Titanomaquia escrita por Eycharistisi


Capítulo 38
XXXVII. A Eduarda vai ter asas?


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo agendado]



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A nossa viagem durava há já oito dias quando finalmente chegámos ao nosso primeiro destino: uma vasta floresta constituída por árvores gigantescas e habitada por diversas raças faeries sem consciência humana. Ou seja, eram meros animais. Adonis explicou-me que a maioria era inofensiva, mas poderia facilmente tornar-se um problema se os incomodássemos ou magoássemos. A atitude mais prudente seria entrar na floresta apenas enquanto houvesse luz do sol; assim seria mais fácil evitar tropeçar num faery potencialmente perigoso. Como já passava do meio da tarde quando chegámos à orla da floresta, optámos por montar acampamento e esperar pela manhã seguinte. Valkyon enviou entretanto a sua mascote, Floppy, para explorar a floresta, uma vez que era pequena e dificilmente seria vista como uma ameaça pelos seus habitantes. Shaitan, o estranho cão negro e roxo de Nevra, não tivera a mesma sorte, regressando para o dono a ganir e a coxear.

Aproveitámos o resto da tarde para treinar. Os exercícios com o investigador da Reluzente estavam finalmente a dar frutos e eu não parava de me surpreender com o meu próprio progresso. Os elementos permaneciam sem me obedecer e a camuflagem ainda estava longe de perfeita, mas estava a melhorar imenso no combate. Sentia-me mais forte e ágil e já não era a única a receber golpes. Não tinha força suficiente para deixar em Leiftan os mesmos arranhões e mazelas que ele deixava em mim, mas, no meu ver, cada pequeno encontro entre o seu corpo e a minha espada improvisada já era uma grande vitória.

Gostaria de ter passado o resto da tarde a lutar com ele, mas Leiftan, Nevra e Ezarel aproveitaram a ocasião para construir o cenário necessário para o treino de Adonis. Desenharam um círculo em torno do centauro e agacharam-se no exterior da linha. Eu pretendia ir até eles para ver o que estavam a fazer, mas Valkyon chamou-me para junto dos restantes recrutas. Seria ele o nosso instrutor naquele dia.

O treino começou bem. Valkyon dividiu-nos em pares para lutarmos entre nós. Eu lutaria contra Lee; Karenn lutaria contra Chrome. Quem imobilizasse o adversário por três segundos seria o vencedor e lutaria com o vencedor da luta vizinha. Quem ganhasse todos os combates, enfrentaria Lithiel. Seria uma contenda simples e de baixo risco, uma vez que não usaríamos armas. No entanto, quando estava a lutar contra Chrome (depois de ter perdido contra Lee), as coisas começaram a complicar-se. Caiamos sem razão aparente e pequenos ferimentos principiaram a surgir. Chrome terminou com um pequeno graveto espetado na palma da mão. Lee arrancou uma unha ao cair e raspar as pontas dos dedos numa pedra. Karenn ficou com uma perna dormente quando roçou sem querer numa planta venenosa. E eu parti um osso quando caí de costas.

Descobrira recentemente que as fisgadas de dor que sentia na minha omoplata com cada vez mais frequência eram, na verdade, o primeiro osso das minhas asas.

Karenn e Lithiel foram as primeiras a vê-lo, na segunda noite que passámos numa estalagem. Esta, ao contrário da anterior, tinha uma sala de banhos públicos e nós decidimos ir até lá no meio da noite para evitar que alguém visse a pele iridescente que começava a estender-se para a minha coxa e para o lado esquerdo do meu tronco.

As duas raparigas entraram primeiro para se certificar de que estávamos sozinhas e eu entrei ao receber a sua confirmação. Enquanto me despia, elas iniciaram o seu próprio banho. Pouco depois, tentei juntar-me a elas numa pequena piscina com espuma, mas levantei-me com um pulo ao sentir um ardor insuportável nas costas. Quando me virei para perguntar se tinha alguma coisa, elas arregalaram os olhos.

— A tua pele está muito inflamada — disse Lithiel, aproximando-se.

— Parece que tens algo por baixo da pele — acrescentou Karenn.

Lithiel pressionou cuidadosamente um ponto abaixo da minha omoplata.

