Sakura passou o dia seguinte numa série de reuniões com clientes e chegou a casa sem querer nada além de uma chuveirada, jantar e cama. Mas encontrou uma mensagem do pai na secretária telefônica, exigindo a presença dela na casa imediatamente. - Suspirou. - Hora do espetáculo!

Mas não correu, lavou o rosto, renovou a maquiagem e prendeu os cabelos num coque mais severo do que o normal. Com a armadura vestida, marchou para a casa e encontrou o pai esperando-a na cozinha para atacar.

— Até que enfim chegou! – O rosto estava vermelho de raiva. – Suponho que está feliz por ter me feito de idiota, Sakura! Teve a ousadia de me persuadir a alugar minha casa para aquele homem sob falsos pretextos. Todos aqueles anos atrás você se recusou a me dizer o nome do seu amante, mas Kakashi gostou demais de me revelar à verdade.

— Ele é Uchiha Sasuke, exatamente como sempre foi. – O tom da resposta foi tão diferente do da garota que esmagara dez anos antes que Haruno Kizashi piscou e recuou cauteloso. – Ele não lhe deu um nome falso e é o presidente e dono do Uchiha Live. E também o homem que mandaria prender apenas por ousar gostar de sua filha.

— Gostar! – rosnou. – Queria se casar com você, assim aposto que fez muito mais do que “gostar” de você.

— Não julgue os outros pelos seus padrões, pai. – A voz era ríspida.

— Que diabos quer dizer? – Desviou os olhos. – Se está se referindo à senhorita Anko, somos apenas bons amigos.

Senhorita Anko? Quem seria?

— Não estou interessada no seu relacionamento com esta dama, seja ela quem quer que seja. Estou falando sobre minha mãe.

Kizashi ficou vermelho.

— Suponho que Shizune vem enchendo seu ouvido de veneno…

— Com veneno ou com a verdade? Ela me contou exatamente por que sua reação ao meu relacionamento com Sasuke foi tão forte. – Os olhos impiedosos de Sakura seguraram os dele. – Estava tão determinado a se casar com a senhorita Haruno e levar uma boa vida aqui na mansão dela que garantiu que isso acontecesse na mais antiga das maneiras. Não é de admirar que pensou que Sasuke estava atrás da mesma coisa comigo.

Os olhos de Kizashi se arregalaram, as veias do pescoço incharam e as mãos se fecharam em punhos. Por um momento, pareceu prestes a ter um derrame.

— Você não parece estar bem.

— Se não estou bem, a culpa é sua. E de Shizune também, maldita seja a mulher. Sua mãe sempre lhe contou tudo, mas Shizune jurou que nunca diria uma palavra…

— Mas ela disse a verdade, não disse? Na opinião dela, você teria feito tudo para se casar com mamãe e viver aqui, e foi exatamente isso que fez. Vovô foi obrigado a aceitá-lo, a usar sua influência para conseguir sua promoção no banco.

— Eu a conquistei por meus próprios méritos! – gritou a cor forte de novo. – Shizune é uma víbora, sempre foi. Shino foi um santo por suportá-la.

— Ele a amava – disse Sakura apenas. – Este é o motivo mais comum para o casamento das pessoas, assim como eu também amava Sasuke…

— Você era jovem demais para saber o que queria.

Ela sorriu desdenhosa.

— Tinha 19 anos, a mesma idade de mamãe quando você se casou com ela.

— Se amava tanto aquele maldito Uchiha, por que não teve a coragem de fugir com ele?

— Porque você ameaçou mandar prendê-lo e destruir a vida dele, e eu o amava demais para arriscar prejudicar a vida da pessoa mais importante para mim.

— Eu não teria ido tão longe. – Desviou os olhos. – Conseguir que fosse demitido foi suficiente, afastou-o de você.

— Na verdade, não foi demitido. O senhor Kakashi apenas o transferiu para uma cidade no Norte, para uma filial da firma. Sasuke era bom demais no trabalho e não queria perdê-lo, como ele provou além de qualquer dúvida.

— E eu pensava que aquele maldito Kakashi era meu amigo. – Kizashi olhou-a com amargura. – Sem dúvida você e aquele Uchiha riram às minhas custas durante toda a festa.

— De jeito nenhum, Sasuke não gosta de mim mais do que gosta de você. Acha que o rejeitei porque não o considerava bom para a senhorita Haruno Sakura herdeira da maior mansão de Konoha, mas esperou muito tempo até encontrar a forma perfeita de se vingar.

Kizashi olhou para ela frustrado.

— Vou devolver o maldito dinheiro…

— Sabe muito bem que isso não é possível, pai. Você assinou um contrato. Além disso, a maior parte do dinheiro já está na conta comercial e me recuso a devolvê-lo. – Deu de ombros. – Sasuke pode tripudiar o quanto quiser desde que eu consiga consertar o telhado.

Ele balançou a cabeça, agora deprimido.

— Você era uma criança tão obediente…

— Qualquer mudança de personalidade em mim foi causada por você. – Nem mesmo amenizou o golpe.

Ele se encolheu.

— Se foi assim que se sentiu todos esses anos, por que diabos arranjou um emprego aqui quando se formou? Certamente não foi para me agradar!

— Não, foi para agradar a mamãe. Prometi a ela que garantiria que você cuidasse da casa e não coloca-se no lixo algo que sempre foi importante para ela e meu avô.

— Quando fez isso?

— Quando ela estava morrendo.

— Não sabia.

— É claro que não sabia, afinal você não estava por perto à maior parte do tempo.

— Não suportava vê-la enfraquecendo a cada dia. – Olhou-a através de lágrimas súbitas e as enxugou com um lenço. – E você esqueceu bem depressa a promessa quando quis fugir com o Uchiha!

— Não ia deixar o país! Era uma estudante, uma adolescente, pai, e na ocasião você tinha estabilidade financeira. Acreditei que cuidaria da mansão porque era nosso lar.

Ele fungou.

— O lar de onde se afastou no minuto em que se formou. Depois que impedi que arruinasse sua vida, não suportou viver sob o mesmo teto comigo.

Ela acenou.

— É verdade. E não impediu que arruinasse a minha vida. Apenas garantiu que não a partilhasse com um homem que se tornou um sucesso tão espetacular sem nenhuma ajuda.

— Como poderia saber naquela ocasião? Pensei que fosse apenas um alpinista social que queria viver aqui as minhas custas.

— Ah claro, do mesmo jeito que você fez com mamãe – continuou impiedosa. – Mas, diferente de você, Sasuke não estava interessado na mansão, pois ele queria apenas a mim. – Virou-se para sair. – Por falar na casa, recebi hoje um e-mail de Yamanaka Ino. Parece que tem alguém mais que quer fazer um evento aqui. Vai ao meu escritório amanhã para conversarmos. Eu o manterei informado.

— Sakura!

Ela se virou.

— Sim?

— Uchiha vai voltar aqui?

— Não. Agora que deu a festa, não tem nenhum motivo para voltar.

Kizashi suspirou.

— A vida nos prega algumas peças estranhas. Agora que o conheci, gosto do homem e de sua família também. Só queria…

— Tarde demais, pai. Sasuke conseguiu sua vingança como queria e é o fim da história.