Akame ga Kill! escrita por Kath Klein


Capítulo 2
Mate o Lar


Notas iniciais do capítulo

Música: Home (Lar) por Gabrielle Aplin

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Akame Ga Kiru!

Mate o Lar

Por Kath Klein

‘Tatsumi foi pego por Esdeath?!’ Akame perguntou levantando-se e batendo com as duas mãos na mesa.

Lubback e Leona tinham acabado de voltar da missão na capital e relatado para ela o que havia acontecido por lá. O tal do concurso para o candidato a usar a nova arma imperial de Sheele e a participação de Tatsumi. E o final surpreendente e inesperado da General Imperial Esdeath sequestrando o membro do time.

‘Descobriram que ele é um Night Raid?!’ Mine perguntou aflita. Estava perto de Akame ouvindo o relato dos dois.

Lubback coçou o queixo com a mão, pensando na resposta. ‘Não sei dizer…’ Respondeu por fim. ‘As chances são grandes…’

Leona estava ao lado do rapaz com os braços cruzados, apertados contra o corpo. Estava tensa também. Preocupada com Tatsumi. Era impressionante como o rapaz de olhos verdes tinha tanta má sorte.

‘Observamos os dois irem para o palácio, mas…’ Ela encarou Akame. ‘Você está no comando, como prosseguimos?’

Todos fitaram a assassina que baixou os olhos, fitando a mesa. Estava tão nervosa pelo relato que recebia que por incrível que pareça depois de tanto tempo vivendo naquele limite, não sabia o que fazer direito. Sua vontade era de buscar o rapaz de qualquer forma. Ele poderia estar sendo torturado, passando por horrores nas mãos de Esdeath. Sabia muito bem o senso peculiar da general do Império, principalmente para rapazes jovens, Najenda tinha lhe contado o que tinha acontecido com o general revolucionário e herói do Norte, Numa Seika. Não queria por nada que algo semelhante ou pior acontecesse com Tatsumi.

‘Tatsumi…’ Murmurou o nome dele, tentando pensar no que fazer. Sentia uma gota de suor escorrer na lateral do belo rosto. Estava nervosa. Tensa.

"Não vou morrer!" A voz decidida dele invadiu sua mente. Conseguia visualizar o rosto dele olhando-a nos olhos de forma firme.

Akame cerrou os punhos que ainda estavam contra a mesa a sua frente. Não… ela não permitiria que ele morresse. ‘Hum…’ Soltou fechando os olhos com força e tentando pensar no que fazer.

‘Não seja boba de querer resgatá-lo, Akame.’ A voz de Mine invadiu sua mente, fazendo-a voltar para a sala da sede onde estava com os outros companheiros. Sua mente por alguns segundos estava na cozinha onde havia encontrado com Tatsumi e quando ele lhe fez aquela promessa. Levantou o rosto e encarou Mine com a testa franzida. A jovem de cabelos rosa também a encarava, séria. Braços cruzados sobre o peito, estava com o olhar duro e de reprovação por perceber as reações da chefe substituta.

Mine estava certa. Não poderia colocar todo o grupo em risco, principalmente sabendo quem era o inimigo agora. A general Esdeath não era adversário para ser combatido com a cabeça quente. Tinha que ter estratégia. Abaixou o rosto e cerrou os punhos mais forte. Sentia as unhas compridas machucando de leve a pele da palma de sua mão.

‘Por ora…’ Começou a falar para seus companheiros que a escutavam com atenção. ‘Vamos nos mover para uma base mais adentro das montanhas.’ Tinha que ser prática, como sempre. Talvez Tatsumi não fosse capaz de aguentar as torturas e informasse a localização da sede dos Night Raid. Sabia que ele só faria isso após muito sofrimento. Tinha vontade e esperança que ele falasse logo a localização da sede revolucionária e evitasse qualquer sofrimento. Ele sabia que ela estava no comando, e sabia que Leona e Lubback informariam a ela o que aconteceu. Esperava que ele deduzisse que ela tomaria aquela atitude para proteger o grupo.

‘Bem pensado.’ Concordou Leona. ‘Talvez descubram este nosso esconderijo.’ Completou. Gostava daquilo em Akame, percebia o quanto a amiga estava sofrendo e nervosa, mas ela conseguia desconectar a mente de tal maneira que voltava a ser prática mesmo naquela situação crítica. Tinha reparado em como Akame e Tatsumi haviam se tornado bem próximos enquanto observava de forma discreta os dois cozinhando e conversando.

Lubacck franziu a testa observando Akame. Levantou a mão ao lado do corpo. ‘E aí, o que faremos com relação a Tatsumi?’ Estava claro que ele não gostava de deixar um companheiro em uma situação como aquela. Por mais importante que fosse uma missão e sabendo que o destino de todos eles possivelmente era a morte, ser um refém de Esdeath não era algo fácil de aceitar como destino de um companheiro. ‘Resgatá-lo talvez seja impossível.’ Ponderou com sinceridade.

Akame encolheu os ombros tentando se controlar. ‘Eu sei disso.’ Falou de uma vez. ‘Não vamos fazer nada às pressas… mas Tatsumi é um companheiro importante!’ Alertou-os levantando o rosto e encarando-os séria. ‘Faremos o possível!’ Ordenou de maneira assertiva.

‘Humph…’ Mine chamou atenção dela. ‘Como o quê? Não temos como nos aproximar dele e resgatá-lo. Está sendo boba.’

Akame encarou a companheira. ‘Não vou colocar nenhum de nós em risco, mas não vou permitir que um companheiro continue nas mãos de Esdeath. Vamos observá-lo a distância e assim que acharmos uma brecha tentaremos o resgate.’

Mine franziu a testa, tentando controlar a irritação. ‘Não pode colocar…’

‘Não vou!’ Akame a cortou.

Mine deu um passo a frente sem desviar os olhos de Akame. ‘Perdemos Sheele e Bulat, não…’

‘E por ora perdemos Tatsumi também.’ A morena rebateu. ‘Não vou dar as costas para um companheiro. Se pudermos resgatá-lo, é isso que faremos… mas com calma e com a cabeça fria.’

Akame viu o rosto de Mine se tornar vermelho mostrando total contrariedade a resolução dela.

‘Arrume suas coisas, Mine. Vamos partir.’ Akame falou, erguendo o corpo e arrumando a postura. Desviou os olhos para Lubback e Leona que acompanharam a discussão das duas. ‘Todos nós… Vamos partir o quanto antes. Tomara que Tatsumi não seja teimoso o suficiente para se deixar morrer em vez de contar a localização da sede.’

‘Ele é um covarde mole…’  Mine falou dando as costas e afastando-se.  ‘Vou arrumar minhas coisas o quanto antes. Daqui a pouco o exército imperial todo deve estar aqui por conta da boca grande dele.’

