Tronos de fogo e gelo escrita por Sojobox


Capítulo 6
O bastardo de Valdocaso.


Notas iniciais do capítulo

Revelações sobre os Darklyns, mortes e mais mortes é o que encontraram nesse capitulo.
Bom proveito.



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Melia Hollard

 

 

Talvez Melia não quisesse admitir, porém, ela olhava para o jovem Denys de outra maneira a algum tempo. O garoto que outrora parecia apenas um jovem tímido, desajeitado e sem opinião sobre nada, naquele momento, demonstrava uma força de vontade fora do comum: ele estava arriscando sua vida nessa competição.

 

E até que ele é bonitinho — pensou Melia —, mas tudo isso poderia ter sido evitado caso eu não tivesse sido enganada pelas palavras do Desmond, ele sabia da honra que carrega o nome Hollard e me enganou.

 

Melia Hollard tinha apenas sete anos, mas era uma princesa e foi treinada a falar de forma refinada e como se portar dignamente. Ela aprendera desde cedo como o mundo funcionava e onde ela se “encaixava”. Era mulher e jamais seria a governante Hollard, por ser da realeza teria de se casar com alguém de fora para estreitar os laços políticos com as famílias vizinhas.

 

Mesmo o arranjo com os Darklyns, eu já havia previsto que ocorreria algum dia, embora tenha acontecido alguns anos antes do que eu imaginei.

 

Não poderia escapar do seu destino, mas se ela pudesse voltar no tempo e escolher novamente, sem dúvida, escolheria Denys.

 

Ele é alguém muito mais gentil e carinhoso que o irmão, acho que poderia aguentar viver com ele... apesar de ser um Darklyn. Esse sentimento que sinto seria amor? Será que não sou nova demais para isso?

 

Tudo na vida da princesa ocorreu cedo demais, teve de amadurecer mais rápido do que as meninas de sua idade, acabou crescendo sem amigas e tornou-se uma garota revoltada: seu pai só passava tempo com ela quando os irmãos não estavam, sua mãe desde que adoeceu não dava a mesma atenção a filha e seus irmãos não se importavam muito com ela; a jovem passava mais tempo com as criadas pessoais do que com a família.

 

Denys atirou a flecha no quarto círculo, acumulando noventa pontos, contra setenta pontos do irmão.

 

O que a princesa pensou sobre o que tinha acabado de ver? Quem poderia imaginar que o jovem desajeitado seria tão bom atirando flechas. Melia com certeza não diria isso, e muito menos a rainha Messaea, que simplesmente começou a apresentar um semblante mais sério, quando o filho mais novo acertou, sem dificuldades, as duas flechas.

 

Alguma coisa está muito errada. Mas o que? Melia não conseguia enxergar, mas as trevas se aproximavam cada vez mais de Westeros. O inverno estava chegando.

 

Messaea disse algo que fez a princesa pensar um pouco:

 

— Quando que poderíamos imaginar Denys fazendo frente ao irmão em algo como arco e flecha…

 

A rainha olhou para o lado e disse algo a Ellenero, que saiu correndo do local.

 

— Aconteceu alguma coisa, rainha… digo, Messaea?

 

— Nada demais, não se preocupe, minha querida, tudo será resolvido bem mais rápido do que se imagina.

 

— Que bom... — O que isso quer dizer exatamente?

 

Os príncipes se preparavam para o último disparo, deveriam atirar ao mesmo tempo.

 

Será que é isso que ela quis dizer com resolver rápido?

 

Outra coisa que Melia também pensava naquele momento, era onde poderia estar o rei Denys, já que ele não estava ali no evento mais importante da região desde a coroação dele como rei; sem contar o fato que eram os dois filhos dele que estavam se enfrentando e por sua própria ordem.

 

Que pai desnaturado! O que pode ser mais importante do que estar aqui nesse momento?

 

Enquanto ambos se preparavam para atirar, ouvi-se um rugido.

 

— Mas o que foi isso? — Melia se levantou assustada, quando viu a razão do barulho.

