A Dádiva do Tempo escrita por Lua Chan


Capítulo 2
Rosas para o Doutor




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A dor de cabeça começou a surgir, à medida em que sua consciência recobrava. O Doutor estava ali, no meio da rua, sem entender muito bem o que acontecera, definitivamente perdido. Tudo o que se lembra era daquele homem, o que era idêntico a sua 10° regeneração. Foi aí que ele se perguntou se sua querida TARDIS o teria levado para o passado, quando conheceu Rose. Mas mesmo assim, algumas coisas simplesmente não faziam sentido. Primeiro, como ele poderia ter encontrado sua antiga versão no meio de Londres? E por que ele teria sido tão baixo ao ponto de assaltar uma mulher? Por mais que o Doutor quisesse responder tais perguntas, sua cabeça latejante não permitiu que pudesse tirar suas próprias conclusões; era como se seu cérebro tivesse sido afetado pela batida.

— Oh meu Deus! - uma voz surge em sua mente. Ou será que era alguém que estava perto dele? - Senhor, está tudo bem?

O 11° Doutor força a cabeça para a direção daquela irritante voz. Era Jacqueline, e ela continuava espantada. O que ele pensava agora era se receberia mais uma surra por não ter pego a bolsa de Jackie 2.0. A mulher, porém, o ajudou a levantar e bateu em seu paletó, tentando retirar alguns vestígios de poeira. O Doutor sentiu-se admirado, mas decidiu não expor tal sentimento. Talvez esta fosse uma nova Jackie. Talvez ele estivesse sendo rude demais por julgá-la.

— Desculpe, madame. - sussurrou para ela - Não consegui pegar seu dinheiro.

Surpreendentemente, Jackie 2.0 o abraçou, mas ele não retribuiu, estava confuso e amedrontado demais para dar uma resposta consciente. O que significava aquilo? Seria uma nova maneira de insultar pessoas?

— Não se preocupe, querido. Você foi muito valente. Deixe aquele idiota pra lá, vou fazer um B.O. quando tiver tempo. 

Jackie analisou  o homem da sua frente mais uma vez, passando da gravata borboleta, que agora estava amassada, até seu rosto, onde uma pequena cicatriz se formava na testa. O Doutor não era de se machucar, muito menos de mostrar sua fragilidade, mas dessa vez, deixou que a estranha mulher o olhasse.

— Que esquisito. Aqui estamos nós, estranhos, olhando um para o outro como se já nos conhecêssemos de algum lugar. - ela observa. O Doutor tenta desviar o olhar dela, mas não consegue. Seus corações estavam apertados de saudade e de um sentimento que raramente o abordava: medo.

— É, já ouvi isso de muitas mulheres. Eu devo ter a postura de um modelo. - riu ele, se gabando e arrancando o sorriso da mulher. Era a primeira vez, desde dias atrás, que ele sorri com sinceridade. A mulher vira a cabeça para o lado.

— Bem, obrigada pela sua ajuda. Estou indo pra casa agora. Será que gostaria de tomar um chá? Está tão frio. - o homem maltrapilho não pôde evitar de sorrir.

Não tinha como negar, ele sentia saudades dos hábitos ordinários dos seres humanos - dos ingleses, especialmente -. A proposta soou tentadora, e nem mesmo o recente acontecimento o impediu de aceitar a oferta.

— Seria adorável.

Ambos caminharam pelas ruas da cidade como dois conhecidos que não se viam há muito tempo - o que, secretamente, era verdade -, o Doutor nem parecia tão perdido quanto antes. Apesar dos vários anos de diferença que o separava desta realidade, ele sabia muito bem onde estava. Talvez até pudesse ir sozinho para a residência dos Tyler, mas seria arriscado demais. Além disso, ele não queria revelar que era o Doutor que Rose tanto amava. Pelo menos, não ainda.

— Algum problema, querido? - Jackie interrompe sua linha de raciocínio. Ele balança a cabeça e um falso sorriso se esboça em seus lábios. Mentir parecia ser a melhor opção.

— Nenhum. Podemos seguir em frente?

— Para onde? Acabamos de chegar. - Jackie riu, mas dessa vez, o Doutor ficou sério - Onde esteve sua cabeça?

— No pescoço, senhora. - respondeu ele, ainda sério, quebrando o clima de humor e deixando a mulher sem jeito. As companions dele sempre diziam que ele não sabia lidar com sarcasmo.