Lubback soltou um suspiro frustrado. ‘No fundo… a culpa é minha. Não deveria ter dado a ideia para ele participar do concurso para pegar o prêmio.’

‘Se culpar não vai resolver nada, Lubback. Vamos resgatá-lo.’ Akame falou tentando passar confiança para ele. ‘Não vamos perder mais nenhum companheiro.’

Lubback tentou sorrir, sem conseguir. ‘Espero que esteja certa, Akame-chan.’ Falou também começando a se afastar para arrumar poucas coisas para partirem o quanto antes.

Akame respirou fundo e soltou o ar devagar, deixando-se cair sentada na cadeira atrás de si. Passou a mão no rosto e fechou os olhos. Inferno de dor de cabeça. A muito tempo não sentia aquele tipo de incômodo.

‘Está preocupada com ele, não é?’ Leona falou sentando-se na mesa e observando a amiga.

I’m a phoenix in the water

(Eu sou uma fênix na água)

Akame olhou para ela rapidamente e desviou o olhar em seguida. ‘Assim como você…’

A loira meneou a cabeça de leve. ‘Você e ele andam bem próximos, não?’

Akame franziu a testa, não gostando do tom de Leona. Conhecia o quanto ela era maliciosa. ‘Não é hora para isso, Leona…’ Falou com a voz carregada.

‘Também estou preocupada com ele.’

‘Todos estão…’ Akame respondeu. ‘Até mesmo Mine… Ela só está com receio de que todos nós nos coloquemos em perigo. Perdemos a pouco dois companheiros queridos... dois amigos.’

A fish that’s learnt to fly

(Um peixe que aprendeu a voar)

Leona ficou alguns segundo calada, apenas observando a amiga. ‘Mine  está preocupada se vão ou não atacar a sede.’

Akame voltou a fitar Leona. ‘Ela… ela só está com medo. É normal.’

‘Sei o que está pretendendo fazer, Akame. Não faça isso sozinha.’ Disse de uma vez com a voz dura.

‘Vou achar uma brecha. Tenho sangue frio para esperar por ela. Não vou colocar ninguém em perigo.’

And I’ve always been a daughter

(E eu sempre fui uma filha)

But feathers are meant for the sky

(Mas penas foram feitas para o céu)

‘Só você!’ Leona rebateu agora olhando-a de forma dura. ‘Não se arrisque. Você é importante demais para nós. Sabe muito bem que você é quem tem maiores chances de vencer Esdeath e depois que pude  constatar o poder dela, lhe digo…’ A loira inclinou o corpo de leve para frente encarando Akame séria, como poucas vezes a morena tinha a visto. ‘O nível de poder dela é sobre-humano…’

‘Ela é humana.’ Akame rebateu com a voz tão séria quanto Leona.

‘Assim como você.’ Imitou a fala e o tom da amiga.

Akame se levantou da cadeira e começou a caminhar afastando-se de Leona. ‘Deixei de ser humana… a muito tempo.’

Leona observou a amiga afastando-se devagar. Rodou os olhos e sorriu de leve. Akame poderia nunca admitir, mas era muito mais humana do que ela mesma gostaria de ser.

So I’m wishing, wishing further

(Então eu estou desejando, desejando além)

For the excitement to arrive

(Pela empolgação de chegar)

It’s just I’d rather be causing the chaos

(É só que eu prefiro estar causando o caos)

Than laying at the sharp end of this knife

(Do que deitar na ponta afiada dessa faca)

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Akame arrumou o capuz por cima da cabeça. Já se faziam dois dias que Tatsumi havia sido capturado por Esdeath. Ninguém havia aparecido na sede dos Nigth Raid e realmente começava a achar que Tatsumi havia simplesmente se deixado morrer em vez de falar a localização do lugar. Baka teimoso. Sempre teve rompante de heroísmo que não o levaria a lugar nenhum que não fosse a morte. Trincou os dente, sentindo o peito pesado. Não queria perder mais ninguém.

Tinha vontade de mandar alguma mensagem para Najenda. As duas sempre foram excelentes em trocar informações sigilosas, mas não queria preocupar Najenda. Ela tinha que focar na missão que era encontrar membros para a equipe que estava desfalcada depois da perda de Sheele e Bullat. A missão sempre viria em primeiro lugar.

Ouviu um barulho por trás de si e olhou de soslaio para a esquerda, observando o vulto pequeno se aproximando pelas sombras.

‘Confesso que não imaginava que a veria novamente, Akame-chan.’ A voz quase infantil a fez sorrir de leve.

‘A situação me fez, recorrer a você, Pavati-chan. Desculpe-me.’ Respondeu em tom baixo.

A pequena jovem sorriu de leve. ‘Sei que está aqui por conta do regresso da General Esdeath do norte.’

‘Soube do destino de Numa Seika. Sinto muito.’

Pavati soltou um suspiro dolorido. ‘Todos nós sabemos do possível destino quando trocamos de lado. Ele morreu com honra, espero.’

Akame engoliu em seco, não respondendo ao comentário da companheira revolucionária que trincou os dentes com o silêncio. Tinha ideia do que havia acontecido, apenas não queria acreditar.

‘Preciso que me conte… sobre um prisioneiro de Esdeath…’

‘Akame-chan!’  Pavati a chamou em tom mais alto, assustando-a. Encararam-se finalmente. ‘Ela é um monstro. Louca e sádica.’

Akame apenas assentiu com a cabeça.

‘Está montando um grupo de elite. Recrutou o que considera os melhores soldados…’ Reteve-se por alguns segundos. ‘Na verdade, os mais terríveis assassinos do império e… não tenho certeza, mas acho que todos são usuários de teigu como você e os Night Raid.’

‘Isso é um inconveniente.’ Akame ponderou. ‘Sabe quem são?’

‘Não consigo ter acesso a ala deles.’

‘Um rapaz… prisioneiro de Esdeath…’ Akame insistiu em perguntar por Tatsumi.

‘Pelo que se sabe das fofocas pelos corredores, ela o escolheu para amante.’

‘A-amante?’ Akame arregalou os olhos surpresa. ‘Como assim?’

Pavati franziu a testa olhando desconfiada. ‘Oras como assim? Amante, Akame-chan!’

‘Ela quer casar com ele?’

Pavati abafou uma risada. Às vezes Akame era tão ingênua que não conseguia acreditar que tinha realmente a idade que sabia que a amiga tinha.

‘Ele está dormindo com ela.’ Esclareceu. ‘Faz parte do grupo que ela está formando. Mas pelo que andaram comentando, o trabalho dele é no quarto dela e não fora dele.’

Akame franziu a testa e desviou os olhos do rosto zombeteiro de Pavati. Coçou a bochecha realmente não conseguindo acompanhar a história. Será que Esdeath era tão sádica que estava torturando-o no quarto dela?

