Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 87
CAPÍTULO87




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CAPÍTULO87

    - Socorro! - Chapecó acordou com seu próprio grito, acordou de um
pesadelo; eram cinco horas da manhã, estava no hospital:
— Oi, meu amor - Joinville se levantou da poltrona onde estava -, calma,
está tudo bem!
— E meu filho?
— Ele está bem; a Camila esteve aqui, o pediatra também, você teve um
pesadelo, foi só isso! Meu pai veio aqui também, ficou um tempo aqui do
seu lado!
    Chapecó olhou para o lado e percebeu que realmente estava tudo bem;
São Lourenço do Oeste, seu filho estava ali, no berço, dormindo
profundamente:
— Está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame alguém?
— Não, foi só um pesadelo mesmo!
— Você está soando fria!
— Foi um pesadelo horrível! Eu estava na sala de parto, você estava lá
do meu lado, só que de repente, quando ele nasceu eu olhei pro lado e já
não era mais você quem estava ali sentada! Era Itajaí; ela praticamente
arrancou ele dos braços da doutora Ana e saiu levando meu filho!
— Você acordou trêmula, meu amor, gelada!
— Parece que eu dormi tanto tempo!
— Você dormiu pouco mais de uma hora!
— Ele não chorou?
— Não, está dormindo tranquilo!
— Joinville, trás ele aqui, por favor, eu quero abraçar o meu filho,
coloca ele aqui perto de mim!
    A moça obedeceu; com muito cuidado, pegou o bebê que dormia
profundamente ao lado do leito de sua mãe e o levou até ela. São
Lourenço agora estava aninhado junto a o corpo de Chapecó; ela começou a
afagar seu pequeno enquanto sentia as lágrimas chegando:
— Meu filho - ela disse com convicsão, como se precisasse ser ouvida,
ou talvez, ouvir sua própria voz -, como eu te quis, meu amor, como a
gente te quis! É, a mamãe esperou muito por você, meu príncipe!
    Joinville, ainda em pé ao lado da cama, se inclinou, beijou a testa
da companheira e depois a mãozinha do filho:
— Eu amo muito vocês - ela disse -, eu amo tanto vocês que eu não sei
como é que esse amor cabe dentro de mim!
    Já estava amanhecendo quando Camila saiu do hospital acompanhada por
São José; ele passou a noite andando de um quarto para o outro, zelando
pela filha, a nora e os netos que haviam nascido. Os dois estavam
namorando a pouco tempo, e naquele fim de noite, São José acabou indo
para o apartamento de Camila. Decidiram descansar juntos; foi a primeira
vez que se deitaram juntos, a primeira vez que dividiram uma cama, um
edredom. A enfermeira já havia namorado outras vezes, mas ali, deitada,
aconchegada junto ao corpo de um homem quase vinte anos mais velho, ela pegou no
sono olhando para ele, nunca se sentiu tão segura.
    São José demorou até conseguir pegar no sono; enquanto sentia a
respiração calma da namorada, que parecia sorrir enquanto dormia, ele
viu sua vida, suas lembranças voltarem como se fosse um filme. Se
perguntou aonde estaria Criciúma naquela hora, o que teria acontecido se
ele não tivesse saído de casa para viver com ela. Teria se apaixonado
por Camila? Ele jamais saberia o que poderia ter sido; virou-se um
pouco, deu uma olhada pelo quarto e voltou seu olhar novamente para a
enfermeira. Afagou os cabelos dela, parando com a mão perto da nuca;
adormeceu.
    - Chapecó praticamente me intimou a ir pra casa descansar, mãe! -
comentava Joinville com Florianópolis, no corredor do hospital naquela
manhã:
— Mas você passou a noite toda ao lado dela, filha; eu vou ficar aqui,
seu pai daqui a pouco vem pra cá também, vai tranquila!
— E São Joaquim, mãe?
— Estava dormindo quando eu saí; está com a Márcia e as meninas!
— E elas?
— Você pode imaginar! Palhoça vibrando com a ideia de ter dois sobrinhos
pequenos, Jaraguá com aquele brilho nos olhos, depois elas vem pra cá!
— Eu vou até em casa, tomar um banho, trocar de roupa mas não demoro!
— Pode ir, meu amor; eu vou lá curtir o meu neto um pouquinho!
— Vai sim, mãe; eu vou dar um beijo na minha irmã e na minha sobrinha e
depois vou pra casa!
