêncio e Ayumi observava a sala. Deteve-se nas fotografias fixadas na parede. Eram as fotos de quatro homens e todos usavam uma espécie de roupa cerimonial branca, um deles era o atual Hokage.

            - Esses homens são todos Hokages de Konoha?

            - Sim. – Itachi respondeu.

            - Qual era o seu sensei, Kakashi?

            - Hum, esse loiro.

            - Sério? Ele era bonito.

            - Não sei opinar sobre isso. Mas a esposa dele era também uma Uzumaki, então talvez seja mal de mulheres de seu clã o acharem bonito.

            - Na verdade, a esposa do primeiro Hokage também pertencia ao seu clã. – Completou Itachi.

            - Meu pai me disse que tínhamos uma relação muito estreita com Konoha e que, na realidade, somos parentes distantes do clã Senju. Mas não sabia que duas mulheres do nosso clã casaram-se com Hokages de Konoha.

            Ayumi olhava as fotos na parede, profundamente interessada. De certa maneira, saber aqueles fatos fez com que ela se sentisse mais à vontade, como se pertencesse mesmo aquela vila.

            O Hokage não demorou muito a chegar na sala. Ao entrar, os quatro ninjas abaixaram-se, colocando um joelho sobre o chão, enquanto mantinham a outra perna dobrada. Hiruzen entrou e assentou-se sobre uma pequena almofada que ficava sobre um tablado. Havia diversos objetos de decoração na sala, como vasos e alguns grandes pergaminhos.

            Ele deu uma baforada, tirou o cachimbo da boca e o chapéu da cabeça e só então, limitou-se a dizer:

            - Orochimaru, né?

            - Sim, senhor. – Shisui assentiu.

            - Vocês conseguiram mais alguma informação além das que já me enviaram?

            - Não. Conforme falei, um dos ninjas estava sob o efeito de um genjutsu. Ele deve ter fornecido muitas informações ao Orochimaru, mas eu não pude determinar com clareza.

            - Bem, é do Orochimaru que estamos falando. Se existe alguém capaz de cobrir bem seu rastro é ele mesmo. Provavelmente queria informações sobre nossa aldeia. Ele prometeu destruí-la um dia.

            - Hokage-sama, temos que mandar uma equipe atrás dele. Não podemos deixar que ele continue se escondendo.

            - Existe um time da ANBU encarregado de procurar pelo Orochimaru, Shisui. Mas infelizmente, precisamos tomar muito cuidado com ele. Já perdemos muitos homens.

            Os quatro ficaram em silencio. Sentiam-se impotentes, como se tivessem falhado miseravelmente.

            - Não se cobrem tanto assim. – Era como se ele soubesse exatamente o que se passava na mente deles. – Acima de qualquer um de vocês, ele é minha responsabilidade, porque além de ser o Hokage, também fui seu sensei. Deveria ter visto as trevas que se firmavam naquele coração. Por enquanto, estão dispensados.

            Os ninjas fizeram uma reverência e iam saindo da sala, até que o Hokage falou novamente:

            - Shisui e Ayumi, eu gostaria de falar com vocês.

            Os dois pararam e despedindo-se de Itachi e Kakashi, voltaram-se ao Hokage.

            - O que tem a dizer, Shisui?

            - Creio que ela esteja pronta, senhor.

            Ayumi olhava para o Hokage confusa, não entendendo muito bem o que se passava.

            - Pronta para o quê exatamente, Hokage-sama? – Ela questionou.

            - Para se tornar uma jounin.

            - P-pera, Shisui-senpai, eu pensei que você tivesse concordado que ainda não estou pronta.

            - Eu disse que se existia algo que a impedia de ser uma jounin era a falta de confiança em sua equipe. Mas creio que você já aprendeu isso nessa missão.

            - Você acha mesmo? – Ela estava surpresa. Não sabia se o tremor que sentia no estômago era resultado da alegria que sentia ou do medo pela responsabilidade que teria ao assumir a posição de jounin.

            - Sim. E o grande Hokage concorda comigo.

            - Ayumi-san, o Orochimaru é, provavelmente, a maior fonte da minha preocupação. Ele faz experimentos com as pessoas como se fossem ratos de laboratório. Para ele, aquelas vidas não passam de algo descartável. Mas saber que alguém é capaz de resisti-lo, como você o fez, me deixa extremamente feliz. Eu sei que vencer o juinjutsu do Orochimaru requer não somente habilidade com um jutsu de selamento reverso, mas um forte coração para resistir à maldade imposta por ele.

            As palavras do Hokage expressaram exatamente o que Ayumi sentiu quando foi tomada pelo poder de Orochimaru. Ele não perturbava somente o fluxo de chackra, mas também a mente. A clareza desaparecia completamente e uma urgência por sangue e pela morte surgiam de uma maneira tão intensa que qualquer um sentiria-se sufocado.

            - Eu não sei como consegui. Não acho que mereço todos esses elogios.

            - Bom, aprenda a aceitar tanto os elogios quanto as críticas. Mas não se iluda com nenhum deles. Parabéns, você é a mais nova jounin de Konoha. – o Hokage falou com um sorriso carinhoso no rosto.

            Dessa vez, comemorou mais timidamente. Curvou-se diante do Hokage e de Shisui e, o Hokage os despediu logo em seguida.

            - Parabéns Ayumi-san. – Ele falou assim que saíram da sala, enquanto caminhavam pelo corredor da administração de Konoha.

            - Obrigada, Shisui-senpai.

