Come Home escrita por Leh Linhares


Capítulo 8
Epílogo — Os 5 Estágios do Luto


Notas iniciais do capítulo

Demorei muito, mas finalmente consegui escrever o epílogo dessa história que me apaixonou tanto. Ela foi curta, mas muita intensa pra mim, espero que pra vocês também. Aproveitem!



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Pov. Sansa

Não consigo acreditar no que me disseram. Jon está morto, morreu salvando Daenerys do Rei da Noite. No início não choro, não conseguiria mesmo se quisesse simplesmente porque me nego a acreditar no que me dizem. Jon me prometeu que voltaria vivo.

A negação logo se torna raiva, se pudesse bateria em Jon por ele ter feito a besteira de ser altruísta de novo. Cuidei de Daenerys com lágrimas nos olhos num pedido silencioso aos velhos Deuses para que trouxessem Jon de volta, quase como uma troca eu tentava barganhar com os Deuses. Tinham trazido ele de volta uma vez, certo? Por que não poderiam fazer isso de novo?

 Apesar dos meus pedidos e orações nada acontece e é então que a ficha realmente caí, Jon não voltará nunca. Mais uma vez estou sozinha e me sinto mais só do que em qualquer outra vez, todas as outras eu tinha certa esperança de ser salva ou mesmo de reencontrar alguém. Agora não, tudo o que me resta é essa propriedade vazia e irmãos que já seguiram seus caminhos, pois não pertencem mais aqui  ou a mim.

Daenerys está desacordada há quase um mês, sua sobrevivência foi um milagre e de certa maneira um alívio. Pelo menos a morte de Jon não foi em vão, ele cedeu sua vida pela dela e a do filho. Por incrível que pareça a criança também sobreviveu, checo os batimentos do bebê duas vezes ao dia e é o que me mantêm sã a maior parte do tempo.

No final das contas Jon estava certo, Winterfell precisa de mim, a situação pós-guerra é mais trágica do que imaginei seria e a maior parte dos possíveis líderes do Norte está morto ou com a saúde debilitada demais para governar. Eu sou a única opção para meu povo e eu odeio me sentir presa dentro de Winterfell de novo.

Quase tudo que conhecíamos foi destruído pela guerra, se não pelas batalhas, pelos saqueadores, que não tiveram pena ou cerimônia pela situação que todos enfrentávamos. A maior partes das nossas reservas foram perdidas e a fome é um problema grave. Venho lutando contra isso através de racionamento, mas não é incomum que pessoas adoeçam pela falta de comida, principalmente crianças. Tento lutar contra isso, mas é difícil tentar resolver todos os problemas quando você mesma está com fome.

Tenho dado minhas rações para Daenerys, salvar o bebê de Jon se tornou meu objetivo. A Rainha dos dragões queria ir embora para King's Landing para assumir seu Reino, mas eu não permiti. Acho que o certo seria a dizer que a convenci a ficar pelo bem do bebê e ela aceitou. Podia partir depois que o bebê nascesse.

É certo que a inanição tem me deixado mais paranoica e ainda mais deprimida. A noite é a hora que mais penso em Jon no que ele faria se estivesse aqui e como seria aliviante poder pelo menos passar fome ao seu lado. Passo a horas tentando pensar em possíveis soluções para esse problema...

O pior de tudo é que sei que como caminhamos não duraremos muito, quase não aparecem animais na floresta, é quase como se eles soubessem da guerra com os caminhantes e tenham decidido evitar nossos arredores.

Os caçadores precisam ir cada vez mais longe para encontrar comida e por mais que eu coloque um sorriso no rosto para acalmar a todos. Não acredito que isso vá melhorar tão cedo, a chuva tem garantido a água, mas as temperaturas frias não ajudam a agricultura. Não quero abandonar nossas terras, mas a noite enquanto tento dormir é inevitável pensar nessas coisas.

Se não bastasse a fome, a maior parte das pessoas que sobreviveram estão fazendo reparos em Winterfell. Sim, acredite os caminhantes chegaram até aqui e nossa fortaleza foi alguns meses atrás um campo de batalha. Tento não focar meus pensamentos nisso, nas pessoas que aqui provavelmente padeceram, busco sempre pensar nas que sobreviveram, no povo escondido que foi salvo e já reconstrói sua vida.  

Por outro lado, perdemos mais guerreiros do que posso contar, metade do nosso exército padeceu no campo: alguns na batalha, outros de doenças provocadas pela guerra, mas nenhuma morte é menos honrada. Acabo criando um hábito inspirado em Arya, passo a repetir todas as noites, quando estou com insônia o nome de cada uma das vítimas, nenhum deles será esquecido. O sacrifício de cada um é o que garantiu a minha e a vida de todos que restaram.