‘Ele apresenta machucados?’

Pavati abafou mais uma vez uma risadinha. ‘Oras, Akame-chan… às vezes… não sei… estas coisas não são tão visíveis.’

‘Está me confundindo. Não entendo o que está falando. Ele está ou não sendo torturado por ela? Ele é um dos nossos.’

Pavati arregalou os olhos. ‘Ele é um Night Raids?!’ Franziu a testa e cruzou os braços. ‘Está interessada nele?’

‘Claro que sim! Se estou aqui é porque estou interessada em saber a situação dele. Ainda não achamos uma brecha para tentar um resgate.’

‘Hum…’ Pavati murmurou e olhou por um tempo para Akame. Rodou os olhos. ‘Não foi isso que eu quis dizer… mas tá na cara que não foi o que pensei… você continua lenta demais…Tsukushi-chan realmente não teve chance nenhuma com você. Nem Green-kun...’

Akame franziu a testa. ‘O que tem Tsukushi-chan e Green-kun?’

‘Oras Akame-chan… Você sabe muito bem do que estou falando.’

‘Não.’ Respondeu de forma seca. Mas depois se deu conta do que Pavati estava falando, tinha escutado a declaração de Green de que gostava dela sem querer com suas companheiras da Elite dos sete. Sentiu o rosto esquentar e encolheu os ombros, escondendo o rosto com o capuz que usava. ‘Tsukushi-chan…’

‘Ela era louca por você…’ Pavati falou finalmente. ‘Mas pelo jeito você gosta de outra coisa, né?’

‘Está sendo maldosa. Tsukushi-chan era minha amiga. Ainda vou encontrá-la e pedir que se junte a nós.’

‘Ela deve estar morta. Todos devem estar mortos.’

Akame fechou os punhos com força. Sabia que era verdade, mas ainda doía ouvir aquilo. No fundo, sempre desejou manter a esperança de reencontrá-los e pedir que se juntassem a ela contra o Império para tentar remediar tanto mal que fizeram sem saber que estavam sendo manipulados.

‘Desculpe-me.’ Pavati falou com a voz carregada. ‘Estou descontando em você minha frustração pela morte de Seika-sama.’

‘Está tudo bem.’ Akame falou com suavidade. Sabia que Pavati estava sofrendo. Numa Seika era o príncipe das tribos do norte. Um general experiente em combate. O herói e a esperança para todo o norte. Pavati tinha origem de lá. Tinha vindo para capital para trabalhar como espiã revolucionária. Tinha conhecido Akame quando esta ainda fazia parte da Elite dos sete e trabalhava com Martha na vila fictícia que o Império tinha criado como parte da lavagem cerebral dos jovens escolhidos para serem treinados como assassinos. Ela mesma ainda não conseguia acreditar que a jovem que estava ao seu lado, num dos becos escuros da suja capital do império tinha se tornado além de uma jovem lindíssima, a assassina número um do império e agora do exército revolucionário. Akame poderia não saber, mas depois da morte de Numa Seika, ela tinha se tornado a principal esperança para todos. Akame tinha matado tanto com tanta proeza para o Império que todos rezavam de forma incessante que ela fizesse o mesmo agora contra o Império.

Pavati soltou um suspiro. ‘Não se preocupe com o seu companheiro. Ela não parece que corre perigo imediato. Está se fazendo de tolo, ou fraco, ou bobo…’

‘Ele é esperto.’

‘Hum… Tem que ser mesmo esperto para ter um azar daqueles e despertar o interesse de Esdeath-sama.’

Akame sorriu de leve, pensando que realmente Tatsumi não tinha lá muita sorte. Enfim… desde que se mantivesse vivo até que ela o alcançasse para salvá-lo, já estava bom.

‘Obrigada.’ Akame agradeceu e fechou melhor o casaco que tinha sobre os ombros, ajeitando novamente o capuz. ‘Preciso voltar. Não a procurarei mais para não colocá-la em perigo… mas fiquei realmente feliz em revê-la.’

Pavati sorriu para ela. ‘Eu também… Fico muito feliz de saber que lado mata agora Akame-chan. Sei do seu potencial, acompanhei seu crescimento, sei que salvará este Império.’

Akame comprimiu os lábios, tensa. Sabia que tinha uma responsabilidade muito grande para que pagasse por todo o mal que tinha feito em sua vida como assassina imperial.

‘Farei que o sonho de muito se torne realidade… lutarei até meu último suspiro por isso.’

‘Sei disso, Akame-chan… Cuide-se. Mantenha-se viva.’ Pavati falou e a puxou dando um beijo estalado em sua bochecha e a fazendo corar. Não estava acostumada aquele tipo de manifestação de afeto.

Observou o pequeno corpo de Pavati, afastar-se desaparecendo na penumbra da capital do Império. Estava frio e com uma neblina incomoda, mas também muito conveniente para o encontro delas.

Começou a caminhar devagar em direção a saída da Capital. Franziu a testa pensando no que Pavati havia lhe informado. Esdeath estava montando um grupo de elite para lutar, provavelmente, contra eles. Será que Kurome havia sido chamada para fazer parte? A irmã nunca gostou de fazer parte de um grupo. Desde que as duas haviam se reencontrado depois do treinamento de ambas como assassinas, Kurome apenas aceitava lutar ao lado dela. Eram incríveis e terríveis juntas. Não era a toa que participaram de algumas das missões mais complicadas e terríveis do Império.

Olhou de relance para a palma da mão que sempre esteve suja de sangue. Talvez ela tenha matado tanto quanto Esdeath e de forma muito mais terrível. Soltou um suspiro.

Estava mais tranquila em saber que Tatsumi não estava na prisão imperial e sendo torturado. Meneou a cabeça, pensativa. ‘Mas o que afinal ela faz com ele no quarto?’ Perguntou para si, sem conseguir encontrar a resposta. Esperava que encontrasse o quanto antes uma brecha para conseguir resgatá-lo. Não estava apenas preocupada com a integridade física do rapaz mas começava a querer saber que informações ele poderia fornecer a eles sobre o inimigo.

With every small disaster

(Com cada pequeno desastre)

I’ll let the waters still

(Eu vou deixar as águas paradas)

Take me away to some place real

(Me levar para algum lugar real)

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Akame observou os dois lutando ao longe. Inferno, o usuário da Grand Chariot estava lutando com Tatsumi que estava usando Incursio.

‘Lubback!’ Ela chamou o companheiro. ‘Vá por aquele lado…’ Ordenou apontando. ‘E fique atento a Esdeath. Vou atrás dos dois.’ Completou já correndo em direção aos dois.

