Quando eu saí já era quase dez e vinte, fui para a parte de trás onde dá para a varanda do vovô, me despi na sombra mais escura e comecei a tirar a roupa, ficando só de roupas íntimas. Caminhei lentamente até o terceiro tronco. Terceiro tronco é como chamamos, uma árvore oca, com desenhos infantis e tribais trabalhados nela; elas são a marca de que, aquela árvore é um esconderijo, para as roupas; há mais destas em toda a floresta.
    Relaxo e sinto toda a raiva dos meninos ao ver a sala e caixa de doces; logo, eu estava coberta por um casaco de pêlos, eu media 2,38, é seu sei meio irônico eu ser baixinha na forma humana e alta quando me tornava um ser de quatro patas. Corri como uma doida apenas para sentir o vento batendo em meu rosto, eu achava minha cor um pouco estranha. A maioria das vezes sou totalmente branca, mas quando pressinto perigo ou estou em batalha ganho mais duas cores; nas batalhas fico como uma espécie de armadura (rajadas prata e dourada, que se distribuem pelo meu pelo branco como a neve), e quando estou em perigo eu meio que ascendo uma luz, como o brilho da lua cheia em seu dia mais intenso; minhas cores ficam em listras azuis e vermelhas assentadas no branco do meu pêlo como fogo e gelo. E sim eu sou mega esquisita, ainda bem que o bando já se acostumou, mas eu tenho a clara impressão de que vovô e o tio Billy sabem de algo a respeito disso.

— É claro que sabem! Só não querem nos contar.— disse uma voz bastante familiar.

   E foi aí que eu percebi, que estava com a mente aberta para todos e ainda por cima parada no meio da clareira de treinamento, com todos em volta me olhando, se eu estivesse na forma humana já estaria fazendo inveja aos pimentões. Sam ria, não! Ele gargalhava da minha cara, é sério! Ele literalmente rolava no chão de tanto rir, rosnei para ele mostrando minha irritação, fazendo com que meus olhos brilhassem ameaçadores, assustando os novatos em treinamento.

— Tá legal já chega!— diz Paul

O mais explosivo, tentando acalmar os ânimos; o olhamos incrédulos. Isso fez com que os novatos, pelo menos alguns rissem e outros prendessem as rizadas por não saber o que ele poderia fazer.

— O que foi? Não posso mais apaziguar nada? Hein!— diz meio amuado.

Me aproximo dele e faço um carinho como se estivesse bagunçando seus cabelos .

— Bom não vim aqui só para conversar, vim também para treinar e trabalhar.

— Que bom Bells, estávamos sentindo a sua falta por aqui. O Sam está ficando mole.— diz Jake

Todos voltam a rir e Sam acaba por ficar sério, fazendo com que eu risse ainda mais.

— Então Jake vamos mostrar aos novatos o porque sou considerada a substituta de Sam.— falei animada e surpreendendo alguns e vendo a descrença no olhar de alguns.

— Isso vai ser bom Bells.— diz Paul

— Têm quem não acredita nas histórias que contamos sobre você.— fala Sam

— Então vamos lá, acho que depois de um tempinho comigo, fará com que eles acreditem nelas.— falei

Fui em direção aos novatos, e observei - os, analisando todos e percebendo algumas coisas que ninguém deve ter notado. Quando eu me levantei e fiquei sentada no meio da arena chamando a atenção para mim novamente, poucos foram os que fizeram silêncio, à espera de que eu fizesse ou falasse algo.

— Quer apostar quanto que depois de umas dez aulas com ela, eles vão estar chorando e implorando para que sejamos nós a treiná-los?— ouvi Jake conversando com Caio, um lobo malhado com uma estrela branca entre os olhos.

— Acho que menos, aposto $20 pratas.— respondeu

Parei de prestar a atenção quando, ouvi Lucian dizer aos outros: - " Uma loba na matilha é uma piada, ela nunca será melhor que nós. Uma fêmea jamais será maior e melhor que um macho." Estreitei meus olhos e fiquei de pé, resolvi acabar logo com aquela palhaçada. Bati as garras da pata dianteira no chão usando um pouco da minha força, e quando elas rasparam o solo, dei um rosnado parecido com um rugido; os novatos (todos eles) se assustaram, já os meninos apenas sorriram como se dissessem " hora do show".

