Purple Light escrita por Isa


Capítulo 39
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta, bebês!!
Espero que gostem!



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POV Harry

Eu não sabia o que estava acontecendo, ela não dizia nada, mas por mais estranho que pudesse parecer eu senti tudo. Assim que a chuva me tocou foi como se aquela conexão estranha entre mim e Nina gritasse irradiando as energias dela. Entendi que apesar de um momento doloroso não tinha nada de ruim naquilo, então esperei o tempo que ela precisasse.

 

Finalmente ela caminhou até mim e segurou minha mão.

 

—Vamos pra casa. - disse e eu me virei devagar. 

 

Ela andou ao meu lado com nossos braços entrelaçados como sempre fizemos e quando finalmente entramos no taxi pude sentir como tremia de frio. Passei meu braço por ela tentando aquece-la, uma atitude nada esperta para um cara em minha posição. O perfume dela me pegou por inteiro e a saudade, que fiz tanta questão de ignorar nos últimos dois meses, me atingiu com toda a força acumulada que tinha.

Ela estava fazendo aquilo de novo comigo, eu não estava pensando direito e me deixando levar por aquele sentimento. Eu tinha que me concentrar pra não fazer merda. 

Subimos os 15 andares do nosso prédio ainda no extremo silêncio, mas quando chegamos ao nosso andar a voz melodiosa de Nina pediu delicadamente:

 

—Posso ficar com você?

 

E eu como trouxa que sempre fui não demorei a concordar. Então ela entrou em meu apartamento do mesmo jeito que entrava na minha vida todas as vezes, com total familiaridade, como se tudo fosse seu, talvez realmente fosse, mas eu lutava para mudar isso e essa repentina volta estragava tudo. De repente, meu apartamento que antes era inteiro de Millie foi empesteado por completo com o perfume de Nina outra vez. Ela estava lá de novo, por toda a parte e aquilo não me perturbava o mínimo. Pelo contrário, era reconfortante como se nunca tivesse sido diferente. 

Então aquilo me preocupou. Tudo era diferente agora, não podia perder o controle.

Ela tomou banho, vestiu minha blusa azul que era sua preferida, e deitada na cama me chamou outra vez:

 

—Harry? – sua voz era fraca e cansada. Eu me aproximei e sentei ao seu lado. Ela segurou minha mão com suas mãozinhas agora quentes e a levou até seus doces lábios. – Obrigada por estar lá. 

 

Eu apenas sorri sem ser capaz de dizer algo e logo ela dormiu. Fiquei alguns segundos ouvindo sua respiração tranquila. A presença dela ali me fazia um bem sem explicações, talvez nossa ligação fosse tão forte que nunca conseguíssemos ficar realmente longe um do outro. Eu podia não querer, mas precisava de Nina. Ela era a razão da paz que reinava em meu peito naquele momento, a paz que eu não sentia desde que ela tinha ido embora. Mas a questão era essa, no final Nina sempre ia embora. Não importava o jeito, a distância. Nina era instável, temporária. Nada nunca tinha um padrão ou uma constância. E isso era o tipo de coisa que eu mais precisava na minha vida.

Deixei sua mão com cuidado na cama e fui para o sofá onde parecia ser um território seguro. Talvez houvesse um jeito. Talvez eu aprendesse a conviver com essas idas e vindas de Nina se conseguisse controlar nosso relacionamento ao meu modo. Talvez a vida mais uma vez não fosse como eu queria, mas já estava acostumado a me adaptar.

 

 

 

POV OFF

 

—Hey! 

 

—Ah, não... - Nina murmurou preguiçosa notando a claridade no quarto

 

—Você já dormiu demais – A voz brincalhona de Harry a fez sorrir sem nem abrir os olhos

 

—Ainda preciso dormir mais – ela protestou observando-o no pé da cama com um sorriso de canto lindo que deixava suas covinhas a amostra.

 

—Você dormiu um dia inteiro – ele riu – Vamos, preciso de ajuda.

 

—Com o que? – apoiou seus cotovelos no colchão para olha-lo melhor

 

—Preciso organizar um encontro?

 

—Um encontro? – a voz de Nina saiu mais esganiçada do que ela pretendia 

 

—Sim. – ele respondeu com a maior naturalidade possível – Vou pedir a Millie em namoro hoje.

