Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 86
CAPÍTULO86




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CAPÍTULO86

    Chapecó descobriu que Blumenau não estava passando bem e sua
primeira reação foi chorar. As duas ficaram muito próximas nos últimos
meses, não foram poucas as vezes em que se sentaram, cada uma com sua
barriga de grávida e fizeram planos; não podia dar errado agora, justo
agora.
Joinville, por mais preocupada que estivesse, tentava de todas as formas
confortar a companheira; ela também estava passando por um trabalho de
parto e precisava de cuidados.
    Blumenau foi submetida a alguns exames e foi confirmado que o bebê
estava em sofrimento; a doutora Ana Luísa optou pela cesariana,
precisava salvar o bebê.
    Camila estava indo pro centro cirúrgico quando esbarrou com São José
no corredor; estava namorando com ele a pouco tempo mas já sabia
decifrar aquele olhar como ninguém, ele estava nervoso, a enfermeira
podia ver em seus olhos o medo de que algo desse errado:
— Calma, meu amor - sussurrou ela enquanto envolvia o namorado em um
abraço -, a gente está indo agora pro centro cirúrgico...
— Cami, o meu neto, pelo amor de Deus...
— Calma, meu querido, eu te prometi cuidar deles, não prometi? E São Bento, aonde
está?
— Está na sala de espera; eu vou ligar pra Jaraguá, Florianópolis pediu
que eu avisasse a ela o que está acontecendo!
— Tudo bem! Eu preciso ir agora, assim que o bebê nascer eu
venho aqui te avisar! Pensamento positivo, tá!
    Blumenau já estava no centro cirúrgico, sendo preparada para a
cesariana. Sua mãe estava ali, dentro daquela sala conforme ela queria,
e depois que a anestesia foi aplicada, a jovem se sentiu mal:
— Calma, Blumenau - sussurrava a enfermeira Camila, ao lado da enteada
—, fica tranquila, é só o efeito da anestesia; esse mal estar já vai
passar!
— Me ajuda, Cami! - foi a única coisa que Blumenau conseguiu dizer:
— Eu vou te ajudar, minha querida, eu vou te ajudar, hoje e sempre que
você precisar de mim! Mas procura relaxar agora, vai dar tudo certo; eu
estou aqui, a doutora Ana, a sua mãe, nós estamos aqui pra te ajudar!
    Blumenau não soube dizer por quanto tempo ficou ali, deitada; sabia
que estava sendo submetida a uma cesariana de emergência, sabia que
havia um certo risco mas procurou seguir o conselho de Camila. Era
estranho, mas saber que uma das enfermeiras que estava ali era a
namorada de seu pai deixava Blumenau mais tranquila.
— Já está dando tudo certo! - murmurou Florianópolis em um
determinado momento, enquanto tocava a mão de sua menina:
    De repente, Blumenau sentiu-se tomada por uma emoção que ela nunca
havia sentido antes; seu coração acelerou, as lágrimas vieram quase que
implacáveis e aquela sensação fazia todo sentido:
— Blumenau - falou emocionada a doutora Ana Luísa -, olha quem chegou!
A partir daquele momento, a jovem sabia que nunca mais estaria sozinha;
foi tomada por um amor incondicional que nem ela mesma sabia como
explicar, nunca imaginou que existisse um amor assim:
— É uma moça linda! - a revelação de Ana Luísa foi abafada pelo primeiro
choro da pequena. Içara foi colocada junto da mãe, Blumenau teve seu
primeiro contato com a filha, a sensação era inesplicável.
    - Camila - São Bento do Sul praticamente deu um salto da poltrona ao
colocar os olhos na enfermeira -, meu filho nasceu?
São José também se levantou, encarou a namorada e perguntou:
— Cami, como é que foi?
A enfermeira deu um passo à frente, tocou o rosto do namorado e deu-lhe
um leve beijo no canto da boca:
— Você é avô de uma linda menina, meu amor; parabéns!
São Bento não soube o que dizer; foi tomado por uma sensação que não
conhecia, como se qualquer sentimento se tornasse pequeno diante
daquele, do amor de pai que se apossava dele. Chorou diante da
enfermeira e de seu sogro.
    Blumenau deu a luz a uma linda menina, Içara, que apesar das
complicações que resultaram em uma cesariana, nasceu super bem,
saudável. A pequena foi levada para o berçário, e logo estaria no quarto
com a mãe.
    - Doutora Ana, me ajuda, por favor! - foi a única coisa que Chapecó
conseguiu dizer quando a médica colocou os pés no quarto junto com a
enfermeira Camila:
— Calma, Chapecó - tentou Ana Luísa -, procura ficar calma! As
contrações estão vindo de quanto em quanto tempo?
Foi Joinville quem respondeu:
— Praticamente uma em seguida da outra, doutora!
Enquanto era examinada por sua médica, Chapecó procurava se manter
calma; Joinville estava ali, sentada ao lado da companheira, segurando a
mão dela:
— Então, meninas - perguntou a doutora Ana com um largo sorriso no rosto
