Titanomaquia escrita por Eycharistisi


Capítulo 40
XXXIX. Sluagh!


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo agendado]



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A desgraça aconteceu a meio da tarde, quando eu estava ainda a desfrutar do alívio de ter deixado a floresta habitada por criaturas assustadoras para trás. Reservei um momento para agradecer silenciosamente às entidades divinas que me tinham permitido viver mais um dia, mas parece que estas não se contentaram com as minhas preces e vieram cobrar o preço por terem atendido ao meu pedido.

Começaram a retaliação substituindo o meu alívio por inquietação. Nós estávamos a percorrer um caminho de terra batida que contornava a orla de uma nova floresta quando Adonis se colocou discretamente ao meu lado. O centauro não parava de me lançar olhares ansiosos desde que acordara e não era difícil adivinhar que ele decidira, ao contrário do que Leiftan lhe recomendara, não esquecer a conversa que ouvira no dia anterior. Quando vi o rapazinho ao meu lado com o olhar virado para baixo e os punhos nervosamente cerrados, eu já sabia que ele iria puxar o assunto e isso seria bastante problemático. Adonis ouvira o investigador falar na minha “casca humana” e se me perguntasse sobre isso diante do resto do grupo… seria meio caminho andado para o desastre!

Quando ouvi o centauro pigarrear suavemente, preparei-me para o pior.

— C-como estás? — perguntou num tom baixo e inseguro, espreitando-me pelo canto do olho. Eu relaxei um pouco, mas ainda era cedo para suspirar de alívio…

— Estou bem.

— O teu osso… não dói?

— Não, estou ótima.

— Podes dizer-me a verdade…

— Mas eu estou a dizer a verdade. Estou ótima, a sério.

Adonis não parecia convencido, mas não insistiu. Baixou um pouco mais a cabeça e murmurou as palavras que me arrepiaram os pelos do corpo todo:

— Eduarda… Sobre ontem…

— Ah! — exclamei, interrompendo-o rapidamente — S-será que podemos falar sobre isso noutra altura? Eu… preferia falar sobre isso noutra altura… se não te importas.

Ele inclinou a cabeça ligeiramente para o lado.

— Quando?

— Não sei, hã… Quando montarmos acampamento?

— Mas… o Leiftan estará de volta nessa altura — balbuciou o rapazinho.

O meu “namorado” retomara a tarefa de verificar o caminho na nossa frente assim que saíramos da floresta encantada, por isso não estava connosco naquele momento. Era possivelmente por essa razão que Adonis se sentira confiante o suficiente para vir falar comigo sobre o dia anterior.

— Podes falar na frente do Leiftan, não há problema — serenei-o —, mas, se não te sentes à vontade, nós podemos afastar-nos um pouquinho…

— Define “um pouquinho” — pediu uma voz grave.

Eu e Adonis saltámos de susto enquanto Nevra se colocava entre nós com um ar muito desprazido. Ele estivera a ouvir a nossa conversa?!

— Sabes que não estás autorizada a afastar-te de mim, não sabes, Eduarda? — perguntou o Mestre da Sombra, fulminando-me com o seu olhar prateado.

— S-sei — murmurei hesitantemente.

— Porque é que o fizeste, então?

— Fiz? Quando?

— Ontem, quando seguiste o Adonis para longe do grupo. A propósito… — Nevra espetou um cascudo no centauro, que protestou e protegeu a nuca com os braços — O que raio tinhas na cabeça para te afastares tanto?

— E-eu… p-peço desculpa — murmurou o rapazinho.

— O limite para te afastares era a minha perceção, não era?

— Era…

— Porque é que a ultrapassaste, então?

— A-acho que perdi a noção da distância. P-peço desculpa, Mestre Nevra…

— Vou perdoar-te porque foi a primeira vez, mas espero que não se repita — avisou o vampiro.

— É claro…

— Tu, por outro lado — continuou o Mestre da Sombra, virando-se para mim —, desobedeceste-me pela segunda vez.

— Foi sem querer — defendi-me rapidamente.

— Isso não me impede de punir-te…

— Punir?!

— Pois é, pois é — disse Nevra, satisfeito — Como será que devo castigar-te…?

