Pov. Daenerys Targaryen

A guerra enfim chegou, mas eu confesso que não estou dedicando pensamentos o suficiente a ela, pelo menos não nesse momento. Jon se afastou mais uma vez para tentar convencer Sansa a ficar e acho difícil controlar meus ciúmes. Sei que é coisa da minha cabeça, é normal que um irmão queira proteger o outro, certo?

Tá, que meu irmão nunca foi um exemplo, mas Jon é, ele se importa. Claro que o problema está ai, ele se importa demais, o modo como os dois se olham me incomoda, seus olhares e gestos não são de irmãos, não sei explicar como sei disso, é uma sensação que tenho sempre que estou no mesmo cômodo com os dois, como se fosse uma intrusa no meio deles.

Meu lado racional já tentou justificar isso diversas vezes, desmentir, afinal eles são irmãos nunca faria isso. Ele não é um Targaryen ou um Lannister para fazer esse tipo de coisa, mas mesmo assim a sensação e impressão não foram embora: a cada encontro e principalmente hoje nessa luta que ele está tendo para impedi-la de lutar.

Jon não tentou me parar ou mesmo Arya, claro que estamos muito mais preparadas que Sansa e se ele tentasse me mandar ficar lhe daria um belo de um socão, mas ainda assim o modo como ele fica desesperado para que ela fique, como se fosse enlouquecer se a perdesse, me deixa com ainda mais ciúmes.

Sei que temos algo importante e que ele me ama, posso sentir nos seus olhares quando estamos sozinho e na forma como aperta minha mão mesmo quando não é necessário. Desde aquele dia no barco eu e Jon temos estado juntos, ele é carinhoso e um homem muito melhor do que eu achei que um dia encontraria. É diferente, mas ao mesmo tempo conhecido, como se eu estivesse destinada a ele, pelo menos era assim antes de chegarmos a Winterfell. Desde que chegamos Jon parece receoso, como se escondesse algo de mim, já questionei mil vezes, porém ele continua negando e eu tive que parar de perguntar. Afinal meu objetivo aqui não é ser feliz com ele infelizmente, mas sim lutar essa guerra e é hora de se concentrar nela.

Conto até dez e respiro fundo: “É tudo coisa da sua cabeça. Jon nunca se envolveria com sua irmã”. Digo colocando a mão discretamente sobre o meu ventre, ainda não tenho como ter certeza, mas tenho razões para crer que talvez esteja grávida, serão necessários mais uns meses para confirmar.

De qualquer forma, não me animo muito com a ideia, mesmo se estiver grávida não devo conseguir chegar ao final dela, tanto pela maldição que a velha bruxa me jogou quanto pela guerra.

O foco de hoje e dos próximos dias é nas batalhas, pois se não a vencermos nada mais existirá. Me obrigo a esquecer de Jon, essa possível gravidez e todo esse lance com a Sansa. O que precisamos agora é comandar o povo e os dragões de maneira que não sejamos mais amedrontados pelo espectro do Rei da Noite.

 Quando Jon volta Sansa não está mais com ele, não é que afinal ele conseguiu convencê-la:

— Posso saber o que você precisou prometer para convencê-la?

— Prometi voltar vivo.

— Espero que você cumpra. — Falo com um sorriso triste no rosto. A verdade é que tenho medo, tanto da vitória com muitas vítimas, quanto de uma derrota.

...

Passamos quase uma semana andando para chegarmos ao campo de batalha, é mais a frente do que pensávamos. Nos surpreendendo os caminhantes estão transitando com mais velocidade o que exige uma nova formulação de plano e prioridades de ação. O novo plano é colocado em prática, não é perfeito e perdemos alguns dos nossos no processo, mas necessário. Nosso plano é fingir que estamos voltando para onde viemos, enquanto preparamos um local mais afastado e conhecido por nós, para ser o campo de batalha. Já fizemos isso várias vezes, o que mostra muito bem que os caminhantes não são mesmo as criaturas mais inteligentes. Por sorte nossas perdas diminuíram, ficamos três meses nessa brincadeira de luta e em seguida não luta. Agora sei com 100% de certeza que estou mesmo grávida, porém não conto nada a Jon, perderei o bebê logo e mesmo se não perder qual a minha chance de sobreviver até o fim da gestação?

Saber só geraria preocupação, falsa esperança e desilusão na cabeça de Jon, ele não merece isso. Continuamos a ficar juntos de tempos em tempos, mas não é a mesma coisa, se eu não soubesse da relação dele com a Sansa diria que algo tinha acontecido entre eles.

Morro de vontade de perguntar, porém fico calada, com certeza é algo da minha cabeça. As lutas continuam e nossas perdas aumentam, mais uma vez meu foco volta a guerra, quero parar de enterrar corpos, perdi mais um dragão hoje. Como continuo agora?

Meus dragões sempre foram minha força de espírito, sem mais um deles, é como perder mais um filho, é como ser amaldiçoada mais uma vez. Chego a desejar de novo trocar as vidas, dar a vida desse bebê no meu ventre pelos meus dois dragões, ou pelo menos um deles. Na batalha final me perco do Jon, é tudo uma loucura, não enxergo ninguém só meus inimigos, se eu pudesse acorrentaria todos. Os nossos soldados lutam e lutam, mas não são páreos sozinhos e é aí que um dos dragões entra, defendendo o povo, mostrando que meu filho dragão não é um vilão.

Estou lutando mais um dia quando uso o meu último dragão para proteger todo o povo de um ataque matador do Rei da Noite, ao defender todos viro o próximo alvo do Rei da Noite...

Gostaria de saber o que aconteceu depois, mas o golpe do Rei foi tão forte que eu perdi a consciência e no momento achei que tinha perdido a vida. Quando eu acordo não estou na minha cabana, estou em Winterfell, sendo cuidada por Sansa.

— Onde está Jon? A guerra acabou?

— Sim.

— Vencemos?

— Sim, mas Jon...

— Jon? — Perguntei nervosa não querendo admitir o que ela iria dizer.

— Ele faleceu, Dany, logo depois de salvá-la. — Agora percebi a cor dos seus olhos vermelhos e inchados, como se tivessem chorado a noite toda e deveriam ter chorado mesmo. Eu sabia que eu já estava chorando desesperada, não tive tempo o suficiente com ele e tempo a gente nunca recupera.