Sorriu de leve observando que Tatsumi pelo jeito estava com a cabeça no lugar e tentava fugir ao invés de lutar. Bullat ficaria orgulhoso de ter ensinado algo ao seu sucessor. Coragem e orgulho não o manteriam vivo. Tinha que usar a cabeça. Sempre.

Correu rápido como sempre foi, tentando acompanhá-los. Sabia que Lubback daria um jeito de avisar caso a luta dos dois chamasse a atenção de Esdeath e dos outros. Tinha que aproveitar aquela chance para resgatar de uma vez Tatsumi e percebia que o rapaz também tinha pensado o mesmo. Era uma chance única. Não poderiam desperdiçar.

Saltou pelos rochedos e deu uma cambalhota no ar, atravessando as correntezas. Sentiu uma gota de suor na lateral do rosto, estava tensa para finalizar com aquela missão. Sentiu Murasame presa a sua cintura e esperava não precisar usá-la. A missão era de resgate e não de confronto com um usuário de teigu. Não queria se arriscar e principalmente, não queria arriscar a vida de Tatsumi.

Saltou novamente, e desceu uma parte íngreme do monte Fake. Escorregou por um rochedo, firmando as pernas e freando o corpo. Olhou para cima e viu os dois novamente voando. Incursio tentando se afastar e Grand Chariot atrás. Arregalou os olhos vendo a armadura negra golpear fortemente Incursio e este ser arremessado para baixo em direção ao rio que cortava as montanhas. Franziu a testa e voltou a correr na direção deles. Sentia a respiração acelerada tanto pela corrida intensa como também pela preocupação pela integridade física de Tatsumi. Ela sabia exatamente como era o poder de uma arma imperial e Grand Chariot era tão ou mais poderosa que Incursio. Tatsumi ainda estava tentando aprender a usar o poder da armadura herdada de Bullat.

Parou ao longe vendo Grand Chariot olhando para os lados procurando o adversário que sumiu e logo depois sair correndo seguindo em direção da correnteza, deduzindo que Incursio deixaria ser arrastado pela força das águas para continuar fugindo do confronto. Talvez ele estivesse certo, estava para ir ao encalço dele quando parou e olhou para trás. Franziu a testa olhando sobre o ombro esquerdo a margem do rio. Algo lhe dizia que não era para lá e sempre aprendeu a confiar em seus pressentimentos, quando os ignorava normalmente depois se arrependia.

Respirou fundo e olhou novamente para frente observando a armadura negra desaparecendo de sua vista. O que deveria fazer? Fechou os olhos e tentou acalmar a mente. Tatsumi era um rapaz inteligente. Ingênuo e tonto, mas tinha mostrado certa perspicácia ao decidir não lutar. Provavelmente ele tinha informações importantes para passar para o grupo.

‘Tatsumi…’ Murmurou o nome dele como se tentasse chamá-lo para lhe responder o que deveria fazer.

Incursio tinha o poder de invisibilidade que havia sido descoberto por Bullat, talvez… sim! Talvez ele tenha aproveitado a situação e houvesse usado este recurso. Será que depois do poderoso golpe que ela havia visto ele levar, ainda teria força para isso?

Voltou correndo em direção ao local onde havia visto o rapaz caindo no rio e arregalou os olhos observando jackaleo se aproximando de Tatsumi que estava na beirada do rio tentando se levantar. Flexionou de leve os joelhos pegando impulso ao mesmo tempo que destravava Murasame com o polegar. Assim que a imensa besta pulou para dar o bote no rapaz, tirou a espada já cortando o animal ao meio e impedindo de oferecer qualquer perigo para o companheiro.

‘Akame?!’ Ela o ouviu, surpreso e aliviado.

Tocou no chão, voltando a guardar a espada e olhando para o rapaz. ‘Tatsumi, tudo bem?’ Perguntou preocupada, não sabia ao certo o quanto o rapaz estava ferido ou pelo que ele tinha passado.

‘O que faz aqui?’ Ele perguntou sem responder a pergunta dela e tentando erguer o corpo que parecia estar bem machucado.

‘Todos nós temos te observando de longe.’ Ela respondeu correndo em direção a ele para ajudá-lo. Nem todos realmente tinham participado, mas era melhor o rapaz não saber. Era momento de união e não de criar mais afastamento entre eles. Cada um sabia pelo que lutava e cada um seguia o caminho que seu coração ordenava.

Abaixou-se, sentando a frente dele para tentar ajudá-lo e percebeu que ele se sentou com dificuldade.

‘Então é isso?’ Ele falou desviando os olhos dela e com a voz embargada. ‘Estão se arriscando por mim. Desculpe…’ Continuou fazendo-a estreitar os olhos nele. ‘Você precisou vir novamente me resgatar...’

Ela franziu a testa e deu um cascudo bem forte na cabeça dele. Oras quem ele pensava que ela era para deixar um companheiro nas mãos do exército imperial sem se preocupar ou tentar algo para resgatá-lo? Será que ele continuava a achar que ela era tão fria daquela forma? Era um baka realmente.

Ouviu um resmungo dolorido da parte dele e pensou que ele deveria ter se considerado com sorte por ela não puxar Murasame e degolá-lo. Tatsumi tinha uma terrível mania de falar besteiras.

Inclinou a cabeça de leve. Reparou que ele passou a mão na cabeça e a fitou. ‘Venho ao seu resgate quantas vezes forem preciso…’ Ela falou e sentiu o coração acelerar. Apertou os joelhos de leve com as mãos. Esperava que ele não percebesse que ela estivesse com o rosto corado pelo que falava. ‘...Pois somos amigos.’ Justificou, rapidamente.

Ele desviou os olhos dela e encolheu os ombros envergonhado. Ainda tinha a mão na cabeça no local onde ela havia lhe dado um cascudo. Tinha os olhos marejados e no fundo Akame sentiu-se mal por ter sido rude, mas Tatsumi tinha um péssimo hábito de achar que ela era indiferente e fria. Será que ele não entenderia que ela… enfim… ela gostava dele… como amigo, claro! Eles eram companheiros. E também estava sentindo muita falta dele na cozinha, ajudando-a no preparo das refeições.

‘Humph… Obrigado.’ Ele falou com a voz doce, depois de sorrir de leve para ela. Estava também com o rosto corado, talvez estivesse com febre.

Ela piscou os olhos algumas vezes observando-o. Tinha percebido que ele tinha o rosto diferente, não sabia se ele estava bem ou não? Machucado ou não? Dolorido, talvez?

‘O que foi?’ Perguntou.

‘É que… me sinto aliviado pra caramba só em ver o seu rosto.’ Ele respondeu e desviou novamente os olhos dela fitando o chão. Tinha o rosto corado.

Akame arregalou os olhos pelo que ouviu. Sorriu também aliviada em saber que o rapaz sentia isso por ela, era bom saber que o companheiro sentia-se bem e feliz ao saber que não tinha sido abandonado. Ela se levantou e estendeu a mão na direção dele.