— Não parece, tem mesmo — anunciou — Eduarda…

— O que é? — perguntei, preocupada.

— Acho que te estão a nascer asas.

— Asas? — repetiu Karenn — A Eduarda vai ter asas? Porquê?!

Lithiel hesitou.

— Ela não sabe? — perguntou-me, apontando para a vampira.

Eu limitei-me a negar com a cabeça. O choque de descobrir que tinha asas a nascer nas minhas costas ainda me consumia.

Eu sabia que os titãs tinham asas, várias até, distribuídas um pouco por todo o corpo, mas nunca pensei que eu própria as teria. Como iria esconder aquilo? Tinha sérias dúvidas de que a camuflagem fosse o suficiente!

Lithiel foi chamar Leiftan a meu pedido e eu embrulhei-me numa toalha enquanto esperava pelo seu regresso. Karenn ficou comigo e tentou questionar-me sobre o que ela “não sabia”, mas eu estava demasiado inquieta para lhe responder. A vampira pareceu perceber isso, porque não insistiu.

Leiftan chegou com o cabelo desgrenhado e a roupa amassada, mas um olhar completamente desperto. Lithiel convenceu Karenn a regressar ao banho e nós ficámos sozinhos no vestiário.

— O que é que se passa? — perguntou o investigador — A Lithiel disse-me que era urgente, mas… — deteve-se quando me virei de costas — Eduarda?

Afrouxei o aperto da toalha apenas o suficiente para lhe mostrar a minha omoplata e ouvi-o suster a respiração.

— Isso… é mau — murmurou, levando nervosamente a mão aos lábios — Muito mau…

— O que é que eu faço? — murmurei com os olhos cheios de lágrimas.

Leiftan não tinha nenhuma ideia a curto prazo. Os titãs podiam assumir forma humana e o investigador pretendia ensinar-mo, mas eu estava a transformar-me mais rápido do que conseguiria aprender. Quando fosse capaz de realizar o encantamento, já me teria transformado por completo… e já todos saberiam o que eu era.

A nossa prioridade tornou-se esconder o osso emergente. Leiftan sugeriu-me vestir um espartilho para encobrir o volume, mas ninguém tinha um. Lithiel decidiu então arriscar o pescoço e roubou um rolo de ligaduras da mochila de Ezarel. Ela e Karenn ajudaram-me a enrolá-las no tronco depois do banho, enquanto esta última insistia em saber o que estávamos a esconder dela. Eu fi-la prometer que não contaria a ninguém antes de contar-lhe a verdade. Karenn olhou-me como se estivesse a encarar a própria morte e só relaxou quando mostrei o arabesco vermelho e revelei que jurara jamais magoar os faeries ou o seu mundo. Acho que foi apenas por isso que a vampira cumpriu a sua promessa…

As minhas costas tornaram-se, assim, intocáveis durante os treinos com Leiftan. Lee e Chrome, porém, não estavam a par da situação. Temi que eles acertassem o meu osso durante o exercício proposto por Valkyon, mas tive sorte. Quero dizer, tive sorte… até tropeçar numa pedra enquanto me desviava dos golpes do rapaz-lobo e cair para trás, batendo com a omoplata direita noutra pedra! Ouvi um estalo como se alguém tivesse partido um pequeno galho e, quase ao mesmo, senti a dor assolar-me. O meu grito de agonia chamou a atenção de toda a gente, incluindo os três homens agachados em torno de Adonis. Depois, o caos instalou-se.

Chrome ficou a olhar para mim com os olhos arregalados. Nevra e Ezarel começaram a gritar ao mesmo tempo, mas não consegui perceber o que diziam. Valkyon e Lithiel correram na minha direção e o primeiro tentou puxar-me para si, mas tocou na minha omoplata no processo e arrancou-me um segundo grito de dor. Lithiel, Karenn e Lee ajoelharam-se ao meu lado, perguntando onde doía.

— Eduarda, fala connosco! — suplicou a vampira, aflita.

— Saiam da frente! — ordenou Ezarel, aparecendo a correr e empurrando Lee para fora do caminho com zero de delicadeza — O que é que aconteceu? Fala, Eduarda!

Eu rangi os dentes, sentindo as lágrimas de dor brotar nos cantos dos meus olhos.

