Purple Light escrita por Isa


Capítulo 38
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Olá minhas babys!!
Olha eu aqui super atrasada, mas com um capítulo prontinho pra vocês.

Nos vemos lá embaixo.



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POV Nina 

Entramos os quatro no mustang. Jay e Rick na frente e eu e Lory sentadas em cima da capota. Colocamos as cinzas em um lenço e assim que Rick acelerou nos soltamos uma parte. As cinzas voaram com o vento caindo espalhadas por todo o asfalto. Rick virou o carro e nós quatro ficamos olhando as cinzas no chão, a sensação era estranha, mas não ruim. 

Eu tinha certeza que ele faria da mesma forma. Tinha certeza de que onde quer que estivesse naquela noite estava feliz.

Voltamos ao topo da ladeira e combinamos que faríamos aquilo uma vez no ano, sem desculpas ou sumiços. 

Então Lory e Jay nos convidaram para ir a um pub lá perto. 

 

—Eu vou com vocês, mas Nina tem que fazer outra coisa - Rick disse me puxando pra outro canto. 

 

—Eu não quero fazer outra coisa. 

 

—Eu separei em três. - Rick tirou os outros dois potes de “Kyle” do porta malas - Consegui convencer tia Kath e tio Jon a ir comigo amanhã na casa de campo que passávamos os verões - já tinha ouvido sobre essa casa - Mas esse aqui é seu. - ele entregou um pote na minha mão.

 

—Rick... - Eu não sabia se podia fazer isso sozinha 

 

—Sabe que tem que fazer isso sozinha, não só por ele, mas por você também.

 

Apenas assenti e assisti os três indo embora no mustang. 

 

Sentei por alguns segundos no meio-fio e coloquei “Kyle” a minha frente. Aquilo era bizarro demais até pra mim. Observei-o fixamente quando decidi que precisaria beber.

Me levantei e peguei uma das garrafas que os meninos tinham deixado ainda com bebida. 

 

—Continua sendo encrenca, não é, pirralha? - no instante em que aquela voz entrou em meus ouvidos eu cuspi toda a vodka que tinha bebido. Me virei apavorada e lá estava ele.

 

Com seu jeans surrado e jaqueta de couro, o cabelo bem cortado e aparência saudável. Kyle estava em pé ao lado do pote e eu tive a certeza de que estava fodida. - Calma - ele levantou as mãos - Você não tá louca, Nix. Só não dorme a mais de três dias, então é totalmente compreensível que tenha alucinações. 

Tampei a boca abismada. Meu Deus. Era óbvio, aquilo tudo tava na minha cabeça. 

Peguei o pote ao lado dos pés do Kyle imaginário e sai andando determinada a ignora-lo. Pra minha surpresa ele veio atrás mim. 

 

—Espera aí, a gente não conversa a tanto tempo, vamos bater um papo. - eu continuei descendo a ladeira a pé puta da vida por meu cérebro estar fazendo isso comigo - Me conta sobre a sua vida. 

 

Me rendi irritada.

 

—Você tá na minha cabeça, já sabe de tudo. 

 

—Você podia olhar pra isso como uma experiência boa. - Gargalhei forçada - Já pensou que pode estar precisando refletir sobre algumas coisas?

 

—Tipo? - perguntei irritada por saber que na verdade eu falava sozinha 

 

—Podemos falar sobre o Harry - ele parou por um segundo atrás de mim e eu precisei fazer isso também 

 

—A última coisa que eu preciso é refletir sobre o Harry. 

 

Me virei me permitindo olhar pra ele. Me aproximei um pouco, aquilo era tão estranho e tão real. Ele estava perfeitamente lindo, sem nenhum sinal daquela merda de doença. Sem um mínimo resquício do que o tinha tirado de mim. Não pude esconder as lágrimas. 

 

—Ah, vem aqui - ele pegou em meu pulso livre e ali eu tive a certeza de que estava completamente surtada. Me puxou para seu peito e me abraçou com força. - Senti tanto a sua falta. 

 

Eu podia sentir tudo. A pressão de seu corpo contra o meu, o calor de sua pele, sua respiração e seu perfume. Mas nada daquilo estava realmente ali. Eu podia pirar com aquilo ou só aproveitar, e já estava enterrada na merda mesmo o abracei de volta. A saudade de Kyle era uma coisa que não cabia dentro de mim. Então eu chorei de novo como uma criança.

