Família De Marttino. Recomeço(degustação) escrita por moni


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!!!!!
Finalmente Valentina!!!!



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   Pov – Valentina

  A mala está aberta sobre a cama, ainda não acredito que estou indo conhecer minha família. Dobro um vestido azul, o mais bonito que tenho. Eles são tão ricos, não sei como deve ser a vida deles. O dia a dia dos De Martinos.

   Fecho a mala e me sento na cama indecisa. Tem apenas uns dias que minha mãe se casou e partiu para uma viagem ao Japão e já me sinto a pessoa mais solitária do planeta.

   ―Cadê sua independência, Valentina? – Me pergunto olhando para a mala fechada. Vittorio me convidou para conhecer seu filho. Quero fazer isso. Não apenas o bebê, mas todos os outros.

   Meu pai foi um canalha comigo, mas foi também com eles. Achei por toda a vida que os meus irmãos e mesmo minha avó sabiam da minha existência e não me queriam em suas vidas.

   Por anos minha mãe insistiu para que eu fosse até eles, que procurasse minhas raízes. Logo depois de descobrirmos que meu pai tinha morrido e depois de um tempo descobrimos também que a mãe deles tinha falecido e mesmo assim eu não quis. Achava que não seria bem-vinda e fui levando minha vida.

   Nunca me deixei criar magoas, sobre nenhum deles. Nunca quis carregar esse tipo de sentimento. Mamãe me deu amor, educação e fomos tudo uma para outra. Ela sempre sofreu com a culpa que carregava do passado. Sempre se puniu e por anos se obrigou a afastar qualquer um que tentasse se aproximar dela. Pelo menos de modo romântico.

   Sorrio quando penso em Bartolomeu. Bartô não se deu por vencido, foi aos poucos ganhando o coração da minha mãe, deixo ela segura e mamãe acabou sentindo confiança no amor dele. Sempre torci por eles. Por isso me recusei a acompanha-los nessa viagem de seis meses ao Japão.

   Bartô vai trabalhar, mamãe é agora sua esposa e ela nunca teve a chance de viver uma vida tranquila, sem alguém para cuidar, quero que ela viva esses primeiros meses de casada apenas com Bartô.

   Meu sonho mesmo é que quando eles retornarem eu tenha um emprego e possa me sustentar e morar sozinha. Assim nós duas nos tornamos independente, ainda que eu vá morrer de saudade.

   Deixo a cama e vou até o espelho, estou bem, nada de mais, um vestido simples e sapatos baixos, cabelos soltos. É uma viagem longa de trem, depois ônibus, mas não vou avisar antes por que não quero incomoda-los nesse momento e sinto que Vittorio pode querer mandar o helicóptero que eles tem vir me apanhar e nem imagino como isso deve sair caro.

   Quase parei de respirar quando o ouvi se anunciar na porta. Do nada, sem aviso, num dia comum.

   Vittorio De Martino, meu irmão mais velho. O executivo que cuida da empresa, que gere os bens da família, incluindo e principalmente o vinho De Martino. O mais famoso vinho da Itália.

   Ele pareceu um homem bom, lembra meu pai. A aparência, não o caráter, no pouco tempo em que esteve aqui em casa deu para ver que não tem nada de Lorenzo De Martiono. Talvez tenha herdado a dignidade da mãe. Antonella. Não gosto muito de pensar no passado.

   Tenho ainda viva em minha memória meu único encontro com meu pai, na única vez em que estive na Vila De Martino. Ele pareceu um tanto distante, quase indiferente, não apenas comigo, mas com meu irmão também. Enzo, segundo filho dele, um dos meus irmãos mais velhos.

   Posso sorrir quando me lembro que nós dois nos demos bem e brincamos o dia todo. Me lembro de quebrar uma garrafa cara de vinho, de ficarmos meio assustados. Mesmo assim as lembranças daquele dia foram boas e ao anoitecer meu pai me chamou em seu escritório.

   Eu o chamava de senhor De Martino, não de pai, foi nosso primeiro e último contato. Lorenzo me entregou um presente. O brasão da família cravado em joias e ouro. Um pequeno broche que guardo a espera da chance de devolve-lo aos De Martino. Nem o sobrenome ele me deu, por que ficaria com uma joia de família que me foi entregue em uma rápida crise de consciência?

