Moiras escrita por Lucca


Capítulo 22
Calmaria


Notas iniciais do capítulo

Seguindo a ordem natural, a história pediu uma momento fofo desse casal incrível curtindo seus bebês. É um pouco da paz que todos os fãs sonham para eles. Pena que não pode se transformar em rotina na série, afinal é um drama policial. A tradução da música aparecerá após a versão em inglês e foi retirada do Vagalume. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/741605/chapter/22

Os meses pareciam passar voando. A rotina após a chegada dos gêmeos exigia muito da família. O amor que dedicavam ao seu dia a dia tornava todos os momentos especiais e fazia tudo valer a pena.

Jane conseguiu um tempo, mesmo que curto, para se dedicar aos seus desenhos. Ela amava aquilo! Alguns meses antes dos bebês nascerem, ela havia se interessado por mitologia grega. Os deuses e heróis gregos tramitavam entre as diferentes emoções e ações humanas. Eles não eram perfeitos, erravam e, consequentemente, machucavam pessoas à sua volta. Esses mitos falavam alto aos seus conflitos e experiências, ajudando-a a lidar melhor com seu passado, presente e futuro. Aos poucos, essas histórias foram se misturando as pessoas que a rodeavam e permearam seus desenhos. Patterson se fundiu a Atena, pela inteligência e estratégia; Reade à Apolo por sua dedicação à ordem e à verdade; Tasha imprimiu marcas em Artêmis, pela astúcia; Roman se mesclou com Poseidon, senhor do mares e terremotos, com um poder espetacular sobre as pessoas, especialmente sobre ela; Kurt apareceu em Zeus, o senhor do seu Olimpo. Jane não se colocou inteiramente em nenhum de seus desenhos. Muitas vezes se perguntou se ainda se julgava imperfeita demais para estar naquele panteão. Com o tempo, ela se percebeu nos traços que dava a Hera, a protetora da família, em Deméter, defensora das mulheres, e também em Afrodite, descobrindo sua beleza e sensualidade. Existiam muitas deusas nela, mas nenhuma imperava totalmente.

O resultado foi realmente fantástico. Hirst ficou encantada ao ver os desenhos e pediu permissão para enviar alguns a um amigo editor. Não demorou até entrarem em contato com Jane. Estariam lançando uma coleção de luxo sobre mitologia grega e queriam usar suas ilustrações. A coleção foi um sucesso e o dinheiro que isso rendeu a família, apesar de não ser uma grande soma, ajudou a acelerar os planos de mudança.

Escolheram o extremo norte do Texas para aproxima-los de Melissa. A cidade ficava a apenas duas horas de onde a família de Allie, que estava grávida, morava. Ela não tinha lidado direito com a chegada dos gêmeos. Os telefonemas acusando Kurt de estar se afastando de Melissa não eram raros. Ele sabia que não era verdade. Estava fazendo o máximo possível, mas às vezes se esquecia de uma ou outra vídeo-chamada em meio a correria da nova rotina. Melissa não parecia incomodada como a mãe. Connor, por sua vez, sempre parecia inseguro com a presença de Weller. Desnecessário, mas sentimentos são difíceis de controlar, só é possível controlar as reações a eles. Por tudo isso, a proximidade da família precisou ser ponderada para uma distância capaz de deixar todos confortáveis.

Pouco após o almoço, numa quinta-feira, Hirts chegou no NYO para avaliar o andamento de alguns casos junto a Weller. A reunião foi rápida, em apenas uma hora tudo estava feito.

— E sua família, como está?

O rosto de Kurt se iluminou, sua família era tudo pra ele e os últimos meses tinham sido os mais especiais. Ele relaxou na cadeira, enquanto respondia:

— Bem. As crianças estão saudáveis e crescendo rápido. Todo dia os bebês nos surpreendem com uma coisa nova e interagem mais, é tão... milagroso, acho que essa é a melhor palavra.

— Bom. E Jane?

— Ela está ótima. É incrível como ela cuida das crianças de um jeito único_ ele sequer tenta disfarçar a admiração que sente por sua esposa_ Jane sempre sabe a dose certa para eles, cuidado, estímulo, carinho, atenção._ e ele levanta as sobrancelhas e movimenta a cabeça para o lado num gesto de orgulho pessoal_ Eu também estou me saindo bem. Mas o tempo passa tão rápido, os bebês completaram quatro meses essa semana. Queria poder ficar mais com eles. Eu tento fotografar e filmar... Jane também faz isso, mas sempre parece que não é o bastante e que muito ficará apenas nas nossas lembranças ou talvez até desapareça.