Me afastei limpando as lágrimas e bati em seu peito com um pouco de raiva.

 

—Por que demorou tanto pra aparecer? 

 

—Porque você não estava pronta, pirralha. - ele sorriu acariciando meu rosto. Passou o braço por mim e voltamos a caminhar abraçados - Então, onde você pensou em me jogar? 

 

—Sério? - o olhei de canto - Você era mais inteligente quando vivo. - rimos juntos exatamente como antes.

 

—Tudo bem. - ele disse ainda brincalhão - Então vamos voltar ao assunto do Harry. 

 

Me desvencilhei de seus braços e o olhei nos olhos

 

—Nós não entramos nesse assunto, e de qualquer jeito, por que eu falaria sobre Harry com Kyle? 

 

—Porque eu fui um cara muito sensato – ele fez uma pausa um pouco sem jeito – no final. 

 

—Era só o que me faltava - revirei os olhos - Não tem o que falar, a mãe dele me contratou porque não sou o tipo de garota que se apaixona, então eu vou embora como foi combinado. 

 

—Você percebe o quanto se prendeu a mim todos esses anos? Mesmo tentando não pensar, não falando sobre mim. Eu sempre fui a merda de uma sombra que não te deixava viver, Nina. Que porra, o que foi que eu pedi pra você? 

 

 

 

FLASHBACK ON

Acho que de todos, aquele último dia era o que eu menos lembrava, ou o que eu mais fazia questão de esquecer. 

Kyle tinha tido uma parada cardiorrespiratória a noite e quase o perdemos, mas conseguiram fazer a reanimação. 

Estávamos esperando os médicos dizerem que poderíamos entrar para vê-lo. Eu estava apavorada. 

O tratamento experimental tinha sido terrível, ele sentia muitas dores, não tinha força pra nada, não conseguia fazer nada sozinho o que o deixava extremamente frustrado. Não conseguia comer, então tiveram que colocar um tubo de alimentação. 

 

Estava tudo uma merda. 

 

Jon e Kath não tinham mais forças pra dizer qualquer coisa. 

Rick estava jogado no sofá com a cabeça do colo de Jess, ele estava com Kyle no momento da parada, estava completamente em choque. 

E eu, só conseguia me agarrar ao fato de que ele ainda estava vivo. Lay segurava minha mão inconsolável. Ela sabia como as coisas iriam acabar e mais do que isso, sabia que eu não estava nem perto de estar pronta para isso.

 

Então os médicos vieram e com eles a pior notícia da minha vida. 

 

—Os órgãos estão falhando. - o médico mais novo explicou - Ele provavelmente vai ter mais paradas agora e... - parou por alguns segundos - Não quer mais ser reanimado.

 

—O que? - Kath perguntou aos prantos amparada pelo marido 

 

—Senhora Aiken, não tem muito mais o que possamos fazer. - O mais velho continuou.

 

Kath e Jon se abraçaram desesperados. O filho deles estava indo embora. 

 

Eu e Rick nos olhamos sabendo que tudo o que tínhamos visto Kyle passar no último ano não tinha valido de nada. 

Aquilo me corroeu por dentro, e pelo seu olhar soube que a ele também. 

 

Jon, Kath e Rick entraram primeiro, mas não demoraram muito. 

 

Me levantei assim que os vi sair. Kath segurou minhas mãos devastada.

 

 -Ele quer você - Kath me abraçou e eu não conseguia parar de chorar. 

 

Parei na porta tentando respirar fundo. Era isso. O amor da minha vida estava me deixando. Ele realmente ia morrer e não tinha nada que eu pudesse fazer pra mudar isso. 

Respirei fundo outra vez limpando o rosto. Layla afagou minhas costas.

 

 

—Estou aqui fora se precisar.

 

Entrei no quarto e vi um Kyle minúsculos naquela imensa cama de hospital. Ele estava muito pálido e parecia mais cansado que o normal. Parecia fazer um esforço sobre-humano só por estar ali. 

Rick estava sentado na poltrona do lado.

 

—Achou que eu ia embora sem me despedir? - ele abriu seu sorriso brincalhão e todo o choro que eu tinha contido na porta voltou com uma força avassaladora.