—, preparadas pra exercer a função mais importante das suas vidas? A
hora chegou, gente!
O momento mais esperado por Chapecó e Joinville havia chegado; a futura
mamãe saiu do quarto em uma maca, com a companheira caminhando ao seu
lado, Joinville ficaria com ela conforme prometeu.
Chapecó foi levada para a sala de parto e preparada para aquele momento
especial; Joinville, sentada ao lado dela, segurou-lhe a mão, beijou-a
de forma suave e disse em seguida:
— Eu vou ficar aqui, do seu lado, segurando na sua mão nesse momento e
em todos os momentos da nossa vida! Eu te amo muito!
Chapecó não conseguiu responder, a dor estava forte; mas seus olhos
falaram por ela, a lágrima caiu.
    - Chapecó - instruiu pacientemente Ana Luísa -, eu vou precisar
muito da sua ajuda agora; quando a contração vier, segura a respiração e
faz bastante força!
— Amiga - complementou Camila -, a gente está aqui; eu vou te ajudar,
tá!
    Naquele instante, Chapecó se deu conta de que estava a um passo de
realizar o maior sonho de sua vida; a mão de Joinville segurando a sua,
a médica, as enfermeiras que estavam ali a fizeram entender que seu
filho estava praticamente nos seus braços. A contração veio e ela já
sabia exatamente o que deveria fazer.
Enquanto lutava para trazer seu filho a o mundo, Chapecó viu toda sua
vida passar como um filme por sua cabeça; a lembrança dos tios a fez
chorar. Ela não soube dizer por quanto tempo ficou ali, e de repente,
sentiu algo diferente, seu corpo todo queria fazer força, uma sensação que até aquele momento ela não
conhecia. Se sentiu aliviada, e logo depois, tomada por uma emoção
inexplicável:
— Pronto, amiga - a emoção da enfermeira Camila podia ser percebida em
sua voz -, ele nasceu!
    Chapecó viu seu sonho realizado nos braços da doutora, seu filho sendo amparado
porela; São Lourenço do Oeste nasceu bem, um menino forte, e depois
de ser examinado pelo pediatra, foi colocado junto da mãe ainda na sala
de parto:
— Oi, meu filho! - o pequeno ainda chorava quando ouviu a voz da mãe;
Chapecó olhou por um instante o rosto da companheira, ela também estava
chorando e agora tocava a mão pequena do filho. Joinville fez questão de
tirar a primeira foto com a companheira e o filho.
    Era madrugada; Florianópolis decidiu ir até em casa, ver os filhos e
descansar um pouco; deixou Blumenau com Lages e o pai de sua filha.
A jovem estava com a filha no colo quando São Bento do Sul entrou no
quarto; Lages decidiu deixá-los a sós, sabia o quanto aquele momento era
importante para os dois.
O rapaz ficou olhando para a filha por um momento, no colo da mãe, sem
saber se ria ou chorava. Tomou coragem e decidiu dizer o que seu coração
pedia:
— Blumenau, você me deu o maior presente que eu poderia ter ganhado! Eu
sei que você ainda não me perdoou por tudo o que eu fiz...
— São Bento - Blumenau interrompeu -, se existia algum tipo de
mágoa entre a gente, eu acho que esse sentimento ruim foi totalmente
vencido pelo que a gente está sentindo agora! Isso não significa que a
gente vá voltar a viver juntos, mas significa que agora nós temos uma
filha, ela precisa da gente, é por ela que a gente tem que pensar agora!
— Eu quero te falar uma coisa... em fim, eu tomei uma decisão, Blumenau!
— Que decisão?
— Eu decidi voltar a morar com os meus pais; não tem sentido eu
continuar morando sozinho, eu decidi passar o apartamento que a gente
morava pro nome da nossa filha! Eu quero que você saiba que nada vai te
faltar...
— Eu não quero nada de você, São Bento, não quero nada pra mim; eu só
quero o que Içara tem direito! Eu vou a luta, eu vou terminar o curso de
direito, vou trabalhar, a gente vai cuidar dela! Eu não tenho mágoa
nenhuma de você, muito pelo contrário; eu só tenho a te agradecer,
porque se hoje eu tenho uma filha pra amar, foi você quem colocou ela
aqui dentro de mim!
    A enfermeira Camila entrou no quarto; não estava ali para
simplesmente cumprir sua função, mas para ver a enteada e a neta de São
José. Certificou-se de que tudo estava bem com a pequena e com a mãe, e
já se preparava pra sair do quarto quando São Bento do Sul olhou para a
ex-mulher com um sorriso e perguntou:
— Blumenau, eu queria segurar a nossa filha no colo; posso?
Ela sorriu de volta para ele, a resposta veio em seguida:
— Claro que pode; Camila, você ajuda ele?
— Ajudo sim!
    A enfermeira pegou com cuidado a pequena Içara dos braços da mãe e a
entregou para o pai; São Bento ainda não tinha muito jeito, mas estava
ali, sentado, com a filha nos braços e um amor imenso que o tomava por
completo.


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