 

Um urso gigante invadiu o local, entrando no recinto, destruindo as frágeis arquibancadas onde estavam os plebeus. Iniciou-se uma gritaria, seguida de uma correria enorme. Pessoas corriam desesperadas, pisoteando outras que estavam no caminho. Willer tentava acalmar o povo, dizendo que a situação estava sob controle. Mas é claro que não adiantou.

 

O urso avançou para o camarote onde estavam a rainha Messaea e a princesa Melia. Alguns guerreiros se aproximaram, tentando protegê-las, inutilmente; não estavam preparados para um ataque desses, havia poucas pessoas armadas na área, na verdade, além de Denys e Desmond, apenas dois guardas, que protegiam Melia e Messaea, tinham armas. Mas ambos foram rapidamente mortos pelo animal: o primeiro tentou atacar antes, mas o urso foi mais rápido e, com uma mordida, arrancou seu braço; já o segundo foi em direção ao animal de forma desesperada e acabou sendo jogado pra fora do palanque; na queda, acabou tendo a infelicidade de ser acertado no coração pela própria lança.

 

Desmond observou a confusão e utilizou a sua flecha para mirar no alvo, conseguindo acertar o círculo interno, fazendo assim mais cinquenta pontos. Após o disparo certeiro, usou uma grande pedra ao seu lado pra se esconder.

 

— Peguem esse animal! Matem-no agora!! — a rainha, desesperada, gritava por alguém que a salvasse.

 

Quando o urso começou a subir o palanque que levava ao local onde estavam Melia e Messaea, Willer se colocou entre eles, ordenando, em vão, que este parasse, porém, o animal gigante ignorou a ordem, devorando-o com apenas três mordidas. Tudo parecia estar perdido, quando uma flecha perfurou o olho direito da fera. Uma flecha que vinha do arco do jovem Denys.

 

— Urso idiota, eu sou Denys Waters e não vou permitir que você machuque mais ninguém neste local, sem passar por cima de mim primeiro.

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Denys Waters

 

 

Tá, eu reconheço que talvez chamar um urso pra cima de mim, depois de acertar uma flecha no seu olho, não tenha sido a coisa mais inteligente que eu já fiz, mas... o que eu poderia fazer? Ele iria atacar a Melia.

 

Embora a maioria tivesse fugido, ou se ferido demais para perceber o que ocorreu, ainda havia alguns espectadores, plebeus e nobres, assistindo, como, por exemplo, Melia Hollard. Ele não podia voltar atrás naquele momento, mesmo que não possuísse mais nenhuma flecha, tinha que dar um jeito; nem que atirasse uma pedra na fera

 

— Vem ursinho, vem, ou eu sou muito bom pra você?

 

OK, essa foi uma ideia idiota. Vou fazer o quê agora?

 

O urso correu enfurecido em sua direção. O jovem teria sido devorado, se não fosse uma pedra que fez com que Denys tropeçasse e caísse em um pequeno buraco. E o urso bateu a cabeça com força em outra parte das arquibancadas, que ainda estava de pé.

 

Levantou-se rapidamente e tentou correr, mas logo percebeu que tinha machucado o joelho, o que fez Denys cair novamente. Não conseguiria nem andar direito quanto mais correr. O urso já havia se recuperado do impacto e olhou para o garoto com sede de sangue ainda maior.

 

Este é o meu fim.

 

O animal correu para o ataque final, sem hesitar. O jovem já aceitara a morte e se esforçou para levantar. Ficaria de pé no fim, mesmo não sendo um Darklyn, tinha sua honra. Morreria como um guerreiro, um lutador, algo que jamais foi em nenhum dia da sua vida, mas que fosse assim pelo menos no último.

 

Quando o animal chegou e abriu a boca enorme para devorar o menino, uma voz preencheu o lugar.