 

Fui até ele arrasada e segurei sua mão fria. 

 

—Para de chorar, amor, por favor. - ele pediu com os olhos cheios de lágrimas também - Sei que é difícil, mas precisamos ter uma conversa séria aqui. 

 

Levei alguns minutos para me recompor. Respirei fundo e olhei nos olhos dele. Kyle estava calmo demais e isso me dava pavor.

 

—Me escuta. - ele pediu - Vou deixar você por um tempinho - As lágrimas voltaram silenciosas por meu rosto - Mas eu vou estar te esperando lá em cima com uma pizza - ele riu em meio ao seu choro silencioso também. 

 

Eu neguei com a cabeça. Aquilo não era o suficiente pra mim. 

 

—Mas até isso acontecer, preciso que fique bem, Nix. - ele falava calmo, mas extremamente sério - Preciso que seja feliz. 

 

—Kyle... - soltei sua mão fraca na cama e me levantei irritada. Como ele podia falar essas coisas pra mim? Como eu poderia ficar bem? 

 

—Pirralha, por favor... - ele implorou com a voz embargada, e claro que eu voltei - Preciso que encontre um cara bacana e que não tenha câncer - ele riu de novo e eu quis soca-lo por fazer esse tipo de graça naquele momento - Promete pra mim que vai tentar? Promete que não vai ter medo? 

 

Balancei a cabeça positivamente sem conseguir dizer uma palavra.

Ele assentiu limpando as lágrimas. 

 

—Pode me dizer aquilo agora? - ele pediu e eu o olhei por alguns segundos devastada. Ele nunca tinha me deixado dizer antes e isso só tornava o momento mais real.

 

—Eu vou te odiar pra sempre por querer ouvir isso só agora. 

 

Sorriu com os olhos brilhantes esperando por minhas palavras. Limpei minhas lágrimas mais uma vez.

 

—Eu amo você, Kyle. - assim que aquilo saiu ele não conseguiu segurar mais o choro. - Eu amo muito você, e vou amar pra sempre. 

 

—Eu te amo também – ele respondeu entre soluços e me puxou para seu peito, deitei nele e choramos juntos. Aquilo não era justo com a gente, não era justo com ele. Tinha lutado tanto e de nada adiantou.

 

Ficamos ali quietinhos apenas aproveitando os últimos sopros de vida que teríamos um do outro, e depois de um tempo o peito de Kyle parou de se mexer. Os aparelhos apitaram anunciando o fim de todo seu sofrimento. 

Eu abracei seu corpo frágil com toda a força que tinha, como se de alguma forma pudesse segura-lo ali, mas ele já tinha ido. 

 

—Nix. - Rick me chamou enquanto acariciava meu ombro aos prantos também. - Precisa soltá-lo agora. 

 

Os médicos, Lay e os pais de Kyle estavam no quarto. Os aparelhos não apitavam mais, e eu continuava agarrada a seu corpo sem vida. 

Rick me puxou desajeitadamente e eu o deixei lá.

Então senti algo como um choque. Foi rápido e fez meu corpo inteiro vibrar. Me soltei dos braços de Rick e corri pra fora do hospital. 

Parei assim que cheguei a calçada e como se tivesse cronometrado naquele instante a chuva começou. Era forte e fria. Me ajoelhei sentindo a água percorrer todo meu corpo. Entrando em cada poro de dor que eu exalava naquele momento. 

 

Eu não conseguia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.

Eu vi Kyle definhar, o vi morrer em uma cama de hospital esperando uma cura que não existia pra ele. 

Kyle sacrificou seus últimos momentos na esperança de poder ter uma vida ao meu lado. Uma vida que nunca tivemos nem mesmo a possibilidade de ter.

 

A chuva veio pra levar consigo a alma dele e junto toda a minha crença no amor.

FLASHBACK OFF

 

 

 

 

—Eu não penso naquele dia.  

 

—Eu sei que não, se tivesse pensado uma única vez não teria vivido os últimos quatro anos como viveu, batendo a porta na cara do amor. 

 

—Eu estava ocupada sofrendo, Kyle. – pela primeira vez em tempos senti aquela raiva do luto tomar conta de mim outra vez – Eu não quero mais falar com você. Você tá morto, não tem que dar palpite na minha vida amorosa. 

