O senhor Darcy havia voltado para a festa permanecia atento para ver quando Elizabeth retornaria também.

Passaram-se alguns minutos e ele estava estranhando a demora dela quando finalmente ela chegou por uma direção oposta a dele, provavelmente algo premeditado para que ninguém desconfiasse que eles haviam saído juntos. Muito esperto da parte dela, pensou ele e sorriu ao vê-la, mas não tardou a perceber que algo estava errado com ela. 

Elizabeth voltara para o baile com um semblante sério e pensativo, bem diferente da expressão alegre que tinha anteriormente. Algumas pessoas falaram com ela quando a viram e ela sorria, porém já não tinha mais a mesma animação que demonstrara no início do baile.

Preocupado ele foi até ela.

— Por que demoraste tanto? — Perguntou ele assim que se pôs ao lado dela. — Alguma coisa aconteceu?

— Não... Não aconteceu nada! — Falou ela lhe sorrindo e enganchando seu braço ao dele. — Eu só aproveitei que estava fora, para tomar um ar na varanda. — Mentiu ela e aquela resposta não o convenceu.

Elizabeth até sentiu-se tentada a contar a ele o que realmente havia ocorrido e a conversa que havia escutado, mas preferiu não fazer isso. 

A senhora Westwood já havia prejudicado a noite dela, mas isso não significava que noite do senhor Darcy não precisava ser prejudicada também. Provavelmente ele tomaria alguma atitude em relação a senhora Westwood se soubesse, mas Elizabeth não achava justo que ele se afastasse de mais pessoas de seu convívio por que ela não era aceita por eles. 

Algumas pessoas começaram a se aproximar do casal. No entanto, depois do que ouvira, Elizabeth estava desconfiada de todos. Parecia que todos os sorrisos e cortesias direcionados a ela eram falsos e com intenções duvidosas. Essa sensação era horrível pois era como se ela estivesse sufocada e presa. E o que a apavorava mais era pensar que era esse mundo com o qual ela teria de conviver depois que se casasse.

Apenas uma noite estava sendo extremamente perturbadora e cansativa então ela se pergunta a como conseguiria conviver com isso durante o resto da vida? Como o senhor Darcy conseguia? 

Seu noivo por sua vez tentava, mas não conseguia identificar o que havia acontecido para que ela mudasse de atitude tão repentinamente. Será que Elizabeth havia ficado muito brava com o beijo que ele havia dado nela? De fato havia sido imprudente, mas não era a primeira vez que eles faziam aquilo. 

— Elizabeth... — Falou ele em um tom mais baixo para que ninguém ao redor o ouvisse, apenas ela. — Eu a conheço o suficiente para saber quando algo não está certo. Por favor se abra comigo. Não está gostando do baile? — Perguntou ele.

— Não é nada disso. — Respondeu ela olhando-o. — O baile está perfeito. O senhor é um excelente anfitrião. Eu estou apenas cansada. —  Disse ela e de certa forma aquilo era verdade.

O baile estava perfeito, os convidados é que não eram tão perfeitos assim. E ela estava realmente cansada. Não um cansaço físico e sim cansada de toda aquela falsidade ao seu redor. O que ela mais queria era que a festa acabasse logo e assim quem sabe tudo poderia voltar ao normal.

Seu noivo assentiu com a sua resposta e resolveu confiar nela. Devia ser só cansaço mesmo, pois Elizabeth se empenhou tanto quanto ele por aquela festa, mas ela não era acostumada a ser anfitriã. Aquela posição era desgastante, ele tinha de reconhecer.

Além do mais, não haviam motivos para que ela estivesse desagradada com ele. Pelo contrário, ela havia até mesmo se declarado para ele.

Enquanto isso, Jane Bennet já havia dançado outras três músicas com o senhor Grimes.

Ao fim da última dança eles saíram do centro do salão e ele começou a tentar puxar mais algum assunto com a jovem dama. 

— Dançar é sempre tão revigorante. — Comentou ele.

— Sim, muito. — Ela concordou. — Eu adoro dançar.

— Jamais encontrei uma dama que não gostasse. — Disse ele rindo. — Já os rapazes que as vezes são mais tímidos. Eu mesmo detestava dançar, mas minha esposa amava. 

— O senhor já foi casado? — Perguntou ela, sendo atraída por aquela informação.

— Sim. — Respondeu ele. — Mas infelizmente ela faleceu. 

— Eu sinto muito. Deve ser muito difícil para o senhor. — Disse ela e realmente estava penalizada por ele.

— Por favor não sinta. — Disse ele lançando-lhe um amigável sorriso. — Não nego que passei por momentos difíceis, mas já faz cinco anos que aconteceu. Embora vez ou outra a tristeza venha me visitar, o lado bom é que tenho lembranças boas para mandar a visita indesejada embora. 