 

Nina o olhou sem acreditar que ele podia estar pedindo aquilo a ela

 

—E vem pedir ajuda pra mim?

 

—E por que eu não pediria a você? – ele deu de ombros 

 

Ela ponderou por alguns segundos. Os últimos dias tinham sido loucos, mas por mais irreais que parecessem no final faziam um pouco de sentido. Algo dentro dela tinha mudado, e sem se importar disse:

 

—Porque você disse que me ama. – soltou espontânea e ficou um pouco surpresa por não se arrepender. Queria mesmo ter dito aquilo.

 

Harry não desmanchou seu sorriso e não demonstrou nenhuma reação.

 

Aquilo o tinha atingido como um belo soco no estomago, sabia que tomar o controle da situação não seria fácil. Nina adorava aquele joguinho em que viviam a meses, mas para terem um na vida do outro de novo, voltariam a ser melhores amigos, e apenas isso.

 

Respirou fundo e respondeu com a única frase que martelava sua cabeça desde a noite passada.

 

—Antes de te amar, você era minha melhor amiga. – se virou indo até a porta – Então tira essa bunda da cama e vem me ajudar com isso. 

 

Nina cerrou os olhos observando Harry sumir pela porta. 

 

Ele parecia seguro e tranquilo quanto toda situação. Talvez Millie fosse tão incrível quanto parecia e ele tivesse realmente seguido em frente, o que deveria ser maravilhoso, mas algo a incomodava demais. Não parecia certo e isso era extremamente conflitante. 

Nina Scott nunca tinha sido conhecida por sua super autoconfiança em tomar decisões, mas sempre soube discernir o certo do errado. Sabia que sua história com Harry não poderia ter começado mais errada possível, mas ficar por perto sempre pareceu fazer sentido, só agora ela parecia ver isso com clareza. 

Ela saiu da cama e parou alguns instantes no espelho do banheiro. 

Enxergava uma Nina completamente diferente do que aquela de alguns dias. 

 

Ainda tinha as marcas de antes, continuava sendo dona de alguns medos, mas encontrou uma esperança brilhando em seus olhos que nunca tinha estado ali.

O passado a tinha prendido por muito tempo, mas o futuro lhe parecia extremamente interessante, principalmente se Harry pudesse estar nele.

 

 

 

POV Harry

 

—Uau! - Nina de repente apareceu ali. Sabia ser silenciosa quando queria - Seu repertório de café da manhã tá muito melhor.

 

Sabia que ela estava olhando a mesa perfeitamente posta com uma variedade de frutas, panquecas e suco. Sem falar que sentia o cheiro do meu omelete.

 

—Tenho me empenhado - sorri satisfeito

 

—Então... - Nina encostou ao meu lado com a curiosidade descarada na voz - Millie não achou ruim você ir atrás de mim? 

 

—Claro que não - dei de ombros e ouvi uma risada quase debochada. 

 

Um som diferente entrou em meus ouvidos e fez meu corpo inteiro se arrepiar. Nina estava com alguma coisa na boca.

 

—Acho que ela acharia - fez o som outra vez - Se soubesse da minha importância - A pia tremeu e eu pude ouvir suas coxas fartas batendo na pedra.

 

Eu conhecia o corpo de Nina. Quando ficávamos juntos eu cuidava para não perder um só detalhe e assim construí uma imagem perfeita dela na minha cabeça. Podia imagina-la só de camiseta na minha cozinha e isso me causava sensações que eu não deveria sentir. Então sem perceber errei a mão e acabei encostando na frigideira 

 

—Ai! - tirei a mão correndo 

 

—Ai, calma aí - não demorou a pular da pia e enfiar minha mão embaixo da água. A dor sumiu quando notei a proximidade de Nina, nossos corpos colados um no outro e sua respiração batendo em mim...

 

Virei para o outro lado deixando-a pra trás

 

—Você tá me distraindo - sacudi a mão que voltou a arder 

 

—Mas eu não fiz nada - ela respondeu tentando segurar uma risada - Ficou assim só porque eu perguntei da Millie? 

 

Ela usou aquele tom

 

—Tá usando aquele tom - me virei totalmente acusador. Ela sabia o que estava fazendo.

