Titanomaquia escrita por Eycharistisi


Capítulo 39
XXXVIII. Eu sou perigoso, Eduarda...


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo agendado]



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Nevra acordou-nos assim que os primeiros raios de sol atravessaram o céu, mas, desta vez, eu nem me queixei. Estava ansiosa por entrar na floresta e recolher o primeiro ingrediente da poção… e por me certificar de que Adonis estava bem. Eu não ouvira o centauro regressar ao acampamento na noite anterior e o medo de que lhe tivesse acontecido alguma coisa quase não me deixou pregar olho. Estava exausta quando a manhã chegou, mas arrastei-me para fora da toca tão depressa quanto o corpo dormente e o gesso nas minhas costas me permitiram. Olhei rapidamente em volta, procurando Adonis… e soltei um pequeno suspiro de alívio ao vê-lo na margem do rio, lavando o rosto com água fria. Aproximei-me para o cumprimentar e perguntar se estava bem, mas o rapazinho virou-me as costas assim que respondeu à minha saudação. Não olhou para mim uma única vez e continuou a evitar-me o resto da viagem.

Felizmente, as maravilhas da floresta foram muito eficientes em distrair-me da minha apreensão. A paisagem era incrível, constituída maioritariamente por várias gradações de verde e castanho. Até a luz tinha uma tonalidade esverdeada depois de atravessar as folhas que se sacudiam sobre as nossas cabeças ao sabor da brisa. Ocasionalmente, pequenas explosões de cores vivas e alegres surgiam no meio do verde, protagonizadas por flores que nunca antes vira. Não foram poucas as vezes que quase perdemos Ezarel porque ele decidia parar para colher algumas.

Os habitantes da floresta, todavia, eram o que mais me fascinava. Eles não se escondiam ao pressentir a nossa presença; pelo contrário, devolviam-nos o olhar e chegavam mesmo a desafiar-nos, prontos para nos expulsar do seu território. Quase nos envolvemos numa grande confusão com uma manada de cervos com asas e Valkyon quase teve as costelas despedaçadas por uma serpente com rosto e patas de gato ao afastar bruscamente os ramos do arbusto em que a criatura descansava. Nevra cortou a cabeça do bicho com uma precisão e rapidez incríveis, mas o Comandante da Obsidiana continuou a agonizar até os esforços conjuntos de Nevra, Ezarel e Leiftan o libertarem dos anéis grossos que entraram em convulsão após a morte. Eu assisti ao processo escondida atrás de Karenn, engolindo grito atrás de grito. Céus, odeio cobras…

Não fizemos uma pausa para almoçar quando o sol atingiu o seu zénite porque, segundo Lee, estávamos quase a chegar ao nosso destino. O “quase” dos faeries, porém, parecia ser muito diferente do meu. Julguei que iríamos caminhar por mais trinta minutos, no máximo uma hora… mas afinal foram três. O meu estômago doía tanto quando finalmente parámos que acreditei que estava a comer-se a si mesmo. Fiquei tão concentrada em fincar os dentes em alguma coisa que só consegui prestar atenção ao espaço em que nos encontrávamos quando terminei de comer.

A primeira coisa que vi foi a cascata, que parecia um enfeite de aquário de tão bonita e perfeita que era. Era constituída por um amontado de rochas manchadas de musgo por entre as quais a água ziguezagueava, caindo de poça em poça até chegar a um lago com vários metros de largura, mas pouco mais de trinta centímetros de profundidade. A água era tão pura e brilhante que parecia feita de diamantes. Nenúfares cresciam junto à margem, segurando pequenas flores luminescentes à tona da água. O lago abrira uma grande clareira no meio da floresta, mas os ramos das árvores à sua volta eram tão compridos que ainda tapavam a maior parte do céu.

Ezarel estava na água, com as calças e as mangas arregaçadas, revirando os seixos no fundo. Lee estava ao seu lado, segurando um saco de serapilheira onde o Diretor da Absinto guardava algumas pedras que, para mim, eram perfeitamente comuns. O entusiasmo do elfo enquanto recolhia o primeiro ingrediente da poção era muito semelhante ao histerismo das raparigas da Terra quando se cruzam com o seu ídolo, por isso, achei que faria sentido começar a chamar-lhe fanboy. Infelizmente, mais ninguém entendeu a piada.