‘Estamos te esperando, Tatsumi.’ Ela falou observando-o ainda sentado no chão. ‘Todos nós.’ Esclareceu sorrindo de leve.

Ele voltou-se para ela e sorriu de volta. Tatsumi não tinha ideia como era bom para ela ver o sorriso suave dele e principalmente saber que ele tinha se mantido vivo conforme tinha prometido a ela.

‘Sim… está na hora de voltar para casa.’ Respondeu, estendendo o braço para pegar a mão dela que estava estendida a ele.

Era realmente hora deles voltarem para casa.

‘Cause they say home is where your heart is set in stone

(Porque eles dizem que lar é onde seu coração está gravado na pedra)

Is where you go when you’re alone

(É onde você vai quando está sozinho)

Is where you go to rest your bones

(É onde você vai para descansar seus ossos)

It’s not just where you lay your head

(Não é apenas onde você deita sua cabeça)

It’s not just where you make your bed

(Não é apenas onde você faz sua cama)

As long as we’re together, does it matter where we go?

(Contanto que estejamos juntos, importa pra onde vamos?)

Home, home

(Lar, lar)

‘BAM!!!!!’ Os dois ouviram um grito estridente e logo sentiram serem pegos pelas mãos e puxados de forma desesperada por Lubback. ‘Melhor darmos fora antes de tudo!’ Ele gritava sem parar de correr e sem soltá-os. ‘Vamos por aqui!’ Ele esclareceu, olhando Tatsumi. Estava feliz em rever o amigo bem, mas prioridades eram prioridades. ‘A Madame gelo tá vindo atrás de você, cara! Vamo bora logo!’

Akame observou Lubback puxando-a com força pelo punho e balançou a cabeça de leve. Como imaginava, o companheiro tinha cumprido sua missão ficando de olho em Esdeath. Era melhor realmente voltarem logo para casa e se afastar do perigo.

‘Hei!’ Ela o chamou. ‘Pode me soltar. Corro melhor sem você me puxando. Ajude Tatsumi e depois eu o ajudarei.’ Ordenou.

Lubback a soltou e olhou para ela. Coçou a cabeça sem graça. ‘Prefiro carregar você, Akame-chan!’  Disse sorrindo.

‘O que disse?’ Ela perguntou não entendendo.

‘Deixa pra lá!’ Tatsumi riu, sentia falta daquilo. ‘Preciso de ajuda mesmo.’ Alertou Lubback que passou o braço dele pelo seus ombros.

‘Tá me devendo uma, Tatsumi.’ Lubback alertou.

‘Vamos…’ Akame falou olhando para trás sobre o ombro direito. ‘Ela está se aproximando.’  Alertou voltando a acelerar o passo e seguida pelos dois.

Correram por quase uma hora até sentirem-se seguros para diminuir o ritmo e Lubback reclamar que Tatsumi estava pesado demais e fazendo corpo mole.

‘Deixa que eu o ajudo agora.’ Akame falou aproximando-se deles e parando a frente.

‘Não.. não precisa.’ Tatsumi falou sem graça, tentando se firmar nas pernas, mas estava na cara que ainda sentia-se dolorido demais.

Akame rodou os olhos e empurrou de leve Lubback para poder se aproximar de Tatsumi o suficiente. Pegou o punho dele e puxou o braço do rapaz sobre os ombros dela. ‘Se fazer de forte não vai ajudá-lo a mantê-lo vivo.’ Ela o alertou e encarou o rapaz.

Tatsumi engoliu em seco e desviou os olhos dela. Sentiu quando ela o segurou pela cintura para oferecer melhor apoio ao corpo dele.

‘Vai ficar tudo bem, Tatsumi.’ Ela falou com a voz doce.

O rapaz virou o rosto e sentiu-o novamente esquentar por estar tão perto dela. Respirou mais fundo para tentar relaxar, mas sentiu o perfume dela, o que o deixou mais nervoso. Nunca havia imaginado como era bom olhar para o rosto dela. Como era bom sentir o perfume dela. O corpo dela tão próximo ao dele.

‘Vamos?’ Ela falou apertando a cintura dele e começando a caminhar.

Tatsumi não ofereceu resistência. Apoiou-se nela e comprovou novamente que apesar do corpo de aparência tão frágil, ela era forte o suficiente para realmente ajudá-lo. Ela era demais. Olhou para frente, para o chão de areia e pedra da longa estrada que eles teriam que percorrer até a casa deles. A casa deles… Pensou novamente, e olhou de esguelha para Akame que estava com o rosto próximo ao dele. As bochechas quase se encostando. Sentiu novamente não só o rosto queimar como o corpo inteiro de embaraço.

Ele olhou para frente e levantou o rosto observando Lubback que caminhava a frente. Estava com os braços levantados e os dedos das mãos entrelaçados atrás da cabeça, provavelmente tentando se alongar e relaxar depois que o carregou correndo por tanto tempo.

‘Lubback, valeu aí, cara.’ Agradeceu de forma tímida mas sincera.

‘Que isso… Imagina...’ Lubback respondeu sem graça, coçando a bochecha de leve. ‘Foi meio que culpa minha ter sugerido pra você participar do torneio.’ Esclareceu. Realmente tinha se sentido mal pelo que tinha acontecido no final do torneio, mas não tinha imaginado que Esdeath desconfiaria que Tatsumi fosse um inimigo. Voltou a colocar as mãos entrelaçadas atrás na nuca e jogar a cabeça levemente para trás, fechando os olhos. ‘Também tem que ver que, sem você, eu era o único homem do grupo. Se bem que ter o meu próprio harém não seria tão ruim…’ Falou com o tom de brincadeira e ironia de sempre.

‘Como você é cruel…’ Tatsumi falou rindo. Já estava acostumado com o jeito malandro e sacana de Lubback. Não duvidava nada que realmente o rapaz ficaria feliz em ter um harém para ele, o problema era que nenhuma das meninas dava a melhor chance para ele.

‘Ele fala essas coisas…’ Akame falou em tom baixo para que apenas  Tatsumi ouvisse. ‘Mas estava muito preocupado.’

O rapaz olhou para ela e sorriu de leve, depois desviou observando Lubback caminhando a frente. ‘É, eu sei…’ Respondeu sorrindo. Sabia que estava voltando para a casa. Ele sabia que Nigth Raid era o seu verdadeiro lar.

Voltaram a caminhar em silêncio por alguns minutos. Tatsumi olhou novamente de esguelha para Akame ao seu lado, sentiu que ela segurou mais forte sua cintura e o punho do braço que estava sobre seus ombros para que servisse de apoio para que ele pudesse subir os rochedos soltos.

