Tronos de fogo e gelo escrita por Sojobox


Capítulo 10
Nuvens além


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo do arco/Season dos Darklyns, no próximo teremos os Lannisters do Rochedo.

Mas essa não será a última vez que verão esses personagens.

Lembrem-se o próximo arco se passará de forma paralela a este.



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Medneria

 

Ansiosa, Medneria não conseguia dormir. Tinha que ver seu prisioneiro, tinha que falar com “ele”.

 

Quem imaginaria, depois de tanto tempo... Finalmente, minha vingança será realizada.

 

— Minha querida — disse Máscara de Corvo.

 

Essa máscara ainda me dá nos nervos, só não tiro dele porque não quero ver o rosto deformado que dizem que ele tem.

 

— Gostou das suas acomodações? — perguntou Medneria.

 

— São bem parecidas com as suas, não? — brincou o prisioneiro, enquanto olhava para os lados.

 

— É exatamente o mesmo local que me prendeu. Sabe o motivo?

 

— Quer me fazer sofrer o mesmo que fiz contigo?

 

— O mesmo... — Medneria refletiu e disse: — Se eu te torturasse por mil vidas, não seria o suficiente para se comparar o que você fez comigo. 

 

— Calma aí. O que eu te fiz mesmo? — perguntou o mascarado zombando do sofrimento dela.

 

— Você matou todos quem eu conhecia! Foi você que trouxe aquele dragão para o castelo e por sua causa o meu irmão... — a mulher gritava enquanto chorava. — E agora veio para esse continente para fazer a mesma coisa. Quer destruir a família Darklyn e Hollard.

 

— Hum... Interessante — ponderou o mascarado. — A visão que tem de mim, é totalmente distorcida.

 

— O quê?

 

— Se meu objetivo fosse como diz, destruir as famílias, e eu pudesse controlar um dragão, como diz que posso, não seria mais fácil e seguro fazer o mesmo aqui?

 

— Está tentando me convencer que não é culpado por aquilo? É claro que foi você.

 

— Me viu?

 

— Anh?

 

— Perguntei se me viu para dizer que tem alguma prova.

 

— Eu não vi, mas testemunhas afirmam ter visto você. Uma pessoa com um manto que cobre todo seu corpo e usa uma máscara para esconder seu rosto.

 

— Hum... E jamais passou por sua cabeça que poderia ser outra pessoa?

 

— Não brinca comigo! — Ela bateu com as duas mãos com força nas grades que os separavam.

 

— Calma, querida, não faz bem uma dama como você se exaltar dessa maneira, ainda mais com um criminoso como eu.

 

— Não me chame de querida novamente. Acha que sou idiota? Não sou uma assassina qualquer. Eu rastreei seus movimentos, sei que esteve lá durante o ataque da fera e que, logo depois, pegou um barco para Westeros.

 

— Eu não poderia ter ido lá a passeio?

 

— Você não entende a situação, não é? Eu sei que você é o responsável, eu só quero saber o motivo. Não faz sentido fazer aquilo e atravessar o mundo até aqui. Por que não continuar por lá e por que me deixar viva?

 

— Por que não pergunta para quem fez isso tudo?

 

— Estou perguntando!

 

— Minha querida...

 

— Já disse para não me chamar assim!

 

— Façamos o seguinte: vai dormir e amanhã conversamos.

 

— Não! Amanhã será julgado pelos Darklyns; hoje você é meu.

 

— Veja só, você se curvou mesmo a eles. Desculpe dizer, mas tenho que perguntar... Por que preferiste ficar aqui comigo do que dormir em sua cama?

 

— Eu tenho um dever a cumprir com você.

 

— Ah! Entendo... Não tem mais alguém para dividir sua cama e veio aqui para me seduzir — zombava Máscara de Corvo. — Temo dizer que não fazes meu tipo.

 

— Eu vou te matar agora! — A fúria dela alcançou um patamar estratosférico.

 

Medneria estava a ponto de fazer algo contra seu arqui-inimigo, até que braços seguraram firme sua cintura.

 

— Acalme-se! — gritava Edrick enquanto forçava a mulher na direção contrária da cela.

