Capitulo 01:

Aniversário

Renesmee

Hoje eu estou fazendo cinco anos, há cinco anos eu era bem pequenininha e vivia dentro da barriga da mamãe, minha mamãe disse que eu nadava lá dentro e que eu dava cada chute, ela até achava que eu seria um menino e poderia ser um jogador de futebol. Mas eu ainda não entendia como eu seria um jogador de futebol se o futebol só existe dentro da TV.

Minha mamãe me disse que primeiro eu vivia no céu, depois Deus plantou uma sementinha, que virou um bebezinho e fui crescendo, crescendo e crescendo até não caber mais na barriga e então eu tive que sair ai minha mamãe cortou meu cordão umbilical e disse: “Bem vinda ao mundo Renesmee”. E agora eu vivo aqui com a mamãe.

— Quem está fazendo cinco anos hoje?... – minha mamãe disse acordando-me com alguns beijinhos. – Agora você já tem tudo isso... – ela mostrou a palma de sua mão para mim.

Eu já posso contar cinco dedos, são muitos dedos, até ontem eu só tinha quatro anos quando fui dormir no guarda-roupa, ai quando eu acordo agora na cama da minha mamãe, ela já está dizendo que já tenho cinco anos. É como magica. Antes eu tive três, dois, um, zero. 

— Acha que eu cresci muitos centímetros de ontem para hoje? – perguntei para ela.

— Hum... Vamos ter que medir para ver! – ela disse, sorrindo para mim, e então eu me levantei da cama.

Eu corri até a parede, ela já tá riscada de giz da ultima vez que medi, minha mamãe então olhou.

— Não... Ainda você tá com mesmo tamanho de ontem! – ela disse.

— AHHH! – eu disse e então fui até a mesa e me sentei.

Ela foi até a mesa e se sentou ao meu lado, e olhou-me sorrindo.

— Quer ver teu presente? – ela perguntou para mim.

— Presente? O Nick trouxe como mágica? – eu perguntei, agora sorrindo.

— Sim... – ela disse e então foi até o guarda-roupa e tirou uma boneca, eu sorri.

— Legal, são iguais as da TV! – eu disse, correndo até minha mamãe e pegando a caixa onde tá a boneca.

Minha mamãe ajudou a tirar boneca da caixa, e olhei para ela com um sorriso no rosto.

— Hoje vou poder ver o Nick para agradecê-lo? – perguntei a ela.

— Não, você tem que estar dormindo... – ela respondeu agora mamãe não sorria, ela sempre parava de sorrir quando eu falava de Nick.

— Mas por que eu não posso vê-lo? – perguntei.

— Porque não precisa eu falo para ele que você agradeceu... – mamãe me respondeu, e então eu abracei minha boneca.

Fiquei observando a mamãe colocar leite no nosso cereal, ela se sentou ao meu lado e nós duas agradecemos ao menino Jesus antes de comer e em seguida comemos, o cereal era de bolinha de chocolate que é o meu preferido, ela disse que o conseguiu devido ser o meu aniversario. Só que eu só fazia aniversario uma vez no ano, então teria que esperar só ano que vem para conseguir o cereal de bolinha de chocolate de novo.

Assim que terminamos mamãe me deu minha vitamina, ela dizia que ela servia para eu crescer bastante forte, eu a engoli e depois me levantei, fui até minha cama e me abaixei para pegar meu caderno, eu havia feito um desenho para ela, logo eu corri para mostrar.

— OOh mamãe é o desenho do meu aniversario! – eu disse para ela, e mostrei a folha onde fiz o desenho.

No desenho era eu, era ela e um lindo bolo de aniversario com velas, que nem eu já vi na TV. Mamãe pegou o desenho, o olhou e ficou com os olhos molhados, eram lágrimas.

Quando choramos sai lágrimas, uma vez eu chorei muito e mamãe me disse que se eu continuasse minhas lágrimas iriam secar. Eu já tinha aprendido que quando vamos chorar nossos olhos ficam molhados e então começam a cair varias e varias lágrimas e isso acontece quando estamos tristes.

— Mamãe seus olhos estão molhados, não chora, se não as lágrimas vão secar e nunca mais você vai ter elas de novo!- eu disse para ela e então ela sorriu para mim e passou a mão nos olhos.