‘Não queria lhe dar este trabalho.’ Ele resmungou, timidamente. Tentou novamente se firmar nas pernas mas levou a mão até o abdômen onde tinha recebido o potente golpe do usuário da teigu imperial.

Akame virou-se para ele rapidamente. ‘Já lhe disse que sempre o ajudarei. Não precisa ficar assim… É besteira.’  Falou segurando-o mais firme e pulando uma fenda entre os rochedos. Sentiu que ele a segurou com força também com receio de cair. Finalmente tinha desistido de vez de tentar bancar o forte.

‘Você sempre… Eu sempre lhe dei trabalho demais.’ Retrucou.

‘Não tem problema. Estou feliz que esteja bem.’ Ela falou. ‘Quando chegarmos em casa, farei seus curativos. Aguente mais um pouco.’

Ele sorriu de leve. ‘Você sempre quem os fez, não?’

‘Isso mesmo.’ Ela falou. Depois desviou os olhos dele. ‘Mas se quiser peço para Leona ou Mine fazer…’

‘Não!’ Ele respondeu rapidamente.

Os dois se fitaram, estavam com os rostos tão próximos um do outro que a situação já começava a ser embaraçosa.

‘Não o quê?’ Ouviram a voz de Lubback que estava olhando para os dois com o rosto desconfiado.

Tatsumi pigarreou, constrangido. Sem querer temeu que Akame se afastasse dele, não por perder o apoio, mas porque não queria-a longe dele agora. Era bom demais estar perto dela. Bom demais olhar para ela. Bom pra caramba, sentir o perfume dela. ‘Não quero que Mine faça os curativos.’ Ele começou a responder. ‘Capaz dela colocar algo para arder e rir de forma sádica se divertindo enquanto eu grito de dor.’

Akame e Lubback riram já imaginando a cena que não era realmente muito absurda. Mine não tinha paciência para fazer curativos, nunca os teve, era ansiosa e irritada demais para isso.

Lubback recomeçou a caminhada. ‘Realmente… capaz dela lhe dar um banho de álcool.’

Akame abafou o riso.

‘É por isso que prefiro que você cuide de mim.’ Tatsumi concluiu finalmente olhando de soslaio para Akame. Não tinha coragem de encará-la de frente.

Ela sentiu o rosto corar e sorriu. ‘Que bom! Sendo assim, sempre farei seus curativos, está bem?’

Tatsumi assentiu com a cabeça constrangido demais para responder.

‘Mas espero que cuide-se, preocupo-me com você. Não gosto de vê-lo machucado.’

‘Obrigado…’ Ele falou, obrigando-se a tomar coragem e virar o rosto para fitá-la nos olhos. ‘Akame…’

Ela arregalou os olhos, sentindo o coração novamente palpitar daquela forma estranha. ‘Hã…’ Soltou sem graça e sorriu. ‘Por nada… Tatsumi.’

E como ele bem tinha reparado, era bom demais apenas observar o rosto dela. Vê-la sorrindo daquela forma para ele, era como se estivesse finalmente em… casa.

So when I’m ready to be bolder

(Então quando eu estiver pronta para ser corajosa)

And my cuts have healed with time

(E meus cortes curados com o tempo)

Comfort will rest on my shoulder

(Conforto irá descansar em meus ombros)

And I’ll bury my future behind

(E vou enterrar meu futuro para trás)

And I’ll always keep you with me

(Eu sempre irei lhe guardar comigo)

You’ll be always on my mind

(Você sempre estará em minha mente)

But there’s a shining in the shadows

(Mas há um brilho nas sombras)

I’ll never know unless I try

(Eu nunca saberei se não tentar)

~*~*~KK~*~*~KK~*~*~KK~*~*~KK~*~*~

‘Pronto!’ Akame exclamou colocando o último curativo no rosto de Tatsumi. ‘Está tudo bem com você.’ Falou satisfeita por confirmar que o rapaz estava realmente bem. Tinha poucos machucados pelo corpo. O maior mesmo foi pelo golpe do usuário da Grand Chariot. ‘Seria bom descansar e recuperar-se.’

‘Preciso passar o relatório…’ Ele falou de maneira pesada olhando para um ponto qualquer do quarto. ‘Apesar de que não foi lá uma missão… mas talvez tenha…’

‘Eu sei.’ Ela o cortou. Estava arrumando o material de primeiro socorros que havia usado para fazer os curativos dele. ‘Sei que tem informações importantes sobre o grupo de elite que Esdeath montou… mas…’ Ela soltou um suspiro. ‘Isso pode esperar um pouco. Você precisa descansar pelo menos um pouco.’

‘Então você sabe?’

‘Sim.’

Ficaram em silêncio enquanto Akame arrumava tudo. Ela fechou a caixa e voltou-se para o rapaz que estava sentado na beirada da cama olhando de forma vaga para o nada.

‘O importante é que você está vivo, Tatsumi.’ Ela falou fazendo-o  levantar o rosto e fitá-la de forma profunda.

Akame comprimiu os lábios e desviou os olhos dele. Estava tentada a perguntar o que Esdeath tinha feito com ele, mas isso não importava. Ele estava vivo e pronto. ‘Hum…’ Ela murmurou incomodada com seus pensamentos. ‘Vou finalizar a janta. Depois podemos ouvir seu relatório, certo?’

‘Boss ainda não voltou?’

‘Ainda não.’ Ela respondeu e forçou sorrir para ele. ‘Mas logo ela estará de volta com reforços.’

Ele desviou os olhos novamente dela. ‘Tomara… ainda estou muito fraco para usar Incursio. Não estou nem perto do nível de Aniki.’

‘Você quer receber outro cascudo?’ Ela falou olhando-o seriamente.

Tatsumi a fitou e desviou os olhos novamente. ‘Eu sei ver a verdade.’

‘Então se sabe realmente ver a verdade: Descanse, recupere-se e depois faça o seu relatório. Amanhã você retorna o seu treinamento e logo estará no nível que Bullat sabia que você chegaria.’

Ele voltou a fitá-la. Queria falar que acreditava nela, mas não podia mentir… depois de tudo que tinha visto do poder dos Jaeger, sabia que tinha que melhorar muito. Não estava ao nível deles.

Akame se aproximou devagar. ‘Não é fácil fazer o que fazemos… precisa de coragem e sangue frio.’ Ela desviou os olhos dele, fitando a caixa de curativos que estava em suas mãos. ‘Colocamos nossa vida em risco todos os dias, em cada missão. Por isso, precisamos nos manter vivos… Se um de nós partir, será uma perda enorme para toda a força revolucionária. Estamos nas sombras, mas somos a base de toda a revolução.’

‘Co-como você fez parte dos Night Raid?’

Ela inclinou a cabeça de lado, ele tinha mudado de assunto de súbito. ‘Leona com certeza já lhe contou. Ela tem a língua grande demais.’