Hirst sorri: _ Eu tenho certeza que vocês estão fazendo o melhor. Essas crianças têm sorte por terem pais como vocês. E, se o tempo passa tão rápido, você deveria tirar o resto do dia de folga para curtir sua família. Eu estarei por aqui até o final da tarde. Acho que o país sobreviverá sem você por algumas horas.

Kurt não escondeu seu entusiasmo diante da proposta:

— Muito obrigada, Diretora Hirst._ e estendeu a mão para cumprimenta-la.

Ele foi rapidamente para casa, ansiava por aqueles momentos com sua família. Nunca imaginou que alguém pudesse ser tão feliz apenas por poder estar em casa. Sua euforia só foi contida já na porta do apartamento. Ele conhecia a necessidade de entrar em silencio, o sono dos bebês não devia ser interrompido, pois era o único momento que Jane tinha para descansar ou se dedicar aos seus desenhos. Aquela semana estava sendo especialmente difícil por conta das vacinas que os deixaram mais chorosos que de costume.

Ele entrou na ponta dos pés e fechou a porta delicadamente. Então, ouviu a voz rouca de Jane cantarolando no quarto. Momentos assim eram raros. Ela dificilmente cantava. A melodia era familiar pra ele, entretanto, a canção estava num idioma que ele não reconhecia. Kurt chamou por Jane enquanto se aproximava do quarto, sussurrando seu nome em tom de ninar na tentativa de mostrar sua presença sem atrapalhar a canção. Quanto mais ele se aproximava, mais familiar a melodia se tornava.

“Lange, lange leve karleken

Var basta van, Fernando.

Fyll ditt glas och hoj en skal for den,

For karleken, Fernando!

Spela, spela melodien och sjung sangen om lyckan.

Lange, lange leve karleken,

Den karleken, Fernando!

Lange, lange leve karleken,

Den karleken, Fernando!”

Já na porta do quarto, sentiu seu coração acelerar diante do cenário que era seu paraíso. Então se recostou ao batente e apenas observou Jane que embalava Liz suavemente enquanto cantava. A bebezinha estava apoiada em seu peito, quase adormecida, ainda emitia esparsos soluços, demonstrando que demorou para se acalmar. A mão esquerda de Jane acariciava as costinhas da filha. Devagar, ela se virou em direção à porta, puxando um suspiro que confirmava a dificuldade transcorrida até chegarem àquele momento de paz.

Kurt se aproximou e sussurrou:

— Dor?

Jane confirmou com a cabeça e prosseguiu cantando.

— Ela precisa de medicação?_ Jane gesticulou a negação._ Você já medicou?_ o gesto confirmou que sim.

Então, ele foi até o berço de Aidan, que dormia pacificamente, e depositou um beijo suave sobre a vasta cabeleira negra do filho. Antes de recuar, inalou o aroma suave do bebê querendo guardar para sempre, na memória, cada detalhe de tudo que estava vivendo.

Aproximando-se de Jane, abraçou-a por trás, acompanhando o ritmo que ela embalava Liz que agora dormia. Ela se aconchegou no seu abraço, facilitando o encaixe da cabeça do marido ao seu pescoço. Ele sussurou:

— Conheço essa canção, em inglês, claro.

Imediatamente, ela alterou o idioma da canção e os dois cantaram juntos:

“I was so afraid Fernando

We were young and full of life and none of us prepared to die

And I'm not ashamed to say

The roar of guns and cannons almost made me cry

 

There was something in the air that night

The stars were bright, Fernando

They were shining there for you and me

For liberty, Fernando

Though I never thought that we could lose

There's no regret

If I had to do the same again

I would, my friend, Fernando

 

Now we're old and grey Fernando

And since many years I haven't seen a rifle in your hand

Can you hear the drums Fernando?”