O resto do grupo aproveitou a oportunidade para descansar ou para explorar um pouco. Nevra pediu-nos para não nos afastarmos muito, mas eu não prestei atenção porque não pretendia ir a lado nenhum. Estava muito cansada e o meu osso partido doía; a única coisa que queria era juntar-me àqueles que estavam deitados à sombra das árvores e dormir um pouco. No entanto, vi Adonis embrenhar-se, sozinho, na floresta e não resisti a ir atrás dele. Nós precisávamos de conversar e seria melhor fazê-lo longe dos ouvidos dos outros. Ao mesmo tempo, estava curiosa sobre a razão que levaria o centauro a afastar-se do grupo. Ele não costumava fazê-lo.

Não me anunciei e segui o rapazinho tão silenciosamente quanto consegui. Não tentei invocar a minha camuflagem, mas parece que esta se manifestou na mesma porque eu mesma estranhei a ausência de som nos meus movimentos. Fiquei tão concentrada na perseguição que perdi a noção da distância que nos separava do grupo. Não tinha sequer a certeza se conseguiria reconstruir o caminho de volta e foi o medo de me perder que me fez chamar Adonis:

— Onde vais?

O centauro assustou-se tanto que se empinou um pouco, sacudindo os cascos dianteiros no ar. Virou-se com uma mão no peito e os olhos desiguais arregalados.

— Bendita Chama, Eduarda — murmurou — Assustaste-me…!

— Desculpa… Eu só achei que te estavas a afastar demasiado. O Nevra disse que não era seguro andar pela floresta.

— Eu sei defender-me — volveu o centauro — Tu é que devias voltar para trás. Estás ferida e… não é seguro estares comigo.

— Porque não?

Adonis sacudiu a cabeça e não respondeu. Virou-se como se pretendesse continuar a caminhar, mas eu segui-o apressadamente e agarrei-o pelo braço.

— Porque não, Adonis? — insisti — O que é que se passa?

O centauro baixou o rosto até uma cortina de cabelo castanho o esconder da minha visão.

— Eu sou perigoso, Eduarda…

— Não, não és.

— Sou, sim — insistiu num tom incisivo — Eu sou perigoso e… magoei-te…

— Tu nunca me magoaste, Adonis!

— Magoei ontem! — exclamou ele, erguendo o rosto e fixando-me com os olhos marejados de lágrimas — O teu osso… fui eu quem o partiu!

— Isso é uma estupidez, Adonis — disse brandamente — Eu tropecei e caí. Foi um acidente! O que te leva a pensar que foi culpa tua?

— Eu sei que foi culpa minha. É impossível tantos azares acontecerem ao mesmo tempo. Foi culpa minha! Eu invoquei o meu poder e… o azar veio…

— O teu poder… provoca azar? É isso?

— Mais ou menos…

— O teu poder não era o fogo?

— Sim… mas… — sacudiu a cabeça, angustiado — É difícil…

— Conta-me…

Adonis puxou suavemente o braço que permanecia preso na minha mão.

— Não posso contar.

— Porquê?

— Não posso… É perigoso e vais odiar-me…

— Eu não vou odiar-te — garanti, segurando o seu rosto entre as mãos e forçando-o a encarar-me — Acredita em mim. Eu… eu sei como é ser o que preferíamos não ser; ter poderes que preferíamos não ter. Seria muito hipócrita da minha parte odiar-te por algo que não pediste para acontecer.

Adonis desviando o olhar e bateu nervosamente os cascos.

— Eu não quero magoar-te ou assustar-te…

— Não o farás — murmurei, inclinando a cabeça até os nossos olhos se voltarem a encontrar. Ao contrário do que era habitual, o rapazinho não corou. Pareceu até ficar um pouco mais pálido e a sua maçã-de-adão estremeceu quando engoliu em seco — Conta-me, Adonis…

O centauro voltou a engolir em seco e poisou carinhosamente as mãos nos meus pulsos.

— Eu vou contar… mas quero que a partir de hoje fiques longe de mim.