Ele encolheu os ombros, constrangido. ‘É… Ela me contou que você era assassina do Império.’

‘Isso.’ Não mentiu. ‘Matei tantos que não sei nem o número estimado.’

Ele voltou a fitá-la. ‘Você não sente remorso?’

‘Todos os dias.’ Respondeu de forma firme, fazendo-o arregalar os olhos. ‘Mas não deixo que isso me pare. Isso me ajuda a não desistir, a ter forças nos momentos de desespero.’ Ela apertou a caixa entre as mãos. ‘Se hoje consigo fazer alguma diferença foi justamente porque aprendi com o mal a combatê-lo. Aprendi a ser tão ruim como eles e olhá-los da mesma forma que eles olham para os outros.’

Tatsumi levantou-se de repente. ‘Você não é como eles!’ Falou mais alto do que queria.

Ela sorriu de leve, triste. ‘Tem razão…’ Deu um passo para trás afastando-se dele e virou-se caminhando devagar para a saída do quarto. ‘Sou pior que eles.’ Completou, cruzando a porta e deixando-o sozinho.

With every small disaster

(Com cada pequeno desastre)

I’ll let the waters still

(Eu vou deixar as águas paradas)

Take me away to some place real

(Me levar para algum lugar real)

Tatsumi entreabriu os lábios e piscou algumas vezes. Não era isso que ele queria que ela pensasse sobre si. Tinha sim, julgado-a errado quando a conheceu. Pensando friamente agora, ela tinha lhe avisado duas vezes para ficar fora da situação. Ele é que fora um idiota em continuar a proteger aqueles nobres repugnantes. Mas depois… Depois que havia convivido com ela de forma até rotineira, era tão claro que aquela garota tinha tanta ou mais dor que ele dentro do coração.

Caminhou devagar até a janela do quarto e observou o entardecer. Akame também deveria estar cansada. Havia carregado-o praticamente todo o caminho até a sede e depois ainda tinha cuidado de seus ferimentos como sempre ela fez quando voltava feridos das missões. Agora sabia que ela estava na cozinha começando a fazer o jantar. Bateu de leve no batente da janela. Sorriu observando a bela paisagem. Realmente sentia-se em casa, mas não porque estava naquele quarto, sentia-se em casa por saber que ela logo o chamaria para jantar com todos seus companheiros.

‘Cause they say home is where your heart is set in stone

(Porque dizem que lar é onde seu coração está gravado na pedra)

Is where you go when you’re alone

(É onde você vai quando está sozinho)

Is where you go to rest your bones

(É onde você vai para descansar seus ossos)

It’s not just where you lay your head

(Não é apenas onde você deita sua cabeça)

It’s not just where you make your bed

(Não é apenas onde você faz sua cama)

As long as we’re together, does it matter where we go?

(Contanto que estejamos juntos, importa pra onde vamos?)

Home, home, home, home

(Lar, lar, lar, lar)

~*~*~KK~*~*~KK~*~*~KK~*~*~KK~*~*~

‘Foi tudo que eu vi das forças Jaeger.’ Tatsumi falou finalizando seu relatório.

Estavam todos na sala da sede dos Night Raids. Tatsumi estava sentado numa poltrona cercado pelos companheiros que estavam sentados nos sofás próximos ouvindo de forma atenta o relatório e perguntando alguns detalhes. Mine estava com os braços cruzados, em pé, um pouco mais afastada e com o olhar contrariado para ele. Era a que fazia as perguntas mais objetivas. Eles tinham que ter certeza quem estavam para enfrentar.

‘Nossa… então são realmente usuários de armas imperiais.’ Leona soltou mostrando contrariedade. ‘Que chateação!’

Akame encolheu os ombros e fitou suas mãos que estavam sobre os joelhos. ‘E ainda por cima… Kurome é uma integrante.’

‘Por que você não partiram juntas?’ Tatsumi não aguentou e perguntou. Sabia que estava invadindo a privacidade dela, mas estava preocupado e também curioso demais para saber mais sobre Akame. Era difícil demais achar uma brecha para que ela contasse algo de sua vida.

Akame encolheu mais ainda os ombros. ‘É claro que eu a chamei para partir comigo… mas a minha irmãzinha decidiu ficar.’ Ela apertou as mãos de forma tensa sobre o colo. ‘Para ela… sou uma traidora.’

Tatsumi observou Akame, era difícil, e constatou que bem incômodo para ele, vê-la daquela forma. Conseguia perceber a dor por trás do tom pausado e lento dela. Deveria ser muito dolorido ter uma irmã tão querida que agora a considerava uma inimiga e estava a sua caça para matá-la.

Franziu a testa de leve pensando no dia que foram atacados por Zank e quando ele usou o poder de Spector para entrar na mente de Akame mostrando a ela a sua pessoa mais importante… Akame havia golpeado-o sem hesitar, deixando-o tão perturbado quanto ele pelo ato que ele havia deduzido erroneamente ser frieza. Akame estava vendo Kurome e estava ciente que a irmã tentaria lhe matar.

Lembrou-se das palavras dela naquela hora informando que justamente por amá-la tanto, tinha lhe dado um golpe só, tão poderoso, para que ela morresse de forma rápida e sentisse por pouquíssimo tempo dor. Akame tinha visto sua irmã, Kurome.

‘Então?’ Mine chamou a atenção novamente para o assunto. ‘Individualmente, o quanto forte eles são?’

Tatsumi levantou o rosto e a fitou por um instante, voltando a fitar a mesa a frente dele. ‘Individualmente, os Jaeger são tão fortes quanto nós.’ Ele respondeu, mas soltou um suspiro pesado. ‘Apenas…’ Cerrou os punhos sobre os joelhos. ‘Esdeath… Ela está em outro nível. Sendo sincero... se eu a enfrentasse, não venceria.’

‘De fato, ela é forte.’ Akame chamou a sua atenção. ‘Mas não é invencível.’

‘Qual seria o ponto fraco?’ Leona perguntou fitando com atenção a amiga que estava sentada a sua frente.

‘O fato dela estar viva.’ Akame respondeu, erguendo o rosto e encarando-a. ‘Ter um coração e um pulso. Enquanto ela estiver viva, posso matá-la.’ Declarou decidida. ‘Mesmo que ela seja a mais poderosa da capital.’

Leona estreitou os olhos em Akame. ‘Acha capaz?’

Akame deu de ombros e desviou os olhos. ‘Assassinos fazem isso, Leona. Eles matam…’

‘Assim como Generais.’ Leona ponderou. ‘E ainda com justificativa de estarem protegendo a ordem e a paz.’ Falou balançando a mão a frente incomodada.

‘Quando Boss chegar, não vai gostar das notícias.’ Lubback comentou e cruzou os braços sobre o peito. ‘Apesar de que…’ Sorriu de lado. ‘Vai saber ela já estava sabendo ou desconfiando. Por isso foi procurar reforços.’