 

Depois de algum tempo, a mulher se acalmou. O príncipe Hollard havia conseguido controlar a ira de sua amiga.

 

— Agora faz sentido — murmurou o mascarado. — Que feio, nem esperou um príncipe descansar, já está caçando outro.

 

Medneria explodiu em fúria novamente. Dizendo que iria matá-lo de qualquer jeito. Edrick teve que segurar com todas as forças para impedir a assassina.

 

— Já disse para se acalmar! — gritou o príncipe. — Ele será devidamente punido pelo rei Denys. Vamos embora.

 

— Espera. Tenho mais uma pergunta para fazer a ele — afirmou Medneria enquanto olhava para Edrick.

 

— Não me entenda mal, mas estou ficando com sono. Será que poderia me desamarrar dessa cadeira antes de ir?

 

— Não. Apenas responda a minha pergunta. Por que veio para esse lugar?

 

— Você me decepciona, querida. Eu já disse.

 

— Não adianta dizer que é daqui ou que não foi intencional. Sei bem que todos os seus movimentos são friamente calculados. Embora eu não goste de pensar muito nisso, entendo o motivo de ter atacado meu lar. Éramos uma ameaça para seus planos, mas cometeu um grande equívoco ao me deixar viva. Sei que gosta de desafios, mas não há nada mais poderoso do que uma mulher vingativa.

 

— Quer mesmo saber? Tudo bem. Pense por si mesma. E dessa vez use a sua cabeça para raciocinar. Essa sua ideia estúpida de vingança te cega. Se eu fosse o grande vilão dessa história, por que deixaria uma assassina do seu nível atrás de mim? Não seria mais inteligente fazê-la perseguir outra pessoa?

 

— Continua tentando me fazer acreditar nisso?

 

— Tudo bem, então vou dizer. Vim para cá, porque é o local que faltava preencher. Todos os outros já detinham seu próprio mestre.

 

— O que quer dizer com isso? — perguntou Medneria.

 

— Sinto muito, já respondi sua pergunta, agora vou dormir um pouco.

 

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Denys Darklyn

 

Denys Darklyn estava entediado, queria escapar daquela reunião.

 

Até que dormi bem, considerando tudo que aconteceu no dia anterior. Hoje terei uma agenda longa, conversas com todos os reis e diversos lordes da região. A punição contra o regente... Além disso, essa cadeira é muito alta pra mim, meus pés não tocam no chão. Quem diria que ser um rei é tão trabalhoso?

 

— ... Então é isso, meu rei — dizia um lorde de algum reino vizinho que Denys não lembrava o nome.

 

— Anh? Claro, claro... — respondia de forma rápida, apesar de não saber o que foi perguntado. — Me desculpem, milordes, mas temo não estar me sentindo muito bem. Podemos continuar isso outra hora, se não se importam?

 

Apesar de ter perguntado, o jovem levantou de seu trono e saiu andando antes de ouvir uma resposta.

 

Os reis não gostaram muito da atitude do garoto, embora alguns lordes tenham suprimido o riso.

 

Ao sair da sala real, ele esbarrou em outra pessoa.

 

— Me desculpe, meu rei — disse o sujeito. — Não o vi sair.

 

— Você é o irmão da Melia, não é? — perguntou o jovem.

 

— Isso mesmo — respondeu o homem. — Mas também sou conhecido por ser o príncipe herdeiro dos Hollards.

 

— Ah! Claro, eu não quis dizer...

 

— Tudo bem, não me ofendi nem nada, entendo o que quis dizer. Só tente não agir da mesma maneira com os outros, pois um rei deve parecer firme e demonstrar autoridade diante seus subordinados. Assim com seu pai fazia.

 

— Meu pai... Conheceu ele?

 

— Sim. Tive a honra de conhecer Denys Darklyn I ainda em vida. Era, não apenas um grande suserano, mas um grande homem.

 

— Será que estou à altura dele?

 

— Hahaha. Se for metade do que ele foi, será uma honra enorme servi-lo.

 

— Como... como era meu pai, digo, como rei.

 

— Hum... Sabes do apelido que tinha?

 

— Não, qual?