Jackie o convidou para entrar, mas o Doutor pediu um tempo para respirar. De acordo com ele, ainda estava tonto por causa do acidente, mas essa não era a verdade. O homem maltrapilho estava com medo do que iria enfrentar naquela casa, que um dia o abrigou com tanto amor. E se tudo estivesse diferente? Ele iria suportar ser invadido por tantas memórias?

— Entre, querido. - insistiu Jackie, carinhosamente. Ele já teria se acostumado com o apelido, apesar de soar estranho - A casa é pequena, mas não se incomode.

O Doutor avaliou o lugar com todo o cuidado possível, a sensação de nostalgia invadiu seu peito e lhe entorpeceu como uma forte dose de morfina. Se fosse tão emotivo quanto sua 10° regeneração, ele provavelmente estaria chorando nesse exato momento, mas não tinha esse tipo de problema. Não mais. Já havia chorado demais por perder Rose, por se despedir de tantos companions. Já tinha vivido demais.

— Ora, que estupidez a minha. Estive com você por mais de 15 minutos e nem perguntei seu nome. 

O Doutor ficou em silêncio. Ele não tinha um nome fixo, mas utilizava "John Smith" como um pseudônimo. Ele sabia que não podia usar aquele apelido, "John Smith"  pertencia a outro homem, a outra regeneração. Outro Doutor. Jackie, no mínimo, acharia estranho ter mais alguém com o nome de um cara que abandonou sua filha numa praia na Noruega. Ele teve que pensar em algo menos chocante, um nome simples que talvez viesse a calhar. Um nome como...

— Eleven. Me chamo Eleven.

Jackie deu uma leve risada, que pareceu ser de deboche no início, mas acabou não sendo. Doutor sorriu de soslaio, apesar de não entender o porquê daquela situação ser tão engraçada.

— Desculpe, querido. - falou, ainda rindo um pouco - É a primeira vez que ouço um nome como o seu. Bem, sem contar com os nomes das filhas da Beyoncé, mas mesmo assim.

— Quem é Beyoncé? - "Eleven" questiona, tornando-se mais estranho do que antes. Quem, no mundo inteiro, não conhece Beyoncé?

Antes que a pergunta pudesse ser respondida, os dois escutam um barulho de passos vindo da escadaria da casa. Alguém estava descendo na velocidade da luz e, pela voz, o Doutor sabia quem era.

— Mãe, você viu onde tá a minha farda? Tô atrasada pro traba- 

A moça para no meio da escadaria, ao perceber que tinha um desconhecido em sua casa. Ela desce, agora, vagarosamente, tentando lembrar o rosto do homem da gravata borboleta, mas nada lhe vem à sua mente. A garota resolve sorrir, mas o Doutor sabia que ela não estava confiante. Oh, ele conhecia sua Rose muito bem.

— Uhm... oi. - disse ela para o "estranho" - Mãe, não me avisou que tínhamos convidados.

— Ora, Rose, não seja ranzinza. Este homem é o meu herói.

Então era ela mesmo! Rose Tyler, sua ex-companion. O amor que nunca pôde se desenvolver. Ela não mudara tanto, no máximo, seu cabelo estava ainda mais claro e maior. A garota teria uns 23 ou 24 anos, isso não sabia, mas ele continuava sendo fisicamente um pouco mais velho do que ela. Ela estava tão linda, tão preservada. Tão... Rose. Eleven achou que seus velhos corações não aguentariam tamanha emoção.

— Rose, este é Eleven. Eleven, esta é a minha filha, Rose. - disse Jackie, apressada - Ela não é linda?

— Encantadora. - sussurrou ele, sem evitar contato visual. Os olhos da menina ainda exerciam o mesmo tom hipnótico que antigamente.

As bochechas de Rose ficaram vermelhas e ela ajeitou uma mecha que caíra em seu rosto. Voltando ao assunto principal, ela pigarreou e virou-se para sua mãe.

— Então... viu minha farda? Meu turno começa às 20:00. Daqui a 2 minutos!

Eleven não deixou de olhar para sua Rose, mas apenas um barulho permitiu que ele se atrapalhasse: o choro de um bebê.

— Ah, não. Rose, vai buscar a Emma. - Jackie reclamou - Ela deve estar com fome.

— Com licença. Quem é Emma? - Eleven questiona, dessa vez, mais preocupado. No lugar de Jackie responder, Rose aparece no meio da sala, segurando uma bebezinha em seus braços.

— Ela é minha filha. - diz Rose, deixando o Doctor paralisado.


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