   Deixo o ambiente e vou em busca da caixinha onde ele fica guardado desde então. Coloco na bolsa. Quem sabe encontro uma oportunidade de devolver sem parecer ingrata.

   Hora de ir. Volto para o espelho. Me sinto insegura. Vittorio chegou aqui com a esposa e a filha. Ele já tem uma garotinha de cinco anos. Gabriela esperava o segundo filho e ela me pareceu simples, alegre e sem muita afetação, mas vi as fotos dos outros.

   Enzo e Bianca são bonitos, Bianca pareceu uma jovem muito bem vestida, elegante. Kiara e o marido também, um jeito descolado e chic, os dois pareceram bem vestidos mesmo com suas roupas de jovem antenado.

   Pietra é pura elegância, em duas fotos eu pude ver, impecavelmente vestida, com joias e maquiagem. Sou simples e Gabriela parece ser a que mais se assemelha a mim e quando a via ao lado de Vittorio eu pensava em como pareciam diferentes e ao mesmo tempo tão perfeitos juntos.

   ―Para de ficar arrumando desculpa e vai de uma vez. – Digo a mim mesma e só depois que mamãe partiu é que me dei conta que falo sozinha. A falta de um interlocutor muda a pessoa.

   Não me esqueço do meu bordado. Quem sabe aproveito o trem para bordar um pouco.

   Foi bem fácil me informar sobre a pequena cidadezinha onde a empresa De Martino funciona. Não será nada difícil chegar lá e então telefono. Assim que me instalar num hotel ou qualquer coisa assim.

   Mesmo que o convite tenha sido para me hospedar com eles eu prefiro ficar em um hotel, não sei direito como eles são, não me sinto bem para ficar na casa deles, não ainda. Talvez daqui um tempo, quando os conhecer melhor.

   Partir deixando minha casa para trás não é tão simples. Mesmo que por uns dias. Minha ideia é ficar uma semana fora. Conhece-los e quem sabe estreitar mais os laços, recebe-los aqui, visita-los as vezes. Se tudo correr bem, se me sentir aceita, acho que pode ser bom para todos nós.

   São tantos anos longe que eu não sei se podemos ser irmãos, eu nem mesmo sei como é ter irmãos, isso é algo que os De Martino talvez possam me ensinar.

   Primeira vez que viajo sozinha para tão longe. Espero que tudo fique bem. Durante a viagem de trem eu fico tão encantada com a paisagem que esqueço o bordado, depois no ônibus, a paisagem verde e bucólica me encanta tanto que perco ar muitas vezes. Passei toda minha vida em Genova, cheguei com um ano e embora me lembre um pouco da mansão De Martino não me lembrava de nada do caminho que percorremos. É mesmo lindo.

   Genova é maior, mais cheia de vida, trânsito e barulho, tem o cheiro do mar e o porto, cheio de turistas, marinheiros e o ir e vir de estranhos torna a cidade cheia de diversidade. Aqui tudo parece igual, é bonito, delicado e florido.

   A cidade não passa de um vilarejo. Três ruas eu acho, me faz sorrir pensar na vida simples de um lugar como esse. Compro um gelatto na praça, me sento em um banco sob uma árvore frondosa e observo a cidade.

   O shopping me arranca mais um sorriso. Um prédio de dois andares menor que a empresa De Martino que fica a frente, do outro lado da praça, vejo um caminhão com o logotipo da empresa entrar pela garagem de grandes portões.

   Fico pensando que toda economia do lugar deve girar em torno do Vinho De Martino, é muita responsabilidade e Vittorio parece ainda tão jovem. Além disso, esse prédio é só uma pequena parte de todo o império que ele gerencia, são muitos empregos, muitas vidas e famílias dependendo das escolhas dele. Imagino quão forte ele teve que se tornar. Se tem ajuda. Se cuida de tudo sozinho. Volto a olhar a pequena e encantadora cidade.

   Tem um prédio publico, uma igreja pequena, açougue, mercearia, um posto de gasolina já no fim do quarteirão, nos limites do pequeno vilarejo.