 

— Denys Darklyn, o urso, pela forma que agia em campo, passando por cima de seus adversários. Porém, ao término das guerras, ele ganhou o apelido de Denys Darklyn, o urso velho.

 

— Pois não conseguia mais fazer isso?

 

— Recentemente, que estava ficando sem prática, talvez, mas o apelido surgiu assim que acabou a guerra. Significava que ele era mais esperto e não precisava ir mostrando suas garras para todos, só para quem o desafiasse; mas ninguém o fazia.

 

— Como acha que vão me chamar?

 

— Não sei, depende de quais serão suas ações. Todos aguardam para ver quais serão. E eu também.

 

— Como Davos está? — Denys perguntou desviando o assunto, desconfortável.

 

— Bem melhor, estava acordando quando vim para a reunião.

 

— Eu disse que não precisava vir, podia ficar com seu pai por hoje.

 

— Melia está com ele. Eu aprecio sua compaixão, mas meu dever com o senhor vem em primeiro lugar. Além disso — sussurrou nos ouvidos do garoto —, não sabemos se seu regente não tem mais pessoas servindo a ele por aqui. Temos que ser cuidadosos.

 

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Máscara de Corvo

 

O julgamento do ex-conselheiro dos Darklyns havia começado.

 

Durante a leitura dos crimes dos quais ele era acusado, e das falas das testemunhas e seus servos que foram capturados e o traíram, permanecera quieto, apenas observando ao redor.

 

Para não assustar as crianças que estavam na plateia assistindo a tudo, Denys aceitou o pedido de não retirarem a máscara do rosto do réu. O que provocava risinhos de tempos em tempos.

 

Após a utilização de todas as provas contra o acusado, Denys perguntara se havia alguém presente que testemunharia a favor do acusado. Ninguém se levantou. Embora, algo que não acontecera durante todo o julgamento, tenha sido visto naquele momento.

 

— Eu gostaria de dar meu depoimento — disse o acusado.

 

— Tem certeza disso? Qualquer coisa que disser pode piorar sua situação — afirmou o rei

 

— Acho difícil piorar mais do que isso — comentou o mascarado.

 

— Pois bem. Fale.

 

— Senhoras e senhores. Crianças e velhos. Lordes e Ladys.

 

— Por favor, sem contornos — repreendeu o jovem rei.

 

— Seu rei é uma criança, mas é alguém sábio, pois procura aprender e melhorar sempre, e isso é sabedoria. Sua futura rainha tem um coração forte e valente, mais do que de muitos homens adultos. Estão em boas mãos para os próximos anos, caso aceitem servi-los.

 

— O que é isso tudo? — perguntou Denys.

 

— Estou elogiando aquele que foi responsável pela minha captura. Senti como se tivesse saído da segurança da boca do corvo e entrado na feroz boca de um leão. Não foi, rei Denys Darklyn II?

 

— Eu? Não, quem foi responsável foi...

 

Rapidamente Edrick emendou.

 

— Meu senhor, és humilde. Claro que foi o senhor que notou algo de errado em seu conselheiro e preparou uma armadilha para ele.

 

— Ahn... Foi?

 

O príncipe herdeiro dos Hollard sussurrou no ouvido do rei, lembrando que esse foi o trato feito com o mascarado. Permitindo que ele mantivesse sua máscara durante o período todo entre sua captura até a condenação.

 

— Claro! Fui eu mesmo, mas não queria me gabar.

 

Alguns cochichos eram ouvidos da plateia. A maioria elogiando a esperteza do rei, mas houve aqueles que perceberam a mentira.

 

Após isso, o mascarado pediu para ir ao banheiro antes que dessem a sentença. Denys acatou. Houve um recesso de vinte minutos e todos saíram da sala, com exceção de alguns guardas.

 

— O que está aprontando? — perguntou Edrick que escoltava o prisioneiro.

 

— Sabe, não precisava ter vindo comigo, isso é trabalho dos guardas. Ou queria ver o que tinha aqui em baixo?

 

— Eu não vou deixar você escapar.

 

— Ah! Estou apaixonado — zombou o mascarado.

 

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Medneria

 

Enquanto esperava o recesso acabar, Medneria aproveitou para dar uma olhada nas chamas para ver se teria alguma visão que pudesse ajudar. E conseguiu.

