A Dádiva do Tempo escrita por Lua Chan


Capítulo 3
O companion do Doutor




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E lá estava ele, perdido novamente. Dessa vez, por causa de uma garota pela qual teria se apaixonado há certo tempo. O Doutor observou Rose minunciosamente, enquanto ainda segurava o bebê; era estranho saber que ela teria se tornado mãe. Quanto tempo ele perdeu? Quanto tempo teria desperdiçado sem Rose?

— Algum problema, Eleven? - Rose pergunta, retirando o Doutor dos seus pensamentos. Ele mal percebera que estava paralisado, olhando para a criança. Tentou disfarçar, mas ele sempre foi terrível nisso.

— N-Nenhum. Está tudo bem! Completamente bem. Por que não estaria completamente bem, não é? - ele disse rápido demais, Rose olhou de soslaio para sua mãe, como se estivesse falando com um louco.

— Você é um homem estranho, Eleven. Mas tudo bem. Já viajei com um homem estranho há muito tempo. - o Doutor estufou o peito, sentindo-se confiante. Ela ainda se lembrava dele, afinal - Enfim... vou precisar sair. Como eu disse, estou atrasada pro trabalho. Mãe, tem como você cuidar da Emma?

— Claro, meu amor. - Rose, então, entregou o bebê para sua mãe. A pequena não parava de chorar, mas precisava se despedir de Rose. 

— Tchauzinho, Emma. Volto daqui a pouco. Tchau mãe. Tchau, homem estranho.

Eleven acena para ela e Rose sorri novamente. Ele se sentia feliz por fazê-la sorrir, ele sempre foi a pessoa indicada para arrancar um sorriso da bela Rose. Seus pensamentos foram interrompidos pelo choro de Emma, que ainda estava nos braços de Jackie. 

— Desculpe pelo comportamento infantil de Rose, Eleven. - disse ela, sem tirar os olhos da criança - Às vezes, eu acho que ela nem cresceu.

— Não tem problema nenhum. Sou mesmo um homem esquisito.

A mulher, para acalmar Emma, tentou balançá-la de um lado para o outro e até fez caretas engraçadas, mas sua neta não parava de chorar. O Doutor sentiu-se comovido por algum tempo.

— Uhm... será que eu poderia...? 

Ele estende os braços para pegar a criança, mas Jackie, assustada, afasta a garotinha chorona do Doutor. Cheio de constrangimento, Eleven inclina a cabeça para baixo, pensando que essa realmente não seria uma boa ideia. 

— Desculpe, querido. É que não costumo confiar Emma nas mãos de pessoas estranhas. Ela sempre chora!

— Jacqueline, não precisa pedir desculpas. - o Doutor assegurou - Além disso, nós dois sabemos que eu sou um estranho diferente.

Por algum motivo, Jackie sentiu-se segura ao olhar bem nos olhos do homem de gravata borboleta. Algo dentro de seu peito dizia que ele era confiável, apesar de não conhecê-lo. Aos poucos, ela cedeu e permitiu que a criança chorona fosse para os braços de Eleven. Com poucos segundos - e um pouco de carinho -, Emma silenciou-se e encostou a cabeça no paletó daquele estranho homem.

— Shh... - sibilou o Doutor, balançando-a como se fosse o ser mais delicado do Universo. Jackie estava estupefada - Eu estou aqui, Summy. Não tenha medo.

— Summy?

O Doutor virou o rosto para a mulher ao seu lado, ela estava bem confusa. Ele limpou, silenciosamente, a garganta e sussurrou:

— É assim que ela gosta que a chamem. Por sinal, já mencionei que eu falo bebenês?

Tudo o que Jackie pôde fazer foi sorrir. Sorrir para Emma, para Eleven. Para aquela situação de paz que quase nunca teve ao segurar a pequena em seus braços. O sorriso, porém, desapareceu com o sentimento de dejá vù que surgiu repentinamente. Eleven notou e se aproximou de Jackie.

— O que foi? Algum problema?

— Você me lembra alguém que eu conheci há uns 4 anos. Ele era parecido com você.

— Oh, nossa. - O Doutor fingiu entusiasmo. 

Não imaginava que Jackie pudesse ser tão cínica desse jeito. Essa nova versão dele era completamente diferente da anterior - começando pelo gosto excêntrico por gravatas borboletas e um fez vermelho que tanto amava. Mas talvez ele realmente fosse parecido com sua 10° regeneração, os olhos são o espelho da alma, não é? É o que dizem, afinal.