— Não, sem castigo! — implorei, segurando-o pelo braço — Foi sem querer, desculpa! Prometo que não volto a fazer! Nevra, por favor!

O vampiro ignorou o meu protesto misturado com pedido de desculpa, erguendo o olhar para o céu com um sorriso malicioso e fingindo-se pensativo.

Foi então que as entidades divinas enviaram o meu castigo. A expressão de Nevra tornou-se subitamente séria enquanto fixava um ponto específico do céu. Chamei-o de novo, com uma nota interrogativa, mas ele não me respondeu. Pegou-me no colo, arrancando-me um pequeno grito surpreendido, e correu para a floresta enquanto bradava:

— Sluagh!

Os outros membros do grupo detiveram-se por um instante, como se precisassem de tempo para processar o grito do Mestre da Sombra, e depois desataram a correr atrás dele. Eu conseguia vê-los por cima do ombro do vampiro e as expressões nos seus rostos foram o suficiente para fazer o meu coração palpitar de medo. O que é que estava a acontecer? Nós estávamos a… fugir? Fugir do quê?!

A resposta foi-me fornecida meros segundos depois, quando vi o que parecia ser uma nuvem negra atravessar a copa das árvores e voar no nosso encalço. Era enorme, tão densa e escura que não conseguia ver nada através dela. Era semelhante à névoa em que Nevra se transformava, mas, ao mesmo tempo, completamente diferente. Esta era pior. Muito pior… 

— Nevra — chamei num murmúrio, agarrando-me com mais força aos seus ombros — O que é aquilo?

— Não olhes — disse sem parar de correr.

Eu gostaria de ter obedecido, mas não consegui. A nuvem era mais rápida do que nós; atravessava os troncos das árvores como um fantasma, sem qualquer dificuldade, e não tardaria a alcançar-nos. Aproximou-se tanto que consegui discernir o longo bico negro, os olhos mais acima e a maneira como a névoa se movia para tentar manter a forma de um pássaro gigantesco. Lembrava vagamente um corvo…

A criatura escancarou o bico e soltou um grito estridente e arrepiante que fez os meus ouvidos zunir. Nevra perdeu o equilíbrio, tropeçou, caiu… e eu caí com ele. A força do impacto arrancou-me dos braços do vampiro e rebolei pelo chão algumas vezes até me conseguir estabilizar. Levantei-me tão depressa quanto o meu corpo dorido permitiu e vi Nevra contorcer-se no chão, com as mãos nas orelhas. E não era o único. Ezarel, Karenn, Lee e Chrome estavam na mesma situação e alguns até gritavam de dor. Adonis também tapava os ouvidos, mas não parecia ser tão afetado quanto os outros. Eu, Lithiel e Valkyon éramos os únicos que permanecíamos de pé e em condições de lutar.

A criatura parou de gritar ao ver a maior parte do grupo ir ao chão e lançou-se na direção da pessoa mais próxima: Lee. Duas patas de névoa, munidas com grandes garras afiadas, brotaram do corpo brumoso e miraram o elfo indefeso. Valkyon praguejou e correu para o proteger enquanto puxava o seu pesado machado de guerra… mas foi Ezarel quem salvou o elfo ao interpor-se entre ele e a criatura com um salto desajeitado. As garras negras rasgaram-lhe as costas nos ombros e na cintura e o Diretor da Absinto soltou um grito de dor antes de cair para cima de Lee. Valkyon chegou junto deles nesse instante, mas a criatura já subira no ar para escapar ao alcance da sua arma. Soltou um novo grito, bateu as asas de névoa com mais força… e começou a derreter. Não, derreter não era o termo correto. Seria mais apropriado dizer que pequenos tentáculos de névoa começaram a escorrer para o chão e a serpentear em todas as direções.

Eu queria fazer alguma coisa para ajudar, mas não sabia o quê. Olhei rapidamente em volta e vi Lithiel trepar a uma árvore com uma agilidade fora do normal até desaparecer no meio das folhas. Nevra estava a tentar levantar-se e eu corri a ampará-lo.