‘Provavelmente.’ Mine falou e soltou um suspiro cansada. ‘Eu vou dormir. Hoje o dia foi por demais desgastante. Acho que seria o melhor para todos nós.’

Leona se levantou e abriu um sorriso próprio dela. ‘Ah nada disso! Vamos comemorar a volta de Tatsumi!!!’ Ela declarou. ‘E é claro com bebida!!!!’

Lubback olhou de soslaio para Mine que cerrava os punhos brava, encarando a companheira.

‘Você não está entendendo a situação crítica que estamos passando?’ Mine soltou, irritada.

Leona se aproximou de Mine e passou um braço sobre os ombros dela. ‘Ah deixa de ser certinha, Mine! Você anda muito careta e chata ultimamente.’ Comentou e desviou os olhos para Tatsumi. ‘Anda mais nervosa desde que Tatsumi se juntou a nós, não acha? Sabia que o ódio e o amor são faces de uma mesma moeda?’ Completou naquele tom malicioso próprio dela e como bem tinha planejado, viu o rosto de Mine agora completamente rosado! Cabelo rosado, roupa rosada, rosto rosado! A verdadeira “Dama de Rosa”, constatava rindo de seus próprios pensamentos.

‘Oras deixe de falar besteiras!’ Mine replicou empurrando-a para se afastar dela e pisando duro para fora da sala onde estavam.

‘Hã?’ Tatsumi soltou. ‘O que aconteceu com ela?’

Lubback se levantou decidido. ‘Deixa Mine para lá! Vamos comemorar!!!’ Deixou clara sua posição de se juntar a Leona para a celebração. ‘Você ainda tem mais daquela sua última aquisição?’

‘Claro que não!’ Leona respondeu alto e riu do rosto decepcionado de Lubback. Deu uma piscadinha para ele. ‘Comprei mais!’

‘Você é demais, Leona!!!’ Lubback falou com os olhos brilhando de emoção.

‘Hum. Não deveriamos esperar por Boss?’ Tatsumi comentou, encabulado.

‘Akame está na chefia e ela não vai embarrerar a gente, né?’ Leona falou se aproximando de Akame e Tatsumi e abraçando os dois ao mesmo tempo, puxando-os para mais próximos de si. ‘Vamos comemorar a volta de um companheiro vivo, não é?’

Akame balançou a cabeça de leve. ‘Não adiantaria nada falar para vocês não fazerem isso, não é?’

‘Não!’ Tatsumi falou sem graça. ‘Vo-você está no comando… É melhor descansarmos.’

‘Ah você voltou muito chato, Tatsumi. O que Esdeath andou fazendo com você, heim?’ Perguntou aproximando seu rosto do dele e fazendo-o corar violentamente pela insinuação. ‘Ela pelo jeito deve ser muito ruim de cama para você ficar tão chato desta forma.’

‘Nee-san!’ O rapaz gritou, vermelho escarlate. ‘Ah que se dane! Cadê a bebida?!’

‘Uh-uh! É assim que se fala!’ Leona exclamou feliz, soltando-os finalmente e caminhando em direção a cozinha para pegar as garrafas de bebida. ‘Lubback! Vem me ajudar!’ Ordenou e foi prontamente atendida pelo companheiro.

Tatsumi coçou a cabeça sem graça e virou-se para Akame que estava próxima a ele olhando para os dois se afastando e fazendo já a lista do que pegariam na dispensa.

‘Hã… Eu… enfim… Ela não mudou nada, não é?’

Akame sorriu de leve. ‘Estão todos felizes por você ter voltado. É a forma deles festejarem. Não tem porque proibir.’

‘Vo-cê… você não se importa?’

Ela deu de ombros. ‘Claro que não.’ Levantou um braço e abafou um bocejo. ‘No entanto, vou para o meu quarto. Tenho certeza que esta noite vou dormir tranquila…’ Virou-se para ele e sorriu. ‘Você está em casa agora.’

Tatsumi arregalou os olhos de leve e sentiu o rosto esquentar. Desviou o olhar, encabulado. ‘Estou também feliz por estar de volta.’

‘Isso é o que importa.’ Ela falou e começou a caminhar, afastando-se dele. Voltou-se para trás e inclinou a cabeça de leve, observando-o.

‘O-o quê foi?’ Ele perguntou sem graça pelo olhar intenso dela.

Akame deu alguns passos para frente e ficou na ponta dos pés para poder alcançar o rosto de Tatsumi e conseguir beijar a bochecha dele rapidamente. Afastou-se do rapaz que olhava para ela surpreso. 'Okaerinasai, Tatsumi.' (Seja bem-vindo de volta ao lar, Tatsumi)  Falou finalmente afastando-se dele. Sorriu de leve pensando que agora entendia porque Pavati havia lhe dado um beijo como aquele, trazia bastante alento ao coração.

'Akame!' Ele a chamou, fazendo-a voltar-se para trás, observando-o sobre o ombro direito. 'Tadaima'. (Estou em casa) Respondeu sorrindo para ela que assentiu com a cabeça sem desfazer o sorriso e voltando a caminhar.

Tatsumi observou Akame se afastando e deixando-o sozinho no cômodo. Levantou o braço e passou a mão pelo rosto que havia sido beijado por ela. Sorriu de leve. Realmente estava onde deveria estar.

‘Cause they say home is where your heart is set in stone

(Porque dizem que lar é onde seu coração está gravado na pedra)

Is where you go when you’re alone

(É onde você vai quando está sozinho)

Is where you go to rest your bones

(É onde você vai para descansar seus ossos)

It’s not just where you lay your head

(Não é apenas onde você deita sua cabeça)

It’s not just where you make your bed

(Não é apenas onde você faz sua cama)

As long as we’re together, does it matter where we go?

(Contanto que estejamos juntos, importa pra onde vamos?)

Home, home, home, home

(Lar, Lar, Lar, Lar)

 




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Notas finais do capítulo

Notas específicas:

a) Okaerinasai: "Seja bem-vindo de volta ao lar", expressão utilizada para cumprimentar as pessoas quando estas voltam para casa. b) Tadaima: "Estou em casa", expressão usada ao se chegar a casa, para anunciar seu retorno. Tadaima e okaerinasai são frases que andam sempre juntas, uma como resposta à outra. Essas duas frases têm um peso simbólico, podendo ser usadas, por exemplo, depois de uma briga de namorados quando eles fazem as pazes, para indicar que, agora que o problema foi solucionado, a pessoa que se afastou voltou para o lugar dela que é "ao lado da pessoa amada". Também podem ser usadas depois de um longo período de separação forçada. Ou como uma forma de "encerrar uma jornada" ou uma etapa da vida.



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