Passaram-se algumas semanas depois que Chao e Castiel desfrutaram a noite juntos falando sobre problemas, apenas aproveitando o sereno da noite e a companhia de cada um para se afastarem um pouco da vida real.

Porém, cada vez menos Castiel tinha oportunidade de falar com a garota ruiva. Geralmente estava ocupada com Nathaniel, estudando na biblioteca, e depois disso ia diretamente para casa. Desconfiou que sua guardiã a estivesse obrigando a voltar cedo para casa depois daquela noite, mas o que o irritava era que o tempo para ele havia ficado mais curto e por causa de um representante enxerido.

Mas, dessa vez não deixaria sua oportunidade passar, mesmo que o levasse a fazer coisas que iria se arrepender depois.

Era tarde, os últimos alunos já estavam indo embora, menos Castiel. Sabia que Chao e Nathaniel estavam na biblioteca, estudando juntos, e ele iria esperar ambos saírem.

...

— E então, você faz aquilo para resolver o problema. Simples não? – Nathaniel sorriu, girando a lapiseira numa mão enquanto olhava para a garota ruiva que estava sentada ao seu lado.

— Entendi, mas isso é muito estúpido... – Chao terminou de resolver o problema e se afastou na cadeira, encostando os pés sobre a mesa. – Mas claro que com você me obrigando a estudar aqui todo dia eu tenho que fingir ao máximo que estou apreciando sua ajuda de coração.

Ela se virou para olhar para o loiro, com um sorriso sarcástico estampado no rosto.

— Estamos indo bem desse jeito... E eu estou me esforçando para te ajudar também, então se você não está feliz aqui, eu também não estou... Ok? Poderia pelo menos fazer minha vida um pouco mais fácil e tentar um pouco mais?

Chao ficou em silêncio, e voltou à posição normal na cadeira.

— Você fala que nem ela... – a ruiva riu, e como estavam sozinhos, sua risada ecoou pelas paredes solitárias da antiga biblioteca.

Nathaniel não entendeu nada do que ela disse, então simplesmente resolveu guardar seu material e se levantar, mas, quando estava pronto para ir embora, sentiu sua camisa ser puxada.

— Onde pensa que vai? Acha que pode falar assim comigo e simplesmente se safar?

De repente, a atmosfera do cenário mudou completamente. De amigavelmente irritadiça foi diretamente para ameaçadora.

Chao se levantou, olhando para baixo, porém ainda puxando de leve a camisa do garoto loiro.

— O que pensa em fazer? Me bater? Eu sou mais forte do que você, então seria uma péssima ideia... Não ache que vai me assustar de novo como no outro dia.

— Talvez seja uma boa ideia, mas que tal se eu fizer isso? – sem pensar duas vezes, Chao rasgou seu uniforme, fazendo seus botões caírem e seu sutiã ficar à mostra. Em seguida, com uma velocidade absurda, puxou o representante pela gravata, o obrigando a vir de encontro com ela.

Com esse tipo de impulso, ambos bateram em uma das prateleiras antigas, que, além de fazer barulho, soltou um monte de pó.

— O que pensa que está—

Antes que pudesse terminar de falar, Chao sorriu maliciosamente e gritou do topo dos seus pulmões, e com o maior desespero que poderia haver no mundo. Tentou afastá-lo de si, esperando que seu “plano” desse certo.

E no momento esperado, funcionou perfeitamente.

Castiel apareceu na porta com um estouro, arregalando os olhos ao se deparar com a cena.

Nathaniel, quando notou o que estava realmente acontecendo, empurrou Chao de reflexo, que foi pega de surpresa, e ao bater de volta na prateleira, caiu no chão.

O garoto ruivo nem precisou pensar duas vezes, foi para cima do representante, metendo-lhe um belo soco na maçã do rosto. O mesmo caiu para trás, acertando a mesa em que estavam estudando.

— Castiel, não é o que está pensando! – Nathaniel tentou dizer, tentando se afastar enquanto passava a mão no rosto. Aquilo ficaria roxo.

— Eu não quero saber qual a sua desculpa para isso, mas eu já vi o suficiente para saber que você está ferrado! - Castiel continuou indo para cima do outro, dessa vez o pegando pelo colarinho e o empurrando em uma das prateleiras.

— C-... – O rapaz mal podia falar. Não sabia se aquilo havia sido combinado, mas sabia que estava com muita raiva. E mesmo que não quisesse se meter numa briga, sabia que deveria se defender se não quisesse chegar espancando em casa.

O loiro virou um soco no rosto do outro, se soltando dele. Respirando forte, se afastou consideravelmente, tentando ganhar tempo para explicar-se.

— Olha, eu não sei qual é o plano aqui, mas eu juro que eu não toquei nela. – Ele começou a explicar. – Estávamos estudando e eu já ia embora quando-

— Quando ela simplesmente te mostrou os peitos? Não vem com essa, anjinho... Não importa como aconteceu, você tem culpa nisso. – Castiel sorriu de canto, limpando o pouco de sangue que escorreu de sua boca. Estava absurdamente mais irritado.

