Uma Senhora Para Pemberley escrita por AustenGirl


Capítulo 22
Castelo De Areia (parte dois)




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Elizabeth ainda olhava distraidamente para a janela e não saíra dali desde que sua família foi embora. 

Sentia um vazio enorme e embora não fizesse nem uma hora desde a partida delas, Elizabeth já sentia saudades. 

Do lado de fora, algumas nuvens grossas de chuva começaram a se formar. Uma chuva de verão provavelmente, mas Elizabeth preocupou-se pois a estrada costumava ser perigosa quando chovia.

Ela ainda observava pela janela, quando o senhor Bingley apareceu na sala. Ela o olhou por um momento, mas logo voltou sua atenção para a janela e nada falou. Estava brava com ele pois não podia deixar de pensar que era por causa da presença daquele cavalheiro que sua irmã apressou sua partida.

— Senhorita Bennet! — Cumprimentou ele e Elizabeth o respondeu apenas com um breve aceno.

O senhor Bingley estava profundamente envergonhado pelas coisas que aconteceram no baile. Já havia pedido desculpas ao seu amigo pelas coisas que fizeram e agora queria desculpar-se com Elizabeth. A maneira fria como ela o tratou o fez pensar que ela estava muito chateada com ele.

— Senhorita, eu quero que saiba que sinto muito pelo que fiz ontem. — Começou ele e Elizabeth enfim o olhou. — Estou profundamente envergonhado pelos meus atos e espero de coração que possa me perdoar.

— Está tudo bem. Não precisa se desculpar senhor Bingley. — Disse ela. — Essas coisas acontecem. Mas agora se me der licença eu preciso sair. — Falou e já estava próxima a porta quando ele a deteve. 

— Desculpe-me pelo incomodo, mas eu gostaria muito de pedir desculpas para sua irmã também. — Falou ele. — Podes me dizer onde posso encontrar Jane? 

— Minha irmã já foi embora senhor. — Ela respondeu. — Partiu hoje cedo, logo após o desjejum.

— Sua irmã já partiu? — Ele perguntou retoricamente e estava frustrado com a resposta. — Eu não pensei que ela iria embora tão cedo! Ela está bem?

Elizabeth o encarou nos olhos e o sangue dele gelou com a maneira que ela o olhava. Havia raiva nos olhos dela.

— Desde quando o senhor se preocupa com o bem-estar de minha irmã? — Perguntou ela procurando manter o tom de voz calmo, mas por dentro ela estava em fúria.

— Como assim? O que quer dizer? Eu sempre me preocupei com o bem estar dela. — Defendeu-se ele, ainda confuso com a atitude arredia de Elizabeth.

— Sempre? — Ironizou ela. — Então quando o senhor partiu de Netherfield sem dar qualquer satisfação a ela, e a deixou com o coração partido, deve ter sido uma exceção, não é mesmo? 

— Senhorita Elizabeth, eu não estou compreendendo! — Falou ele e agora estava verdadeiramente preocupado com as palavras dela. — Eu jamais partiria de Netherfield, se tivesse a certeza da afeição de sua irmã por mim.

— Que certeza mais ela poderia lhe dar? — Elizabeth falou, mas desta vez aumentou o tom de voz. — O senhor deve ter sido um tolo se não percebeu que ela o amava. 

Ela lhe virou as costas e massageou as têmporas, sua cabeça começava a doer e ela não suportava mais enxergar a face daquele cavalheiro. O senhor Bingley por sua vez, negou algumas vezes com a cabeça e estava completamente confuso. Como assim Jane o amava? Foi como se naquele instante parte do seu chão sumisse. Tudo no qual ele havia acreditado nos últimos meses, estava caindo por terra.

— Mas o senhor Darcy me disse que ela não sentia afeição por mim! — Murmurou ele mais para si mesmo do que para a dama a sua frente. Elizabeth virou-se bruscamente quando ele revelou aquela informação.

— Como disse? O que o senhor Darcy tem que ver com isso tudo? — Perguntou ela olhando novamente nos olhos dele.

Ao ver a confusão de Elizabeth diante daquilo ele no mesmo instante se arrependeu do que havia dito. Porém não era como se pudesse voltar atrás. Agora que havia começado teria de terminar de contar a Elizabeth todos os fatos.

— Quando eu saí de Netherfield, minha intenção era voltar logo, e pedir sua irmã em casamento. — Contou ele e Elizabeth não escondeu sua surpresa diante daquele fato. — Porém minhas irmãs e o senhor Darcy, vieram ao meu encontro. Minhas irmãs não apoiavam meu interesse em sua irmã, porém eu não me importava com a opinião delas. No entanto, o senhor Darcy me falou que Jane não me amava e era indiferente a mim. Por isso eu fiquei em Londres e não fui mais a Netherfield. 

A respiração de Elizabeth ficou descompassada e seu coração batia rápido. 

— Eu sinto muito se causo sofrimento para a senhorita, mas essa é a verdade. — Disse o senhor Bingley ao ver que Elizabeth ficara pálida com aquela informação. — Mas agora por favor diga-me, sua irmã sentia afeição por mim?