 

Sai andando na frente o mais rápido que pude para tentar me livrar dele, mas ele me seguiu de novo.

 

—Eu acho que isso é culpa.

 

—Culpa por que? 

 

—Por ama-lo mais do que amou a mim! – Kyle gritou e me fez parar. Deixei “Kyle” cinzas no chão e fui pra cima dele como antigamente. 

 

—Como se atreve a me acusar de uma coisa dessas? – empurrei seu peito com toda a força que eu tinha e ele nem tentou se defender.

 

—Nina... – ele chamou mas continuei empurrando-o 

 

—Eu te amei... – Kyle finalmente segurou meus pulsos e me fez olhar pra ele.

 

—Isso não foi uma acusação! – ele disse sério. Me soltei ainda puta.

 

—Fica longe de mim. – peguei “Kyle” cinzas e corri o quanto pude.

 

 

 

 

POV OFF 

 

—Pronto? - Harry ouviu os saltos de Millie pela sala enquanto se enrolava com a gravata - Deixa eu te ajudar com isso. - Ela tomou a frente da situação dando um nó perfeito - Lindo - a morena suspirou observando-o satisfeita.

 

Harry abraçou sua cintura com um sorriso de canto. As coisas com Millie eram simples, leves e ele gostava muito disso.

 

—Seu perfume está incrível - Millie sorriu e deixou um beijo delicado nos lábios de Harry.. 

 

Ela riu se soltando dele. Estavam saindo para o ensaio de casamento da prima de Millie. 

 

—Eu não sei mais onde procurar.

 

—Fica calma - De dentro Harry já pode ouvir a voz de Niall naquele tom desesperado que ele conhecia 

 

—Você só me pede calma, Niall - Layla estava muito irritada - Você não entende - Sua voz se tornou um murmúrio de quase choro - Não sabe como isso a afeta... – Harry ouviu um soluço abafado provavelmente pelo abraço de Niall 

 

—Tudo bem, Lay? - Millie perguntou enquanto fechava a porta

 

—Não. - Layla foi grossa sem pudor 

 

—Desculpa, Millie. - Niall se apressou - Ela tá um pouco nervosa. 

 

—Tá tudo bem, vocês precisam de ajuda? 

 

Layla respirou fundo

 

—Sabe onde ela tá? 

 

—Ela? - Millie não entendeu 

 

—Você não. - Layla continuou no mesmo nível de delicadeza. 

 

—Calma, explica o que aconteceu - Harry pediu 

 

—A Nina sumiu - Layla disse sem a menor paciência, e tudo piorou quando Harry soltou um riso debochado 

 

—Qual a novidade, Lay? - Layla revirou os olhos bufando - Ela sempre faz isso. Relaxa aí, ela deve tá com algum cara, logo logo aparece. - passou o braço livre pela cintura de Millie 

 

—Ah, Harry... - Niall lamentou por ele 

 

—Qual a diferença dessa vez? - Harry perguntou despreocupado 

 

—Hoje fez 4 anos que Kyle morreu. - o peso da atmosfera aumentou instantaneamente com as palavras de Layla.

 

Nina tinha passado dois meses fora, e naquele tempo Harry não se permitiu sofrer um segundo. Ele fez o que tinha que fazer, se permitiu encontrar uma vida onde ela não existisse, mesmo que vira e mexe ela pulasse em seus pensamentos. Mas agora ela estava ali. O encontro no elevador tinha mexido com ele, por mais que quisesse negar, ele sabia que não poderia. E agora saber que estava em um momento delicado desse fez com que seu coração se espremesse no peito. Mas não cabia a ele fazer nada.

 

—Espero que encontrem ela - foi o que conseguiu dizer - Vamos? 

 

Se virou com Millie e os dois foram em direção ao elevador escutando os mais diversos sons das reações indignadas de Lay, então ela disse:

 

—Eu sei que você tá aí completamente imerso nesse mar de mágoa eterna, mas talvez devesse se lembrar que quando você precisou, Nina estava do seu lado. - Harry pode ouvi-la respirar fundo, estava realmente nervosa -  Nos seus dias mais difíceis, ela estava aqui fazendo tudo para que você ficasse bem. O mínimo que você podia fazer era tentar FINGIR - ela fez questão de dar bastante ênfase a palavra - um pouco menos de indiferença. 