— Acho que consigo entender o que quer dizer. — Ela disse e lembrou-se das palavras que ela própria disse a Elizabeth quando ambas conversaram sobre o senhor Bingley.

Obviamente a desilusão que ela sofrera não era nada comparado a perder uma esposa, mas a maneira como ela e o senhor Grimes pensavam era muito semelhante.

— O senhor disse que detestava dançar? O que foi que o fez mudar de opinião sobre isso? — Perguntou ela para mudar o foco daquele assunto antes que se tornasse uma conversa triste.

— Eu sempre fui mais reservado, e muitas vezes deixei de fazer as coisas por pura timidez. Mas com o tempo percebi que era tolice não aproveitar as coisas boas da vida. — Respondeu ele e ela sorriu.

Enquanto tinham uma conversa agradável, Charles Bingley estava em outro canto e obviamente a observava a todo instante. 

Depois que se negara a dançar com qualquer outra moça, a única distração que encontrou foi o vinho que estava sendo servido. Fora alertado por sua irmã a não beber muito, mas não deu-lhe atenção. Não era um pouco de vinho que seria capaz de derruba-lo.

Não demorou para que Jane percebesse o olhar dele sobre ela. Instintivamente ela o olhou de volta e perdeu-se completamente naquele olhar. Por que ele estava fazendo isso com ela? Será que ele sentia algum prazer em deixá-la tão confusa?

O senhor Grimes percebeu que Jane se distraíra novamente, assim como quando dançaram, mas desta vez ele prestou mais atenção e acompanhou o olhar da moça. Ele viu que ela e o senhor Bingley se encaravam intensamente.

— A senhorita conhece o cavalheiro? — Perguntou ele intrigado. 

— Sim conheço. — Informou ela. — Ele alugou uma casa no nosso condado. Fomos vizinhos por um tempo. 

O senhor Grimes assentiu, porém sua profissão exigia que  fosse um homem observador, então conseguiu notar que haviam mais coisas por trás daquela informação. A maneira incisiva e melancólica como os dois se olhavam mostrava que significam muito um para o outro. Não eram apenas simples vizinhos.

Em um ímpeto de coragem, provavelmente provocado pelo álcool, Charles Bingley resolveu que falaria com Jane, nem que fosse a última coisa que faria naquela noite. Ela ficou atônita ao ver que ele se aproximava deles a passos largos e sequer conseguiu mover-se de seu lugar. Dentro de poucos segundos ele estava frente a frente com ela. 

— Senhorita Bennet! — Falou ele fazendo uma reverência e também cumprimentou o senhor Grimes que estava ali.

— Boa noite, senhor Bingley! — Disse ela fazendo também uma curta reverência. 

Ela não sabia o que dizer ou fazer. Há tanto tempo que eles não se falavam que ela sentia-se perdida. O silêncio que seguia-se entre os três estava ficando cada vez mais constrangedor.

— Jane... eu senti tanto a sua falta! — Falou ele e ela arregalou os olhos estupefata não apenas com aquela declaração em si, mas pela impropriedade dele ao chamá-la pelo nome de batismo diante de uma terceira pessoa. 

A maneira como suas palavras saíram arrastadas, indicavam que a bebida estava fazendo seu efeito.

— Senhor Bingley... O senhor não está em seu juízo perfeito. — Sussurrou ela preocupada com o estado do cavalheiro.

— Eu não estou bêbado, se é o que quer dizer! — Disse ele e alterou um pouco o seu tom de voz atraindo a atenção de algumas pessoas que estavam por perto. — Quem me tirou o juízo não foi a bebida... E sim a senhorita. — Falou ele e Jane enrubeceu constrangida com a cena que se desenrolava. 

O senhor Grimes que acompanhava a cena entre eles, achou que aquele era o momento para intervir. Em um instante, o senhor Darcy já estava próximo também e assim ambos se encarregaram de conduzir o senhor Bingley para um dos quartos da maneira mais discreta possível para não chamar a atenção das pessoas.

Deitaram o homem em uma cama mesmo com seus protestos, porém não tardou para que ele se acalmasse. O senhor Darcy e o senhor Grimes olharam-se e ficaram penalizados com o pobre homem. O senhor Darcy ainda mais, pois conhecia toda a história em questão e jamais vira seu amigo agir daquela maneira. 

— Ela não me ama... — O senhor Bingley murmurou sonolento enquanto se acomodava melhor na cama.

— Descanse, meu amigo! Apenas descanse. — Falou o senhor Darcy e tirou o casaco e os sapatos do senhor Bingley para depois cobri-lo com um cobertor.

Assim que ele adormeceu o senhor Fitzwilliam Darcy e o senhor Richard Grimes voltaram para a festa. 

Tão logo apareceram, Jane foi ao encontro deles.

— Como ele está? — Perguntou ela com os olhos arregalados olhando de um para o outro, ansiosa por uma resposta. — Eu fiquei preocupada. 