Sem dar-lhe uma resposta, ela saiu da sala. Sua mente estava bagunçada, e o que ela queria naquele momento era chorar. Seria o senhor Darcy tão insensível a ponto de destruir a felicidade de duas pessoas que se amavam? Ela queria acreditar que tudo era uma mentira do senhor Bingley. Precisava haver algum engano naquela história! 

Por que ele havia feito isso? Aquilo não poderia ser verdade, mas ao mesmo tempo não parecia ser mentira.

A passos rápidos ela se dirigiu até a porta, e saiu da casa. Algumas criadas que estavam por perto a alertaram para não sair, pois uma chuva estava a caminho, mas ela não se importou. Podia ver que o céu estava nublado, porém, mais nublado que o céu estavam os seus pensamentos. Ela só queria sair, não importava para onde.

O senhor Bingley embora tenha ficado paralisado por alguns instantes, não tardou a sair atrás da moça. Além de precisar de mais informações, ele estava preocupado devido a chuva que já começara a cair.

Alguns minutos se passaram e o senhor Darcy procurava por Elizabeth dentro de casa sem saber que ela havia saído.

Perguntou por ela ao senhor e senhora Gardiner, mas nenhum deles sabia sobre o paradeiro da sobrinha. Até que um criado aproximou-se revelando que Elizabeth havia saído para fora e isso causou preocupação em todos. 

O senhor Bingley apareceu e sua roupa estava molhada e ele pode confirmar o que o criado havia dito. 

— Eu fui ao encalço dela assim que ela saiu, mas não consegui alcançá-la. — Revelou ele com voz ofegante assim que entrou na casa. -  Ela foi mais rápida que eu. 

—Sabe o que aconteceu para que ela saísse desse jeito? — Perguntou o senhor Darcy e seu amigo não teve tempo de formular uma resposta, pois o senhor Darcy logo saiu dali decidido a encontrar Elizabeth.

Rapidamente ele pegou sua capa e saiu a cavalo pela propriedade. Estava preocupado com Elizabeth. Por que ela havia saído para fora com aquela chuva?

O comportamento dela estava cada vez mais estranho. Primeiro a súbita mudança de humor durante o baile e agora esse desaparecimento repentino. Ele agora mais do que nunca sabia que algo estava errado, mas ainda não sabia o que era.

Depois de cavalgar por alguns minutos, ele foi até uma velha cabana de caça que havia ali. Tinha esperança de que talvez ela tivesse se abrigado lá por causa da chuva e ficou aliviado quando a viu lá escorada em uma parede.

— Elizabeth! — Chamou ele, conforme se aproximava. — O que está fazendo aqui fora? Quer pegar um resfriado? — Perguntou quando já estava perto dela.

A roupa dela estava encharcada, e os lábios dela levemente arroxeados, provavelmente estava passando frio. 

— Venha! Vamos​ para casa! — Disse ele é retirou sua capa para colocá-la sobre os ombros dela, porém ela se esquivou.

— Senhor Darcy, nós precisamos conversar! — Disse ela, finalmente olhando para o rosto dele.

— Conversaremos depois! Precisamos voltar agora! Está frio aqui fora! — Falou ele mais uma vez tentando cobri-la com a capa, mas novamente ela se esquivou. 

— Não! — Ela disse bruscamente. — O assunto que tenho a tratar é urgente. Não podemos adiar por nem mais um segundo! 

Ele se assustou um pouco com a maneira que ela falou, e só então observou melhor o rosto dela. Os olhos estavam vermelhos e inchados, indicando que a água no rosto dela, não era apenas fruto da chuva. Ela havia chorado também. 

— Eu vou lhe perguntar algo, e quero que o senhor me conte a verdade! — Disse ela e sentiu a própria voz embargar. — Foi o senhor, quem separou Charles Bingley de minha irmã? 

O senhor Darcy engoliu em seco. Não esperava por aquela pergunta. Por alguns instantes pensou sobre como é quando ela havia descoberto aquilo, porém logo deixou de lado. Os meios não importavam realmente. 

O que importava era o presente e ele sabia que sua resposta poderia colocar a perder tudo o que já havia conquistado com Elizabeth, porém ele nunca foi um homem mentiroso. Diria a verdade, mesmo que lhe custasse caro.

— Sim. É verdade! — Disse ele e Elizabeth passou a andar nervosamente, de um lado para o outro.

— Por que o senhor fez isso? — Perguntou ela com um fio de voz.

— Eu percebi que a ligação de sua irmã, era menor que a de meu amigo. Eu disse isso a ele, apenas para o bem de ambos.

— Para o bem? — Ironizou ela. — Que direito o senhor tinha de interferir na vida de duas pessoas que se amavam? Submeteu os dois ao sofrimento da pior espécie e a minha irmã ao escárnio das esperanças desfeitas. Que direito o senhor tinha de julgar os sentimentos dela? 

— Eu os observei atentamente! Jane nunca demonstrou ter alguma afeição especial pelo meu amigo. 

— Mas minha irmã é muito tímida! Ela mal revela seus verdadeiros sentimentos para mim! — Disse ela. — Tem certeza que nada disso foi por causa da falta de dinheiro?