 

O que pode significar isso!?

 

Após quase cair no chão, ela tentou entender o que viu.

 

Será possível que...

 

— Tudo bem? Eu vi que quase caiu? — perguntando, Edrick apareceu.

 

— Claro que não, o que vi, não acreditaria se me contassem.

 

— O que seria?

 

— Espera, você não tinha ido levar ele até o banheiro?

 

— E voltei. Ele já está novamente no palco.

 

— Ótimo, vamos voltar. Não que eu não confie nos seus guardas. Não confio nele.

 

— Está bem, mas o que você viu nas chamas?

 

— Vai por mim, não vai querer saber.

 

— Espera. Ouviu algo?

 

— Essa não! Rápido, temos que ir até aquele cretino.

 

Chegando ao local, Medneria tentava disfarçar a raiva, mas era inútil.

 

A imagem repugnante que eles viram, poderia fazer muitos revirarem o estômago.

 

Corpos dilacerados por dentes e unhas gigantescas. Ao lado de um dos guardas, havia um leão gigante da montanha que, ao que parece, antes de ter sido perfurado por sete lanças na barriga, conseguiu fazer alguns estragos, matando diversas pessoas na sala. Ao observar essa cena, Medneria gritou:

 

— Quem foi... Quem foi que deixou esse animal entrar! Eu mesmo mato esse desgraçado!

 

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O intruso

 

Em meio ao pânico que se iniciou, um intruso andava pelos corredores de Valdocaso. Porém, com o tumulto causado pela morte de todos os que estavam no local do julgamento, cerca de cinco guardas, além do prisioneiro, suas ações foram prejudicadas.

 

Eu disse que conseguiria em trinta minutos... E agora?

 

Procurando uma saída, o intruso corria pelos corredores com uma agilidade e sutileza fora do comum; sempre esperando um momento certo, passava por guardas sem que notassem sua presença e, por fim, chegara à uma ala em que uma garota estava parada, sem entender o que significava a barulheira que se escutava. Ela não saía de sua frente de nenhuma maneira e, ainda por cima, o corredor em linha reta dificultava ainda mais sua progressão. Não tinha outro caminho a frente, voltar era arriscado, mas parecia o único jeito. Até que...

 

— Droga! — murmurou-o quando acabou, acidentalmente, chutando uma pedra.

 

De imediato, um guarda que estava atrás veio verificar.

 

Droga! Não tenho escolha!

 

Sem hesitar, o invasor avançou, acertando uma rápida facada no coração da jovem, sem dar-lhe qualquer chance de reação, como fora ensinado: sem culpa, sem remorsos, sem piedade.

 

Ao matar sua pedra do caminho, ele avançou em direção a janela e pulou em direção à Baía da Água Negra.

 

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Melia Hollard

 

Em seu quarto, Melia conversava com sua ex-criada.

 

— Entendeu, Melia? — perguntou Medneria.

 

— Sim, serei uma boa esposa e uma ótima rainha.

 

— É visível como cresceu.

 

— É mesmo? Não acho que esteja mais alta.

 

— Não disse nesse sentido. Você cresceu como mulher.

 

— O quê? — Seu rosto ficou vermelho como uma maçã. — Eu não fiz nada.

 

— Hum? Eu não achei que tinha feito nada. Mas agora acho. Não me diga que você beijou ele? Você não é muito nova para isso?

 

— Não... Eu não...

 

— Eu que roubei um beijo dela — respondeu Denys entrando no quarto.

 

— Deny! — Melia quase tem um ataque do coração. — O que está fazendo aqui? Não se entra no quarto de uma dama sem bater.

 

— Mas eu bati. Três vezes. Como ninguém respondeu, fiquei preocupado.

 

— Alguma coisa em que posso ajudá-lo, meu rei? — perguntou Medneria.

 

— Bom... — A princesa dos Hollards ficou com o rosto um pouco vermelho. — Não é nada demais, só estou dando um tempo naquela reunião chata. Então resolvi dar uma olhada para ver como minha noiva está.

