Kira escrita por zoiudinhadamamae


Capítulo 5
Capítulo 4




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O dormitório do B-13 era muito cheio, principalmente por parte dos recém-chegados. Era um imenso salão com várias fileiras de camas uma ao lado da outra e atrás das camas ficava uma estante. No teto, haviam vários ventiladores e, a parede oposta á porta de entrada e saída, era uma lousa gigantesca. não havia muita opção na hora de escolher a cama, já que a maioria estava ocupada, então Kira pegou a primeira cama livre que viu. A sua volta, o dormitório estava um caos; muitas pessoas estavam circulando pelo espaço, em busca de alguma cama livre ou apenas porque não havia mais nada para fazer, outras estavam conversando e a maioria estava em pé. Sem que Kira percebesse, um garoto com cabelo preto como o ébano se aproximou dele.

            -- Essa cama está livre? – perguntou o garoto apontando para a cama que estava à direita de Kira.

            -- Sim.

            O garoto sorriu em resposta e após colocar sua mochila em cima da cama, disse:

            -- Me chamo Dante.

            -- Sou Kira.

            Dante deu um sorriso amigável sem mostrar os dentes e começou a colocar algumas coisas na estante que estava atrás da cama. Kira sentou-se para observar. Dante provavelmente não devia ser muito mais velho do que ele, mas parecia mais maduro, e como se fosse uma espécie de sexto sentido, Kira teve a sensação de que talvez ele não estivesse aqui pela primeira vez.

            -- Você já veio aqui? – perguntou Kira – Digo, na escola de Treinamento?

            -- É a terceira vez aqui. – respondeu Dante virando seu rosto para fitar Kira – Mas você com certeza está aqui de primeira viagem.

            -- E o que o faz pensar nisso?

            Dante dá de ombros.

            -- Não, sei. Só tenho a sensação de que você ainda parece meio atônito com tudo que aconteceu até agora, mesmo que tenha sido apenas um processo seletivo.

            Kira comprime os lábios enquanto o garoto a sua frente volta sua atenção para a mochila como se estivesse em busca de algo extraordinário.

            -- Por que é a sua terceira vez aqui? – pergunta Kira.

            -- Digamos que eu e o líder de minha ex-equipe não nos damos muito bem. Dessa vez voltei pra cá no intuito subir de nível e entrar numa nova equipe.

            -- Não sabia que dava pra trocar de equipe.

            -- Até dá, mas é um processo meio burocrático e você tem que desapegar de algumas coisas. – Dante continua a procurar algo em sua mochila enquanto fala com Kira. – Por exemplo, todas as pontuações que você fez em grupo são deletadas. E se quiser mesmo trocar de equipe tem que voltar pra cá, fazer o processo seletivo de novo, definir as equipes novamente, essas coisas.

            Kira assentiu e ficou se perguntado se teria uma relação com os membros de sua futura equipe. Para ele, que queria estar em um bom lugar no Ranking nacional, mudar de equipe e ter de voltar à Escola de Treinamento era como um atraso e quase que uma auto sabotagem.

            -- Mas o que aconteceu na segunda vez que você voltou?

            -- Em um torneio de jogo simples, arrumei confusão com o adversário e fui suspenso dos jogos por seis meses. Também tive de voltar pra cá, me obrigaram. – Dante deu de ombros.

            -- Aparentemente, você gosta de brigar. – disse Kira

            -- Não, só quando é necessário.

            De repente, todos os ruídos, barulhos e conversas que à cinco minutos preenchiam o dormitório, cessaram. Kira olhou em direção á porta e viu uma jovem de cabelos cor de rosa caminhar pelo dormitório em direção á grande lousa. Ele não entendeu porque todo mundo ficou quieto na presença da jovem, ele nunca a havia visto na vida e não fazia ideia de quem ela era. E aparentemente, ele era o único a ser desprovido dessa informação. A jovem caminhava a passos lentos, porém precisos. Os coturnos que calçava, entravam em contato com o chão de maneira firme e cadenciada. Naquele momento, se uma mosca passasse voando pelo recinto, poderia ser ouvido o bater de suas asas. Quando a jovem chegou na lousa, tirou do bolso da jaqueta azul um giz branco, e ela começou a escrever o nome de todos que eram do nível B-13 na ordem de classificação do nível. Kira questionou como ela saberia de todos os nomes de cor, já que não estava com nenhum papel em suas mãos. Ao terminar de escrever, a jovem deu as costas para a lousa e disse:

            -- Prestem atenção, os treinos começam amanhã. Coloquei essa classificação na lousa para todos terem uma noção de como estão jogando. Fiquem cientes de que o nível B-13 tem uma pontuação mínima para ser atingida em cada treino, caso essa pontuação não seja alcançada, o jogador cairá para o nível B-12.