— É você tem razão, mamãe não vai chorar, vamos fazer um bolo de aniversario, quer? – ela perguntou e então eu sorri.

— Igual da TV? – perguntei para ela.

— Sim! Igual da TV! – ela respondeu.

Eu sorri.

— Legal! – eu disse.

E então mamãe foi preparar o bolo e eu a ajudei quebrar os ovos e mexe-lo, só que ele vai demorar muito tempo para ficar pronto, foi o que ela disse quando o colocou no forno. E durante nossa espera, mamãe sentou no sofá, eu sentei do lado dela e começamos a assistir a TV.

Mamãe me disse que ainda eu estou conhecendo o mundo, mas ela fala que eu sou bem esperta, eu já sei de muitas coisas, eu já sei que tem coisas que só existem na TV como Dora a aventureira e não é real e sei que existem pessoas na TV que são iguais a nós essas sim são reais, principalmente as pessoas das novelas que minha mãe assiste, essa parte eu ainda acho confusa e não consigo entender, pois ela diz que eles estão brincando de fingir, mas que eles sim são reais, embora só consigo vê-los na TV.

Eu já sei que a aranha é real e o rato é real, eu cheguei a ver eles, pena que a mamãe os matou, eu chorei porque queria ficar com eles para mim, pois assim teríamos mais companhia, mas mamãe disse que não precisávamos deles porque já basta termos uma a outra. 

— A aranha que você matou ela volta para a TV? – perguntei para minha mamãe, ela então me olhou.

— Não... – ela disse para mim e ela ficou calada por um tempinho, acho que ela estava pensando, eu sempre sei que a mamãe consegue uma resposta quando ela olha para o chão e fica algum tempinho em silencio, a mamãe era muito inteligente, mas também ela estava no mundo a mais tempo do que eu. – Eles vão para o céu... – ela disse olhando para mim.

— O céu da TV? – perguntei a ela.

— Existe um céu de verdade Nessie, ele fica ali! – ela disse apontando para claraboia, ela ficava no teto do nosso quarto e lá tinha uma luz quando estava de dia e ficava tudo branco, mas não tinha nada mais do que isso. Quando estava de noite a claraboia ficava escura, minha mamãe me ensinou que essa diferença faz com que nós sabermos quando é de dia e quando é de noite, mas também ela olhava no relógio, lá podíamos saber que hora são, ela diz que isso é muito importante porque precisamos dormir quando está de noite, eu ainda não sabia olhar o relógio, mas a mamãe me prometeu que até eu ter seis anos de idade ela irá me ensinar. Ela já me ensinou tantas coisas!

— Ali é a claraboia! – eu disse para ela.

— Sim, mas ele fica depois dela... – ela respondeu.

— Mas... A gente não consegue ver se não for pela TV, como você sabe que ele existe então? – perguntei para ela.

— Eu vi em um livro... – ela respondeu. Mamãe sempre dizia que tudo que ela aprendia é nos livros, ela está me ensinando a ler para que eu possa ler eles um dia também, assim eu vou aprender mais sobre o mundo. Eu já sabia escrever meu nome, então acho que não falta muito.

E então mamãe voltou a olhar para a TV. A gente assistia muita TV, mas também tinha muitas outras coisas para se fazer durante o dia, toda manhã a mamãe me deixava dar uma xícara de água para planta que vive na pia, fazemos isso todo dia porque ela não sabe beber água sozinha, mamãe diz que isso é necessário para que ela não morra e volte para o céu. Agora eu já sei que quando a gente morre não voltamos para TV e sim passamos pela claraboia. Ela diz que morrer é bom para quem já tem cem anos e se cansou de brincar, eu já não quero morrer, não quero voltar para o céu nunca.

A planta que mora na pia é verde, mas ás vezes Deus queima uma folha dela e ela cai, mas depois mamãe diz que irá nascer outra. Só que a planta não fala e também não anda, eu queria algo que se mexesse e andasse como um cachorro, mas mamãe diz que eles só existem na TV.

Depois mamãe e eu fazemos alongamento todos os dias, eu já conseguia ficar cinco segundos me equilibrando com uma perna só, mamãe consegue ficar mais tempo que eu e quando eu ficasse do tamanho dela eu iria conseguir.