— Os tentáculos — murmurou o vampiro com dificuldade — Cuidado com… os tentáculos…

Um grito interrompeu o seu aviso e eu virei a cabeça para ver Karenn ser arrastada pelo tentáculo que se enrolara no seu tornozelo. Ao mesmo tempo, um outro tentáculo estava a tentar puxar Ezarel. Lee lutava para o segurar enquanto Valkyon tentava cortar o tentáculo, mas sem sucesso. Era impossível cortar a névoa e, no final, ambos os elfos estavam a ser puxados. Chrome estava a arrastar-se para longe do tentáculo que deslizava atrás dele e eu procurei sinais de tentáculos a vir na direção de Nevra. Quando os encontrei, puxei o vampiro ainda zonzo para trás de mim. Eu sabia que não o conseguiria proteger, mas… não faria mal tentar!

— Karenn — murmurou Nevra com uma mão na testa — Temos de ajudar a Karenn…

O vampiro gemeu e tapou os ouvidos quando a criatura soltou mais um grito, tão alto que até eu senti uma pontada de dor. Espreitei o bicho por cima do ombro e vi-o lançar-se à árvore que Lithiel subira, enterrando o bico entre os ramos. A minha dupla soltou um pequeno grito e caiu, aterrando de costas e com um ombro a sangrar. Aparentemente, a criatura acertara-lhe com o bico… e estava a estender as garras para terminar o que começara!

— Eduarda!

Eu virei-me, sobressaltada, e vi Leiftan correr na nossa direção. Estava ainda demasiado longe para nos ajudar, mas não parava de gritar e apontar para o pássaro:

— Diz-lhe para parar! Ele vai matar a Lithiel! Diz-lhe para parar! Já!

Eu não estava a perceber patavina, mas nem sequer tentei. A criatura estava prestes a enterrar as garras na barriga de Lithiel e alguém tinha de fazer alguma coisa. Eu não tinha qualquer presunção de derrotar o bicho, mas se conseguisse distraí-lo tempo suficiente para permitir a Lithiel escapar, já seria uma grande vitória. Não havia tempo para pensar; era hora de agir. E fiz exatamente o que o investigador pedira: corri para a criatura, agitando os braços, e gritei para que parasse. Os meus gritos tornaram-se mais estridentes e aflitos quando as garras tocaram o tronco de Lithiel… mas não a rasgaram ao meio. Em vez disso, a criatura olhou para mim.

Derrapei até parar quando o longo bico negro ficou apontado à minha cara e, por via das dúvidas, ergui as mãos em rendição. Vai que a criatura tem algum senso de misericórdia… Gritar também não me parecia boa ideia, por isso baixei o tom de voz:

— Para, por favor. Eu não sei o que queres, mas… nós viemos em paz. Não pretendemos magoar ninguém. Juro! Não há razão para isto, por isso, por favor, não a magoes…

Lithiel mexeu-se, tentando libertar-se, mas a criatura cravou a ponta das garras na sua barriga. Não foi ao ponto de sangrar, apenas o suficiente para informar a doppelganger que devia ficar quieta, mas o meu coração quase parou no peito quando as garras desceram. Forcei-me a sossegar quando vi que não estavam a magoá-la. A constatação desse facto foi um choque quase tão grande quanto o susto porque queria dizer que, em certa medida… a criatura entendera o que eu dissera.

— Nós não vamos magoar-te — continuei — Prometo. Só estamos de passagem e iremos já embora se a libertares — apontei para Lithiel — Por favor… Por favor, liberta-a.

A criatura inclinou a cabeça para o lado, como um pássaro curioso… e obedeceu! Lithiel ficou livre das garras mortíferas e eu soltei um pequeno suspiro de alívio… que voltei a engolir quando a criatura deslizou até mim como um fantasma. Foi tão rápida que não tive tempo para recuar um passo e, mesmo que tivesse, acho que as minhas pernas não seriam tão obedientes quanto o passarão.

A criatura parou na minha frente e baixou a cabeça até os nossos olhos ficarem ao mesmo nível. Estava tão perto que conseguia ver o reflexo do meu rosto pálido de susto nos seus olhos negros; tão perto que conseguia ver a névoa que constituía o seu corpo revoltear, desenhando penas que se evaporavam somente para voltarem a ser desenhadas.