 

Eles estavam mais perto agora Fernando

Toda hora todo minuto parecia durar para sempre

Eu estava com tanto medo Fernando

Nós éramos jovens e cheios de vida e nenhum de nós preparado para morrer

E não estou envergonhado de dizer

O barulho das armas quase me fez chorar

 

Havia algo no ar naquela noite

As estrelas brilhavam, Fernando

Elas brilhavam por mim por você

Pela liberdade, Fernando

Embora eu nunca tenha pensado na derrota

Não sinto remorso

Se eu tivesse que fazer tudo de novo

Eu faria, meu amigo, Fernando

 

Agora estamos velhos e grisalhos Fernando

E faz muitos anos que eu não vejo um rifle em suas mãos

— Um dia nós também estaremos em paz como nessa música, os momentos difíceis estarão apenas no passado e sem precisar de armas nas mãos._ Kurt diz, estreitando seu abraço. A cada dia ele deseja mais a paz, distante de missões que colocassem sua vida em risco.

— Já estamos quase lá, não estamos? Tenho certeza que a próxima vacina me deixará com os cabelos completamente brancos._ Jane passa a mão sobre a cabecinha de Liz acariciando o cabelinho da filha que começa a apontar._ E, falando em cabelos, acho que os dela estão finalmente nascendo.

Kurt coloca a mão nas costas da filha.

— E não serão negros como de Aidan, eles tem um tom claro, lembram os cabelos de seu irmão.

Jane aprofundou o abraço à filha. Seria um presente lindo ver Roman nos cabelos de Liz. E não faltavam laços para decorá-los. Tasha e Patterson garantiram uma coleção surpreendente, muito maior do que Jane julgou necessário. Foram meses de espera para ver esse cabelinho emoldurando o pequeno rosto de Liz que herdou os olhos verdes de Jane. Enquanto esperava por eles, ela amou enfeitar sua bonequinha com  tiaras. Aidan, por sua vez, tinha cabelos de sobra, negros como os cabelos da mãe, mas com os olhos do pai.

—Você acha que já é o momento do primeiro corte de cabelo do Aidan?

— Oh, não , Kurt. Ele ainda é muito novinho. E adoro os cabelos dele.

— Eu também, mas sempre perguntam se é uma menina.

— As pessoas perguntam muitas coisas, julgam sem se atentar aos detalhes.

— Você está certa. O problema está nelas, não no cabelo do nosso filho.

— Toda vez que olho para eles tenho a certeza do quanto somos bons juntos. Sabemos como fazer filhos lindos... _ ela suspira olhando para o filho no berço._ E não é novidade para nós lidar com o julgamento no olhar das pessoas sobre quem elas não conhecem...

Kurt deposita um beijo sobre seu rosto: _ Não é ruim que certas pessoas ajam assim, Jane. Desse jeito, só quem realmente vale a pena se aproxima e descobre o quanto minha família é maravilhosa. E hoje, descobri que minha esposa conhece músicas em sueco.

— Sueco?

— Só pode ser. Essa banda era sueca. Fizeram sucesso com as canções em inglês, mas seu país de origem era a Suécia. Muitas vezes, gravaram seus hits em sueco também. Claro que isso foi antes de você nascer. Se conhece essa música é porque alguém mais velho e próximo a você gostava da banda. Talvez seus pais.

— Tem coisas sobre mim que nunca vamos desvendar.

De repente, uma sensação ruim percorreu seu corpo, fazendo estremecer. Kurt a conhecia muito bem e sabia que aquela reação não era um bom sinal:

— Jane, o que houve?_ suas mãos deslizaram pelos braços dela, procurando marcar sua presença e lhe dar conforto_ Você se lembrou de algo?

— É só uma sensação ruim... Quando eu vejo onde estamos, o quanto eu estou feliz com vocês... é tudo tão perfeito que eu... Eu sinto medo, Kurt. Medo de algo me tirar isso.

Ele sorriu, mas também conhecia aquela sensação.

— Sei como você se sente. Às vezes isso também acontece comigo. Mas é só uma sensação. _ e volto a abraçá-las_ A realidade é isso agora, Jane, nossa família. E as estrelas brilham para nós, vamos aproveitar e confiar que o pior já passou.

Jane se aconchegou em seu abraço e em suas palavras. Ficaram ali, embalando Liz por muito tempo. Confiando que aquele momento ninguém poderia apagar de suas memórias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que acompanham. Perdoem-me a demora em atualizar. Realmente, não imaginei que essa história pudesse ficar tão longa. Mais uma vez, obrigada.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Moiras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.