 

 

 

 

***

 

 

 

 

POV Millie 

 

—Você viu como Bruce está nervoso? - ri lembrando da cara do noivo no brinde do ensaio percebendo que falava sozinha. Já passavam das quatro, e enquanto o elevador subia, notei Harry tão longe quanto esteve à noite toda. As portas se abriram. - Harry? - chamei  

 

—Oi? - sorriu um pouco envergonhado 

 

—Chegamos. - toquei seu braço e seguimos até sua porta outra vez.  - Você tá bem? - perguntei preocupada assim que ele atravessou a sala se encostando no balcão que separava a cozinha da sala  - Esteve distante à noite toda. 

 

—Ah, eu sei, me desculpe - pareceu sincero e culpado, então tentei dar-lhe uma chance.

 

—Quer conversar? 

 

—Não. 

 

—Então vamos deitar - alcancei sua mão, mas ele se livrou de mim rapidamente. Nunca tinha feito isso antes.

 

—Eu vou ficar um pouco, estou sem sono. 

 

—Eu também - respondi me debruçando sobre o balcão de frente para ele, sabia que podia sentir que eu o observava atenta. Eu sou uma pessoa muito sensitiva, e Harry já tinha percebido isso também, sei quando algo esta errado a quilômetros e mesmo assim ele estava ali inquieto, como se não pudesse se conter. Algo o puxava para longe - Vou abrir um vinho 

 

—Millie, eu... - parou quase perdendo a coragem - Preciso fazer uma coisa. 

 

Engoli em seco. Sabia que aquilo tinha a ver com o papo estranho de mais cedo e com a vizinha misteriosa que jamais tinha sido mencionada. Me sentia completamente no escuro ali, mas nunca varreria a sujeira pra baixo do tapete apenas por ser cômodo. 

 

—Sabe onde ela está? - perguntei na lata, percebendo que o tinha pego de surpresa. 

 

—Talvez. - ele me respondeu um pouco duro. Não se sentia confortável com a situação e aquilo me deixou ainda mais aflita. 

 

Então era a hora. Jogo limpo. 

 

—Harry, você nunca falou dela. - suspirei - Mas já deu pra notar que é importante. 

 

Ele ficou parados sem mover um centímetro por alguns segundos. 

 

—Ela... é. - aquilo foi mais difícil de admitir para ele mesmo do que para mim, e foi então que entendi que estava na maior enrascada. 

 

O buraco era mais fundo e a história com certeza mais profunda. 

 

—Então, estamos começando uma coisa nova aqui. - não sabia como dizer que a última coisa que eu queria era cair de paraquedas na história de outra pessoa - Eu gosto disso, gosto muito... hm. O que eu quero saber é se preciso me preocupar? 

 

Talvez eu não tivesse sido clara o suficiente, ou talvez ele realmente tivesse a maior vontade de ter boas intenções comigo. Mas talvez a força do destino fosse maior do que todos os nossos esforços. 

 

—Você não precisa se preocupar com nada. - dessa vez ele tateou o ar até chegar a mim. Acariciou meus braços com carinho - Preciso fazer isso agora, mas no sábado pego você as quatro. 

 

—As quatro? - estranhei o horário. Tínhamos combinado que ele me pegaria às sete para irmos ao casamento. 

 

Ele sorriu da mesma forma que fez nos últimos dois meses, antes da sombra de Nina pairar sobre ele.

 

—Vamos ter nosso primeiro encontro oficial como um casal. 

 

Sorri de verdade com suas palavras. Estávamos saindo a dois meses, mas não queríamos ter pressa com nada, então deixamos os rótulos pra lá. Mas agora o negócio tinha ficado sério. 

 

—Casal? - não consegui esconder o riso em minha voz 

 

—Não vou estragar a surpresa. - ele me soltou virando-se com cuidado

 

—Mas Harry... - queria pedir para ficar. Dizer que era perigoso sair sozinho no meio da madrugada procurando uma pessoa que claramente não queria ser encontrada. Mas achei melhor me calar, que ele resolvesse o que precisasse com ela, e voltasse para mim.

 

Então ele parou na porta, mas sem virar-se totalmente. 