Sustive a respiração com o coração a martelar-me as costelas e os joelhos a tremer. Se a criatura reagisse ao medo da sua presa, eu estaria condenada porque estava assustada o suficiente para fazer xixi nas cuequinhas. O pássaro, porém, não me atacou. Grasnou suavemente e aproximou-se mais, lentamente, até tocar com o bico na mão direita que continuava suspensa no ar. Resisti ao impulso de a recolher e a criatura começou a bicar carinhosamente os meus dedos, como eu vira os pássaros do zoo fazer quando queriam alguma coisa. A criatura queria algo de mim? Seria a comida na minha mochila? Dar-lha-ia de bom grado se conseguisse mexer-me o suficiente para tirar a mochila dos ombros!

Senti alguém aproximar-se nas minhas costas e senti-me um pouco melhor ao ouvir a voz de Leiftan a poucos centímetros de distância da minha nuca:

— Acaricia-o…

Acariciá-lo? Espera aí… O bicho queria… mimos?!

Ouvi alguém sussurrar o meu nome, mas não me atrevi a desviar o olhar da criatura. Hesitante e cautelosamente, estendi a mão para a lateral do bico do passarão e teci uma pequena carícia. Ele fechou os olhos e empurrou-se contra a minha mão, pedindo mais.

Eu conseguia ouvir os sussurros pasmados dos outros, mas ninguém estava mais surpreendido do que eu. O que queria a criatura de mim?!

— Manda-o embora — sussurrou Leiftan — Precisamos de tratar do Ezarel.

Eu assenti e teci uma última carícia antes de afastar a mão. A criatura abriu os olhos e fixou-os em mim.

— Obrigada por me ouvires — murmurei — Está na hora de ir…

O pássaro soltou mais um som suave, abriu as asas e desapareceu no meio das copas das árvores. A calmaria retornou, tão súbita e inesperada que todos nós a estranhámos.

— Maldita sejas, mulher — coaxou a voz dolorida de Ezarel, caído nos joelhos de Lee — O que diabos fizeste ao bicho?

— Salvou-nos — disse Leiftan, poisando uma mão no meu ombro — Fica grato por a Eduarda estar aqui.

— Se ela tinha algum poder sobre o bicho, devia tê-lo exercido mais cedo…!

— Precisamos de tratar as suas costas, Diretor — interveio Lee com a voz embargada pelo seu choro silencioso — Está a sangrar… muito…

— Eu posso ajudar — ofereceu-se Nevra, avançando um passo.

— Fica longe de mim — resmungou o elfo, tentando levantar-se — Eu não estou a morrer, por isso não preciso de um tratamento tão “radical”. Só preciso de desinfetar a ferida, levar uns pontos e besuntar-me em regenerador.

— E quem é que te vai costurar? — inquiriu o vampiro.

— Eu faço-o — aprontou-se Lee — É o mínimo que posso fazer para… agradecer…

— Vamos montar acampamento — decidiu Leiftan — Acho que todos precisamos de descansar depois do que aconteceu… Há um rio um pouco mais ao fundo da floresta. Vamos até lá.

Os restantes concordaram e preparamo-nos para mover os feridos. Ezarel foi apoiado no ombro de Valkyon, mas Lithiel quis caminhar pelo próprio pé.

— Não é nada sério — tranquilizou-me quando a tentei ajudar.

— De certeza? Caíste duma árvore e bateste com as costas no chão, podes ter magoado a coluna…

— Eu estou bem!

— Porque é que subiste a árvore, para começo de conversa? — perguntei num tom mais reprovador do que pretendia.

— Estava à procura duma oportunidade para vazar um olho do bicho — explicou com um suspiro impaciente — Os olhos e o interior do bico são os únicos pontos fracos e são bastante difíceis de atingir, por isso escondi-me para poder mirar em paz. Infelizmente, falhei o alvo, revelei a minha presença e ele atacou-me…

— A sério? Eu estava a ajudar o Nevra, por isso não vi o que aconteceu…

— Eduarda?

Olhei por cima do ombro e vi o Mestre da Sombra parado atrás de mim. Lithiel aproveitou a interrupção para se escapar, afastando-se com uma mão a apoiar o fundo das costas. Nevra colocou-se diante de mim com ar preocupado.