— Então sr. Lucian, na sua opinião aos lobas são inferiores aos machos?! Veremos...— falei com a voz um pouco grossa - Agora quero todos a minha volta formando um círculo perfeito.— eles apenas me olhavam sem se mexerem- Eu disse agora!— dei ênfase no agora em suas mentes. Quero ver em que, aqueles que não prestaram atenção nas lutas que estava rolando antes que eu chegasse, são bons e ai de quem questionasse, eu o faço se arrepender. - Agora vamos ao trabalho, todos em seus lugares e em silêncio e os que eu mandar dividam-se. Testarei vocês separados e em dupla. Você primeiro Lucian, vamos lá, me mostre tudo o que você tem.

Ele foi para o meio da arena e se posicionou, seu primeiro erro foi vir com um ataque direto, pois com uma patada eu o derrubei.

— Primeira lição.— falei alto pra todos - Analise seu oponente, não o subestime e independente de qualquer coisa. Agora vamos continuar.

Fomos assim até as três da manhã, testei cada um, pude identificar muitos erros, habilidades e qualificações. Acho até que podemos, após um pouco mais de treinamento, separá-los por grupos (estrategistas, guardas, guerreiros, etc...) foi divertido ver aquela gama de fodão que Lucian tinha, ir acabando, a cada erro que eu ia identificando e quando eu o corrigia era possível ver sua raiva contida.

— Por hoje é só, façam a correção no que eu disse. Vão para casa, comam, durmam e descansem. Ah mais uma coisa quero e exijo respeito entre todos e não larguem seus estudos, hoje foi somente um aquecimento não é por que são adolescentes que vou pegar leve, dispensados.

Eles assentiram e se foram, me aproximei dos meninos, eles estavam rindo de algo. Ainda restava um dos novatos e ele não me parecia muito bem, se não estava errada aquele era o Jamie; seu pêlo era quase da mesma cor de Quil, um marrom chocolate quase escuro, começando a clarear do meio das costas até as patas traseiras e cauda. Me aproximei e ele pareceu não me ver, toquei-o com o focinho chamando sua atenção.

— Jay Jay o que houve? O que você tem?— perguntei. Ele suspirou antes de responder.

— Bells você acredita que eu serei alguém? Não só na matilha, mas na vida também?

Fiquei surpresa com a sua pergunta e intrigada também; era cedo para que ele estivesse pensando nisso.

— Sim acredito. Mas o que te faz pensar essas coisas? Você ainda tem doze anos, não está um pouco cedo para pensar assim?

— Bel de todos você é a que melhor conhece cada um de nós, bom pelo menos alguns. Eu só tenho a minha irmã e depois que eu mudei, sinto que tenho afastado ela cada vez mais e isso me dói. Já a peguei chorando escondida, mas você sabe que é impossível não ouvir.

Sei que os meninos a muito estão prestando a atenção na nossa conversa. E sei que ele não iria querer platéia; olhei para Sam, ele apenas assentiu e então eu o chamei para caminhar um pouco.

— Olha Jay Jay se te fizer sentir melhor pode abrir o jogo com a sua irmã, não a perca, eu sei o quanto dói. E quanto a matilha eu era bem pior que você, caia toda hora e apanhava pra caramba, mas com o tempo você aprende. Um conselho, comece não se encolhendo quando brigarem com você, reaja não deixe com que te humilhem ou te maltratem. Você é especial Jay Jay.

   Ouvi um barulho e logo entrei em modo de proteção (perigo). Mudei a cor dos meus pelos (depois de um tempo eu passei a ter controle), indicando a Jay Jay que ficasse em alerta, pedi que ao meu sinal, ele saísse e voltasse com ajuda. Discretamente o fiz e logo ele sumiu dentre a mata, segundos depois, de frente para mim, duas árvores à frente um cara com roupas rasgadas saia de lá, quando a luz bateu nele eu percebi se tratar de um frio e pela cor de seus olhos sabia que não era vegetariano.