 

— Ela está se recuperando muito rapidamente, de uma forma que nem imaginei ser possível, não sem meus cuidados. Provavelmente, depois de uns seis dias, ela deve poder voltar a todas suas atividades normalmente.

 

— Que bom.

 

— Hum... Melia, estou com sede. Vou pegar um pouco de água na cozinha para bebermos, me espere aqui, tá?

 

— Está bem... Esperar sozinha com ele!?

 

— Algum problema de ficar aqui comigo?

 

— É, Melia. Qual o problema de ficar com seu noivo e rei um minuto enquanto vou ali e volto?

 

— Bom... Acho que nenhum...

 

— Ótimo, já volto.

 

Depois que Medneria saiu do quarto, Denys foi até a janela e observou seu reino.

 

— É lindo, não é? — perguntou o rei.

 

— É... — respondeu Melia, suspirando, não exatamente vendo a mesma coisa. — Digo, o reino é lindo.

 

— É claro, o que pensou que perguntei?

 

— Não devia estar na sua reunião? — Melia perguntou desviando a atenção.

 

— Eles são legais, mas muito velhos, um garoto tem que estar acompanhado de pessoas da sua idade.

 

— Claro...

 

Melia não entendia o que ele queria dizer com isso, nem porque parecia que seu coração estava batendo mais rápido.

 

— Mas o senhor deve entender que por ser um rei tem suas obrigações, não é?

 

— Sim, mas às vezes é bom relaxar um pouco. E, senhor? Não precisa me chamar assim quando estamos sós.

 

Novamente seu coração acelerou, provavelmente quando lembrou que estavam sós.

 

— Mas, você não deveria ficar saindo de suas reuniões assim.

 

— Eu deixei alguém lá para entretê-los, eu o chamo de bobo da corte.

 

— Bobo da... corte?

 

— É. Ele conta algumas piadas, faz algumas brincadeiras. É divertido. No futuro, todos os reinos terão um.

 

— Claro. Que ideia maravilhosa.

 

Que ideia ridícula. Isso nunca vai dar certo.

 

— Então, quer mais um?

 

— Oi? Mais um bobo?

 

— Não. Quer mais um beijo?

 

— Ahn... Como assim? Que tipo de pergunta é essa?

 

— Então, você não gostou?

 

— Eu não disse isso, é claro que gostei! Quero dizer...

 

Denys abriu um sorriso, se aproximou da menina, deu um leve beijo em sua testa e disse:

 

— Descanse. Estarei te esperando no salão real quando melhorares. Pode deixar que não entrarei mais no seu quarto assim.

 

Melia sentia-se paralisada de tão tímida e surpresa que estava.

 

Enquanto o rei saía de seu quarto, a jovem lembrara que, quando pegou uma febre, no ano anterior, Edrick disse a mesma frase que seu noivo acabara de falar. Tirando a parte do entrar no quarto.

 

— Senhor Denys.

 

— Já disse que não precisa me chamar assim quando estivermos a sós, não?

 

— Muito obrigada.

 

— Ahn? Pelo quê?

 

— Eu sempre fui uma garota mimada que não admitia a ideia do pai não ser mais um rei soberano como fora um dia; que se irritava com o que meu pai dizia sobre um dia se casar com um príncipe dos Darklyns; que não suportava ninguém desse reino, mesmo sem nunca ter visto nenhum deles. Eu era tão inocente, muito boba.

 

O rei demonstrou um rosto sério ao ouvir aquilo e comentou:

 

— Não se preocupe com isso, você ainda é muito nova, tem uma vida inteira pela frente; todos nós cometemos erros, o importante é admiti-los. Cada um amadurece com seu tempo. Não se deve julgar uma pessoa antes disso, pelo menos eu não julgarei.

 

Como você cresceu, Denys. Obrigada. Muito obrigada mesmo.

 

— Estarei lá, antes que perceba.

 

Do lado de fora do quarto, Medneria escutava a conversa. Após a resposta de Melia, a sacerdotisa saiu antes que o rei abrisse a porta.

 

No caminho ao seu destino, a ex-serva refletiu no que ouvira.