 

—Que tom, seu louco? 

 

—O mesmo que usa pra falar da Jill 

 

—Não. - bateu alguma coisa na pia - Eu DETESTO a Jill, a Millie parece legal. 

 

—Então não use esse tom pejorativo 

 

—Mas eu não...

 

—Nina... - a interrompi firme e claro que ela entendeu. 

 

Fez um breve silêncio, mas ao som de seu suspiro pesado eu vi que ela me respeitaria dali pra frente. 

Tínhamos passado por muita coisa, eu abri meu coração e ela o negou. Nina tinha seus 5 minutos de egoísmo, mas ela não estragaria tudo o que eu tinha construído nos últimos meses pelo simples capricho de me ter pra ela. 

 

Ambos sabíamos que ela tinha esse poder, mas não o faria. 

 

—Então, de onde ela é? 

 

—Millie? 

 

—Não, Harry, a girafa sentada no seu sofá - respondeu impaciente e eu ri sozinho - Óbvio que é a Millie. Aquele sotaque não é americano, muito menos britânico. 

 

—Austrália - estufei o peito orgulhoso da minha garota 

 

—Uma turista - Nina pareceu pensar. - Isso vai ser fácil demais. Deixa comigo - passou por mim rapidamente - Cadê seu cartão de crédito? 

 

 

 

***

 

 

 

— Não, tudo bem. - Nina estava ao telefone muito animada - Assim será perfeito! Obrigada! - uma risadinha - Não, obrigada você. Até mais!

 

Pude ouvir uma comemoração e não consegui deixar de sorrir. Todos os seus sons me eram muito agradáveis. 

 

—Tudo perfeito! - ela suspirou - Eu mandei uma mensagem pra Millie avisando que vai pega-la as cinco e não as quatro. 

 

—Você o que? 

 

—Só me escuta. Já combinei tudo com Bill - ela respirou fundo - Você vai pega-la no apartamento e vocês vão caminhar pelas margens do Tâmisa, até um carrinho do chocolate quente mais maravilhoso e que eu descobri que a Millie ama. 

 

—Descobriu?

 

—Não me subestime - seu tom foi desafiador e eu ri 

 

—Nunca.

 

—Então Bill vai estar esperando para levá-los ao Sushisamba onde vocês poderão apreciar um excepcional “Millie”

 

—Um “Millie”? 

 

—Eles vão criar um coquetel pra ela. - ela respondeu com um leve tom tedioso, como se aquilo fosse super normal.

 

—Você só esqueceu que eu não posso parecer um idiota no processo todo.

 

Ela suspirou 

 

—Você nunca pareceria um idiota, Harry. - seu tom era sereno

 

—Eu não sei andar nesses lugares. - não fiz questão de esconder meu leve desespero - As margens do Tâmisa são cheias de gente e como eu vou saber que chegamos no carrinho de café? Ou o Sushisamba....

 

—Calma. - ela tocou meu braço e só com esse ato já me senti estranhamente calmo. - Vai se trocar, nós vamos resolver esses problemas. 

 

Ela falava como se tudo no mundo tivesse uma solução. Como se o fato de eu ser cego não pudesse atrapalhar em nada aquela noite. Suspirei inseguro enquanto vestia meu casaco.

 

Voltei à cozinha ainda tenso e só ouvi os talheres no prato.

 

—Suas panquecas são as melhores - ela disse com a boca cheia - Ainda bem que brigamos por isso. 

 

Eu ri 

 

—Você é doida. 

 

—Isso não devia mais te surpreender - ela riu também. 

 

Nina ajeitou tudo rapidamente e pela rapidez em que voltou até mim, imaginei que ela não tenha feito grandes produções.

 

Então descemos e encontramos com Bill na entrada do prédio como de costume.

 

—Muito bem. - Nina bateu uma palma animada - Bill, mais tarde você vai levar o Harry até o prédio da Millie, mas vamos a partir do Tâmisa. - ele dirigiu por alguns minutos seguindo as direções de Nina. - Pode nos deixa aqui. Agora você sobe até lá e espera a gente. 

