Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 44
CAPÍTULO44




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CAPÍTULO44

    São José estava sentado junto à mesa da sala, com suas quatro
meninas sentadas à sua volta:
— Bem, meus amores - começou o pai de família, sem saber se aquelas eram
as palavras certas -, o papai precisa conversar com vocês... eu quero
que vocês saibam que eu daria tudo pra poder voltar atrás e não precisar
fazer isso, mas a cima de tudo, eu quero que vocês saibam que eu amo
vocês mais do que a minha própria vida, e que nunca, nunca eu vou sair
de perto de vocês!
As meninas continuavam caladas; Joinville e Blumenau se entreolharam,
como se já soubessem o que o pai iria dizer, e de fato, sabiam:
— Eu estou saindo de casa - revelou ele -, eu e a mãe de vocês estamos
nos separando!
Eram quatro rostos muito parecidos, com a mesma expressão de tristeza;
pela primeira vez, Palhoça não teve forças pra quebrar o climão, pela
primeira vez, a piada não saiu:
— Fala sério, pai! - falou a garota, sem conseguir acreditar; Joinville,
Jaraguá e Blumenau continuavam caladas:
— Eu estou falando sério, meu amor!
— Por que, pai? - Jaraguá, que estava sentada ao lado daquele que sempre
foi seu herói, enroscou-se ao pescoço dele, chorando:
— Jaraguá, minha filha - São José também estava chorando, mas tentava
disfarçar -, olha pra mim, olha! A gente nunca vai se separar, meu amor,
a gente nunca vai sair de perto um do outro! A gente só não vai mais
morar na mesma casa, é só isso que vai acontecer, eu vou continuar sendo
pai de vocês, a gente vai se falar todo dia, toda hora!
— É por causa dela, pai?
— Dela quem, Jaraguá?
— Criciúma, pai! Eu vi, eu vi no seu celular, você ia viajar com ela!
As palavras de Jaraguá deixaram seu pai completamente sem ação; Palhoça
tinha uma expressão de tristeza no olhar, Blumenau tentava a todo custo
manter a pose, e Joinville, por mais que tentasse segurar, acabou
chorando. São José ainda mantinha a filha caçula aninhada em seus
braços, e depois de algum tempo, tomou coragem para voltar a falar:
— Eu quero que vocês saibam que jamais eu vou deixar que alguma coisa
falte pra vocês, meus amores! Eu amo muito vocês, nunca ninguém vai
poder mudar isso, nunca! A gente vai continuar se vendo, vai continuar
se falando, Criciúma sempre soube que eu tinha quatro filhas e ela
jamais vai conseguir me separar de vocês porque mesmo que ela venha a
viver comigo, esse direito ela não tem!
    Para São José, aquele foi o pior momento de sua vida; contar para
suas filhas que sairia de casa para viver com outra mulher, ele jamais imaginou que fosse fazer isso
um dia.
O pai de família deixou o apartamento ainda naquela noite; foi viver com
Criciúma no apartamento dela. Ele jamais quis deixar sua esposa, seu
coração não queria construir uma vida ao lado de outra mulher, mas
aquele homem não teve outra alternativa.
    Florianópolis agora estava sozinha, administrando sua casa e
cuidando de suas quatro filhas, com o filho homem em seu ventre. Blumenau e Palhoça sofriam com a
separação dos pais, mas tentavam levar a vida normal, Joinville tentava
se fazer de forte diante da mãe e das irmãs, queria ser uma fortaleza
naquele momento, mas as vezes sentia que era preciso recuar, cuidar de
suas próprias emoções. A futura arquiteta só se permitia fazer isso
quando tinha dois braços em volta de seu corpo e o olhar reconfortante
de Chapecó, dizendo que tudo ia ficar bem.
Jaraguá, a filha mais nova, não aceitava a decisão de seu pai; seu
coração não queria admitir que São José, agora, não viria lhe dar um
beijo de boa noite em seu quarto, não a levaria pra escola todos os
dias; ele agora tinha uma nova casa, e para uma adolescente de dezesseis
anos, isso não era nada fácil.
    - Joinville, me leva na empresa pra conversar com o papai? - Jaraguá
entrou no quarto da irmã; à dias ela não sorria mais, desde que seu
pai foi embora de casa:
— Te levo sim, minha querida, você tem todo o direito de conversar com o
nosso pai; mas pode ser amanhã de manhã? Eu preciso ir na universidade
fazer um trabalho agora a tarde, e a noite eu tenho aula!
Chapecó, que ouvia a conversa sentada na cama, sugeriu:
— Joinville, eu posso levá-la se você quiser; eu vou agora pro trabalho,
no fim da tarde eu pego ela aqui e levo!
— Se você puder fazer isso pra mim eu vou te agradecer pro resto da
vida, meu amor!
— É claro que eu posso; não custa nada! Jaraguá, eu saio da construtora
as cinco horas e venho direto te buscar, pode ser?
— Pode, Chapecó; eu vou estar te esperando!
E a menina saiu do quarto, conseguiu sorrir pela primeira vez depois da
