Aquela locadora da Rua Cranbourn escrita por Trauma
Após o jantar, voltamos a nossa sessão de filmes. A distribuição dos caras no sofá agora favorecia Judd, que estava sentado embaixo de Amanda, com suas pernas sobre os ombros. Fazia carinho na parte interna de sua coxa, o que me fez ficar encarando os dois o filme todo. Tom percebeu isso.
— Para de encarar, porra! – sussurrou, empurrando meu ombro – Tá feio, já!
— Caguei – respondi, dando os ombros – O babaca tá lá, quase enfiando o dedo n...
— Olha a boca! – gritou Danny – Temos uma dama aqui.
— Puta merda, Daniel – lamentou-se Tom, batendo sobre a testa.
— Que houve?
Ela saiu do transe que o filme a deixou – Amanda era dessas que quando está muito interessada no filme ignora literalmente tudo ao seu redor. Percebi isso porque assim que percebeu o que estava acontecendo, ajeitou-se em posição de indiozinho e não deixou mais Harry afagar suas coxas – e arqueou a sobrancelha, me encarando.
— Que aconteceu? – repetiu a pergunta, colocando as mãozinhas sobre a cintura.
— Não é nada, ué – menti, dando os ombros – Continue vendo seu filme não tão bom quanto o meu.
— Cala a boca! – gritou – Quantos Oscars tem o seu amado Iluminado?
— Nenhum, mas...
— O primeiro e único filme de terror indicado ao Oscar de Melhor Filme! – berrou e pulou no sofá - Ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado e melhor som! QUATRO GLOBOS DE OURO! Contra que prêmio mesmo?
—... Um Saturn Award – sussurrei.
— Não ouvi!
— A porra de um Saturn Award! – gritei.
Ela começou a rir e se tacou no sofá. Que risada gostosa, ela tinha. Eu me sentia uma dessas princesas babacas da Disney que se apaixonam só de ouvir a voz do príncipe.
Eu tinha que ser a porra da princesa. Não podia ser o Aladdin. Eu era a maldita Branca de Neve.
— Ai, ridículo – ofegou, depois de muito rir – Você é ótimo, Poynter.
Sorriu doce e voltou a assistir ao filme, quietinha. Encostou a cabeça no sofá e esparramou-se pelo sofá, largando as pernas no meu colo, que jazia sentado na outra extremidade. O resto dos caras decidiu sentar no chão. Judd olhou pra trás, me fuzilando com aqueles olhos de macho-alfa contrariado. Limitei-me a piscar pra ele.
— É guerra agora? – gesticulou com os lábios. Apenas assenti com a cabeça – Ótimo.
Afaguei as pernas dela e fiz carinho em seu joelho, fazendo-a tremelicar inteira e soltar uma risadinha. Colocou aquele pé minúsculo – quanto aquela pessoa calçava? 2? – e o deixou ali, parado, sobre o meu nariz. Eu o mordi.
— Outch! – gritou – Você mordeu meu pé.
— Poynter, controle esses seus instintos de cópula! A menina não tá aqui pra isso. Sei que você não consegue conter esse sex-appeal todo, mas morder o pezinho dela já é demais! – ironizou Judd.
— Caramba, Poynter, se seus instintos de cópula se demonstrarem com morder meu pé, eu preciso te ensinar uns truques.
Ela piscou, charmosa, e eu devo ter ficado vermelho feito um pimentão, porque ela abriu um sorriso enorme e se jogou no meu colo, apertando minhas bochechas e gritando “Awn, ele tá tímido!” e me mordeu as duas bochechas.
Poynter 01 x 00 Judd.
Durante esse assédio e apertação pelo qual eu passava, a porta rangeu e minha irmã entrou por ela. Levemente embriagada, com um salto quebrado e fedendo a cachaça.
— Quem é essa piranha? – resmungou, entre soluços.
— É a Amanda – disse Judd, segurando a perna dela. Detalhe: Jazzie, minha irmã, tinha um crush louco no cara – A gente tá ficando.
— Cê tá bem louco?! – gritou Amanda, chutando a cara dele – Não estamos não.
— QUEM É A PIRANHA? – repetiu minha irmã.
— Ela vai dormir no teu quarto hoje, é melhor cê baixar a bola – disse Danny, que odiava minha irmã por motivos óbvios.
— Eu não quero essa garota no meu quarto. Tô indo dormir.
E subiu, tropeçando nas escadas. Amanda me encarou, encarou Danny e encarou Harry. Arqueou a sobrancelha e ajeitou-se sobre o sofá.
— Agradabilíssima sua irmã. Gostei dela. Agora eu vou ter que voltar pra casa nessas ruas perigosas que eu nem conheço porque eu não posso ir pro quarto da madame.
— Cê dorme no meu, ué.
— Eu não vou transar contigo, Poynter! – disse, ofendida.
— Não, imbecil – resmunguei, fazendo-a me dar um tapa na boca. Folgada pra caralho, a Amanda – Eu durmo no chão e você na cama.
— Tá bom! – disse, animada – Onde é que eu posso tomar um banho?
— Na pia da cozinha – ironizei. Ela me esmurrou – Puta merda, mas você é o quê, hein? Uma lutadora de MMA? Meu quarto é uma suíte, relaxa. Mas ó... E roupa?
— Cê me empresta.
— Amanda, eu não uso calcinha!
— Me empresta uma cueca e eu coloco um absorvente da tua irmã nela.
— Você teria nojo de partilhar roupas íntimas comigo?
— Claro. Não quero que minha genitália roce num lugar onde a sua já passou.
Fez biquinho e se lembrou da existência da margarita, que a essa altura do campeonato já devia estar quente. Lamentou pelos três ou quatro copos que haviam sobrado e suspirou, passando suavemente o dedo pela borda da taça.
— É sempre triste ver álcool sendo desperdiçado, né mesmo?
— Eu não gostei do seu comentário sobre minha genitália.
— Nada pessoal – respondeu rápido, para continuar o martírio – Olha a quantidade de tequila que foi jogada fora! Tequila é uma bebida cara, sabia? Eu sempre tomo cerveja ansiando pelo dia que possa desfrutar de um pouco de...
— Que papo de bêbada – resmungou Danny – Eu te imaginava bem mais gracinha.
— Verdade. Me desculpem por isso, é influência da minha mãe.
Sorriu doce e começou a recolher toda a louça que estava tacada em cima da mesa de centro. Saiu rebolado com ela para a cozinha e a lavou. Depois disso, voltou pra sala com uma carinha de criança e toda a blusa encharcada pela água fria que saía da torneira.
— Eu preciso tomar banho.
— Quer que eu vá com você? – disse Harry, sorrindo malicioso.
— Para de graça – sussurrou, corando. Judd havia acabado de empatar o jogo – Eu preciso de um absorvente, roupas e uma toalha.
Assenti e subi ao lado dela. Aquela garota encantadora ficou parada na porta do quarto enquanto eu separava suas coisas e lhes entregava. Quando pegou a roupa, sorriu.
— Eu adoro Blink! – exclamou ao ver a camiseta que eu havia separado. Ok, talvez aquilo fosse um teste que ela tivesse passado.
— Por favor, me beija – soltei, sem pensar.
Oh, merda.
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