Aquela locadora da Rua Cranbourn escrita por Trauma
Após acordar e escolher o sabor da pizza, Amanda começou a tagarelar incessantemente com minha mãe, o que fez nossa ideia de assistir aos filmes ir para o beleléu. Havíamos encontrado alguém que falasse tanto quanto tia Sam, e que gostava do que ela tinha a dizer. Suspirei, entediado.
— Agora já era – sussurrou Harry – Me desculpa dizer isso, Poynter, mas sua mãe é a maior empata-foda de todos os tempos.
— Que foda, infeliz?! Você acha que ia transar com a menina na minha casa?!
— Eu... Eu queria – gaguejou.
Ah, mais essa agora. Além de o cara querer roubar a minha... Amanda... Ainda por cima queria consumar esse ato esfregando-o na minha cara, no meu próprio sofá.
Isso é demais pra um amigo aguentar.
— Fora da minha casa.
— Como é que é?
— Cê num respeita a porra do Bro Code.
— Quê?!
— O código dos irmãos, cara... – disse Danny, colocando a mão sobre o ombro de Harry – Quero dizer... Todos sabemos o que acontece quando dois amigos querem pegar a mesma garota, certo?
— Geralmente, o macho alfa fica com todas – ironizei – Mas na minha casa não. Sai.
— Como SAI? Você vai me expulsar daqui por causa de um par de peitos?
— Não é um par de peitos qualquer. Ela critica o Kubrick! – lembrou Tom, se pondo entre nós dois – Qual é, Harry, você não precisa disso. Você pode ter literalmente qualquer garota que quiser.
— Eu quero essa.
— Puta merda... – resmungou Danny – Nós vamos ter uma batalha por causa de um maldito par de peitos que come cenoura e odeia o diretor favorito do Dougie. Só porque a menina é sensata nós não podemos...
— Vamos esquecer isso, tudo bem? A Amanda não tem muitos amigos e se ela causar uma guerra entre irmãos, vai se assustar e fugir. E quem sabe o que pode acontecer com ela sem a gente? A menina acabou de se mudar, Jesus Cristo!
Assenti, ainda puto. Sentei no sofá e esperei tia Sam e sua nova melhor amiga voltarem da cozinha, onde haviam feito uma jarra de margarita. E eu não disse errado. Uma JARRA.
— Que porra é essa?! – gritei.
— Margarita – Amanda respondeu, como se fosse óbvio – Tia Sam quer beber e eu disse pra ela que isso era ótimo. Ela quis experimentar.
— Acha que só gente jovem bebe, meu querido?! – gritou mamãe.
Eu estava surpreso com a influência que aquele serzinho minúsculo e vermelho tinha sobre minha mãe.
— E aí? Que vamos jantar? – perguntou, animada, sentando-se e servindo a margarita num copo com sal.
— Pizza – respondi, como se fosse óbvio – Já pedimos.
— E ninguém perguntou do que eu queria? E SE EU FOSSE INTOLERANTE À LACTOSE?!
— Dougie, seu insensível! – gritou mamãe.
E de repente as duas começaram a falar sobre o lixo de ser humano que eu era, e eu só queria segurar a cabeça dela e beijá-la. Puta merda, eu acho que estou apaixonado.
Quando a pizza chegou, Amanda foi à porta recebe-la. Fitamos o semblante idiota do entregador pra ela. Acho que o efeito que ela causava era universal, em todos os seres que tenham um pênis. E na Zukie, que não tem um pênis, mas tava encantada por ela, também.
Cheguei à conclusão de que Amanda é uma sereia.
Ela pagou a pizza, sorriu pro cara e entrou em casa, tacando tudo em cima da mesa e sorrindo satisfeita praquela bagunça que havia feito. Sem lavar as mãos e sem precisar de prato nem talheres, abriu uma caixa de pizza e tirou uma generosa fatia de calabresa, fazendo com que todos os quatro fitássemos a nossa sereia com cara de idiotas. Mais ou menos a mesma do entregador, suponho.
— Você tem um apetite voraz, não é mesmo? – perguntou Danny, fitando-a se sujar inteira pra comer aquele pedaço de pizza. De um jeito muito estranho, aquilo era muito sexy.
— Eu tô o dia todo mantida a um twix e uma cenoura, meu bem. Eu preciso comer.
Pausou sua refeição e virou uma tacinha de Margarita. E continuou comendo, em silêncio, enquanto todos nós variávamos a reação entre encará-la e nos encararmos. De repente, ela cuspiu um caroço de azeitona certeiramente na minha bochecha, me fazendo olhar pra ela.
— ‘Cês não vão comer não, bundões? E cadê a tia Sam?!
— Tia Sam subiu para um banho – respondi, ainda a fitando – E vamos, sim, estávamos olhando você devorar seu pedaço de pizza. Parece um programa de TV sobre o reino animal.
— Eu no caso sou a baleia?
— Por aí – brinquei, me sentando ao seu lado. Ela me empurrou – Outch.
— Me respeita.
Fez beicinho e tirou seu segundo pedaço de pizza da embalagem, agora de quatro queijos. Tinha molho entre seus peitos, em todo o contorno de sua boca e, incrivelmente, em sua sobrancelha. Era uma criança.
— Ei – sussurrei, chegando mais perto dela e fazendo-a arquear a sobrancelha e começar a corar. Logo, tava da mesma cor do molho de tomate que cobria seu decote – Tá sujo.
Passei o dedo pela sobrancelha dela, que ficou vesga tentando olhar o que eu fazia. Era a coisinha mais linda do mundo, aquela garota.
— Ai, Cristo – lamentou – Eu pareço uma criança de 10 anos.
— Que nada. Com 10 anos ninguém passou pela puberdade ainda – outro tapa me interrompeu – Será que dá pra parar de me bater?
Continuou a comer e serviu-se de mais margarita. Peguei seu copo e o virei, fazendo-a fitar-me emburrada.
— Você babou no meu copo, Poynter.
— E daí?
— E daí que eu não gosto que babem nas minhas coisas.
— Você não beija não?! – gritou Danny.
Se todos nós fôssemos super-heróis, Danny teria o poder de constranger todos que o rodeiam.
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