   Algumas casas cercam a praça também, uma mecânica e ao lado uma pousada. Acho que deve ser o único lugar onde posso me hospedar e depois do gelatto me dirijo a ela.

   A mecânica ao lado tem uma moto encostada, dois homens trabalhando num carro velho e penso se vai ser um problema passar toda hora me frente a esse lugar. Mecânicas e homens italianos são uma péssima dupla.

   Basta uma mulher passar e lá estão eles assobiando e falando bobagens. Eu simplesmente odeio isso.

   Empurro o portão branco de madeira talhada e passo pela curta alameda de pedras com flores coloridas nos guiando até a entrada. Não é difícil alugar um quarto. Um senhor de cabelos brancos e rosto gentil me atende e me leva até o quarto. O preço é bom e as acomodações são confortáveis. Depois de deixar minhas coisas eu sigo para a empresa De Martino.

   Só quando sou informada que o senhor De Martino não veio ao escritório é que me dou conta que depois de acabar de ser pai ele tiraria uns dias de folga. Sem alternativa eu telefono avisando da minha chegada.

   Sinto sua alegria e isso me tranquiliza um pouco. Ele me pede para esperar na empresa e realmente dez minutos depois um homem se aproxima avisando que vai me levar até a Vila De Martino.

   O percurso é curto. Vinte minutos até a mansão. Metade do caminho é de terras De Martino. O motorista me informa, continua além da vila. Dinheiro, apenas isso me afastou de todos os De Martino. Meu pai não queria dividir seu dinheiro com a filha bastarda e por isso nos mandou para longe.

   Uma leve amargura me abala um momento. Depois jogo para longe num cantinho da mente.

   A mansão surge um pouco diferente da minha memória. Não me lembrava que era tão grande, não me lembrava de tanto verde em torno. De como os vinhedos tomavam tudo a sua volta até se perder de vista. Lindo.

   O carro para e meu coração fica a mil por hora. Não tenho a menor ideia de como me comportar e meu irmão mais velho e sua esposa parecem se tornar meu porto seguro. Como se precisasse deles para ter coragem de me aproximar.

   A porta da mansão se abre. Vittorio é o primeiro a surgir e sinto alivio. Com ele os outros De Martinos.

   Posso reconhece-los pelas fotos. Meus irmãos, minha avó e ainda assim, desconhecidos. Respiro fundo e salto do carro. Engulo em seco e aperto a bolsa junto ao corpo.

   Encaro o grupo. Pietra tem os olhos úmido, não sei o que sentir. No momento é só confusão.

   Vittorio desce os degraus correndo, me abraça com um sorriso carinhoso.

   ―Bem-vinda. – Diz se afastando. – Vou pegar sua mala.

   ―Não tem mala. – Aviso meio sem graça, ele parece estranhar, mas não diz nada, apenas toca meu cotovelo me convidando e o acompanho até a varanda.

   O perfume que cerca a mansão é devastador. É nesse ambiente, na varanda da mansão de pedras antiga, cercada pelo verde das videiras e ciprestes e com o perfume das uvas que eu fico pela primeira vez diante de toda minha família.

   ―Vovó, aqui está Valentina. Como disse que aconteceria. Nós a encontramos. – Vittorio diz a avó que seca os olhos me convidando para um abraço que não tenho como recusar. – Essa é sua avó, Valentina. Pietra De Martino.

   Sinto o abraço dela me envolver e o carinho é honesto. Correspondo. Um nó se forma na minha garganta. Sinto pena dos mil abraços que nos foram roubados. De todos os carinhos que se perderam. Nos anos que não tivemos.

   ―Minha neta. – Ela diz com a voz embargada, sem me soltar e já deve ser o mais longo abraço que recebi na vida. Quando nos afastamos um momento ela chora. Não apenas lagrimas, mas um choro quase convulsivo que me assusta e procuro os olhos de Vittorio pedindo ajuda.

   ―Calma vovó, está tudo bem. Valentina vai se assustar. – Vittorio diz a ela que procura respirar.

   ―É vovó. Não dá vexame, vai a sustar minha cunhada. – Filippo se não me engano. Ele me sorri, puxa Kiara que carrega um bebê. Manoela com toda certeza. O bebê de Vittorio só tem três dias. Posso ver que está na soleira da porta no colo de Gabriela. – Sou Filippo, seu cunhado. Essa é a...