Eu já cresci bastante, mamãe mede toda semana o meu tamanho na parede e ela risca com um giz e eu fico feliz quando cresço um centímetro, pena que hoje não cresci nenhum, eu acho que é porque eu já tinha me medido ontem e não deu tempo. Minha mamãe fala que ela é pequena e que provavelmente eu serei maior do que ela, ela ás vezes fala que eu puxei o papai, mas eu não sei o que quer dizer isso. Não existem papais, eles vivem apenas dentro da TV.

Mamãe também brinca comigo todos os dias dentro da banheira, ás vezes a gente faz bolinha de sabão, uma vez uma quase chegou a claraboia e ai ela estourou, durante a tarde eu assisto televisão e mamãe faz o almoço, depois do almoço ela assiste suas novelas e ela costuma assistir sempre jogo de basquete, eu nunca entendia porque os homens da TV gosta de jogar uma bola na cesta, ela fala que se chama esporte, mas ainda eu não entendia porque ela gostava tanto de assistir isso.  Ela não me explicou, mas uma vez ela chegou comentar de um dos homens da TV.

— Aquele ali, ele é lindo não é? – ela perguntou uma vez para mim, apontando para um homem da TV, ele era bem grande e bem branco, seus cabelos pareciam ser marrons, ele estava correndo e tentava jogar a bola na cesta, pelo menos foi o que mamãe me ensinou, que aquilo que eles jogavam a bola se chamava cesta e servia para eles fazerem pontos, quem tivesse mais pontos ganhava.

— Eu não sei o que seria lindo? – perguntei a ela.

— Você é linda... – ela disse para mim e me deu um beijo no rosto.

— Então você também é... – eu disse para ela, e ela sorriu para mim e voltou a olhar para TV.

— Aquele homem ali se chama Edward! – ela disse para mim assim que aquele homem branco apareceu novamente na TV, ele aparecia bastante acho que é porque ele acerta a bola na cesta.

— Como você sabe? Ele nunca saiu da TV! – eu disse a ela.

— Mas na TV falaram que ele se chama Edward e tem o nome dele também atrás da camiseta! – ela respondeu.

Tem coisas que eu ainda não entendia, mamãe diz que é porque eu sou muito pequena, ainda é pouquinho para entender algumas coisas, tipo, como as pessoas entram na TV ou sai da TV, que é o que acontece com Nick, mamãe nunca me deixou ver ele, mas ele é quem trás as coisas para nós, é como mágica, ele consegue passar pela porta que vive trancada porque ele tem a mágica para desvendar o código, quando ele passa pela porta ele vai para outro planeta que é o que fica na TV.

Um dia eu queria ir para TV também, mas mamãe sempre diz que ainda não temos o código, um dia iriamos ter. Espero que seja antes de eu ter seis anos.

— Mamãe você não deu água para planta, se a gente não der ela vai voltar para o céu! – eu lembrei a mamãe, ela lembrava todo dia, mas hoje ela tinha esquecido acho que é porque é meu aniversario.

— Ah é verdade filha, vem, vamos dar água para ela... – ela disse e então eu peguei na pia uma xícara de água e dei para planta beber.

Mamãe também se lembrou de que nós não fizemos alongamento e então logo o começamos, eu consegui ficar bastante tempo segurando a minha perna, acho que é porque estou crescendo.

Depois do alongamento o bolo ficou pronto, mamãe o tirou e colocou chantilly em cima e com a faca ela desenhou o numero cinco em cima do bolo.

— Tcharaaan! – ela fez sorrindo para mim.

— Mas não é igual da TV! – eu falei para ela. – Faltam as velas!

— É que não temos velas... – ela respondeu.

— Por que você não pediu para o Nick trazer como mágica? – eu perguntei.

— Ele já trouxe sua boneca, ele não trás muitas coisas... – ela disse.

— Esse bolo é uma droga, eu não o quero! – eu falei para ela e depois fui até a cama, deitei nela e abracei o travesseiro.

— Nessie o bolo é bom, ele só não tem velas... – mamãe me disse, aproximando-se de mim, ela sentou do meu lado e passou a mão no meu cabelo, olhei para mamãe e vi que ela parecia estar triste, eu não gostava de ver a mamãe triste, ás vezes ela ficava assim também enquanto assistia TV, principalmente nos jogos de basquete, ás vezes também durante a manhã ou um pouco antes de me colocar no guarda-roupa que é um pouco antes do Nick chegar.