            Ela não disse seu nome, não esperou se alguém tinha alguma dúvida, não seu tempo para qualquer comentário. Ao finalizar sua fala, a jovem simplesmente se dirigiu a porta do recinto em uma velocidade um pouco maior do que quando entrou e foi embora. Novamente, enquanto ela atravessava o dormitório, todos os presentes ficaram quietos, mas no momento em que ela fechou a porta atrás de si, uma espécie de alívio preencheu o ambiente.

            Lentamente, as pessoas iam se movendo em direção a lousa para ver em qual colocação estavam dentro do treinamento; um leve frio percorreu a espinha de Kira. E se ele não estivesse em uma boa colocação? Voltar para nivel B-12 certamente seria um atraso para ele. Kira e Dante se aproximaram da lousa em busca de seus nomes enquanto os outros jogadores do B-13 falavam entre si sobre suas colocações.

            -- Olha, você ta em 56 lugar. – disse Dante

            Kira comprimiu os lábios em resposta e Dante percebou, concluindo que talvez a colocação não fosse de agrado para o novo amigo.

            -- Sabe, e’ uma colocação mediana. – disse Dante, para confortar Kira – A maior parte dos jogadores recém-chegados, tem uma colocação parecida ou se não a mesma.

            Kira deu de ombros se afastando da lousa sendo seguido por Dante. Olhou em volta e parecia que a expressão de todo mundo era a mesma. O que faria agora? Sabia que os treinos começariam no dia, mas aparentemente ele teria o dia livre para fazer o que bem entendesse.

            -- Agora a gente faz o que? – perguntou Kira

            -- Voce pode tentar dormir, ou sair pra fazer um tour pelo prédio, ou ir pra alguma lan-house e treinar alguma técnica de jogo.  – respondeu Dante sorrindo.

            Kira esboçou um sorriso e, mesmo que Dante estivesse falando em tom de brincadeira, ele levou em consideração as opções que lhe foram apresentadas.  O quarto estava muito cheio e provavelmente ele não conseguiria dormir com todo aquele barulho. Sobre fazer um tour pelo prédio, Kira não achou que fosse muito necessário fazer aquilo naquele momento, apesar de ser bem útil. Mas então Dante falou a palavra chave, Lan-house. Se tinha uma coisa que Kira amava mais do que qualquer coisa, era jogar, e agora que estava se preparando para entrar no Ranking Nacional de fato, ele tinha que ser o melhor de todos.

            -- Eu gosto da idéia de ir na lan-house.

            -- Podemos ir e quero jogar uma partida contra você.

            Os olhos de Dante tinham um brilho divertido, Kira notou, e retribuiu o sorriso travesso que Dante lhe dera.

            Os dois saíram do dormitório do B-13 andando em direção ao elevador que leva a superfície pra sair do prédio. O caminho foi silencioso, Kira estava perdido em seus pensamentos e percebeu que Dante também estava na mesma situação. Quando chegaram no nível da superfície, a porta do elevador se abriu revelando o garoto ruivo que estava fazendo os processo seletivo. Sua expressão estava séria, mas relaxou quando ele tirou os olhos dos papeis que estavam em suas mãos. Os dois meninos saíram do elevador passando pelo ruivo.

            -- Ei, Dante! – disse o ruivo – Estava analisando seu caso, não sei se vão deixar você mudar de equipe.

            -- Por que fariam isso? – perguntou Dante

            -- Na verdade, não é que não vao deixar você mudar de equipe, mas talvez você tenha que entrar e uma equipe que já esta pronta e não em uma que esta’ começando do zero.

            Dante suspirou como que em resposta aquilo que o rapaz acabara de lhe dizer. Kira percebeu um misto de indignação com impaciência na reação de Dante.

            -- Voce poderia me ajudar então. – disse Dante

            -- Por que eu? – perguntou o ruivo.

            -- Ora Shinya, somos amigos. Okay, talvez não tão amigos assim, mas quando eu vim pela primeira vez, você estava aqui e me conheceu. Você sabe quem eu sou e como eu sou. Poderia mexer alguns palitos para me ajudar a me colocar em uma equipe nova.

            O ruivo, Shinya, lembrou-se que estava segurando a porta do elevador com o braço e o deixou ir. Um leve sorriso brincava em seus lábios, tímido, com medo de ser visto a quem quisesse apreciar. Ele cruzou os braços de frente para os dois meninos que tinham uma altura menor do que a dele, apesar de Dante ser mais alto que Kira.