— Como estão as tuas costas? — perguntou num tom baixo.

— Costas? — repeti, confusa.

— Não tinhas um osso partido?

— Ah! Oh! — exclamei, lembrando-me subitamente da minha asa partida — Tenho, mas estou bem…

Nevra ergueu ligeiramente uma sobrancelha, desconfiado, e eu não podia censura-lo. Não fosse estar bem depois de ter caído e rebolado pelo chão estranho o suficiente, eu também conseguira esquecer-me que tinha um osso partido. Eu não deveria estar a sentir dor naquele momento? Desconforto, no mínimo? Mas não… Não sentia rigorosamente nada!

— Não precisas de esconder — disse Nevra — Se estiveres com dores…

— S-sinto umas pontadas de dor, mas não é nada insuportável — menti — Estou bem, a sério…

Nevra franziu o sobrolho e tocou suavemente no meu queixo.

— Desculpa ter-te deixado cair — murmurou.

— Não há problema. A culpa não foi tua.

— Foi. Eu deveria ter tido mais cuidado.

— Mais cuidado? Tu salvaste-me a vida e estás preocupado porque me deixaste cair? Nevra, eu nem me importava se tivesse partido outro osso! Isso não mudaria a nobreza do que fizeste. Eu só posso estar aqui neste momento, a queixar-me das dores nas minhas costas, porque tu correste comigo no colo quando o passaroco apareceu. E fico-te eternamente grata por isso…

Nevra hesitou, mas acabou por abrir um pequeno sorriso. Poisou uma mão na minha cabeça e sacudiu carinhosamente o meu cabelo antes de se afastar. Eu segui-o com o olhar, sentindo uma repentina pontada de nostalgia. Aquela era a primeira vez que ele me sorria em muito tempo… Talvez… demasiado tempo.

Retomámos o nosso caminho em direção ao rio, mas montámos o acampamento no meio da floresta. Nevra queria aproveitar a cobertura das árvores para evitar que fossemos vistos por outros passarões que estivessem no ar, até porque o próximo poderia não ser tão obediente quanto o primeiro… Entretanto, Leiftan explicou-me o que eram as criaturas.

Os sluagh eram faeries sem consciência humana, mas não eram como os que viviam na floresta encantada. Eram mais perigosos, mais poderosos, extremamente agressivos e muito difíceis de matar. Além disso, alimentavam-se de outros faeries. O seu ninho situava-se numa montanha rochosa a poucos quilómetros dali, por isso não era invulgar encontrá-los naquela zona. Leiftan e os outros teriam gostado de evitar aquele caminho, mas um desvio significaria vários dias de atraso na viagem.

Aproveitei a ocasião para perguntar porque é que o sluagh me obedecera, mas o investigador abriu um pequeno sorriso tenso, disse que não sabia e desviou a conversa para o meu osso partido. Eu sabia que ele estava a mentir mesmo antes do olhar expressivo que Lithiel me lançou. Afinal, Leiftan não me teria mandado parar a criatura se não soubesse que ela me ouviria.

O meu “namorado” insistiu em ver o que estava a acontecer debaixo do gesso nas minhas costas, por isso afastámo-nos do grupo para ter alguma privacidade. Ele desenrolou as ligaduras, partiu o gesso e começou a examinar-me. Fiquei feliz quando anunciou que o osso estava curado… mas quase não consegui segurar as lágrimas de desespero quando ele desdobrou cerca de metro e meio de pele e osso.

— Consegues mexê-la? — perguntou, segurando a ponta da asa escanzelada.

Eu neguei com a cabeça mesmo antes de tentar.

— É normal, não tens quase massa muscular e os ossos são muito finos e frágeis — comentou, continuando a sua análise — Provavelmente vão crescer ainda mais.

— Como é que vou esconder isso? — perguntei com um murmúrio, enterrando o rosto nas mãos.

Leiftan recolheu a minha asa contra as minhas costas e depositou um beijo no topo da minha cabeça.

— Nós vamos conseguir…

Íamos? Eu não tinha assim tanta certeza…


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Notas finais do capítulo

[Próximo: 20/5/18]



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