— As minhas costas… — murmurei a custo.

— Doem?

— Caí… em cima de uma pedra…

— Deixa-me ver — exigiu, começando a procurar a bainha da minha camisa.

— Não! — gritaram Karenn e Lithiel, caindo para cima de mim enquanto tentavam impedir o Diretor da Absinto de levantar a minha roupa. Eu soltei mais um grito de dor, esperneando.

— O que é vocês estão a fazer, suas atrasadas mentais?! — barafustou o elfo — Saiam da frente!

— Vocês não estão a ajudar! Afastem-se todos! — ralhou Leiftan.

— Eu estou a tentar fazer o meu trabalho! — defendeu-se Ezarel.

— Chega-te para trás! — exigiu o investigador — A Eduarda precisa de respirar! Deem-lhe espaço!

Relutantemente, as pessoas em meu redor começaram a recuar. Só Valkyon não se mexeu, uma vez que ainda estava a segurar-me contra o peito. Leiftan colocou-se na nossa frente e tocou-me carinhosamente no rosto. Eu não consegui evitar um suspiro de alívio quando o seu toque amainou a dor nas minhas costas.

— Caíste sobre o lado direito? — perguntou com um murmúrio.

Eu assenti, virando a cara na direção da sua mão. Céus, precisava de mais do seu toque… e ele pareceu entendê-lo, porque poisou a outra mão na minha coxa.

— Eu… ouvi um estalo quando caí — confessei — Acho que parti… alguma coisa…

— Isso é impossível — negou Chrome — Uma queda tão simples…

— Caí em cima de uma pedra…

— É preciso muito azar! — comentou Lee — Eu arranquei uma unha, o Chrome cravou um graveto na mão, a Eduarda partiu um osso… Já vi treinos mais agressivos gerar menos ferimentos!

— É verdade — concordou Karenn, pensativa — Como é que um treino tão simples resultou em tantos ferimentos?

— Não é, definitivamente, normal — corroborou Lithiel.

— Será influência da floresta? — ponderou Chrome.

— Se for, já não quero entrar — disse Lee de imediato — Só estamos na orla e vejam o que aconteceu! A Eduarda podia ter morrido! Se tivesse sido o pescoço em vez de…

— …culpa — murmurou uma voz chorosa algures atrás de nós.

Nós viramo-nos para encontrar Adonis parado a alguns passos de distância. Tinha a cabeça baixa e o cabelo caído na frente do rosto, mas a voz e os tremores dos seus punhos denunciavam o choro.

— O que disseste, Adonis? — perguntou Karenn.

O centauro fungou.

— É m-minha culpa… A Eduarda magoou-se… p-por minha causa… É minha culpa!

— O que é que estás para aí a dizer? — questionou Chrome, confuso.

— F-fui eu que provoquei i-isto… Eu não queria… Não era minha intenção… P-perdoem-me… Eu… lamento imenso!

— Adonis! — Nevra ainda tentou chamar, mas o pequeno centauro já se afastara a galope. O vampiro avançou um passo como se quisesse segui-lo, mas a irmã pegou-lhe no pulso.

— Do que é que ele estava a falar, Nevra? — exigiu saber.

— Não é nada, não te preocupes. Concentrem-se em tratar da Eduarda — disse antes de se transformar em névoa negra e partir no encalço de Adonis.

— O Nevra tem razão, precisamos de cuidar da Eduarda — murmurou Valkyon.

— Eu faço-o — anunciou Leiftan.

— Desculpa? — intrometeu-se Ezarel — Não sabia que tinhas sido promovido a alquimista do grupo!

— Não fui, mas sei perfeitamente cuidar de um osso partido.

— Ah, sabes? — desdenhou o elfo, cruzando os braços na frente do peito.

— Sei, já o fiz antes.

Ezarel revirou os olhos, mas encolheu os ombros.

— Como quiserem… Não é o meu osso que vai ficar arruinado!

— Eu ajudo-te, Leiftan — ofereceu-se Karenn.

O investigador consentiu com um aceno e ajudou-me a colocar de pé. Karenn apressou-se a vir apoiar-me e encaminhámo-nos os três para a margem dum rio que existia a alguns metros do acampamento. Avançámos um pouco mais, principiando a entrar na floresta, para que as árvores nos escudassem da visão dos outros.