 

Descemos e segurei em seu braço um pouco aflito. O encontro com Nina em Nova York tinha sido bem mais tranquilo. Eu era a plenitude em pessoa, tinha confiança e certeza no que estava fazendo, e sabia que se algo desse errado estaria com ela. Não teria problema algum me perder ou tropeçar por aí. Nina não se importava, já conhecia minhas limitações e não demonstrava nenhum problema com elas, mas apesar de todo o contato com Millie nos últimos meses eu só tinha me mostrado em momentos extremamente seguros, não tivemos nenhum tipo dos incidentes que geralmente rondavam minha vida. 

 

Ela parou e segurou meus ombros com as duas mãos

 

—Relaxa! Não pensa nisso como uma preparação, mas como se estivéssemos fazendo só nós dois sem nenhum propósito maior, como sempre fizemos - ela riu gostoso enquanto sacudia meu corpo de leve - Bill vai te deixar exatamente aqui na estação de Embankment, então presta atenção – fiz sinal para que continuasse. Ela se virou esperando que eu subisse minha mão até seu cotovelo para que prosseguíssemos – Nós vamos atravessar a ponte porque aqui é a parte mais turística 

 

—Cheia de gente. – concordei ainda um pouco tenso 

 

—Por isso vamos para o outro lado, você sabe, “the queens walk”

 

—Que britânica – eu ri enquanto meus ombros relaxavam 

 

—Quem sabe assim você não para de duvidar da minha nacionalidade 

 

—Nunca. – ela me deu um leve cutucão 

 

—Olha aqui, você não me provoca que eu te jogo na frente de um ônibus. – seu tom era sério e eu gargalhei me divertindo. 

 

—Encantadora – deixei escapar percebendo o quanto todos me tratavam com cuidado. Eu não era de vidro e Nina parecia entender isso. Uma das coisas que eu mais amava nela. 

 

Andamos mais um pouco, ela parecia um pouco agitada enquanto me fazia lembrar de como era aquele lugar. Me descrevia os prédios e as lojas, onde estavam os pontos de ônibus e os bancos. 

Eu lembrava de ter feito aquele caminho várias vezes, mas nunca parei pra prestar atenção nas coisas em volta.

 

—Deu uns 50? – parou de repente 

 

—64 – ela sabia que eu contaria os passos 

 

—Me perdi no meio, você me distraiu – pelo tom sabia que ela estava fazendo bico, nunca tinha conhecido alguém que se empenhasse tanto em conhecer o meu mundo como Nina fazia. 

 

—Anos de prática, um dia você aprende a falar e contar ao mesmo tempo. 

 

—Enfim... - ela suspirou – 64 passos depois da ponte está o carrinho de chocolate. – então se virou e conversou com a senhora que ficava no carrinho explicando que era ela quem estava pagando para que o carrinho ficasse exatamente ali durante a noite e que era imprescindível esperar até que eu passasse por lá com uma garota morena de cabelos ondulados. A senhora concordou, e Nina pediu dois chocolates quentes. – Ali na frente tem um banco – segurei em seu braço e sentamos. Dobrei a bengala como sempre e a coloquei ao meu lado – Toma aqui – ela pegou minha mão que repousava no banco e colocou o chocolate com cuidado, soltando apenas quando o segurei com as duas mãos. 

 

Assoprei um pouco o chocolate sentindo o vento frio batendo em nós.

 

—Por que as margens do Tâmisa? 

 

Ela suspirou

 

—Essa parte de Londres é magica e se você conseguir enxergar isso, corre o grande risco de se apaixonar. Achei que seria uma boa escolha para uma recém-chegada. 

 

—Com certeza – sorri lembrando de novo como era aquela parte da cidade, com todas as luzes acessas e naquela época, aquela atmosfera gelada. Tudo muito romântico. Nina tinha razão, era apaixonante.

 

—Se pudesse ver qualquer parte de Londres uma última vez, qual seria? - ela perguntou inusitada e na minha cabeça a resposta foi instantânea, assim como uma pontada funda no peito.


Engoli em seco e virei o rosto para o outro lado.

 

—Ai desculpa, falei sem pensar. – Mal ela sabi

 

Voltei-me para ela sorrindo.

 

—Tudo bem. – tomei um gole do chocolate – Isso é bom.

 

—Muito bom, só não ganha do da Angelina. 