   ―Kiara. Sua irmã. – Ela diz sorrindo. – Essa é Manoela. Vittorio disse que mostrou fotos.

   ―Sim. Ela é linda. – Me abaixo para beijar a cabecinha da pequena. Damos eu e Kiara um tipo de abraço um tanto atrapalhado com a menina no meio e muito constrangimento.

   ―Bem-vinda. Estou feliz que está aqui. Que finalmente estamos todos aqui. – Ela me diz com sinceridade. Eles parecem mesmo querer me inserir a família e conforta saber disso. Filippo me abraça. Abraço carinhoso. Me beija o rosto e depois os dois dão espaço para o último irmão. Enzo me sorri. Não chora, não tem olhos tensos. Sorri com tranquilidade.

   ―Senti sua falta. – Ele diz parado a minha frente e lembro tanto desse rosto, e pensei tanto nele e nas horas que dividimos que pela primeira vez minha garganta se fecha e sinto vontade de chorar.

   ―Eu também. – Sou eu a dar o primeiro passo de abraça-lo. Ele me acolhe carinhoso. É de novo um longo abraço. Cheio de carinho e saudade. – Nunca esqueci daquelas horas.

   ―Nem eu. Saudades. – Ele me beija a testa. – O tempo correu, olha. – Ele pega dos braços da esposa um garotinho risonho. – Meu filho. Matteo e minha esposa. Bianca. Meu raio de sol.

   Ela me abraça gentil, não se demora, me sorri e seca meus olhos, beijo Matteo no rosto, ele lembra muito Enzo.

   ―Ele se parece tanto com você.

   ―Eu sei. – Enzo ri.

   ―Oi tia Valentina. Está lembrada de mim? Bella De Martino, sua sobrinha que foi lá na sua casa. Aquela que chama só casa, lembra? – Bella é a criaturinha mais doce que já conheci. Meu carinho por ela foi instantâneo. Me abaixo para abraça-la e beijar seu rostinho.

   ―Claro que me lembro. Como poderia esquecer a garotinha mais linda que eu já vi? Como você está? Soube que tem um irmãozinho. Vim aqui para me apresentar ele.

   ―Quer ver? Eu mostro, mas toma cuidado, ele é ardiloso, sabe pegar ele? Mamãe te ajuda. – Ela me puxa pela mão até a mãe, pelo que me lembro do nosso único encontro, ela tem seu próprio vocabulário e acho que ardiloso deve ser qualquer coisa sobre ser pequeno. Como pedagoga eu bem que podia dar umas dicas sobre isso, mas não é o que a mãe dela quer. Então me contento em aceitar.

   ―Oi! – Sorrio para Gabriela, ela sorri de volta. Não me mostra o filho, ao contrário disso entrega para o pai, eles trocam um longo olhar cheio de amor. Isso é mesmo bonito.

   ―Apresenta seu filho, tigrão. – Vittorio pega o garotinho, abre a cobertinha que o cobre e cheio de orgulho me mostra o pequeno adormecido.

   ―Esse é Vincenzo. Meu filho. – Toco a cabecinha. Beijo o rostinho bonito, tão lindo, perfumado. Sorrio para meu irmão. – Lindo, não é?

   ―Muito. Parabéns. – Encaro Vittorio, não sei bem o que fazer agora. – Eu vim. Como prometi. – Ele afirma.

   ―Veio. Vamos entrar? Deve estar cansada.

   Entramos todos, Pietra me pega pela mão e me convida a sentar a seu lado. Uma senhora nos serve chá gelado e biscoitos e todos os De Martino se acomodam. Bella e Matteo se cansam de minha presença e deixam a casa rumo ao jardim com os cães. Dois lindo cães grandes demais para duas crianças tão pequenas, mas eles são dóceis.

   ―Estou feliz demais que está aqui, Valentina. Procuramos muito você. – Pietra me diz. Balanço a cabeça afirmando.

   ―Vittorio me contou. Pietra. Eu... obrigada pelo convite a casa... é maior do que me lembrava.