— Karenn, vigia o acampamento enquanto cuido da Eduarda — pediu Leiftan — Avisa-nos se alguém se aproximar.

A vampira aquiesceu e desapareceu por entre as árvores. Eu e Leiftan continuámos a caminhar até encontrar uma pedra suficientemente grande para me permitir sentar com o mínimo de conforto.

— Fica aqui, eu já volto. Despe a camisa, se conseguires.

Eu acenei com a cabeça e esperei que o investigador desaparecesse para levar as mãos aos botões. Soltando arquejos e grunhidos de dor, despi a camisa. Tirei as ligaduras que usava para esconder o volume do osso… e após inspirar um sopro de coragem, tirei também a roupa interior. Encostei a camisa ao peito para me tapar e esperei pelo regresso de Leiftan. Ele veio com uma caixa de madeira e um conjunto de folhas verdes nas mãos, as quais me estendeu ao parar ao meu lado.

— Mastiga isto.

— O que é? — perguntei, curiosa e um pouquinho desconfiada.

— É para as dores. Vai-te saber bem. Mastiga, sem engolir.

Fiz um trejeito desagradado, mas separei duas folhas e meti-as na boca enquanto Leiftan ia buscar um pouco de água ao rio. Não consegui evitar uma pequena careta ao trincar.

— Não volto a acreditar em ti quando disseres que algo irá “saber bem” — disse-lhe quando regressou — Isto sabe tão mal…

O investigador soltou um risinho divertido e poisou a taça com água ao meu lado.

— O sabor não compensa a ausência de dor?

— Ah… sim, talvez — cedi, olhando-o com curiosidade — O que vais fazer com isso?

— É para o curativo. Vais ficar bem, não te preocupes — garantiu enquanto juntava um pó branco à água — Consegues mexer isto?

Eu confirmei com um aceno e puxei a taça para o meu colo, prendendo-a entre as pernas. Segurei a camisa com uma mão e usei a outra para misturar o pó e a água numa massa espessa e viscosa. Enquanto isso, Leiftan estudava atentamente as minhas costas. Senti-o puxar uma pontinha de pele solta sobre a minha omoplata esquerda e quase esmaguei a taça entre as pernas quando os seus dedos me provocaram cócegas no fundo das costas.

— Desculpa — murmurou ao notar a minha reação — Magoei-te?

— Não… mas porque perguntas? Tenho alguma coisa aí?

— A tua pele está um pouco irritada. Acho que é mais uma asa.

— Outra?! Mas quantas asas me vão nascer?

— Catorze, se não me engano…

— Catorze?!

— Estão a crescer muito bem — continuou ele — A ponta da asa superior direita já começou a separar-se das costas. Dentro de… uma semana, mais coisa menos coisa, estará completamente formada.

— Tão cedo? — questionei, preocupada.

— Sim — confirmou, parecendo igualmente preocupado — Só espero que este crescimento acelerado também te permita curar mais depressa.

— Espero que sim — concordei — Poupar-me-ia a um mês de dor e sofrimento.

Leiftan poisou uma mão quente e macia nas minhas costas.

— Estou a magoar-te? — perguntou enquanto sondava o osso partido com as pontas dos dedos.

— Não.

— Vou começar, então.

O tratamento não demorou tanto tempo quanto estava à espera. Leiftan espalhou um creme gelado nas minhas costas, mexeu um pouco no osso e, por fim, untou-o com a massa que eu estivera a misturar. Aparentemente, era gesso. Reaproveitámos as ligaduras para garantir que o gesso não sairia do sítio e recebi autorização para vestir-me. O problema é que… não conseguia. O gesso dificultava os meus movimentos, não me permitia mexer com a mesma desenvoltura. Leiftan estava tão distraído a arrumar as suas coisas que não notou a minha agonia e, quando me viu com a roupa interior amarfanhada entre os dedos, interpretou mal a situação.

— Eu vou deixar-te à vontade para te vestires — aprontou-se, começando a afastar-se.

— L-Leiftan! — chamei rapidamente.