            -- Voce esta’ aqui pela terceira vez. – começou Shinya – Se for pela perda de tempo que esta’ preocupado, não tem motivo pra você entrar em uma equipe que comecara’ do zero. Quanto ao Ranking Nacional, você já esta’ atrasado. So’ o fato de ter de voltar, perder toda a pontuação arrecada quando em grupo entre outros benefícios que antes você possuía, você já esta’ atrasado. – Dante engolia em seca a cada palavra que lhe era dita, já que o tom de Shinya ia ficando mais serio conforme ia proseando. – Voce esta’ se auto sabotando e o pior e’ que sabe disso. Não vou te colocar em uma nova equipe pra você ser genioso com o líder, sinto que e’ um tanto injusto.

            A essa altura da conversa, Dante já tinha desistido de tentar pedir algum “privilegio” para Shinya, apenas acenou com a cabeça em direção a porta que dava em direção a saída do prédio na intenção que Kira o seguisse. Os dois garotos começaram a se afastar do elevador, mas Shinya os interrompeu novamente.

            -- Antes que eu me esqueça, Dante, já vai pensando no que você fara’ de diferente nessa nova equipe. Nem tudo e’ um jogo e você não poderá reiniciar toda vez que der de cara com um conflito.

            Dante cruzou a porta do prédio, sem ao menos esperar por Kira; este por sua vez, ficou mais alguns segundos olhando para Shinya que devolvia o olhar com um certo acalanto. Kira afastou seu olhar do rapaz e cruzou a porta, saindo do edifício, e por alguma razão, mesmo que ele não soubesse ainda, Kira queria estar na equipe de Shinya e já estava cruzando os dedos para que isso acontecesse.

*    *    *

            -- Eu tenho raiva dele. – disse Dante rangendo os dentes enquanto pegava uma arma conectada a tela do fliperama por um fio.

            Kira observava tudo atentamente, os dois já tinham jogado algumas partidas em um jogo de tiro. A lan house era bem antiga em comparação as de Toquio, tinham apenas jogos de fliperama e o único capacete de realidade virtual tinha o preço muito alto pra jogar por apenas uma hora. Acabaram optando pelos fliperamas antigos mesmo. Estavam voltando a jogar depois de uma pausa para tomar algo. A expressão de Dante estava séria,  os músculos de seu ombro estavam tensos.

            -- Por que tem raiva dele? – perguntou Kira

            -- Porque ele se acha. E acha que sabe tudo sobre todo mundo. – disse Dante, com a arma mirada nos inimigos da tela – Ás vezes ele age como um ridículo.

            Kira ficou pensativo por um tempo e chegou a conclusão de que talvez Dante não estivesse com raiva de Shinya, mas sim do que ele lhe dissera. Pode ser que o ruivo tenha sido um pouco cruel com Dante, mas apesar do pouco tempo de convívio, Kira já tinha percebido que o novo amigo não era tão fácil assim de lidar.

            -- E tem mais, as pessoas ficaram meio assim com ele depois do que aconteceu com sua equipe. – Dante disse

            -- Como assim?

            -- Você não se lembra disso? Foi a maior briga dos últimos tempos entre dois jogadores carreiristas. – Dante até deu pause no jogo pra explicar a Kira quando viu que o garoto acenou negativamente com a cabeça. – Acho que faz uns três anos. Os dois eram da mesma equipe, até chegaram juntos aqui, mas o amigo dele tinha uma agilidade um pouco maior do que ele, e acabou preferindo sair sozinho e criar sua própria equipe. O Shinya ficou bem puto e brigou com ele em um duelo, só que perdeu. Eles não se falam mais desde então.

            -- E quem era o amigo dele?

            -- Subaru Matsukami. Esse você conhece, impossível não conhecer.

            -- Foi ele quem quebrou a perna da Mia. – disse Kira com um olhar distante, se lembrando da expressão de Shinya quando perguntou a Mia sobre sua perna no elevador. – Ele parece ser meio mal.

            -- Você parece uma criança falando assim, mas eu concordo um pouco. Acho que Subaru só pensa em si mesmo e sua ambição o cega por vezes, mas ele é u bom jogador.

            -- Mas se ele souber escolher, pode um ser um bom jogador e uma boa pessoa.

            -- Você e o Shinya deviam tomar café juntos um dia desses.

            -- Por quê?

            -- Você falou igual ele agora.

            Kira soltou um leve sorriso e pegou a outra arma no intuito de retomar a partida que estava tendo com Dante.


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