 

— Não!!! — Era Melia, que não parava de chorar, sem acreditar que ele iria morrer assim, sem ter a chance de vencer o irmão, sem a chance de provar que era melhor. Ela pensara: “Não! Denys é o melhor, não preciso que ele prove nada. Por favor, deuses dos filhos da floresta! Eu já escolhi, não me importo com Desmond, com o pai dele, com a rainha, com ninguém, nem mesmo com Ellenero, só quero que salve o Denys e eu prometo que serei fiel a vocês eternamente.”

 

Uma segunda flecha acertou o olho esquerdo do urso. Do arco de um senhor montado a cavalo a alguns metros de distância. Era o rei Denys Darklyn Primeiro.

 

— Quem disse que estavam servindo Darklyns no cardápio hoje? — O rei pulou do cavalo, portando uma lança que tinha quase o tamanho dele e possuía uma lâmina tão afiada quanto uma arma podia ser.

 

Enquanto o urso berrava de dor, o rei se aproximava em alta velocidade da fera, manejando a lança com enorme facilidade e maestria. Quando o urso se recuperou foi tarde demais. Ainda tentou atacar com a pata esquerda, mas o rei desviou, rolando com tranquilidade e atirou a lança, que perfurou o corpo da besta; segundos depois, ela estava morta.

 

— E então, ainda estou em forma ou não? — disse o rei ao filho mais novo.

 

Denys olhou para o pai de uma maneira que nunca havia pensado. Que o pai tinha sido um grande guerreiro, ele sabia, mas se depois de todo esse tempo sem lutar ele era assim tão forte, quão bom ele realmente foi algum dia? Era assustador pensar que era filho de alguém desse nível.

 

— Pai... Eu...

 

— Consegue levantar sozinho?

 

— Acho que sim…

 

A princesa Melia desceu do seu lugar e foi correndo na direção do jovem Denys, quando chegou, o abraçou forte, ainda chorando. Quase soluçando, disse em seu ouvido que nunca teve tanto medo de algo na vida quanto naquele momento e que ele nunca mais deveria fazer com que se sentisse dessa maneira novamente.

 

Desmond apareceu e perguntou por que ela estava agarrada com Denys, se ele que tinha ganhado a prova e simultaneamente o confronto. Na mesma hora o rei deu um soco em seu rosto que fez o jovem perder alguns dentes.

 

— Eu deveria desclassificar você por ter acertado a flecha no alvo ao invés de acertar no urso, além de ter se escondido depois. Mas não vou. E sinta-se sortudo por perder só alguns dentes.

 

— Desmond, está tudo bem filho? — Dessa vez foi a rainha que correu em direção a Desmond, depois da surra que o garoto levou.

 

— Estou sim, mãe.

 

Naquele momento foi que Melia percebeu que Denys estava com a perna machucada.

 

— Estou só com um pouco de dor. — Denys tentava disfarçar a intensidade do ferimento, não apenas para todos os presentes, mas também para ele mesmo. — Só isso.

 

A perna de Denys estava realmente ferida, mas ele não queria demonstrar fraqueza perante a princesa. Porém, ao tentar levantar e dar um passo, percebeu que não conseguiria nem fingir.

 

— Ai Deuses! Você está muito ferido! — a princesa percebeu, chocada, o ferimento do garoto.

 

— A lei deve ser cumprida, Denys. — Aproximou-se a rainha Messaea, olhando firmemente nos olhos do marido. — Os confrontos devem ser ininterruptos.

 

— Eu sei, mas você espera que ele lute nessas condições?

 

O terceiro confronto deveria ser uma luta com lanças entre os dois, segundo o costume antigo. Diferente de uma luta de espadas, lutas de lanças sempre terminavam com um, ou os dois envolvidos, severamente feridos, senão, mortos.

 

— Você mesmo diz, a lei Dark deve ser obedecida acima de tudo e de todos — atestou a rainha.

 

— Eu posso lutar. — Denys se levantou com dificuldade e pegou a lança do assistente.

 

— Você não precisa — disse a princesa em prantos —, não mais, eu retiro meu pedido! Eu gostaria de casar com Denys.