            - Pode me chamar só de Shisui agora. Não sou mais seu senpai. E também me sinto um pouco velho demais pro meu gosto.

            - Você só é alguns anos mais velho que eu, não precisa se sentir assim. – Ela batia nas costas dele, rindo.

            - Esse seu consolo não serviu de nada. Você vai pra casa agora?

            - Não. Tem uma coisa que tô querendo fazer desde que cheguei aqui.

            - Ah é? O que é, hein?

            - Se-gre-do. – Ela deu uma piscadinha e despedindo-se dele, desapareceu.

            Ayumi foi para cima de um prédio, de onde conseguia avistar toda a aldeia. Sentou-se lá por alguns momentos e olhou para o sol, estimando quantas horas seriam. Depois disso, concentrou-se por alguns instantes, localizando a fonte de seu interesse. Saiu saltando pela aldeia, até avistar um grupo de crianças que saiam do prédio da academia ninja. Avistou Itachi esperando perto da grande árvore que ficava em frente à escola e viu-o acenar para um menino de cabelos pretos, que tinha em torno de 7 anos e vestia uma blusa com o símbolo do clã Uchiha. Suas feições não negavam, os dois eram irmãos. “Que fofinho”, pensou ela. Desviou o olhar dos dois e observando o monte de crianças novamente, viu um menino de cabelos loiros afastar-se da academia, sozinho. Ele seguiu por um pequeno caminho, entre as árvores, brincando com uma pedra. Ayumi aproximou-se, saltando sobre os galhos e viu que um bando de garotos também acercava o menino.

Eram duas crianças, que deveriam estar na academia e outro que já usava uma bandana na cabeça e parecia ter a idade de Ayumi. Eles começaram a ofender o menino de cabelos loiros e, zombavam dele, chamando-o de fraco.

— Eu não sou fraco. EU VOU MOSTRAR PARA VOCÊS! – Ayumi surpreendeu-se com a reação daquela pequena criança de frente aos seus ofensores. Não pôde deixar de esboçar um sorriso.

— Niisan, foi ele que me bateu da outra vez.

— Você bateu no meu irmãozinho, agora vai ter que pagar. Olha bem pra minha cara, moleque, eu sou um GENIN!! – O menino apontava para sua bandana, tentando amedrontar Naruto, mas ele permanecia firme.

— Eu não ligo. Seu irmão é quem fica me chamando de monstro.

— Mas é isso que você é. Um MONSTRO. Não vê que todo mundo te odeia aqui? Por que não vai embora dessa vila? – Ayumi apertou com força a árvore, sentindo vontade de socar aquele genin.

— EU SOU UZUMAKI NARUTO. Eu vou fazer todos me respeitarem! Um dia, eu serei Hokage, dattebayo! Inclusive você! – Naruto gritava com tudo que tinha, e partindo em direção ao menino, acabou sendo chutado para longe. Quando Ayumi viu o genin tirar uma kunai da bolsa e ir em direção a Naruto, não pôde evitar, mas colocando-se entre os dois, forçou o menino a parar subitamente.

— Quem é você? – Embora parecesse surpreso, seu tom de voz era irritadiço.

— Eu não sou ninguém. Mas essa disputa tá um pouco injusta, não acha? Três contra um?

— Esse moleque mexeu com meu irmão. Vai ter que pagar por isso.

Ayumi inclinou-se para o menino e num rápido movimento, tirou a kunai de sua mão, lançando-a numa árvore. Ela segurava a mão dele com tanta força, que o fez dobrar-se diante dela.

— Parece que seu irmãozinho foi quem começou a briga.

Naruto olhava assustado para Ayumi. “Quem é essa menina? Como ela conseguiu tirar aquela kunai da mão dele? Como ela chegou aqui tão rapidamente?”. Os outros meninos estavam atemorizados também, mas gritavam pelo irmão:

— Niisan, não deixa ela te bater!

Ayumi olhou para os garotos rindo e segurou a mão do menino com mais força ainda, fazendo-o gritar.

— Achei que você fosse um genin, mas parece que eles formam qualquer um nessa academia, não é mesmo?

O garoto tentou dar um soco em Ayumi com a outra mão, mas ela saltando por cima da cabeça dele, fê-lo dobrar-se ainda mais, uma vez que continuou a segurá-lo pela mão. Os outros dois meninos correram assustados, enquanto Ayumi permaneceu na mesma posição. Agora ela estava de frente para Naruto, que a olhava com medo. Dando um sorriso, ela falou ao rapaz:

— Você é um genin, não é mesmo?

Ele não a respondeu, e ela, apertando a mão dele com mais força, repetiu a pergunta, o que o fez responder.

— S-sou.

— Legal. Agora, preste atenção no que vou te dizer: um ninja deve lutar por aquilo que é justo, aprendendo a suportar as adversidades. O que há de justiça nisso que você está fazendo?

— Eu só estava tentando proteger o meu irmãozinho.

— ERRADO! – A voz dela era imponente e forte. – Você nem se preocupou em saber se o que o seu irmão estava dizendo era verdade. Você só queria se exibir. Além de tudo, seu irmão nunca aprenderá a ser forte se você sempre lutar as batalhas dele. – Ela então soltou o genin que tinha os olhos cheios de lágrimas, e olhava assustado para Ayumi.

— Sua missão é proteger toda a vila, não só seu irmão. Todos nesse lugar devem ser sua família, parte de você. Por quê não se desculpa pelo que fez?

Ele virou-se para Naruto e desculpando-se, correu para a mesma direção que os outros haviam ido.