    Florianópolis entrou no quarto de Chapecó e encontrou uma enfermeira
jovem com seu neto no colo. São Lourenço, com apenas algumas horas de
vida, estava inquieto, chorava muito no colo da enfermeira, e por mais
que ela tentasse acalmá-lo isso parecia impossível:
— Me dá ele, enfermeira Jéssica! - a ordem veio da mãe do bebê, Chapecó,
que parecia ter certeza do que estava dizendo:
— É cólica - reagiu a enfermeira quase que de forma grosseira -, e
você tem que descansar!
— Eu sou mãe, eu sei do que ele precisa! Me dá ele, por favor!
    Jéssica decidiu obedecer, embora duvidasse que uma mãe de primeira
viagem conseguisse acalmar o bebê. Chapecó tomou o filho nos braços e o
aconchegou junto ao seu corpo:
— Pronto, meu anjo, calma, mamãe está aqui com você!
E bastaram essas palavras para que São Lourenço se acalmasse; a mão
pequena tocou o seio esquerdo da mãe:
— Conheceu a voz da mãe! - afirmou a enfermeira Jéssica, sem conseguir
acreditar no que viu:
— Eu sou um menino muito esperto, gente - afirmou Chapecó com o mais
belo sorriso -, eu conheço a minha mãe! Vem cá, vovó, vem aqui perto da
gente!
Florianópolis se aproximou para ver o neto de perto; segurou-lhe a mão
pequena:
— Oi, meu amor - ela disse com um brilho nos olhos -, eu sou sua vovó; e
você tem quatro tios, o vovô, duas mamães lindas maravilhosas, todo
mundo te ama muito!
— Como é que Blumenau está, Florianópolis? - perguntou Chapecó sem tirar
os olhos do filho:
— Está bem, minha querida; mãe e filha passaram a noite bem!
    E de fato, Blumenau teve uma noite tranquila, a primeira noite ao
lado da pequena Içara, que dormiu tranquila a noite toda, só chorou
quando sentiu fome. Blumenau dormiu muito pouco; passou boa parte da
noite com São Bento do Sul sentado ao seu lado; os dois conversaram
muito, como dois grandes amigos, o que eram de fato. O rapaz parecia ter
mudado muito, voltou a ser carinhoso, o São Bento atencioso que Blumenau
conheceu e com quem foi casada durante algum tempo.
    Sozinha no quarto, Blumenau não se cansava de olhar aquele pequeno
ser, que era seu; Içara estava aninhada no colo da mãe, muito calma. A
porta se abriu mas ela não tirou os olhos de sua pequena; alguém entrou,
fechou a porta e se aproximou:
— Blumenau! - a moça sentiu seu coração pular no peito, aquela voz não
era estranha; levantou o rosto e ali estava ele, seu pai biológico:
— Rio do Sul! - ela disse em meio à surpresa de vê-lo ali:
— Me desculpe por ter vindo assim, de repente; São José me avisou ontem
que...
— Que a sua neta nasceu, ou melhor, que a neta de vocês nasceu!
— Eu não aguentei, Blumenau; eu tinha que vir, me desculpe se...
— Vem cá, chega mais perto, vem conhecer ela de pertinho!
    Rio do Sul se aproximou do leito de hospital e olhou fixamente o
rosto da neta; uma lágrima rolou de seus olhos e Blumenau percebeu:
— Ela é linda - ele disse -, ela é muito linda; se parece muito com
você!
— Ainda não dá pra dizer ao certo com quem ela se parece; mas o nariz e
a boca lembram o pai dela!
— Como é que ela chama?
— Içara!
    Rio do Sul se sentou ao lado da filha; desde o dia em que se
conheceram, os dois ainda não haviam tido tempo de conversar direito:
— Eu me arrependo, minha filha! Durante todos esses anos eu me arrependi
por ter abandonado a sua mãe, me perguntei como seria você, com quem se
parecia mais, durante todos esses anos eu...
— Eu acredito, pode ter certeza que eu acredito! Quando eu descobri
que... em fim, que o pai que me criou não era meu pai de verdade, meu
mundo desabou, e dias depois eu tive um pesadelo horrível! Eu tinha
muito medo de te conhecer, eu sei que pode parecer loucura mas eu tinha
medo!
— Blumenau, eu quero que você saiba que eu vou estar sempre aqui! Mesmo
que pra você eu seja só um amigo eu quero que você saiba que eu vou
estar do seu lado!
Naquele momento, Blumenau entendeu que, apesar de tudo, tinha tudo para
ser feliz. Com a filha nos braços e o pai biológico ao seu lado ela
entendeu o quanto sua vida era perfeita.


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