— O quê? — murmurei, surpreendida.

— Fica longe de mim — repetiu — É a única maneira de… ficares segura.

— Isso é uma estupidez, eu não vou afastar-me de ti!

— Vais, quando ouvires o que sou.

— Porquê? Vais-me dizer que és um titã? — perguntei, erguendo uma sobrancelha — Acredita, isso não…

— Sou pior — murmurou o centauro, tirando as minhas mãos do seu rosto — Sou pior do que um titã.

— O que… queres dizer?

Ele humedeceu nervosamente os lábios.

— Eu sou um necromante, Eduarda — murmurou num tom tão baixo que quase não o ouvi — Eu sou… um necromante…

— Necromante? O que é isso?

Adonis soltou um risinho que também poderia ser um soluço atormentado.

— Não sabes?

— Não… O nome não me é estranho, acho que já o ouvi antes, mas…

— Um necromante é alguém que usa a magia dos mortos — explicou o centauro num tom inesperadamente forte — É alguém que escraviza os espíritos das pessoas que matou para fortalecer a sua magia. A necromancia é o pior tipo de feitiçaria que existe, é tão maligna que a sua mera invocação faz com que coisas más aconteçam. Ela provoca azar, mesmo! Foi por isso que o vosso treino correu tão mal. Tu tropeçaste e caíste porque eu estava a invocar necromancia ao vosso lado… e ela quis matar-vos! — baixou o olhar para os próprios cascos — Mesmo com o círculo protetor… vê o que aconteceu! Todos vocês se feriram de alguma forma! Sem ele… vocês poderiam mesmo ter morrido…

Adonis soluçou e cobriu o rosto com as mãos. Eu limitei-me a olhá-lo, tentando processar o que acabara de ouvir. Aquilo… era possível?

— Porque é que invocaste a necromancia? — perguntei com um murmúrio cuidadoso — Porque não treinaste só a tua afinidade com o fogo?

— Não posso — gemeu o centauro — A necromancia… não se manifesta por si só, ela… mistura-se com a nossa magia e… envenena-a. Ela envenena qualquer encantamento que eu faça e não posso evitar…

— É como um vírus — constatei.

Adonis assentiu debilmente.

— Eu não queria ser um necromante — murmurou — Juro que não queria, mas… já nasci assim. Não sei porquê… A necromancia não é natural; é uma magia proibida que só se consegue praticar após vários rituais macabros… No entanto, eu nasci assim. E odeio ser assim…!

— Não é culpa tua, Adonis — garanti, envolvendo a sua cintura com os braços — Não é…

O rapazinho não protestou nem tentou afastar-me, por isso poisei o rosto no seu estômago e apertei-o com mais força. Ele era tão alto… mas tão pequenino ao mesmo tempo. Tão forte, mas tão frágil…

Adonis conseguiu controlar o seu pranto, mas ainda fungava quando devolveu o abraço, rodeando timidamente os meus ombros.

— Não tens… medo de mim? — perguntou num tom tão inseguro que me arrancou um sorriso.

— Não.

— Nem… nojo?

— Não digas parvoíces.

— Eu… não quero magoar-te, Eduarda…

— Não o farás — ergui a cabeça para lhe mostrar o meu sorriso — Sei que não.

— Já te magoei uma vez — disse com ar triste — Pode voltar a acontecer…

— Não vai voltar a acontecer.

— Eu não quero que me odeies…

— Eu não te odeio, tontinho. Eu adoro-te!

Adonis imobilizou-se por um segundo, como se a minha resposta o tivesse surpreendido.

— A… sério?

O meu sorriso alargou-se.

— A sério.

— Eu… também te adoro — apertou-me mais contra si, corando — Eu… gosto tanto de ti… Gosto mesmo muito de ti, Eduarda! S-sei que não deveria dizê-lo porque estás com o Leiftan, mas…

— Eu não me importo de partilhar.

Adonis soltou-me com um pequeno grito surpreendido e recuou com tanta pressa que caiu para cima de um arbusto. Enquanto o centauro esperneava no meio dos ramos finos que o arranhavam e picavam, eu petrifiquei com os olhos esbugalhados e sem uma única gota de sangue no rosto.