 

—Nina não vai ficar muito tempo, não precisa se preocupar.

 

—Tudo bem. - respondi quase em um sussurro.

 

Queria acreditar nele. Eu desejei acreditar com todo o meu coração, mas no fundo eu sabia que aquilo não era verdade.

 

 

 

POV Nina 

Eu fui para o terraço. Não tinha manta, ou coberta. A única coisa que me protegia do inverno era minha jaqueta jeans customizada e estava um frio do capeta, mas eu faria como tinha que ser feito. 

Sentei no chão e coloquei “Kyle” ao meu lado. Suspirei encostando em uma parede. Talvez conseguisse dormir um pouco.

 

—Não acho que vá conseguir. - Kyle apareceu outra vez me dando o maior susto. Cobri o rosto com as mãos desejando que aquilo acabasse logo - A gente pode conversar agora? 

 

—Você só tem bosta pra dizer e meu ouvido não é privada pra ficar te ouvindo - ele gargalhou

 

—Acho que foi por isso que eu me apaixonei por você. - revirei os olhos enquanto ele ria. Ele sentou ao meu lado cruzando as pernas - Nina, aquilo não foi uma acusação. - me permiti olhá-lo cansada demais pra discutir. Mordi o lábio e senti as lágrimas me inundarem - Você me amou demais, mas nós nem tivemos tempo pra nos amarmos direito. - enquanto ele falava eu sentia meu rosto molhado outra vez - Nosso amor te trouxe muito sofrimento, mas você precisa entender que nem todos os amores são assim. E principalmente que eu não fui o último amor da sua vida.  - limpei o nariz na manga da blusa tentando mais um vez parar com a merda do choro e deitei a cabeça no ombro dele exausta. - Tá tudo bem amar o Harry. Não tem nada de errado nisso. 

 

No mesmo instante que eu ia retrucar a conclusão de Kyle a porta do terraço se abriu. 

Sr. Duncan apareceu a passos lentos e Harry junto com ele, segurando em seu braço. 

 

—Nina? - ele gritou e eu cogitei ficar bem quietinha no meu canto, mas Kyle me deu um cutucão 

 

—Eu gosto desse garoto. - ele sorriu - Além de tudo sabe agir nas horas certas

 

Olhei pra ele sem ânimo algum 

 

—Nina! - ele gritou outra vez 

 

—Tá gritando por que? - respondi mau humorada, e os dois se viraram na mesma hora. 

 

Eu devia estar péssima já que o queixo do Sr. Duncan quase desceu até o chão. Ele se desvencilhou de Harry e chegou um pouco mais perto de mim. 

 

—Senhorita Nina, deve estar congelando! - ele arregalou os olhos e voltou por onde tinha entrado 

 

Então ficamos apenas eu, Harry e Kyle ali.

 

—Fala alguma coisa - ele me cutucou de novo. 

 

—Tá fazendo o que aqui? - meu tom não era amigável 

 

—Grossa - Kyle fez cara feia e arrancou um sorriso de mim 

 

—Você sumiu - Harry conseguiu responder com a respiração um pouco irregular. 

 

—Qual a novidade? - Harry deu um meio sorriso e segurou a bengala com as duas mãos parecendo satisfeito.

 

 

Sr. Duncan apareceu de novo aflito e me cobriu com um cobertor. 

 

 

—Vamos entrar - ele ia me puxando, mas eu o fiz parar.

 

—Não. Vou ficar até o amanhecer. 

 

—Está muito frio. Senhor Styles, por favor... - ele olhou para Harry suplicante como se ele pudesse fazer alguma coisa. 

 

—Está tudo bem, Sr. Duncan, vou esperar com ela agora. - Harry respondeu firme e o senhorzinho ficou sem reação. Olhou pra mim e depois pra ele de novo. 

 

—Muito bem, se precisarem de alguma coisa vou estar na portaria. 

 

 

Eu agradeci imensamente por aquele cobertor, estava mesmo congelando. Observei Harry atentamente. 

 

 

—Não precisa ficar - passei por ele olhando o horizonte escuro - Não falta muito agora. 

 

—Estou bem aqui - ele respondeu tirando os óculos, os guardou no bolso do paletó e esfregou os olhos. 

 

Ele estava bem arrumado, bonito demais. 