separação dos pais.
    - Meu coração fica pequenininho aqui dentro! - desabafou Joinville:
— Eu posso imaginar, minha querida! Mas a gente já esperava que ia ser
assim, Jaraguá é muito apegada a o pai de vocês!
— Eu só não queria que ela sofresse tanto!
— Mas vai passar, você vai ver como tudo vai se resolver! Eu vou pra
construtora, depois eu passo aqui pra ir com ela na empresa!
— Eu não sei o que seria de mim sem você, sabia?
— Eu vou estar sempre aqui, do seu lado, pro que der e vier!
    Eram cinco e quinze da tarde quando Jaraguá desceu até a portaria do
prédio; o carro de Chapecó estava estacionado bem próximo, e a
engenheira estava ali, esperando pela jovem cunhada:
— Esperou muito? - perguntou Jaraguá:
— Não, acabei de chegar; até eu sair do trabalho e vir pra cá foram dez
minutos! Então, vamos?
— Vamos sim; eu avisei meu pai que a gente vai lá!
As duas entraram no carro e foram conversando durante todo o trajeto até
a empresa. Quando chegaram, São José estava na recepção esperando por
sua caçula, a recebeu com alegria e a levou até sua sala. Chapecó
decidiu esperar por eles ali mesmo, eles precisavam conversar a sós:
— Eu sinto muito a sua falta, pai!
— Eu também sinto, filhota! As vezes eu deito na cama, me lembro que não
fui te dar um beijo de boa noite no seu quarto, nessas horas parece que
eu não vou aguentar de saudade! E como é que você está, meu amor? A
escola, vai bem?
— Está tudo bem, pai; eu sempre gostei de estudar, ontem eu fui na casa
de uma colega fazer um trabalho; a gente estudou, depois acabamos
fazendo um lanche por lá!
— E suas irmãs, como estão?
— Estão bem, pai; era pra Joinville ter vindo comigo mas não conseguiu,
Palhoça daquele mesmo jeito, Blumenau também está bem, tudo caminhando!
— Amanhã te pego na escola pra gente almoçar juntos, pode ser?
— Claro, pai, pode ser; eu te espero na escola!
    Era final de espediente; São José saiu com a filha de sua sala e
foi até a recepção; Chapecó continuava lá, esperando pela garota:
— Jaraguá, minha querida, que surpresa te ver por aqui! Veio ver seu
pai?
Pela primeira vez, Jaraguá sentiu que o sangue lhe subiu; o cumprimento
veio de Criciúma, que se aproximou com aquele ar de superioridade, fazia
questão que a enteada percebesse que ela venceu:
— Está feliz? - a expressão da garota mudou completamente; agora seus
olhos revelavam a revolta que a presença da madrasta lhe causava:
— Jaraguá, eu quero que você saiba que...
— Você se aproximou de mim, Criciúma; você foi me buscar na escola, você
me convidou pra ir na sua casa e tudo isso pra quê? Pra tirar meu pai da
nossa casa, pra destruir a nossa família!
— Jaraguá - interveio Chapecó, aflita -, calma, minha querida!
— Agora você conseguiu o que você queria; minha mãe grávida de sete
meses, nós quatro sofrendo com a falta do nosso pai em casa, meu irmão
que vai nascer sem ele por perto!
— Calma, filha! - tentou São José:
— Bruxa, você é um monstro! - a menina deu uma bofetada no rosto da
madrasta, ao mesmo tempo em que o grito saiu de algum lugar de sua alma:
— Jaraguá, pelo amor de Deus! - Chapecó segurou a jovem cunhada,
tentando contê-la:
— Você é mimada! - reagiu Criciúma muito abalada:
— Criciúma - ordenou nervoso São José -, por favor, me espera no carro!
— A sua filha não tinha o direito de fazer isso!
— Me espera no carro, pelo amor de Deus, não piora as coisas!
Jaraguá agora estava abraçada à Chapecó, trêmula, chorando; Criciúma
deixou a recepção da empresa correndo, estava nervosa, foi umilhante ser
agredida ali, em seu local de trabalho, pela filha de seu marido:
— Vocês me desculpem - falou Chapecó olhando para duas funcionárias que
estavam ali -, ela ficou nervosa! Jaraguá, vem comigo, meu amor, vamos
sair daqui!
Antes de sair, a garota virou-se para seu pai, que continuava parado,
encostado a uma parede, sem ação:
— Eu nunca quis fazer isso, pai! Você sabe disso, Chapecó sabe disso,
Deus sabe disso!
Como resposta, ele segurou com as duas mãos o rosto da filha e
depositou-lhe um beijo na testa; procurou os olhos de Chapecó:
— Cuida bem dela, Chapecó, por favor cuida bem dela!
— Eu cuido sim, pode deixar!
    Conduzida pela cunhada, Jaraguá saiu pela porta da frente da
empresa; nenhuma das duas funcionárias que estavam ali tinha coragem de
olhar para o patrão.
A garota entrou no carro, Chapecó embarcou em seguida e sentou-se no
banco do motorista; sem saber o que dizer, a engenheira tornou a
abraçá-la:
— Me desculpe, Chapecó! - foi a única coisa que Jaraguá conseguiu dizer
antes de desabar nos braços da cunhada!


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