Na maior parte do tempo me pergunto porque logo eu de toda a minha família sobrevivi, e confesso que às vezes eu quase sinto raiva de ter sobrevivido. Seria mais fácil ter morrido, é o que eu penso, mas os Stark nunca se conformaram com o fácil, nenhum deles teria ido se realmente pudesse escolher e eu também não posso ir, ainda não é minha hora. E assim eu continuo vivendo com os únicos objetivos que me restaram: proteger, reinar o povo de Winterfell e proteger a mulher que Jon amava e seu filho.

Daenerys acordou quase dois meses depois do fim da guerra, e eu enfim dei o meu braço a torcer. Era claro enquanto ela chorava desesperada com a mão no ventre como amava Jon e eu a admirei por isso. Nós duas choramos juntas pela perda do mesmo homem e eu contei a ela tudo o que ela tinha perdido.

Não se sabe exatamente como, mas parte do exército dos não vivos migrou para o sul e atacou King's Landing. Ao que se sabe Cersei morreu e grande parte do povo lá pereceu por conta da sua ignorância. Para os que sobreviveram a maior luta agora é para garantir que essa sobrevivência se mantenha. Tyron que também sobreviveu, quem diria, está governando como regente na esperança que ela assuma assim que possível.

O verão chegou e com ele trouxe duas boas notícias. Finalmente as plantações começaram a vingar,  e aos poucos o racionamento poderá ser diminuído. A outra notícia é que o bebê de Jon nasceu: uma menina pequena e de cabelos muito pretos, mas absolutamente linda. A pequena Joanna nasceu há duas semanas e já está preparada para se mudar para sempre. Não consigo parar de chorar, não consigo parar de pensar e se ela fosse minha? Jon e eu não tivemos tempo de ter um filho, de ter nada, só restaram as lembranças de um único beijo que eu vou levar para sempre comigo.

Acenando para Daenerys na sua carruagem, oro para que nossa menina chegue em segurança do outro lado do país. Demorou, mas nos tornamos amigas. Não das que contam tudo uma pra outra, porém das que confiam e sentem como se dividissem uma filha. Ela sabia sobre meus sentimentos por Jon, ele contou dias antes de morrer. Ele amou nos duas de formas diferentes e intensas, palavras do próprio segundo ela.

Saber que ele me amava acalentou meu coração por um lado, contudo me fez sentir ainda mais só do outro. Então, é só isso que restou pra mim uma vida de poder e obrigações?Eu repetia para mim mesma que era temporário que quando o pós-guerra terminasse eu poderia ir embora e viver minha vida em paz em outro lugar. Mas quem disse que eu consegui?

Deveria haver sempre um Stark em Winterfell e restara a mim esse fardo. As plantações continuaram vingando e o racionamento acabou, aos poucos a fortaleza e seu povo se reconstruíam, enquanto eu me sentia cada vez mais só e destruída.

Eu não queria essa vida, queria mais, porém quanto mais tempo passava menos escolhas eu tinha. As propostas de casamento vinham em montes, mas eu era esperta demais para confiar naqueles homens. A verdade é eles não querem a mim e sim Winterfell, o poder que essa grande fortaleza ainda emana.  

Apesar de achar a busca inútil como preciso de um herdeiro não posso parar a busca. Preciso de um marido que não queira meu poder e sim a mim. Por sugestão da Arya, que resolve aparecer depois de anos, acabo me casando com Gendry, um homem bonito, gentil e mais importante nobre.

Nos casamos e mais uma vez me vi tendo que construir minha vida com um completo estranho. Era difícil controlar as lembranças de Ramsay, e com o tempo Gendry aprendeu a me consolar das maneiras certas. O moreno me tocou de jeitos que eu nunca tinha sido tocada e me fez sentir um prazer que eu nunca pensei que existisse.

Não ousaria dizer que o amei como Jon, mas criamos um casamento, uma relação de co-amizade e respeito muito bonita. Para nossa alegria os herdeiros vieram: duas meninas e um menino. Não posso dizer que sou a pessoa mais feliz do mundo, porém não penso mais em morrer.

 Continuo pensando em Jon todos os dias e não acho que um dia vou parar. Meu filho mais novo tem seu nome e parece com ele cada dia mais. É quase como se eu tivesse um pedaço dele. E isso me acalenta mais do que tudo, gosto de pensar que de certa maneira Jon voltou para mim, que ele se mantem vivo através das minhas lembranças, sua filha e meus filhos. E isso nenhum tirano pode me tirar.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que leram e ainda vão ler isso no futuro. Toda fanfic minha é como um filho, amei essa aqui como todas as outras e espero realmente que vocês tenham gostado.
Beijoo



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