— Claro que não! — Defendeu-se ele. — Eu jamais ofenderia sua irmã com tal insinuação! — Falou e parou por alguns instantes antes de continuar. — Embora mais de uma vez tivesse sido sugerido que uma união entre os dois seria vantajosa para ela.

— Sugerido por quem? Pela Jane? — Perguntou ela, mas sabia que não era verdade. Sua irmã nunca se interessou pelo dinheiro do senhor Bingley.

— Não! — Respondeu ele. — Mas várias vezes pela sua mãe. A falta de propriedade demonstrada por ela, suas irmãs mais jovens, e ocasionalmente pelo seu pai, me fizeram crer que meu amigo faria uma união imprudente.

— Não ouse falar do meu pai! — Vociferou ela apontando o dedo em riste para ele.

— Perdoe-me. — Disse ele rapidamente. — Me dói magoá-la.

— Senhor, por que nós estamos juntos? — Perguntou ela, mas não esperou uma resposta. — Todas as objeções que o senhor enxergou para a relação de Charles e Jane, são as mesmas que se aplicam a nós. Eu não tenho dinheiro nem conexões, minha família é inadequada, e no início de tudo, eu disse ao senhor que meus sentimentos não eram tão profundos quanto os seus, mas, ainda assim, o senhor quis ficar comigo. Isso não lhe parece hipocrisia?

— O que me parece é que eu fui mais atencioso para com o meu amigo, do que para comigo mesmo. — Disse ele indignado pelo fato de ela ter lhe chamado de hipócrita. No entanto, ao ver a mágoa e decepção dela diante daquelas palavras ele se arrependeu no mesmo instante

Elizabeth deixou que algumas lágrimas caíssem dos seus olhos. Tudo estava desmoronando sobre sua cabeça, e não havia nada que ela pudesse fazer para não se machucar.

As palavras proferidas pelas senhoras no dia do baile agora faziam muito mais sentido. O senhor Darcy a amava, mas por quanto tempo duraria esse amor? Afinal... Se ele achava Jane inadequada para o senhor Bingley, certamente com o tempo ele notaria que Elizabeth era inadequada para ele. 

Como ela poderia continuar com ele se ele havia destruído, talvez para sempre, a felicidade de sua irmã mais querida? Como poderia ficar tranquila, sabendo que a qualquer momento ele poderia se arrepender de estar com ela? 

Ela sentia-se como uma criança que constrói uma um castelo de areia, próximo demais do mar, apenas para vê-lo ser destruído e arrastado pela força da maré. 

Era uma decisão difícil a qual ela estava prestes a tomar, provavelmente a mais difícil de sua vida.

— Senhor Darcy, isso nunca dará certo! — Disse ela com os olhos marejados e então olhou para baixo e retirou o anel de noivado que ele havia lhe dado.

— Elizabeth o que está fazendo? — Perguntou ele, embora soubesse qual era a resposta. — Não precisa ser assim! Vamos entrar e conversar com calma... — Disse ele em um tom quase suplicante.

— Não há o que conversar. — Falou ela entregando o anel a ele, que o pegou apenas por reflexo. — Tudo está claro como água! Eu nunca serei a mulher que esperam que eu seja. Não posso, e nem quero, mudar quem eu sou ou minhas origens.

— Eu jamais sugeri isso. Eu não quero que mude... — Ele começou a falar, mas logo foi interrompido.

— O senhor despreza o meu mundo, e eu jamais serei completamente feliz no seu!

— Você não sabe o que está falando! Está errada. 

— Não, senhor Darcy. — Disse Elizabeth com uma calma assustadora. — Eu estive errada quando aceitei me casar com o senhor. — Falou ela e ele sentiu seu coração se partir com aquela frase. — Agora o que posso fazer é concertar este erro, enquanto ainda há tempo. 

— Não pode fazer isso comigo! — Disse ele com um fio de voz e sentiu seus olhos marejarem. — Não pode fazer isso conosco... — Corrigiu com a voz embargada.

— Não é sobre poder, senhor Darcy. É sobre dever. Estamos fadados ao fracasso. É melhor acabar com isso agora, antes que fiquemos ainda mais machucados. — Disse Elizabeth e virou-lhe as costas pois sabia que não conseguiria partir com ele a olhando daquela maneira. — Eu vou arrumar minhas coisas e partirei o mais breve possível. — Disse ela e sentiu que ele se aproximou dela. — Não precisa acompanhar-me, pois sei o caminho de volta.

Ela saiu a passos largos em direção a Pemberley. 

Ela dizia para si mesma que aquela era a decisão certa e que protegeria os dois da ruína, porém esses pensamentos não a fizeram sofrer menos. Sentia seu rosto ser molhado tanto pela chuva, como pelas lágrimas que agora corriam soltas pelos seus olhos. 


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Notas finais do capítulo

Gente, eu tô triste também! Por favor, não me matem! Kkk

Mas quem assistiu o vídeo, já esperava que algo assim acontecesse. Aguardo os comentários e xingamentos!



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