 

— Princesa, com todo o respeito, mas agora sua opinião é de pouca valia — disse sucintamente o rei. — Isso agora é um caso entre Darklyns.

 

— Não entre Darklyns, eu sou um Waters, um bastardo… Não é pai? — perguntou ao caçula.

 

— O quê? — Desmond não acreditou no que ouviu. — O bastardo não é Devan?

 

Messaea ficou um pouco confusa ao perceber que Denys sabia disso, porém, poderia tentar usar isso a seu favor.

 

— Você não pode deixar um bastardo assumir uma briga que não pode ser dele — disse Messaea, apontando para Denys —, deve desclassificar Denys e bani-lo do reino.

 

— Eu conheço as leis, afinal — disse o rei Denys, cada vez mais irritado —, fiz a maioria delas, não preciso que me lembrem.

 

— Como pode permitir que um filho legítimo meu lute com um bastardo?

 

O comentário da esposa irritou o rei ainda mais.

 

— Essa não é a hora nem o lugar para se falar de bastardos. E quanto a você, jovem, você é um Darklyn e pronto.

 

— Estou me sentindo humilhada — lamentou-se, Messaea, de todo o ocorrido e da exposição em cima disso.

 

— Sinta-se humilhada o quanto quiser, vamos ter a luta agora e pronto. — Denys ignorou sua esposa e se encaminhou para observar os estragos.


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Rei Denys 1° Darklyn

 

 

Com tudo o que aconteceu, as arquibancadas destruídas e boa parte das pessoas feridas ou mortas, o mais sensato seria cancelar o evento, mas, segundo as leis Dark, não se podia ter um espaço de tempo entre os embates. Logo a saída era começar de uma vez. Por mais que isso significasse condenar o jovem Denys à morte.

 

As poucas pessoas que permaneceram no local tinham certeza que Desmond ganharia a luta, mas até aí todos estavam certos que ele iria ganhar no arco e flecha também.

 

— O terceiro embate vai começar em breve. — Dessa vez, um orador de verdade substituiu o conselheiro do rei, que morrera uns instantes atrás. — Uma luta de lanças.

 

— Waters, desista, eu não vou ter piedade com você só porque está ferido — zombava Desmond.

 

— Desmond, acho que você está com mais medo do que eu, sabe do que sou capaz, não sabe?

 

— Bastardo! — Desmond cuspiu no chão, enojado com o menino na sua frente. — Como ousa falar assim na frente do seu príncipe?

 

— Desmond, eu tenho pena de você...

 

Quase que Desmond avançou e derrubou seu meio-irmão ali mesmo, mas foi segurado por alguns servos que estavam no local ajudando a preparar a luta.

 

— Não acredito que você vai permitir que eles lutem — a rainha não parava de falar, desde que a grande revelação foi feita. — Desmond é um príncipe Darklyn, assim como Devan, mas Denys é um bastardo. Eu aguentei essa humilhação em segredo por muitos anos, mas, agora que é público, você deveria aproveitar e desfazer todos os direitos que deu a essa criança.

 

— Ainda falando nisso, mulher? Já disse que agora não é a hora de falar sobre isso, além do mais, não entendo o que você tem a dizer sobre isso, de onde você veio não existem bastardos.

 

— Mas aqui existe, e você deveria…

 

— Eu não devo nada, eu sou o rei! E se você falar mais alguma coisa sobre esse assunto, quem vai perder seus direitos aqui vai ser você!

 

Melia não estava mais presente no local, segundo Ellenero, a jovem não estava se sentindo bem e preferiu descansar, além de não querer ver mais cenas como as de alguns minutos atrás. O rei sabia que por mais que os guardas presentes pudessem impedir um novo ataque de urso, não poderiam impedir o que se seguiria, seria muito difícil que pelo menos um dos dois não fosse morrer.

 

— Ao sinal do rei! — gritou o orador, aguardando o anúncio do seu senhor.

