Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 43
CAPÍTULO43




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CAPÍTULO43

    Pela primeira vez, Florianópolis estava sem palavras; o chão saiu de
baixo de seus pés:
— Alô! - insistiu a moça do outro lado da linha:
— Estou ouvindo!
— A senhora quer que eu transfira a ligação?
— Não - Florianópolis respondeu tentando conter as lágrimas e o nervosismo ao telefone
—, não é preciso! Você tem certeza de que ele está com a esposa no
hotel?
— Tenho, sim senhora! Algum problema?
A recepcionista do hotel era educada, paciente; Florianópolis decidiu ir
a diante, mesmo com medo do que poderia encontrar; decidiu mentir:
— Eu sou funcionária da empresa dele; você pode me dizer se tem mais
alguém com eles no hotel?
— Não senhora; estão apenas ele e a esposa hospedados aqui conosco!
Florianópolis não teve coragem de dizer mais nada; enserrou a ligação e
ficou ali por um tempo, paralizada no sofá. O celular vibrou em sua mão,
e antes de atender, respirou fundo, queria parecer o mais natural que
conseguisse, era Joinville:
— Oi, filhota!
— Oi, mãe! Estou te ligando pra avisar que não vou almoçar em casa; já
saímos do consultório, Chapecó só vai trabalhar a tarde, nós vamos
almoçar no flat!
— Tudo bem, meu amor! E a consulta, como foi?
— Correu tudo bem, mãe; por enquanto ela vai fazer um hemograma
completo, pra garantir que ela vai ter uma gravidez tranquila!
— E esse processo demora, filha?
— O tratamento em si dura um mês, mãe; mas depois quando eu chegar em
casa eu te explico melhor tudo isso! Está tudo bem aí?
— Está, filha; está tudo bem! Depois a gente conversa; e diz pra Chapecó
que eu estou torcendo muito por ela e esperando ansiosa pra ser chamada
de vovó!
— Pode deixar, mãe, eu falo pra ela; ela está dirigindo aqui do meu
lado!
    Joinville despediu-se da mãe e desligou; guardou o celular na bolsa
e olhou para a namorada, que dirigia com atenção até o flat:
— Minha mãe não está legal!
— Por quê?
— Não sei! Ela tentou falar comigo naturalmente mas eu percebi!
— Será que aconteceu alguma coisa na sua casa?
— Não sei; mas agora eu fiquei preocupada!
— A gente pode passar lá se você quiser!
— Não, eu acho que não precisa! A Márcia está lá, qualquer coisa ela
liga! Vamos pro flat, almoçamos, comemoramos esse primeiro passo que a
gente deu e depois eu vou pra casa!
— E a gente vai ter muito pra comemorar, a partir de agora vai ser uma
emoção atrás da outra; eu entro dois mil e dezoito grávida, Joinville,
pode ter certeza!
    Florianópolis não soube dizer ao certo quanto tempo ficou ali,
sentada naquele sofá; agora as coisas começavam a fazer sentido, as
várias vezes em que São José chegou tarde em casa, o som de notificação
do celular no meio da noite, era difícil acreditar, mas tudo levava a
crer que ele realmente tinha uma amante, e pior, foi para São Paulo com
ela, hospedou-se com ela, apresentou-a como sua esposa.
A mãe de família não teve dúvidas; chamou Lages em seu apartamento,
contou tudo e pediu que a amiga fosse buscar as meninas na escola, e
depois, se possível, fosse almoçar com elas em algum lugar. Lages então
se incarregou de cuidar de Jaraguá e Palhoça naquele momento, e
Florianópolis, por sua vez, foi para o quarto e tirou forças de algum
lugar para fazer o que tinha que ser feito. Arrumou duas malas com as
roupas e os pertences de seu marido e deixou-as em um canto do quarto.
As horas pareciam não passar, e no meio da tarde, um taxe parou na porta
do prédio e São José desembarcou. Entrou em casa, deixou uma pasta e as
chaves na mesa da cozinha e percebeu que a casa estava em total
silêncio; foi direto para seu quarto.
    O pai de família entrou silencioso no quarto e viu sua esposa
sentada na cama, com os olhos enchados, abatida; deixou a mala no chão, ao lado da porta:
— Oi, minha querida - ele sorriu ao aproximar-se e sentar-se ao lado de
sua mulher -, achei que você nem estivesse em casa! Entrei, estava tudo
muito quieto, e as meninas?
Florianópolis olhou bem dentro dos olhos de seu homem, ela tinha que ser
forte, agora ela precisava ser forte:
— Aonde é que está a sua esposa?
São José sentiu seu coração pular no peito, como se quisesse sair de
dentro de seu corpo:
— Como assim? - murmurou ele -, do que é que você está falando?
— Da sua esposa, a mulher que foi viajar com você, a mulher com quem
você fica todas as noites depois do trabalho!
— Florianópolis...
— Não fala nada - ela agora estava furiosa -, não fala nada porque
quanto mais você fala, quanto mais você mente, mais raiva eu sinto!
Raiva de mim, São José, raiva de mim; eu me casei com você, eu vivi pra
você durante esses vinte e um anos de casamento! Eu liguei pro hotel
hoje de manhã, justamente pra saber a que horas você ia chegar pra eu ir
te buscar no aeroporto; e a recepcionista disse que você tinha acabado
de sair mas que a sua esposa estava no quarto!
    O silêncio tomou conta daquele quarto; marido e mulher continuavam
sentados na cama, sem perder o contato visual um com o outro, ambos
estavam chorando:
— Eu vou te contar tudo, Florianópolis, eu vou te contar tudo; mas antes
me deixa tomar um banho, eu prometo que...
— Você me prometeu fidelidade a vinte e um anos atrás, São José,
prometeu e não cumpriu! Toma banho, suas malas estão prontas; se você
teve a coragem de me trair, de andar de mãos dadas com ela por São
Paulo, de me fazer de idiota, é com ela que você vai viver!
    São José entrou no chuveiro, e depois de alguns minutos voltou para
conversar com sua mulher. Não teve saída; contou para ela sobre seu caso
com Criciúma, deixou claro que ainda amava sua mulher mesmo depois de
tê-la traído. Disse que faria a vontade dela, sairia de casa mas jamais
deixaria faltar nada para seus filhos e para Florianópolis; a única
coisa que ele levaria da casa eram suas roupas e objetos pessoais,
deixaria inclusive o carro.
    As quatro meninas chegaram em casa no fim da tarde; São José daria
tudo pra não precisar fazer aquilo, mas sabia que teria que arcar com as
consequências do que fez. Sentou-se junto à mesa da sala com as quatro
filhas; contaria para as meninas que sairia de casa.


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