Ele virou-se, curioso, e eu mordi nervosamente o lábio. Não lhe queria pedir ajuda para me vestir. Leiftan era apenas meu “namorado por conveniência”, a nossa relação não era íntima o suficiente para aquilo… Raios me partissem, nem os beijos que trocávamos com cada vez mais frequência iam para lá de uma suave carícia nos lábios! A nossa relação não era assim! No entanto, o meu “namorado” era a única pessoa ali. Não teria maneira de me vestir se não pedisse…

— Eu não… n-não consigo… vestir-me — murmurei a custo.

Leiftan piscou os olhos… e corou. As suas bochechas coloriram-se com um suave e encantador tom de vermelho enquanto ele desviava o olhar e levava nervosamente a mão à boca. Parecia tão jovem e inseguro naquele momento que dei por mim a perguntar-me que idade teria.

Leiftan não teve tempo de responder porque Karenn aterrou ao meu lado como que saída de um buraco místico no céu e ofereceu-se para me ajudar. O investigador passou-lhe o testemunho com o que parecia alívio e afastou-se com passos apressados. Eu não consegui evitar o meu próprio suspiro de alívio. Fora por pouco… Esquecera-me completamente que Karenn viera connosco! Um erro crasso, como a vampira fez questão de lembrar ao começar com as suas piadinhas.

Já começara a escurecer quando regressámos ao acampamento e todos estavam a preparar-se para jantar. Vi Nevra, mas não encontrei Adonis. Pretendia questionar o vampiro sobre o assunto, mas Lee, Lithiel e Chrome aproximaram-se para averiguar o meu estado de saúde. Disseram-me também que o pequeno centauro estava bem, mas precisava de um momento sozinho.

O jantar foi seguido por uma sessão de treino com os elementos, mas eu não participei por causa da lesão nas minhas costas. Fiquei simplesmente sentada junto à fogueira enquanto observava os restantes. Nevra e Karenn estavam a brincar com tornados como se estes fossem piões. Lee estava na margem do rio a receber mais um sermão de um Ezarel ensopado. E Lithiel quisera um treino mais sério, por isso convidou Leiftan para um duelo. O sorriso dela enquanto tentava aprisionar a cabeça do investigador no interior duma bolha de água era particularmente cruel, mas ele não parecia preocupado. Pelo contrário, sorria como se estivesse a divertir-se e eu perguntei-me vagamente se, quando olhava a minha dupla, ele via aquilo que esperava que eu fosse…

Chrome não tinha ninguém com quem treinar, por isso sentou-se perto de mim e dedicou-se a construir pequenas construções de areia para me entreter. Valkyon sentou-se não muito longe de nós e observava atentamente o progresso o rapaz-lobo.

— Não treinas, Valkyon? — acabei por perguntar.

Ele sacudiu levemente a cabeça.

— Eu não consigo canalizar.

— Oh — fiz, lembrando-me subitamente que Valkyon era faelien — Desculpa, eu não sabia…

— Não faz mal — murmurou o Comandante — Eu não consigo exteriorizar a minha magia, mas tenho outras maneiras de usá-la.

— Como?

— Em mim mesmo.

— Não estou a perceber…

— A Maana está presa no meu corpo. Entra, mas não consegue sair, como se o canal estivesse entupido. Isso, porém, não impede que a magia aconteça aqui dentro — explicou Valkyon, poisando a mão no próprio peito — Posso usá-la para fortalecer o meu corpo, os meus ossos, os meus músculos…

— É por isso que ele parece uma montanha andante — interveio Chrome.

Valkyon agarrou e atirou uma pequena pedra ao rapazinho com uma velocidade estonteante. Chrome ganiu ao sentir o impacto na perna.

— Ele também consegue tornar a própria pele dura como pedra — acrescentou o rapazinho enquanto massajava a coxa —, mas não quer ensinar-me.

— É um encantamento difícil. Nem sempre resulta e eu não quero que te magoes porque te convenceste que eras “invulnerável”. Queres ver as cicatrizes que ganhei por confiar demasiado nesse encantamento?

Chrome resmungou qualquer coisa incompreensível, mas não insistiu. Concentrou-se nas suas construções de areia até sermos mandados para a cama. Eu hesitei ao entrar na minha toca, lançando um rápido olhar em redor… mas ainda não havia sinal de Adonis. Onde estaria…?


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Notas finais do capítulo

[Próximo: 6/5/18]



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