Chao passou a mão na cabeça, um pouco desnorteada. Não era bem aquilo que esperava acontecer, sinceramente. Queria sim ferrar com o representante, mas... Aquilo havia doído. Quando se levantou, cambaleando um pouco, encostou-se à prateleira e observou a briga. Será que se não fizesse nada as coisas iriam ficar mais sérias?

— Eu não quero brigar com você, Castiel, mas se eu precisar eu vou. – Nathaniel ajeitou a gravata, olhando para Chao de relance ao perceber que havia levantado.

— Então pode vir, porque estou fervendo de raiva agora. – O ruivo estralou os dedos, pronto para uma boa briga, sem se segurar.

E foi aí que ela percebeu que as coisas ficariam bem mais feias do que deveriam.

— Parem! – Chao correu para o meio dos dois rapazes, com um olhar preocupado. Geralmente não faria nada nesses tipos de situação, mas sentiu que se não fizesse iria causar grandes consequências, e para ela também. – Cas, por favor... Só me tire daqui... Se brigarem aqui e as coisas ficarem feias, todos nós vamos nos ferrar... E muito.

Castiel a olhou e aos poucos relaxou o corpo, de uma forma ou de outra ela tinha razão. Olhou para o outro rapaz, ainda com a expressão fechada. O mesmo revirou os olhos, não muito satisfeito com tudo que acabara de acontecer.

— Eu achei que era melhor que isso, Chao... – O representante disse simplesmente, ajeitando-se e a olhando com uma expressão de decepção – Acha tão difícil assim estudar comigo? Tudo bem. Ache alguém melhor para te dar apoio até a formatura. Boa sorte... Porque agora você não tem nenhuma.

E simplesmente pegou suas coisas e saiu, nada contente.

Enquanto isso, Castiel suspirou, não entendendo muito o comentário final de Nathaniel. Mas, ele não se importava muito com isso. Foi de encontro com a garota e a segurou pelos ombros, legitimamente preocupado.

— Você está bem? Ele te tocou em algum lugar estranho? – sua voz era baixa, um pouco desesperada.

— Eu estou bem... Na verdade, Cas... Ele tinha razão... Ele não fez isso comigo, eu fiquei irritada porque ele falou que nem Mae... Então- Ugh, eu sou tão desprezível... – Chao afundou seu rosto no peito do outro ruivo, apertando a jaqueta de couro do mesmo com suas mãos, como em um abraço. – Eu cheguei ao ponto de te enganar para ferrar com ele... Me perdoe...

Castiel soltou um longo e pesado suspiro, passando a mão sobre os cabelos da menina e repousando a cabeça sobre ela.

— Isso realmente me preocupou... Não faça isso de novo, ok? – Disse ele, a abraçando suavemente. – Eu estava te esperando lá fora porque... Desde aquela noite não temos mais tempo para conversar... E quando ouvi seu grito eu... Perdi o controle. Sinceramente pensei que estava em perigo.

— Me desculpe... Eu sei que isso foi um golpe bem baixo da minha parte... – Chao suspirou, um tanto decepcionada consigo mesma. – Prometo que não vai se repetir... Tá?

Ela se afastou um pouco do garoto, olhando para cima para que pudesse ver seu rosto.

— Combinado. – Castiel soltou uma leve risada. – Caramba, você quase me deu um ataque do coração...

Quando se soltaram, o garoto reparou realmente que ela estava com uniforme arruinado, e olhou rapidamente para o lado.

— Uh... Belo sutiã... Você não é tão tábua quanto imaginei... – Disse, com um sorriso de canto, ainda olhando para o lado.

— Tábua? Pfft dá licença... Eu não sou tábua desde que entrei no ensino médio. – Chao riu. – Mas, por bom senso, meu fiel cavaleiro poderia fazer o favor de me emprestar sua jaqueta super legal de couro? Por favorzinho?

— Ah? Fez todo esse escândalo só para conseguir vestir minha jaqueta é? Garota esperta... – Castiel tirou sua jaqueta e pôs sobre a menina, fechando o zíper. – Me devolva amanhã.

— Quem sabe? Talvez eu roube... – disse com uma expressão desafiadora.

— Ah é? Então acho que vou ter que descobrir onde mora e pegar de volta depois, não? – o rapaz respondeu com o mesmo tom enquanto arrumava as coisas dela e pegava sua mochila. – Ou, melhor que isso... Que tal eu descobrir onde você mora agora te acompanhando até em casa? Assim meu trabalho em recuperar minha jaqueta preferida será dez vezes mais fácil.

Chao sentiu suas bochechas corarem. Nossa, ele era muito suave com essas coisas.

— Ora, ora... Não vejo porque não... – Sorriu, andando lado a lado com seu amigo preferido até a saída.

Notou que era a primeira vez que ele a acompanhava para casa desde que chegou na escola, mas por algum motivo, se sentiu um tanto nervosa pelo auto convite do rapaz para a acompanhar.

...

— Te vejo amanhã. – Disse o ruivo, sorrindo e acenando enquanto ia embora.

— Até amanhã. – Chao sorriu de volta, aproveitando o cheiro do rapaz que estava na sua jaqueta.

Perfume de menino é tão cheiroso... Pensou consigo enquanto entrava em casa, feliz, mesmo com os problemas em que se meteu hoje.