 

Ora, ora, Denys. Sempre achei que você fosse um garoto que não se expressava como queria, mas olha agora, cresceu tão rápido, foi o peso e a responsabilidade de um reino em suas costas? Ou foi a dor da morte do seu pai e irmão que o fizeram amadurecer tão rapidamente? Quem sabe, talvez você possa se tornar um rei melhor que meu amado Devan seria. Por mais excelente líder e estrategista de guerra que ele foi, faltava compaixão e solidariedade aos demais, só a mim ele demonstrava seu lado sensível... Pequeno Denys, nunca mude esse seu lado. Torne-se um ótimo rei e um grande homem. Melia fez uma ótima escolha, afinal. Talvez, num futuro, possamos escolher nossos próprios maridos, seria ótimo, não?

 

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Máscara de Corvo

 

No alto do monte que se localizava ao lado da entrada principal de Valdocaso, dava para ver facilmente todo o tumulto que se causou com a “morte” do acusado, tudo o que o ex-regente queria estava acontecendo, como ele dizia frequentemente: “Todos são grãos perante o corvo.”

 

— É apenas uma questão de tempo para que tudo saia como planejado e nosso verdadeiro objetivo seja, enfim, alcançado — disse o Máscara de Corvo. — E você, não vai dizer nada?

 

Outra figura misteriosa apareceu ao seu lado, vestido de forma igual, só que com uma máscara de leão, e falou:

 

— Está me devendo uma.

 

— Você veio até aqui só para me dizer isso?

 

— Não, vim aqui para te salvar. O que seria desnecessário se você seguisse meus conselhos e não ficasse expondo-se com tanta frequência.

 

— Aquilo com o leão? Eu estava bem, já tinha um plano para sair de lá — comentou Máscara de Corvo. — E prefiro que não duvide de meus métodos, assim como não questiono os seus. Além disso, como pode antecipar o que iria acontecer comigo e viajar semanas atrás para me salvar?

 

— Você sabe que nada escapa do leão.

 

— Sempre tão misterioso.

 

— Olha quem fala. Você e Máscara de Lobo são dos que eu sei menos coisas.

 

— Faço minhas, as suas palavras. Mas mudando radicalmente de assunto, o que acha das coisas que fiz aqui?

 

— Em sua maioria, desnecessárias. Além de não achar sábio que tenhas revelado a existência de nossa organização.

 

— Você se preocupa demais, a vingança dela a cega completamente. Ela não acredita em nenhuma palavra que eu diga. Mas a trilha que deixei, fará com que se encaminhe para um local que certamente não conseguirá voltar. E quanto à sua área, não tem problema sair por tanto tempo assim?

 

— Está tudo sobre controle. O leão não precisa estar presente para que os demais animais saibam quem manda.

 

— Da maneira que falas, parece que é você que age de forma aberta e não eu.

 

— Você tem uma nova missão.

 

— Sério?! Eu estava pensando em ir para Campina tirar umas férias.

 

— Muito engraçado, mas isso é sério. Um dos nossos, está agindo de forma estranha. Sua tarefa é identificar se existe algo errado e aplicar as devidas punições, caso necessário.

 

— E quanto a você?

 

— Tenho algo para resolver em outro local, depois retornarei a minha jurisdição. Se tudo ocorrer como planejado, meu trabalho terminará daqui a dez anos.

 

— Tudo isso? Que leão lerdo.

 

— O seu trabalho foi muito mais fácil que o meu, não compare as coisas. Sua missão era de reconhecimento e leve alteração. A minha é de total transformação.

 

— Desculpa, não percebi que era tão sensível. Então estou indo.

 

— E “que a noite possa ser o nosso lar, pois na luz há o verdadeiro terror” — disseram ambos, antes de se despedirem.

 

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Medneria

 

Apesar de ter dito que iria a cozinha, Medneria foi encontrar Edrick na saída de Valdocaso.

 

— Conseguiu achar algo? — perguntou a mulher.

 

— Não, meus homens e os dos Darklyns estão vasculhando as redondezas e vilas vizinhas. Também pedi aos reis que mandassem mensagens a seus reinos.

 

Eu sabia, seja lá quem for o desgraçado que atacou Melia, é bom.

 

— Ora, quem diria, está aprendendo bem como se faz — ironizou a ex-criada.