 

—Rue de Rivolli - sorri usando meu sotaque francês e lembrando daquela casa de chá em Paris – Acho que ninguém nunca vai fazer um chocolate quente tão bom. 

 

—No ano que vem vou ter que ir pra semana de moda – ela contou animada enquanto chegava um pouco mais perto de mim, estava bem frio. 

 

—Tome um por mim então. 

 

—Se for comigo pode tomar por você mesmo – tive a leve impressão de ouvir junto com sua habitual perseverança um tom envergonhado em sua melodiosa voz. 

 

Tomei mais um gole do chocolate pensando por alguns segundos. 

 

—Paris seria... 

 

—Complicado. - Nina completou com um suspirou exausto – Achei que tínhamos superado esse papo.

 

Não é que eu não quisesse ir, mas o que eu faria em Paris? 

 

A graça de viajar é ver as coisas. Diferentes culturas, pessoas, coisas. É se perder em um lugar novo, tudo pra mim seria dez mil vezes mais difícil e sem nenhum ganho considerável já que eu não veria nada. 

 

—Não importa o quanto eu aceite minha condição, Nina, as limitações são permanentes. 

 

—Então vai passar o resto da sua vida preso em Londres? – ela aumentou o tom de voz quase inconformada e eu voltei a sorrir.

 

—Não é como se Londres fosse um cubículo – ri divertido e ela me empurrou com o ombro quase me fazendo derrubar chocolate. – Hey! Mas você não tem limites, não é? Já abriu meus horizontes para Londres inteira, ainda quer me tirar do país? 

 

—Você vivia enfurnado em um apartamento, isso era o mínimo. E eu não fiz nada – ela respondeu com a voz um pouco acusadora

 

Abaixei a cabeça pigarreando de leve

 

—Nós dois sabemos que eu só comecei a sair mais por sua causa.

 

 Ela suspirou pesado demais. 

 

—Não faça isso de novo. Não volte a ser um cego de merda conformado com a vida. Você já conquistou tantas coisas...

 

—Talvez haja um limite pra essas coisas. 

 

—Você impõe seus próprios limites, Harry. Sempre foi assim. 

 

Bufei quase irritado. Tinha me esquecido de toda aquela insistência. 

 

—Posso pensar sobre isso? 

 

—Promete que vai pensar com carinho? – ela encostou seu queixo em meu ombro com o tom mais animado 

 

—Sempre – sorri largo sem me virar na direção dela. 

 

—Ótimo! – comemorou e então fui pego de surpresa por um tapa – Seu filho da mãe! – outro tapa 

 

—Nina! – tentei sem sucesso desviar do próximo – Você ficou doida? Ai! 

 

—Você disse que ia cantar uma música pra mim! – Merda! Ela lembrou. Soltei um gemido disfarçado de risada e me apoiei sobre os joelhos 

 

—Tinha mesmo que lembrar disso agora? 

 

—Você prometeu de dedinho, seu cretino – ela me empurrou e eu ri. Massageei as têmporas por de baixo dos óculos. 

 

—Prometi que ia tocar, mas não disse quando. 

 

—Você é um trapaceiro, Harry Styles. 

 

—Hey, a vida não é uma máquina de realizações de desejos – sorri esperto e tive a certeza de ela fazia o mesmo pra mim.

 

—Você leu. - ela concluiu e meu sorriso se alargou 

 

—Você se esforçou pra caramba pra achar um exemplar em braile, eu não podia deixar de ler. 

 

Antes de toda aquela merda, em nosso melhor momento, aquele que parecia tão distante de nós onde dormíamos juntos todas as noites sem nos preocupar sobre o que aquilo significava, Nina leu “A culpa é das estrelas” de John Green e ficou obcecada pelo fato de termos tanta sorte. Ou de eu ter tanta sorte. 

Segundo ela existia por aí gente em situações muito piores que a minha. Eu só não podia ver, mas tinha total controle do meu corpo, não sentia dores constantes, respirava perfeitamente sozinho e não estava condenado a um fim eminente antecipado. 

Tive certeza de que aquele livro mexeu com ela mais que o normal por causa de Kyle, mas quando ela se foi e eu o encontrei jogado no escritório resolvi que daria uma chance. 