 

O rei se levantou, olhou para os dois garotos que criou desde pequenos, seria provavelmente a última vez que veria um dos dois vivos, talvez os dois. E, com um pesar no coração, proferiu as palavras:

 

— Podem começar.

 

Os dois se movimentavam para o lado, tentando prever o movimento um do outro. Até que Denys tropeçou e ficou de joelhos. Desmond aproveitou a oportunidade e arremessou a lança, que fincou na perna esquerda do adversário. Os gritos de dor de Denys se espalharam por todo o campo.

 

Desmond chutou a lança do meio-irmão caído para longe, em seguida socou sua cara e chutou as partes íntimas do menino. Depois ainda retirou a lança da perna do garoto, provocando uma dor ainda maior.

 

— Esse é o resultado óbvio — comentou a rainha para o marido —, mesmo sem o ferimento, você sabe que o seu Denys não venceria o meu Desmond.

 

O rei olhou para sua esposa com uma mistura de fúria com nojo.

 

— Entendi, então é verdade…

 

— O que é verdade? — A rainha realmente não entendera o que seu marido disse, mas percebeu que podia não gostar da resposta.

 

— Toma! Pega! Seu presente!

 

O rei jogou sua lança mirando em Desmond, que percebeu e rolou para desviar do ataque, a lança parou fincada no chão.

 

— Mas o que é isso?! Você não pode! — Messaea se levantou alterada pela intervenção do esposo. — Poderia tê-lo matado!

 

— Poderia? E quanto à lança envenenada que você entregou para Desmond? Acha que eu não sabia?

 

— O que disse?! Está me acusando de tentar matar...

 

O rei Denys deu um tapa na cara dela, que quase a fez cair do camarote.

 

— Da próxima vez que eu falar, fique quieta. E eu deveria matar você por me trair, ou acha que não sei de quem realmente Desmond é filho? Você deveria ser grata a mim que estou dando uma chance a seu filho de sobreviver, chance que não dei a seu amante.

 

— O que você fez a Ellenero?!

 

O sorriso da rainha se tornou negro.

 

— Nada ainda, mas agora que você admitiu, não terei escolha. — Fez um sinal para um de seus servos, que saiu correndo.

 

— Não, você não suporta o fato dele ser melhor do que você em tudo, por isso... — Foi esse o último suspiro de sua vida, após um mata-leão que seu marido lhe aplicou.

 

— Mãe!! — Desmond gritou, depois se voltou para o rei. — Como você pôde!? — Desmond, enfurecido, pegou sua lança e foi correndo, preparando-se para acertar o rei, mas, antes de jogar a arma, seu braço foi cortado por outra lança, a arma do rei, arremessada pelo jovem Denys, que agora estava desmaiado no chão, devido a grande perda de sangue, por causa da retirada da lança que estava fincada em sua perna.


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Desmond Darklyn

 

 

Uma luz estava por cima do rosto de Desmond, ela fazia com que o garoto não pudesse dormir, então, quando abriu seus olhos, percebeu que estava em um dos quartos dos criados. Havia vários que eram raramente utilizados no castelo, provavelmente ele estava em um desses. A questão era, por quê? Sua cabeça ainda doía, estava com dificuldades para se lembrar do que tinha ocorrido.

 

Uma serva entrou no quarto com um prato de comida e um jarro com água. Deixou na mesa ao lado da cama e estava saindo quando ele a chamou de volta.

 

— Espera, que falta de educação é essa? Eu sou seu príncipe, como pode ir embora assim?

 

A criada se aproximou novamente da cama onde ele estava sentado, pediu desculpas e levou um forte tapa da mão esquerda do jovem.

 

— Eu lá quero saber de suas desculpas? Me diga como pôde fazer isso? O que tem na sua cabeça?

 

— Me desculpe, Desmond...

 

Outro tapa ainda mais forte.

 

— Diga: Príncipe Desmond…

 

— Me desculpe, DESMOND, mas devo dizer que não sou uma serva qualquer e sim da princesa dos Hollards, e que você não é príncipe algum, é apenas um bastardo, um bastardo da rainha, ou seja, não tem direito a nada.