 

— É claro que sei muito bem. Medneria... Acha mesmo que ele está vivo?

 

— Tenho certeza, conheço seus truques. Além do mais, posso sentir; o Máscara de Corvo ainda está no mundo dos vivos. E vou achá-lo, onde estiver.

 

— E aquela história de existirem mais dele? Tipo uma organização.

 

— Edrick, esse homem mente, manipula, é o que ele faz de melhor. Todos pensam que ele está morto, só você e eu sabemos que aquele canalha está vivo.

 

— Desconfiamos.

 

— Fale por você, meu amigo, eu tenho certeza. O maldito forjou a própria morte na minha frente. Ele está com medo, porque eu consegui encurralar ele.

 

— Nós.

 

— Eu sei, desculpa. É só que... Eu estava tão perto. Depois de todos esses anos.

 

— Medneria... Eu sei que você quer se vingar dele pelo que ele fez contigo, mas...

 

— Mas? Não tem ‘mas’. Você sabe tudo que passei. Você e Devan foram meu porto seguro esse tempo que estive aqui.

 

— Durante o tempo que esteve aqui? Não me diga que pretende sair em busca dele?

 

— Eu preciso! Não posso ficar de braços cruzados, ele não é idiota, não vai voltar aqui tão cedo, não sem ter segurança.

 

— Isso é exatamente o que ele quer! Que saia e fique vulnerável.

 

— Se ele achasse mesmo que ficarei vulnerável por isso, seria um burro — disse Medneria com um sorriso e concluiu: — Ele não é.

 

— Nada que eu fale vai poder impedir você?

 

— Edrick — ela disse ao colocar sua mão esquerda no rosto do amigo. — Sei que se preocupa comigo, mas sei me virar, só vou ficar bem mesmo se fizer isso.

 

— Fazer o quê? Pelo menos posso saber onde pretende ir, se não sabe para onde ele foi?

 

 

— Eu tenho um palpite. Posso não ter homens leais como você, mas tenho outros meios de conseguir informações tão confiáveis quanto.

 

— Imagino. E onde é que vai?

 

— Não posso contar. Entenda. Não quero causar mais dor e sofrimento aqueles que amo. Você, Melia, Denys... Todos têm um lugar no meu coração, não quero que se machuquem mais. Mas pode deixar que me comunico contigo assim que for possível e seguro.

 

— E eu fico como? De braços cruzados?

 

— Não diga isso. Você tem um reino para cuidar e um rei para servir. Um pai para ajudar, uma irmã linda que vai ser sua rainha, e preciso que seja meu elo com esse local, vou querer saber se está tudo bem por aqui.

 

— E quanto a “ele” estar vivo? Não devo contar a ninguém, não é?

 

— Você é livre para fazer o que quiser, mas acho que seria melhor guardar segredo para evitar que pânico se espalhe. Mas deve contar para Denys, ele é seu suserano. Diga que pedi para guardar segredo. E, para Melia, tente explicar que não pude me despedir, mas que faço isso para mantê-la a salvo e que voltarei assim que puder. E lembre-a que me prometeu ser forte.

 

— Nem se despediu dela?

 

— Odeio despedidas, sabe disso.

 

— Tudo bem.

 

— Tchau.

 

— Espera! Já está indo? Assim sem nenhuma bagagem, comida, roupa extra?

 

— Tenho meus próprios meios para me virar. Por favor, volte para o castelo, não quero que me siga.

 

— Hum. Está bem... — Ele deu alguns passos e se virou novamente. — Medneria? Você vai voltar, não vai?

 

— Claro que vou, bobo — respondeu alegremente de costas para o amigo, sem nem virar seu rosto. E começou a andar em direção a sua nova viagem.

 

Com a resposta positiva da sacerdotisa, o príncipe retornou um pouco mais aliviado para Valdocaso, sem perceber que lágrimas caíam de forma desesperada pelo rosto da mulher.

 

No próximo capitulo: Ouça-me rugir

 

E que venham os Lannisters.


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Notas finais do capítulo

E ai o que acharam desse arco?
E quais são suas espectativas para o arco dos Lannisters?



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