Among Walkers escrita por Andressa Badaró


Capítulo 2
Dia 04 - Gabriel




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Estou sozinho. Completamente sozinho.

À exatamente 4 dias que eu não consigo dormir direito. Não tenho notícias dos meus pais, nem da minha irmã que estava na casa da minha vó e nem de mais ninguém que eu conheça . A única coisa que eu sei é que lá fora está um caos.

Quando tudo começou eu estava em casa por volta de 18:30 da tarde esperando meus pais chegarem com a minha irmã como de costume. Meus pais são advogados, eles tem uma empresa de advocacia que fica no centro da cidade e sempre que deixam o trabalho eles passam na casa da minha vó para pegar a Samantha para trazê-la pra casa.

Eram 19:00 e nada deles.

“Deve estar muito trânsito", pensei comigo mesmo.

Às 20:00hrs foi quando eu comecei a ligar para seus telefones e nem chegava a chamar, esperei mais um pouco.

Às 22:00hrs foi quando eu decidi sair de casa e ir para a casa da minha vó de ônibus para ver se eles estavam lá. Foi nesse momento em que eu vi pela primeira vez aquela coisa bem na minha rua se arrastando sem rumo. De início pensei que era só um maluco bêbado então nem dei muita importância.

Não dei muita importância até o momento que eu fechei a porta de casa.

A rua estava tão silenciosa que aquele barulho não passou despercebido pelo “maluco”, então ele se virou e começou vir até mim. Pude perceber a cor de seus olhos e aquilo me assustou. Ninguém normal tinha os olhos esbranquiçados daquele jeito. Suas mãos estavam estendida sempre abrindo e fechando, como se quisesse agarrar alguma coisa.

Continuei ali parado o observando.

Enquanto se aproximava percebi que ele emitia um tipo de ruído.

Continuei ali.

Ele não se movimentava rápido mas sempre em minha direção. Botei a mão no bolso e tirei o canivete que carrego comigo sempre por precaução. Eu não sei o que deu na minha cabeça, mas eu queria ver o que ia acontecer, queria ver aquilo mais de perto. Eu imaginava ser só um cara que usou alguma droga nova e estava muito louco e provavelmente debilitado fisicamente, então provavelmente eu iria derruba-lo no chão, ameaçar e seguir meu caminho.

Não foi isso que aconteceu.

Ele chegou até a mim e era forte, muito forte. O mais estranho de tudo era que ele estava tentando me morder.

— Cara, calma! Para com essa porra! O que você está tentando fazer? - eu gritava com ele enquanto eu tentava afasta-lo de mim. Ele não respondia ou tinha algum tipo de reação, só tentava me morder. Com muito custo consegui empurra-lo fazendo com que ele caísse no chão e eu entrei na minha casa novamente.

Eu estava muito ofegante e confuso.

Da onde tinha saído aquela coisa?

Decidi ligar novamente para os meus pais. A mesma situação se repetia : a linha nem chamava. Tentei ligar para a polícia e só dava ocupado, com a emergência a mesma coisa.

Sentei no sofá e fiz a única coisa que me sobrava no momento: chorar.

Com certeza tinha alguma coisa muito errada, e aquilo lá fora tinha alguma coisa a ver com isso tudo. Decidi ficar em casa esperar o retorno deles. No meu coração eu tinha esperança que eles iam voltar.

No segundo dia, as linhas dos telefones foram cortadas e no terceiro dia, já não havia mais luz.

No quarto dia não aguentava mais ficar em casa, eu já estava pirando. Cada mínimo barulhinho que eu ouvia eu já pulava do lugar de onde estava e ia olhar no olho mágico para ver se eram eles. Sempre era uma decepção.

Decidi então ir procurar por eles. Peguei minha mochila, coloquei algumas coisas essenciais (água, barrinha de cereal, papel higiênico, etc) e peguei o carro do meu pai. Eu ainda não podia dirigir, ainda estava nas aulas da auto escola. Mas nessa altura do campeonato eu não tava nem aí se eu fosse parado por alguém, eu só queria achar minha família.

A casa da minha vó ficava a 15 minutos de carro da minha. Tinha esperanças de estar todo mundo lá só esperando isso tudo passar.

Peguei a estrada e eu pude ver o caos. Carros batidos, muita fumaça e tinha muitas pessoas parecidas com aquele da minha rua pelo caminho. Quando passava todos eles se viravam para onde eu estavam indo, estendiam os braços e abriam e fechavam suas mãos, exatamente igual aquele cara.

Já estava chegando e até agora eu não vi sinal de nenhuma pessoa normal.

Entrei na rua da minha vó e tudo estava quieto. Meu coração estava acelerado e eu estava muito ansioso. Meu pai provavelmente ia brigar muito comigo por ter vindo com o carro dele mas eu nãome importava. Eu mal via a hora de vê-los e dar um abraço muito apertado neles.

Estacionei em frente a casa e subi as escadas da varanda quase correndo.

Bati na porta uma vez e nada.

—Vovó? Sou eu, Gabriel - bati novamente na porta. Nada ainda.

Lembrei que minha vó costuma deixar uma cópia da chave debaixo do vaso de planta do lado da porta. Peguei ela e abri a porta.

Assim que abri, uma pessoa veio para cima de mim e me derrubou no chão. Quando olhei, era minha vó que estava em cima de mim.

Não, ela não pulou em mim porque estava com saudades. Ela estava tentando me morder.

Olhei para seu rosto e nos meus olhos brotaram lágrimas. Seus olhos, que antes eram lindos olhos verdes, agora estavam esbranquiçados e sem vida. Naquele momento, minha esperança morreu. Tentava de todos os jeitos tirá-la de cima de mim e não conseguia, era forte demais.

—Vovó, por favor! Fala que ainda é a senhora -gritei aos prantos.

Nada. Nenhuma reação. Só emitia o mesmo ruído igual de todos os outros.

Com uma mão esticada, peguei alguma coisa e como um reflexo bati na cabeça dela.

Nesse momento, minha cabeça apagou.

Quando eu voltei a raciocinar, eu só lembro de estar sentado na varanda, com um apoio de porta de ferro na mão cheio de sangue e minha vó no chão, sem vida.

Eu chorei. Chorei muito.

Acabou pra mim. Não tinha mais esperança. Eu queria morrer. Meus pais deveria estar assim. Minha irmã…

Não consegui nem completar esse pensamento na minha cabeça. Apoiei a minha cabeça nos meus joelhos e chorei mais ainda.

—Gabriel? - ouvi me chamando mas já estava achando que era ilusão então nem fiz questão de levantar a cabeça.

Então eu senti alguém se agachando e ficando de frente para mim.

—Gabriel? - ouvi novamente me chamando e soluços de choro.

Levantei a cabeça e finalmente pude sorrir.

Samantha estava na minha frente de joelhos olhando para mim com muitas lágrimas no rosto. Ela dizia aos prantos que a nossa vó tinha se transformado naquela coisa hoje pela manhã e por medo ela tinha se escondido dentro do armário.

Eu nunca senti tanto alívio na minha vida. Pus minha irmãzinha nos meu braços e a abracei como se não houvesse amanhã.

Finalmente eu encontrei um pedacinho da minha paz.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando :) Vou tentar postar sempre aos sábados!
Até a próxima :)



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