 

—Eu não quero você aqui. 

 

—Não banque a idiota, Nina - Kyle avisou

 

—Não mesmo? - ele cruzou os braços - Engraçado que eu era o único que sabia onde você estava. 

 

Cruzei os braços assim como ele, sem ter muito como argumentar quanto a isso. 

 

—Por que não disse a Layla? - Eu estava com raiva dele e nem sabia porque. 

 

 

Harry abriu a boca pra responder, mas não o fez. Pareceu pensar por alguns segundos e finalmente relaxou os ombros 

 

 

—Você sempre esteve comigo quando eu precisei. - deu de ombros - Achei que devia estar com você hoje. 

 

Kyle cruzou os braços sorrindo

 

—Ele é tão mais evoluído que você.

 

—Por que você não cala a boca? - eu disse ríspida e Harry franziu a testa

 

—O que? 

 

—Ah, não. Isso não foi pra você. - me apressei em dizer arrependida 

 

—Como assim? - Harry perguntou confuso - Tem mais alguém aqui? 

 

 

Olhei Kyle rindo loucamente de mim 

 

 

—Meio que sim - respondi cansada -Quer sentar? - me aproximei o suficiente para que ele me sentisse ali 

 

—Você me ajuda? - perguntou tranquilo e segurei sua mão depois de tanto tempo. Pra variar meu corpo todo respondeu se arrepiando. 

 

—Tudo bem - eu disse colocando sua mão livre na parede  - Vamos descer devagar agora. - E assim fizemos. Cobri meu colo com o cobertor e fiz o mesmo com o dele. 

 

Respirei fundo percebendo o silêncio desconfortável entre nós. Nunca tínhamos ficado assim. Graças a Deus ele quebrou aquilo 

 

 

—Esteve aqui o tempo todo? - recostou a cabeça na parede tranquilo

 

—Não. Fui ver a mãe de Kyle. 

 

—Uau! - ele tirou a cabeça da parede realmente surpreso. Sorri com sua reação - Por que? 

 

Era uma boa pergunta e pra variar eu não tinha a resposta.

 

—Não sei - suspirei - Eu senti que precisava ir, acho que estava pronta. - olhei Kyle encostado na parede ao nosso lado, ele sorriu terno para mim. 

 

—E como foi? 

 

—Estranho. Familiar. Doloroso. - ele sorriu de leve 

 

—Você parece bem. 

 

—Eu chorei horrores e não durmo a quase 96 horas. 

 

—Ainda bem que eu não posso te ver então - Kyle riu divertido - Deve estar horrível 

 

—Eu gosto mesmo desse cara. 

 

—Que delicado. 

 

—Mas sério, isso é bom. - Harry sorriu sincero - se sentir pronta para seguir em frente. 

 

Então, era isso que eu estava fazendo ali? Aquilo era seguir em frente? 

Ele dizia como se soubesse o sentimento. Mas em relação a que? 

A sua visão? Ao acidente? Ou em relação a mim? 

 

Kyle fez sinal para que eu perguntasse o que queria. 

 

 

—Sente isso também? - ele suspirou pesado 

 

—Em relação a algumas coisas sim, a outras não.

 

Eu observei sei perfil de perto depois de tanto tempo longe. Era estranhamente familiar, como se nada no mundo fosse suficiente pra me separar totalmente de Harry. Eu resolvi que não falaria mais, e acho que ele teve a mesma decisão. A nossa conversa não tinha como ser só papo jogado fora, tínhamos tantas coisas a dizer, tantos sentimentos envolvidos que a melhor forma de não estragar tudo era ficando quietos. 

Aquele momento era meu, e Harry sabia disso. Então só deixo-se ficar por ali como o apoio que eu certamente precisava. 

 

Eu cochilei um pouco, não sei quanto tempo, mas acordei com Kyle me chamando:

 

—Hey, pirralha, tá na hora. 

 

—Tá na hora - eu sussurrei também me levantando.

 

Um sol naquela manhã fria de inverno em Londres era altamente improvável, mas eu sabia que ele viria, sabia que não me deixaria na mão naquele momento, e depois de alguns minutos ele apareceu pra mim.

Segurei o pote em uma mão e do outro lado Kyle entrelaçou nossos dedos. O olhei pela última vez, seu sorriso era radiante. 