   ―É sua casa. A casa é de todos os De Martinos. – Não sou uma De Martino, ao menos não no nome, mas não quero atirar isso a eles, somos todos vitimas do passado. – Tenho tantas coisas a dizer. Eu.. eu quero... – Ela suspira, prende minha mão a sua. – Não hoje. Vamos ter muito tempo. Hoje quero saber de você.

   ―De mim? – Fico confusa. Não tem nada demais. Sou só... uma pessoa comum que sempre viveu uma vida comum em companhia da mãe.

   ―É Valentina. Fala um pouco de você. – Kiara pede. – Lembrava do encontro com meu irmão... nosso. – Kiara se apressa.

   Estamos todos cheios de receios, tomando cuidado com as palavras, com medo de dizer algo que machuque.

   ―Sim. Me lembrava muito bem, sabia que ele era meu irmão, mamãe me contou. Brincamos aqui, tinha uma adega em algum lugar, descendo uma escadaria.

   ―Ali. – Enzo aponta um corredor. – Fica sob a casa. Toma toda a casa. Por baixo. Descemos escondidos.

   ―Foi. Seu pai... Lorenzo nos encontrou bem quando quebramos aquele vinho caro.

   ―Lembrava muito de tudo isso, mas não sabia... – Enzo sorri de modo triste. Balanço a cabeça concordando com seus pensamentos. Perdemos. Isso está claro.

   ―Gosta de Genova? – Enzo questiona querendo mudar de assunto.

   Conto sobre meu apartamento, a vida simples com mamãe, a faculdade, eles vão fazendo uma pergunta ou outra, conversamos sobre coisas do dia a dia. Deles, meu, Gabriela nos deixa para amamentar o bebê. Depois é a vez de Kiara. O céu começa a escurecer.

   ―Eu acho que é melhor ir. – Aviso a Pietra. Quero dizer vovó, mas ainda não consigo.

   ―Ir? – Ela pergunta surpresa. – Para Genova?

   ―Não, estou numa pequena pousada. Perto da empresa De Martino.

   ―Que bobagem. Vai ficar conosco, vou eu mesma ajeitar seu quarto. – Pietra tenta se erguer, seguro sua mão impedindo.

   ―Obrigada pelo convite. Eu realmente gostei muito de conhecer todos e vou ficar uns dias, mas... prefiro ficar na pousada, ainda, ainda não me sinto pronta para ficar aqui. Tem tantas coisas... é complicado.

   ―Tinha esperanças de passar mais tempo com você.

   ―E vamos. Quem sabe volto amanhã?

   ―Vovó. – Enzo chama sua atenção. – Vou levar a Valentina e amanhã busco ela para o almoço, vamos só deixar as coisas irem acontecendo.

   ―Tudo bem. – Pietra parece se convencer. Me despeço de todos. O último abraço é em Vittorio. Ele me sorri carinhoso, não insiste para que fique, acho que entende que não é tão simples.

   No caminho, Enzo e Bianca vão me contando um pouco sobre a história deles, como se conheceram e tudo que viveram, é uma história cheia de desencontros, bonita, mas que passou por muitas dificuldades.

   Nos despedidos na porta da pousada. Quando volto para meu quarto estou atordoada. Tantas coisas para pensar. Gostei de todos, são como Vittorio, uns mais alegres, mas todos muito carinhosos comigo.

   Mando mensagem a minha mãe, depois como um sanduiche numa lanchonete na esquina da pousada, tomo um gelatto na praça e vou para cama.

   Enzo me apanha as onze horas. Depois do almoço, Bella e Vittorio me levam para um passeio pelo vinhedo. Ele vai orgulho me explicando como tudo funciona, me mostra as videiras, a casa dos colonos, uma delas foi minha. Nasci aqui, nesse lugar, não tenho memórias, não saberia dizer qual casa, mas aqui, meus olhos de bebê já estiveram diante dessa paisagem.

   Os galpões são gigantes, com maquinas e mais maquinas, tem toneis de vinho, envelhecendo em carvalho, mamãe falou do perfume e tinha razão. Inebria.

   ―É o enólogo? – Pergunto a Vittorio quando entramos na sala onde eles devem trabalhar na criação dos vinhos.

   ―Meu tio Conan que é. Ele é muito divertido, me acha ardilosa, fala assim, contato visual. – Bella me conta.

