Blindfolded escrita por Berezi


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Atenção: há cenas de fumo nesse capítulo. Não sei se cigarro conta como "drogas" como há nos avisos... Por isso aviso aqui.



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Quando Chao saiu do banheiro, o sinal já havia tocado. Seu rosto ainda expressava tristeza e cansaço mas pelo menos seus olhos já voltaram ao normal. Só queria ir para casa e ficar no seu quarto até morrer, mas quando saiu para o pátio alguém a estava esperando, e não era quem esperava.

— Então você realmente ainda estava aqui... A diretora não vai ficar muito feliz ao descobrir que a “aluna especial” matou as três últimas aulas do período.

Ótimo.

— O que vai fazer? Contar para ela para eu ser expulsa? Vai nessa, otário. – Chao não estava com paciência para lidar com gente que nem ele. Já estava cansada de fingir ser legal com eles.

Sua língua estava bem afiada, poderia e usaria qualquer bomba contra ele se significasse ficar em paz.

— Não... Pelo contrário, quando não te vi na sala de aula, eu fiquei ainda mais preocupado... – Nathaniel se aproximou dela, ficando cara a cara com ela. – Eu quero te perguntar uma coisa... Mas não como representante de sala, e sim como um ser humano... O que aconteceu com você?

Chao Tae se afastou dele, o olhando bem nos olhos como um animal feroz.

— Você não me conhece... Pare de achar que tem o direito de chegar assim comigo!

Nathaniel fechou os olhos por um instante e respirou fundo, voltando a olhar para a ruiva com um olhar confiante.

— Correto, eu não te conheço, mas sua abrupta mudança de comportamento e humor de um dia para o outro realmente me deixaram preocupados. Custa tanto assim me dizer o que aconteceu? – sua voz estava num tom irritado, impaciente, aquele cara falava bonito, mas não do jeito certo.

— Olha, me deixe em paz tá, cara? Eu não quero me aproximar de gente que nem você e eu não quero você me perseguindo fingindo que se importa no fundo tá legal? – Droga, as lágrimas estavam voltando, mas dessa vez, eram lágrimas de pura raiva. – Eu SEI que vocês só me veem como mais um problema na escola, e que a única coisa que querem de mim é uma boa conduta e ótimas notas, mas não dá pra mim ok? Eu não sou que nem vocês...

O rapaz a ficou encarando por um longo momento, aquilo seria mais difícil do que imaginara.

— ... Você quer acreditar nisso? Tudo bem, não tem como eu te impedir, mas pelo menos me dê uma chance para eu te mostrar que eu quero ajudar...

— ... – Chao ficou em silêncio por alguns momentos, tentando controlar as lágrimas – Do que você está falando?

— Acho que sabe das regras que foram estabelecidas para que fique nessa escola sem problemas... “Achar alguém com boas notas para que te ajude a terminar o ensino médio com uma ficha limpa e também com boas notas”. – a expressão no rosto de Nathaniel de sério e impaciente foi interrompida com um leve sorriso. – Me deixe te ajudar... A ser essa pessoa. Ficarei com você até a formatura, te ajudando e te acompanhando... Sendo um amigo sincero, honesto e sem segredos.

Ele não podia estar falando sério. Chao olhou para ele com um leve teor de nojo em sua face. Suas defesas diziam para ter cuidado e não acreditar em nenhuma palavra que ele disse. No entanto, ela realmente precisava de alguém assim e não achava que Castiel seria o melhor exemplo de aluno daquela escola.

— Por que você gostaria de fazer isso por mim? Não vai sair ganhando nada com isso... – Disse sem pensar duas vezes. Queria ver quão longe o loiro iria por ela.

— Como não? Eu saberia mais sobre você, e resolveria esse tipo de conflito prematuro que estamos tendo. – ele não baixou a guarda, continuando por olhá-la bem nos olhos.

— Não vem com essa, acha mesmo que vou cair por uma conversinha frouxa dessa? – A ruiva riu com um tom exagerado de deboche.

— Por que não tenta me dar uma chance? Se eu realmente estiver te enganando, uma pessoa tão afiada quanto você iria reparar na hora não iria?

Ele tinha razão. Já passou por situações difíceis com outras pessoas antes, e tinha sérios problemas para confiar em pessoas com determinadas características. E Nathaniel era definitivamente um deles.

— ... Tudo bem. Mas já vou avisando que se você tentar alguma coisa comigo... – Ela deu um passo para frente, ficando com seu rosto bem perto do dele, com uma expressão inexplicável. – Saiba que eu não tenho medo de te machucar... Fisicamente.

Nathaniel a encarou, um tanto apreendido com a reação. Só conseguiu relaxar o corpo novamente quando Chao se afastou.

— Quando começamos, representante? – a ruiva disse, com um grande sorriso no rosto, mas com um olhar sem brilho, fixo no dele.

— ... S-semana que vem. – Seu coração estava batendo forte. O loiro estava genuinamente com medo da garota. – Me encontre na biblioteca. Eu te digo o horário depois.

— Parece ótimo. Até mais então.

Ao ver Chao Tae saindo do território escolar, se dirigindo para casa, soltou um grande suspiro, seu corpo estava tremendo de leve. O que tinha sido aquela reação mortífera? Mesmo não a conhecendo, aquilo realmente o surpreendeu em um sentido mais do que ruim.

...

— Chao? Já chegou?

Fechou a porta e foi direto para o quarto, deixando sua mochila em cima de sua cama.

— Já... – respondeu baixinho. – Mae?

— Sim? – a morena respondeu, estava no banheiro, escovando os dentes.