— E como era esse... alguém?

— Ele era um maluco desmiolado, que roubou a Rose de mim. - bufou, cruzando os braços - Sempre viajavam aleatoriamente, junto daquele veículo nojento dele.

— Ei! Não fale mal da TARDIS!

Numa fração de segundo, Jackie arqueou as sobrancelhas, como se o homem na sua frente tivesse acabado de dizer que era o filho da Rainha. Doutor evitou contato visual novamente, mas não foi o suficiente para despistar a curiosa mulher.

— O que você disse? 

— E-Eu? - sussurra o Doutor, tentando não acordar a pequena Emma. Parece que o fato de ele ter gaguejado piorou tudo - Nada. Eu só...

— Como conhece a TARDIS?

Esse fora o momento mais angustiante desde sua chegada. Nem mesmo o ataque que acontecera há pouco tempo o assustou tanto. O que diria, que ele é o Doutor que abandonou Rose Tyler e sua família? Que era o homem que causara tanta tristeza para Rose e que nunca mais deu as caras? Ele não poderia. O Doutor teve que pensar numa solução menos radical e prudente. Infelizmente, ele não era o mais indicado, no quesito "responsabilidade".

— Porque... - pensou, ainda sem olhar para a mulher - Porque... já fui um dos companions do Doutor.

O queixo de Jackie caiu no mesmo instante. Para evitar que ela gritasse, Eleven repousou Emma no sofá e correu para perto da mãe de Rose, fazendo um gesto de silêncio, em seguida. Aquela, provavelmente, teria sido a ideia mais estúpida que teve até agora.

— Você o quê?

— Pois é. Eu e minha amiga... uhm... Amy Pond, nós... nós viajávamos com o Doutor, mas ele nos deixou. - Eleven prosseguiu, escolhendo o primeiro nome que vira em sua mente.

Amy. Sua Amelia Pond, "a garota que esperou". O Doutor sentia sua falta, ainda mais depois do que aconteceu com ela e Rory. Apesar da sensação de tristeza ter lhe invadido, aquela informação valera a pena. Pela expressão no rosto de Jackie, ela começou a acreditar nele.

— Ah... sinto muito, querido. Se serve de ajuda, o Doutor também deixou minha Rose. 

— Como ela ficou? Quando ele foi embora?

Cada palavra dilacerava seus corações, mas ele queria saber. Por mais que doesse, queria saber como Rose ficou com sua saída. Se ela se deu bem com sua cópia meio-humana, sua versão Meta-Crisis.

— No início, foi difícil. Ela chorava todas as noites e às vezes sussurrava o nome dele. - Jackie afirmou - Confesso que foi horrível vê-la daquele jeito. Mas graças a Deus que ela tinha John Smith para consolá-la.

John Smith, sua sósia humana. Possivelmente, a mesma pessoa que o havia atacado. O que aconteceu para tudo terminar daquele jeito? Para saber mais sobre seu "eu" passado, resolveu partir para mais perguntas.

— E quem é esse John Smith?

— É complicado. Mas vamos apenas dizer que ele era uma versão humana do Doutor. Eles estavam bem, até que...

Jackie pausou. As pernas da mulher mexiam freneticamente, enquanto ela brincava com os próprios dedos. Dizer que Jacqueline estava nervosa era um eufemismo. Conhecendo-a, mesmo que superficialmente, o Doutor diria que ela escondia uma informação importante dele.

— Até que o quê, Jackie? - pergunta ele. Dessa vez, é a mulher que recusa olhar para seus olhos.

— Até que tudo aconteceu. 

Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, o celular do Doutor vibra. Era algo raro de acontecer, já que pouquíssimas pessoas tinham seu contato - o antigo fora deletado por questões de segurança -. Eleven pediu licença e observou a tela do minúsculo aparelho. Nela, havia uma mensagem e o nome do remetente que ele conhecia muito bem.

HELLO, SWEETIE. PARECE QUE ALGUÉM ESTÁ CAUSANDO MUITA BAGUNÇA AQUI, EM LONDRES. ME ENCONTRE NO CENTRO DA CIDADE, ÀS 10 DA NOITE. TEMOS MUITO O QUE FALAR

COM AMOR E VENENO,

RIVER SONG


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