 

—Amo você - eu disse e soltei nossas mãos. 

 

Abri o pote e despejei as cinzas enquanto os raios daquele sol maravilhoso tocavam os prédios de toda Londres. 

Um vento forte bateu e Kyle sumiu. Então começou uma chuvinha fina. Não era forte, mas sim acolhedora. Me envolveu em seus pingos e formou um lindo arco-íris em contraste com o sol. Estava frio, mas meu corpo nunca esteve tão confortável. Eu me sentia energizada.

 

Aquela alucinação não era Kyle, mas aquela chuva com certeza era. Ele estava ali comigo. Eu sentia em cada centímetro do meu corpo. Em cada gota que pingava em mim. 

 

Kyle estava finalmente livre. E eu também. 

 

 

 

Me virei de novo e encontrei Harry perdido esperando que meu momento acabasse para poder fugir da chuva. 

Caminhei até ele e segurei sua mão. 

 

—Vamos pra casa. 

 

 

 

***

 

 

 

POV Niall

 

—O que foi? - Layla quase montava em cima de mim enquanto eu cuidava para entender o Harry dizia. 

 

—Tudo bem. Que bom. Vou avisar. - desliguei o telefone e minha doce namorada quase me esganou

 

—Eu juro por Deus...

 

—Harry está com ela. - disse tudo o que ela queria ouvir nos últimos dois dias. - Layla não demorou a pegar a jaqueta e a bolsa - Não senhora. - tirei a bolsa de sua mão e ela protestou ainda estressada 

 

—Niall...

 

—Harry disse que ela está dormindo, e que pede pra ela ligar quando acordar. - ela ia dizer, mas não deixei - Ela está bem, ele me garantiu isso. 

 

—Como ele sabe? - Layla estava descontrolada - Ele nem consegue vê-la 

 

—Lay... - Suspirei

 

—Onde ela esteve? Como ele sabia onde achá-la? Que porra ela tava pensando? - ela sentou no sofá segurando a cabeça - Eu devia ter ficado lá com ela, mas não, vim pra casa com você. 

 

—Agora a culpa é minha? 

 

—Não! - ela se levantou ainda elétrica - A culpa é minha! Eu tinha que estar ao lado dela, prometi que faria isso. Seríamos eu e ela pra sempre, Niall. Mas agora eu tenho você. 

 

—As coisas mudaram, a vida é assim.

 

—Não. Não comigo e Nina. - ela finalmente respirou um pouco - Acha que eles vão se acertar? 

 

—Nina e Harry? - ela parecia uma lunática e estava me deixando nervoso - Eu não sei, quer dizer, ele está com a Millie agora. - Lay negou com a cabeça impaciente. - Por que?

 

—Porque ela vai embora, Niall, e eu vou ter que ir com ela.

 

—O QUE? - Me ouvi gritar achando tudo um absurdo 

 

—Prometemos que nunca ficaríamos longe uma da outra.

 

—De novo, a situação é diferente agora.

 

—Não. Não é. - eu entendia cada palavra que saia da boca de Lay, mas tudo me parecia egoísta e nada parecido com as conversas que tínhamos tido nos últimos meses. - Niall, eu amo você. - ela finalmente pareceu se acalmar minimamente, queria ser levada a sério. Parecia até um pouco sombria - Mas Nina é minha melhor amiga, minha irmã. Minha alma gêmea. Quando ela for embora, eu vou com ela.

 

 

Ela estava decidida, e eu pela primeira vez em meses percebi no que estava me metendo. Tinha me apaixonado por Layla sem nem ao menos me lembrar do que ela fazia parte. E agora assim como Harry teria que lidar com a falta que ela me faria. 

O problema é que eu não me lembrava mais de uma vida sem a Layla.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Quem ai ta com saudade do Harry?
Bom, eu estou. Mas não se preocupem bebês, o próximo capítulo é todinho dele.
E posso dizer que esta cheio de romance, mas não se animem muito, afinal, pode não ser com a nossa NIna :/
Ainda não tenho uma previsão pra ele, mas acredito que finalzinho da semana que vem eu esteja de volta

Não esqueçam dos meus comentários, eles fazem toda a diferença e me dão muito animo pra continuar.

Até o próximo, Babys

Beijinhoooss s2



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