   ―Não dou conta de todo trabalho, tenho um braço direito. – Vittorio me avisa, então me serve um vinho que está produzindo, a conversa de perde um pouco e retornamos.

   Fico até o jantar. Ajudo Bella com o dever de casa, penso na escola pequena ao lado do prédio da prefeitura, era num lugar como aquele que gostaria de trabalhar.

   Depois do jantar Enzo e Bianca me levam de volta a pousada. Não temos nenhuma conversa importante, todos eles estão sendo pacientes comigo, sem pressão. No dia seguinte, Pietra vem a cidade com Bianca e Enzo e passamos a tarde juntos.

   Quatro dias e tudo parece ir bem. Não me sinto família, mas me sinto próxima. Aos poucos vamos nos entendendo. Quem sabe um dia seremos família como Pietra parece querer.

   Invento uma desculpa para ficar um dia sem vê-los, quero deixa-los um pouco a vontade, talvez eles precisem disso, fico pelo quarto toda manhã, decido almoçar na lanchonete onde comi duas ou três vezes. Quando saio um dos mecânicos assobia, faço careta fingindo não notar e apresso meu passo.

   Aproveito para comprar umas frutas para deixar no quarto, alguns presentes para as crianças que vou deixar antes de partir. Volto cheia de pacotes. A pousada parecia mais perto antes das sacolas.

   Passo em frente a mecânica, um homem está sentado sobre a moto, tatuado, cabelos longos, calça rasgada, camiseta preta, ele me sorri, me olha dos pés a cabeça.

   Um olhar invasivo. Possivelmente um forasteiro tentando se dar bem. Um cara como ele não pode querer nada em uma cidadezinha como essa. Alguém de passagem em busca de companhia fácil.

   Desvio meus olhos, quando estou cruzando com ele uma sacola escapa. Talvez minha atrapalhação com seu olhar sobre mim.

   Ele salta da moto e pega a sacola antes que consiga apanha-la. Sorri mais uma vez quando estendo a mão tentando pegar a sacola.

   ―Levo para você. Parece pesado.

   ―Não, obrigada.

   ―Eu sei, nem me apresentei. Sou Kevin. Pronto, agora já me conhece. Só quero ajuda-la. – Ele balança os cabelos jogando charme. Continuo com a mão estendida.

   ―Posso carregar minhas coisas. Por favor.

   ―Calma. – Ele sorri de novo, agora meio debochado. – Que medo!

   ―Não estou com medo, mas não tenho paciência para idiotas que não tem nada para fazer se não importunar garotas.

   ―Não foi intensão importuna-la, madame. –

   ―Senhorita Grimaldi! – Aviso muito irritada. Está na cara que ele é um tipo provocador que gosta de encrenca. Daqui a pouco vai estar bêbado arrumando encrenca em um bar. – Conheço seu tipo.

   ―Conhece? E qual meu tipo? – Ele me entrega a sacola e devia aproveitar a deixa e ir embora, mas ele é tão irritante, tem esse olhar faminto e debochado. Não consigo evitar responder.

   ―Acha que pode brincar com qualquer mulher que cruze seu caminho enquanto se distrai arrumando brigas em bares.

   ―Puxa, que original. Quer saber? Também conheço o seu tipo. Se faz de mocinha tímida, do tipo que espera o príncipe encantado, mas só quer mesmo um riquinho escovadinho para desfilar na sociedade como primeira dama. Como vê senhorita Grimaldi, arruaceiro ou não, eu enxergo longe.

   ―Não tenho a menor ideia do por que estou aqui perdendo meu tempo.

   ―Muito menos eu. Tem dez minutos que cheguei a cidade e já conseguiu tirar minha paz. – Sabia, acabou de chegar a cidade e já se acha o rei do pedaço. Típico. Suspiro.

   ―E você a minha. Passar bem. – Aviso passando por ele.

   ―Passar muito bem. – Ele diz em minhas costas. Não me volto. Só entro na pousada sem olhar para trás. Não me lembro de um homem ter me tirado tanto do sério.


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Notas finais do capítulo

Agora a história começa!!!
Gente vão conhecer minhas paginar.
Instagram. Autora Mônica Cristina
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