— Ele está bem. Só bebeu demais. Nada fora do comum. — O senhor Grimes procurou tranquilizá-la e Jane assentiu. — Provavelmente ele só acordará amanhã! 

— Claro. — Jane respondeu concordando algumas vezes com a cabeça. — Muito obrigada pela ajuda senhor. E o senhor também, senhor Darcy. Agora se me derem licença... — Falou ela fazendo uma rápida mesura e rapidamente saiu dali indo em direção a Elizabeth e Mary Bennet.

O senhor Richard acompanhou os passos dela com o olhar e ainda estava encantado com a doce senhorita Bennet, mas depois da cena que presenciara ele logo entendeu que o coração dela já pertencia a outro. Embora fosse nítido que haviam problemas entre os dois para serem resolvidos, era nítido também que os dois estavam apaixonados. Sua consciência jamais permitiria que ele se colocasse no caminho do jovem casal.

Sendo assim ele decidiu deixar a moça aos cuidados de suas irmãs e logo tratou de continuar a aproveitar a festa. 

Depois do que ocorrera, Jane conversou com Lizzy e decidiu retirar-se e para o seu quarto. Sabia que se continuasse na festa não seria uma boa companhia para ninguém pois não conseguiria tirar o senhor Bingley e a cena que presenciara de sua mente. 

Elizabeth infelizmente não poderia fazer o mesmo, pois como anfitriã, deveria esperar até o final da festa e que todos os convidados fossem embora.

Assim a noite seguiu com muitas danças e conversas, mas Elizabeth não conseguia concentrar-se em mais nada, pois agora, o que tomava seus pensamentos era a preocupação com sua irmã. 

Ela só queria que aquela noite acabasse logo.

(...)

De dentro do seu quarto Jane podia ouvir a música tocando na festa. Ela estava ansiosa e preocupada. Só por pensar que o senhor Bingley estava dormindo em um quarto não muito longe do dela a deixava apreensiva.

Tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante, pensou ela e riu-se da ironia daquilo.

Não estava preocupada apenas com o que havia acontecido na festa, mas sim em como seria ao amanhecer. Ela não sabia se o que ele havia dito era realmente verdade ou algo provocado pela bebida. Será que ele se lembraria de tudo no dia seguinte? 

Poderia parecer covardia da parte dela, mas ela não queria esperar para ver.

Ela não conseguiu pregar no sono por um instante sequer, e pode ouvir quando a música parou indicando que o baile havia terminado. Poucos minutos se passaram e então alguém bateu a sua porta e ela não levou por surpresa quando Elizabeth entrou sem nem mesmo esperar que Jane abrisse.

— Minha irmã... Desculpe-me não ter vindo antes. — Disse Elizabeth aproximando-se de Jane. — Só agora as pessoas foram embora.

— Não deve se desculpar... — A mais velha apressou-se em dizer. — Foi bom ficar sozinha aqui... Eu precisava colocar meus pensamentos em ordem.

— E conseguiu? 

— Sinceramente não. — Jane respondeu soltando um suspiro frustrado. — Mas eu tomei uma decisão. 

— Que decisão? — Elizabeth perguntou estreitando as sobrancelhas.

— Lizzy, eu acho melhor partir amanhã cedo, antes que ele acorde. — Disse ela e Elizabeth preparou-se para contestar, mas Jane a interrompeu. — Será melhor para nós dois. Essa noite já foi perturbadora o suficiente, não quero prolongar isso por mais tempo.

— Jane a decisão é sua, mas eu queria muito que você ficasse. — Elizabeth falou segurando as mãos de sua irmã entre as suas. 

Obviamente Jane não sabia que Elizabeth também estava passando por um momento conflitante. Ela queria desabafar com sua irmã e contar tudo o que havia acontecido no baile, mas depois ela chegou a conclusão de que isso não seria justo. Jane já tinha suas próprias preocupações e Elizabeth não queria sobrecarregá-la ainda mais.

— Já ficamos aqui por tempo suficiente. Será melhor partirmos. Além do mais eu preciso voltar para os meus afazeres.

— Eu entendo. — Disse Elizabeth. — A decisão é sua, mas quero que saiba que sentirei muito sua falta. 

— Eu também sentirei. Mas nos veremos em breve. — Jane falou sorrindo para quebrar o clima de tristeza que se formava ali. — E manteremos contato por carta.

As duas seguiram conversando sobre outros assuntos e assim logo o sono chegou. Elizabeth adormeceu no quarto de Jane.

No dia seguinte, tão logo o sol raiou, Jane Bennet tratou de falar com sua mãe e irmãs sobre a partida delas.

Embora relutante no início, a senhora Bennet por fim concordou, e depois de um tempo estava até ansiosa para chegar ao condado e contar para as visitas sobre todas as novidades da viagem. 

Assim logo que fizeram o desjejum, as cinco mulheres partiram para Hertfordshire deixando um grande vazio em Pemberley.