 

—O que você achou? – ela perguntou curiosa

 

—Sinceramente? – ela apertou meu braço para que eu prosseguisse – Uma porcaria.

 

—Ah, Harry – suspirou desapontada.

 

—Augustus morre e a Hazel obviamente não vai durar muito. – tomei o ultimo gole de meu chocolate – O mundo já é depressivo demais pras pessoas ficarem presas nesse tipo de drama.

 

Me deixava ligeiramente irritado o fato de Nina se prender tanto aquele livro e só enxergar metade da lição que John tentava passar. 

 

—Tudo bem, vou encontrar livros menos dramáticos pra você. – ela riu divertida.

 

—Combinado. Agora vamos falar de você – ouvi um leve gemido de contestação, me virei em sua direção e a senti fazer o mesmo. – Como estão as coisas aí? 

 

—Aí? 

 

Estiquei minha mão livre devagar até encontrar seu colo, o toquei com delicadeza e desci um pouco. Sua pele macia e quente me fez sentir como uma fogueira

 

—Aí dentro.

 

Ela pensou por alguns instantes. Senti sua respiração ficando irregular com meu toque, então me afastei. 

 

—Acho que finalmente entendi que não precisava sofrer a vida toda por ele. - ela suspirou um pouco aliviada – Eu não sinto mais aquela coisa sufocante, fico triste por não termos tido o tempo que merecíamos, e provavelmente vou sentir a falta dele pro resto da minha vida, mas é uma falta que eu posso conviver. – se mexeu outra vez provavelmente voltando-se para frente, sua respiração ficou levemente descompassada e eu sabia que ela ponderava sobre dizer algo ou não. – Pode parecer loucura... – suspirou – Provavelmente foi a falta de sono – riu nervosa – Mas Kyle falou comigo aquela noite. – ela parou por alguns segundos esperando alguma reação minha, mas me mantive o mesmo. Queria que ela continuasse – Ele me fez ver que não precisava ser o único amor da minha vida. Acho que vão existir outros, cada um com sua importância e momento. – Respirou fundo e pude sentir o sorriso em sua voz – Eu costumava acreditar que inúmeras almas gêmeas vagam por aí esperando o momento certo de se encaixar em você, algumas serão necessárias por um tempo, outras quem sabe até por toda a vida. Acho que eu ainda penso assim, só era mais interessante não pensar sobre isso.

 

Meu coração falhava aos poucos a cada palavra e eu tentava a todo custo não tentar interpretar o que ela dizia.

 

—Estou ouvindo isso de Nina Scott... – tomei folego e sorri de canto – Aquela vadia sem coração. – ela riu divertida

 

—É... bom, vai levar um tempo pra me acostumar com esse novo mundo de possibilidades, mas acho que eu tô disposta a dar a cara a tapa, pela primeira vez. – soltou um riso contido e meu coração doía.

 

Haviam muitas coisas escondidas nas palavras de Nina, mas eu não quis pensar muito sobre isso. Não queria me encher de falsas esperanças e dar-lhe a chance de me quebrar outra vez. Eu estava em outra agora, e seguiria com meus planos.

 

—Fico feliz por você – foi a única merda que consegui dizer. Então se levantou bruscamente.

 

—Muito bem, vamô embora.

 

Contamos os passos até onde Bill estaria nos esperando, mas não entramos no carro.

Ficamos vagando por Londres durante horas conversando sobre coisas aleatórias e rindo, rindo como sempre fizemos, de coisas bobas e idiotas. Parecíamos dois imbecis. Ela me convenceu a correr pelas ruas vazias e me descrevia cada lugar por onde passávamos. Dançamos na frente da abadia de Westmister e eu sentia seu perfume colar em mim a cada batida do vento gelado.

Eu amava aquela Nina louca e desinibida, ela acabava com meus bloqueios, me fazia sentir necessário, me fazia sentir diferente de tudo, como se nada no mundo pudesse me segurar.

Não era atoa que tinha me apaixonado por ela. Ela trazia uma sensação viciante de vida e luz.


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Notas finais do capítulo

ENTÃO.......
Eu se fosse vocês ficaria atenta. O próximo capítulo ta de mataaar e vai sair logo logo
Beijinhos



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