Leiftan estava com o ombro encostado a uma árvore próxima, ostentando um pequeno sorriso divertido nos lábios enquanto nos observava. Não parecia minimamente chateado por me ter encontrado nos braços de outro homem, a receber algo muito próximo a uma declaração de amor, e isso só não era mais estranho porque as suas palavras ainda pairavam no ar. Mas que raio…

— O que… queres dizer com isso? — balbuciei.

— Exatamente o que ouviste — o investigador inclinou a cabeça para o lado, sem parar de sorrir — O Ezarel já recolheu o que queria, por isso vamos continuar viagem. Venham…

Leiftan virou costas e começou a afastar-se. Eu troquei um olhar arregalado com o centauro que acabara de sair do arbusto antes de correr atrás do investigador.

— Leiftan! — chamei, colocando-me ao seu lado — Espera aí… Que conversa era aquela? Não te importas de partilhar? Tipo… Como assim?!

— Tu precisas de toda a ajuda possível — explicou Leiftan — Eu sozinho não consigo fornecer-te Maana suficiente para reconstruires a tua casca humana, por isso… não posso ser egoísta — dirigiu-me um pequeno sorriso — O Adonis pode ajudar-te, tanto ou mais do que eu. Não recuses os seus sentimentos. Aceita-os, simplesmente.

— Queres que… o beije?! — inquiri, chocada.

— Não precisas chegar a tanto, mas se estiveres para aí virada… — soltou um pequeno risinho — Ah, sou mesmo egoísta…

— Hã? — fiz como uma retardada, confundida pela repentina mudança de assunto.

Leiftan soltou mais um risinho enquanto esfregava os curtos cabelos negros na nuca.

— Odeio partilhar. Odeio mesmo. A nossa relação é pura conveniência e mesmo assim não quero que estejas com mais ninguém para além de mim… mas não posso ser egoísta no que te diz respeito.

— Não percebo…

— Não é difícil — pegou-me na mão, entrelaçando os nossos dedos — Tu precisas de Maana, mas eu não consigo transmitir-te o suficiente sozinho. Logo, precisas de mais alguém. E quantos mais… melhor.

— Espera aí — pedi, puxando a mão dentro da minha para o obrigar a parar — Queres que eu reúna… um harém?!

— Não, não quero… mas meio que precisas de um…

Endoideceste?!

Leiftan soltou um risinho ansioso e avançou para diminuir a distância entre nós. Sem aviso prévio, espetou-me um beijo carinhoso nos lábios.

— Sim, talvez tenha enlouquecido — murmurou contra a minha boca — Perdoa-me…

— Não percebo o que estás a tentar fazer comigo, Leiftan…

— Não é nada. Esquece o que eu disse. Por favor…

Eu não estava convencida, muito pelo contrário, mas já sabia que não valia a pena insistir no assunto. Limitei-me a assentir. Leiftan sorriu e voltou a beijar-me.

— Tu também, Adonis — disse o investigador, afastando-se e erguendo um pouco a voz — Esquece o que ouviste.

Senti o sangue aquecer-me o rosto quando me lembrei que o centauro não deveria estar muito longe de nós. Na verdade, estava a poucos metros de distância com a expressão mais confusa e chocada que vira na vida. Deu-me vontade de rir, um risinho muito nervoso e atrapalhado. Céus… O que estaria ele a pensar agora?

Fizemos o restante caminho até ao lago em silêncio. Ezarel e Lee estavam a empanturrar-se com bolachas cheias de sementes enquanto os restantes terminavam de arrumar as poucas coisas que tinham tirado das mochilas. Eu peguei na minha e meti-a cuidadosamente às costas para não magoar o osso partido… mas não me doeu. Experimentei esticar-me e torcer-me um pouco, mas não senti nada para além da resistência do gesso. Estranho…

Não voltámos para trás na hora de retomar a caminhada. Continuamos a penetrar na floresta porque, aparentemente, a ideia era atravessá-la. Nevra não acreditava que conseguiríamos chegar à outra ponta antes do anoitecer, por isso começou a fazer planos com os outros chefes de Guarda para acampar no meio da floresta. Nenhum parecia satisfeito com a ideia, mas não tínhamos outra escolha.