 

Agora ele percebeu, era Medneria, a serva pessoal da Melia. O garoto se preparou para dar outro tapa, dessa vez ainda mais forte do que os anteriores, desta vez com o braço forte, mas, ao tentar, quase caiu da cama; quando percebeu que estava sem seu braço direito, entrou em choque.

 

— O que você fez?!

 

— Desmond Waters, você não é nada, está abaixo dos mais baixos. De onde eu venho, há igualdade entre homens e mulheres e não existem servos e criados, cada um cuida muito bem de si próprio. — Uma lâmina de aço valiriano do tamanho de uma faca estava em sua mão. — Deveria matar você agora, mas a princesa pediu para poupar sua vida, por ter salvado ela antes. Mas não abuse da sorte, não desperdice esta segunda vida que a princesa lhe deu.

 

Desmond estava em choque com tudo que ocorreu, seu cérebro não conseguia assimilar o que tinha acabado de acontecer.

 

Não muito tempo depois, já com a memória em dia, a revolta só crescia. Lembrou que tinha sido derrotado pelo ex-irmão, que sua mãe tinha sido morta, seu verdadeiro pai provavelmente também e havia “perdido” a princesa Hollard, e o pior de tudo, sua vida foi, nesse período, poupada três vezes pelas três pessoas que ele mais odiava no momento: a primeira, pelo rei, que o poupou quando descobriu que não era seu filho; a segunda, pelo irmão, que decidiu deixá-lo viver ao invés de matá-lo; e a terceira vez com a princesa mandando sua criada fazer aquelas ameaças.

 

— Eu não vou deixar isso ficar assim, não vou ser humilhado desta maneira.

 

A porta se abriu novamente, dessa vez o rosto que apareceu era familiar, era Ellenero, seu pai verdadeiro.

 

Quem diria, sou filho de um mero conselheiro dos Hollard, aliás, ex-conselheiro, pois depois dessa confusão com certeza elevai ser, não apenas destituído da função, como morto.

 

— Filho, quanto tempo esperei pra dizer essa palavra... Não temos muito tempo. Temos que fugir, eles estão atrás de mim.

 

— Ellenero… por que você?

 

— Deve estar pensando que eu o abandonei, mas têm que entender que eu não podia assumir que era seu pai, eles iriam matar todos nós…

 

— Muito diferente do que vai acabar acontecendo agora.

 

— Toma... — Ele passou uma espada de aço valiriano para o filho. — Essa arma é feita de um material que vai mudar o nosso mundo no futuro. Nada mais justo que você a manipule.

 

Desmond pegou a espada e utilizou sua lâmina para dividir facilmente a mesa em duas; sem dúvida, era diferente de tudo que ele já vira, seu peso era não muito maior do que o cobre que era utilizado na Terra das Coroas, mas sua capacidade de corte era muito maior do que qualquer arma que ele já vira, sem contar que a arma brilhava, parecia que estava quase viva.

 

— Onde conseguiu uma arma dessas?

 

— Um amigo me deu… Você já o conheceu.

 

O cara com a máscara de corvo.

 

Parece que cada vez que aprendo mais sobre o cara, mais mistérios surgem. Bom… Não cabe a mim discutir nada disso, meu objetivo aqui é simplesmente mostrar a vocês o que eu vejo que aconteceu naquela época. Então... voltando a história...

 

— Fazemos parte de algo maior. Então, vai se juntar a nós?

 

— Claro. Mal posso esperar.


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Notas finais do capítulo

Estou pensando a história de qual das casas fazer na segunda parte: vocês gostariam que fosse qual? Prometo levar opinião de vocês em consideração kkk

1- Greyiron nas Ilhas de Ferro (nada a ver com os Greyjoy);

2- Lannister no Rochedo Casterly;

3- Gaedenner na Campina;

4- Durrandon nas Terras da Tempestade;

5- Mudd nas Terras Fluviais;
Desculpa, mas a parte dos Stark tem que ser por último.



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