— ... Posso dar uma saída? Eu esqueci que eu tenho que comprar umas coisas no mercado para um projeto da escola...

— Vai... Só não volte tão tarde.

— ... Tá. – como um zumbi, Chao andou lentamente para a porta e saiu de casa, sem querer voltar naquela noite.

Quando já estava na rua, pegou seu celular e decidiu ligar para Castiel, se perguntava se ele iria estar disponível.

— Alô? – uma voz masculina pôde ser ouvida do outro lado da linha.

— Hey, Cas. Sou eu, Chao... Estava pensando se não queria sair comigo para dar uma volta? – seu convite parecia mais o pedido de um encontro do que de qualquer outra coisa, mas sua falta de emoções no momento não permitiu que refizesse a frase.

— Claro, parece divertido. Aonde eu te encontro?

— Sabe a farmácia perto da escola? Encontre-me lá daqui a pouco. Eu já estou a caminho. – depois de ouvir a confirmação do outro ruivo, desligou e pôs seu celular no bolso, fazendo seu caminho para o ponto de encontro.

...

Chegando lá, não esperou muito pelo outro. Em menos de dez minutos, o garoto já estava lá.

— Posso te fazer uma pergunta? – Chao perguntou, com uma mão no bolso. – Você fuma?

Castiel pareceu um pouco pressionado com o tipo de pergunta, mas simplesmente por conta que foi pego de surpresa.

— Às vezes... Por quê?

Chao sorriu de leve, tirando uma caixa de cigarros do bolso. Tirou dois e entregou um para Castiel. Logo em seguida, tirou um isqueiro da sua jaqueta e acendeu o dela.

Se aproximando do rapaz, chegou bem perto, acendendo o cigarro dele. Sorriu de canto de boca e encostou de volta na parede.

— Não sabia que fumava. – Castiel soltou um pouco de fumaça pela boca, olhando para a garota com leve surpresa.

— Eu também não sabia que você fumava até uns minutos atrás... Parece que não sabemos muita coisa um do outro, não é mesmo? – Ela sorriu maliciosamente, soltando fumaça.

— Heh, mas me diga uma coisa... Por que uma farmácia? Não acha que alguém vai ficar bravo se virem a gente fumando aqui?

— O que? Está com medinho?

— Não vem com essa... Vamos para um lugar mais apropriado... – Castiel pegou na mão de Chao e começou a andar lentamente para outra direção.

Em menos de quinze minutos, chegaram a uma praça e sentaram-se em um dos bancos, aproveitando a vista estrelada do céu.

— Desculpa por ter saído correndo hoje... Eu estava estupidamente emotiva. – Disse, soltando mais fumaça.

— Eu reparei... Mas não creio que esteja se sentindo melhor... – Castiel a olhou, e percebeu que aquilo não era a melhor coisa para se dizer para uma garota emocionalmente instável.

— ... Vou ser bem sincera... – começou, tomando a liberdade de encostar-se ao ombro do outro. – Não sei se eu deveria estar te dizendo essas coisas assim de cara mas, dane-se. Eu não tenho pais... Minha mãe me abandonou quando eu tinha cinco anos, e hoje eu vivo com uma mulher que chama Mae. Ela me trata que nem lixo e sempre vem puxando o fato que eu deveria ser eternamente grata por ela me acolher...

Chao tragou mais um pouco do seu cigarro, soltando mais fumaça pelo ar.

— Mas... É um saco. Eu sinto como se eu fosse forçada a viver minha vida do jeito que ela quer...

Naquele momento, ele reparou o verdadeiro motivo por ela ter o convidado para fumar naquela noite. Amassou seu cigarro no chão, pondo um braço ao redor do ombro de Chao, acolhendo-a.

— Ontem... Quando eu cheguei em casa depois de ter jogado basquete com você... Ela começou a reclamar que não era para eu ficar de bobeira, e que eu não estava me esforçando o suficiente para fazer ela feliz... Começamos a discutir e... – Ela parou por um momento, se aconchegando mais nos braços do rapaz. – Ela me bateu. Foi por isso que eu estou tão... Insuportável hoje.

— Insuportável?... – Castiel começou, suas bochechas estavam levemente vermelhas. – Não acho que esteja insuportável... Acho que só está instável... Fico feliz por compartilhar algo tão pessoal assim... Na lata. Não é fácil aguentar essas coisas, e muito menos confiar em alguém em tão pouco tempo para contar algo desse naipe.

O garoto ruivo se ajeitou no banco, percebendo que todo esse tempo estava inconscientemente acariciando o cabelo da menina com os dedos.

— Cas... Eu gosto muito de você... Eu sinto... Que no fundo você é igual a mim. Eu já me arrependi muito por confiar em pessoas assim na lata, mas, por algum motivo... Eu não sinto medo disso acontecer com você... – Ela fechou os olhos, largando o cigarro no chão e aproveitando o carinho que estava recebendo. – Eu espero estar certa no final...

Para Castiel, Chao estava se mostrando uma garota fascinante. Não só ela era interessante, determinada e curiosa, ela era uma pessoa agradável, e que para ele pelo menos, de fácil convivência.

Ele sorriu, suas bochechas estavam quentes. Fazia um bom tempo que se sentia assim com alguém. Fechou os olhos, e permaneceu em silêncio juntamente com a garota, aproveitando o momento que estavam compartilhando, e esperando a noite e os problemas passarem, mesmo que ficar a noite toda fora de casa, significasse problemas.

Pelo menos aquela noite, aquela única noite, serviria para acalmar um coração abatido, mesmo que só temporariamente.


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