Parámos para montar acampamento relativamente cedo. Nevra não queria arriscar acender uma fogueira que atraísse predadores, por isso teríamos que preparar tudo antes que anoitecesse por completo. Eu comecei a sentir medo. A floresta parecia cada vez mais sinistra à medida que a luz se desvanecia e os avisos e olhares alerta dos líderes das Guardas não me tranquilizavam nada. Foi difícil resistir à tentação de pedir a Leiftan para dormir na sua toca.

Estávamos a jantar no meio da penumbra quando o que pareceu um uivo demoníaco percorreu a floresta. Os chefes das Guardas entreolharam-se.

— O que foi aquilo? — perguntou Lee, assustado.

— Arrumem tudo e entrem nas tendas — ordenou Ezarel, levantando-se — Já!

A urgência na sua voz fez com que os recrutas obedecessem sem protestar ou hesitar. Eu empurrei o que desarrumara para dentro da minha mochila e estava quase a terminar quando um segundo uivo, mais alto e sinistro que o anterior, se fez ouvir. Nevra praguejou e mandou-nos apressar. Leiftan correu para mim e atirou a minha mochila para o fundo da minha toca antes de se virar para mim, segurando-me pelos ombros.

— Ouve-me com atenção, Eduarda — pediu, sério — Vamos ouvir um terceiro uivo muito em breve e, depois dele, estás proibida de sair da tenda ou fazer barulho. Aconteça o que acontecer. Entendes?

Eu aquiesci com um rápido aceno. Leiftan deu-me um pequeno beijo e empurrou-me para dentro da toca antes de correr para a sua. Eu estava a fechar a entrada, amarrando os pequenos cordões, quando veio o terceiro uivo. Foi tão alto e agudo, tão apavorante, que quase gritei. Tapei as orelhas e escondi o rosto contra o chão da tenda até o som se esvaecer por completo. Quando voltei a abrir os olhos, o sol já se tinha posto e a escuridão era completa. O silêncio era sepulcral, cortado apenas pelos sussurros das folhas empurradas pela brisa. O medo que senti foi tão forte, visceral, que quase não me permitiu respirar. Puxei o meu cobertor até à testa e roguei às entidades divinas de Eldarya que me permitissem sobreviver só mais um dia.

Ezarel desenhara e armadilhara um círculo à volta do acampamento, mas avisara que era um encantamento débil que não conseguiria afastar criaturas realmente interessadas em entrar. Se tivéssemos sorte, nenhum habitante da floresta tentaria testar a força do círculo… mas não tivemos.

Eu estava demasiado agitada para dormir, por isso estava completamente desperta e alerta quando o monstro apareceu. Ele não fez qualquer tipo de ruído, por isso não notei a sua presença até pisar o interior do círculo. Num momento, estava tudo calmo e silencioso. No seguinte, um uivo agonizante rasgou o ar enquanto um clarão de luz explodia no meio da floresta. O meu coração quase saltou de dentro do peito e um pequeno grito incontrolável escapou-se-me por entre os lábios. Revirei-me, procurando a origem do alvoroço, e vi, através do tecido da toca, uma enorme sombra canina estrebuchar sob o que pareciam ser raios elétricos que lhe percorriam o corpo. Estes só cessaram quando o monstro recuou. A escuridão e o silêncio regressaram e eu sustive a respiração, temendo que o monstro voltasse a tentar… mas ele parecia ter aprendido a lição. Soltou um uivo de gelar o sangue nas veias e foi-se embora. Felizmente…

Testemunhar a eficácia do círculo protetor deveria ter-me tranquilizado, mas a verdade é que só consegui voltar a respirar quando os primeiros raios de sol tocaram no chão da floresta. Saí da toca ainda antes de Nevra me chamar (ou qualquer um dos outros acordar, partindo do princípio de que sequer dormiram) e enchi o peito com um longo fôlego aliviado. Na minha cabeça, estava convencida de que nenhum monstro assustador viria atrás de nós enquanto a grande bola de fogo brilhasse no céu. As criaturas malignas só saiam à noite, certo?

Errado!


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Notas finais do capítulo

[Próximo: 13/5/18]



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