— Pede velas quando eu fizer seis anos no mês que vem... – eu pedi a ela.

— É ano que vem Nessie! – ela disse.

— Ano que vem vai demorar muito falta doze meses... – eu disse, virando e olhando para claraboia, ela já estava ficando escura.

— Bom, mas enquanto isso vem comer se não eu vou comer tudo... – mamãe disse.

E então eu fui comer bolo com a mamãe, mesmo não tendo velas estava gostoso e eu comi três pedaços grandões e então sentamos no sofá e começamos a assistir TV. Mamãe trocou o canal para o jogo de basquete e ai então comecei a ver aqueles homens jogando bola na cesta.

Mamãe ficou um tempinho em silencio enquanto assistia, acho que ela estava esperando o homem branco de cabelos marrons aparecer na TV. As vezes o rosto dele aparecia bem grande na tela, outras vezes ele aparecia de longe e dava para ver até suas pernas.

— Se eu te disser que seu pai é um homem da TV... – mamãe falou olhando para mim.

— O homem branco de cabelos marrons? O que joga a bola na cesta?– perguntei a mamãe.

— Isso... – ela disse.

— Mas você disse que os papais namoram as mamães e você não tem namorado, você disse para mim que eu sou só sua e que não existe papai e...

— Eu sei o que eu disse! Mas é que você era pequena e não iria entender...

— E como você o namorou se ele é da TV? Você entrou nela? Você já teve em outro planeta?

— Isso foi bem antes de você nascer, mamãe o conheceu...

— Ele saiu da TV e venho até aqui?

— Não, a mamãe que não vivia aqui Nessie, mamãe o conheceu lá fora e então ele namorou a mamãe e você veio parar na minha barriga, por isso ele é seu papai...

— Mas eu não o vi ainda, ele vai vir aqui que nem o Nick? Ele vai sair da TV e ter a magica que desvenda o código? – perguntei.

Mamãe ficou me olhando por um tempinho, depois olhou para TV e a desligou. Eu não entendi o porquê ela fez isso.

— Não filha, ele nunca vai conseguir vir aqui... – mamãe respondeu.

Depois mamãe olhou a hora no relógio, ela sempre fazia isso quando estava no horário do Nick chegar e então me pegou no colo.

— Já tá na hora de você dormir... – mamãe disse.

Eu não queria dormir, mas não falei nada para mamãe, ela me colocava no guarda-roupa de qualquer forma. Lá tinha cobertor e um pequeno colchão para que eu pudesse dormir, minha mamãe me deixou ficar com minha boneca e então eu deitei e abracei-a.

O guarda-roupa era cheio de buraquinhos e por causa deles eu conseguia ainda ver o lado de fora, vi que minha mamãe estava sentada no sofá, deve estar esperando o Nick chegar.

Eu fiquei olhando para ela, enquanto esperava para ver se eu dormia, e esperei, esperei e esperei.

Enquanto eu esperava minha cabeça rodava com tantas informações, eu aprendo coisas novas todos os dias e ao fechar os olhos eu me lembro delas. Hoje eu aprendi que quando morremos voltamos para o céu, mas ele não fica na TV, ele fica depois da claraboia, aprendi também que tenho papai embora ele não me conheça e eu também não o conheça, só consigo ver ele na TV, eu tenho papai porque a mamãe um dia foi para outro mundo que fica na TV e lá ela namorou o papai e foi por isso que Deus plantou a sementinha na barriga da minha mamãe e eu estou hoje aqui no mundo com ela.

Eu aprendi que o papai sabe jogar bolas nas cestas e se chama Edward, mamãe o acha lindo, mas ainda não sei o que significa, só sei que eu também sou linda e ela também.

Eu sorri e então fechei os olhos, abracei minha boneca bem forte, então fiz a oração que mamãe me ensinou. “Anjo da guarda, doce companhia, não me desampare nem de noite e nem de dia, AMEM”.

Fechei os olhos e então me lembrei de uma pergunta: Para onde vamos quando dormimos? Será que passamos pela claraboia? Se eu me lembrar disso amanhã perguntarei a mamãe.

Depois disso eu dormi, e eu sabia que quando eu acordasse, eu não estaria mais no guarda-roupa e sim na cama da mamãe. Estaremos juntas de novo, como todos, todos e todos os dias. Pois mamãe, sempre, sempre está do meu lado.

Continua...