Me chamam de Corvo (Bulletproof) escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 24
EPILOGUE Pt. 2: Que a força esteja com você


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora... Muita coisa acontecendo...



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~MSGON

Eu não sei te explicar o que eu estava sentindo naquele momento. Para começar, Jeon Minji no segundo mundo. Era algo extremamente inimaginável para mim. Minji sempre foi aquela pessoa querida e distante, aquela que nem se cogita algum tipo de aproximação. E, de repente, justo quando estou em meio a uma crise em busca de alguma menina para chamar de minha, justo quando as duas versões existentes da minha esposa estão completamente distantes, ela me aparece. Não, eu não era apaixonado por Minji, e nem tinha nenhuma pretensão com relação a ela. Talvez por isso minha surpresa. Porque pensa: o que fazer agora que eu a tinha? Como seria nossa relação agora que ela estava no mesmo plano que eu? Bom, isso era UM lado…

O outro: o que raios ela estava fazendo ali? Minji morta era uma ideia perturbadora, porque ela parecia feita para viver, feita para ser uma policial e acabar com bandidos. Minji morta em uma troca de tiros com uma gangue foragida da polícia, encontrada em Taebaek? Minji morta por um tiro do Baekhyun? Aish! Eu tinha aprendido na marra a não odiar Baekhyun, mas às vezes ele me deixava meio bolado. Como dava uma mancada daquelas? Matar Jungkook sob ameaça, a gente releva. Matar Minji numa troca de tiros? Me poupe.

Tá, ok. Eles não se conheciam. Afinal, a relação entre eles começou, na dimensão da Noona, através de Hoseok agindo no primeiro mundo e fazendo as pessoas certas se encontrarem, tudo com o objetivo de desmascarar Chung Ho. Mas como fazer isso se o coitado foi influenciado por Abraxas, que nem ali estava mais (só o cabrunco do Abel)? Como fazer isso se o verdadeiro Chung Ho, que agora prevalecia, não tinha tido a intenção de fazer aquelas coisas, e mesmo assim se arrependia? Muito complexo.

Não foi difícil salvar Minji. Ela era uma heroína, é claro. E, como se não bastassem as asas brancas, ela ganhou quatro. Quatro fucking asas brancas por heroísmo. Depois disso, ela foi liberada. Eu meio que fiz que ia levantar, mas parei ao ouvir Hoseok pigarrear.

— O turno acaba meia-noite, né?

— É — eu disse, voltando devagarzinho para o lugar.

— Não se acostuma, Min Yoongi. Vou te dar essa moral só hoje.

— Valeu, Hoseok — eu disse, abrindo um sorriso.

Saí da Sala de Julgamentos pela mesma porta que ela. Olhei para os dois lados e a vi no final do corredor à direita.

— Minji! — chamei.

Ela olhou para trás e abriu um sorriso. Cara, não é por nada não, mas… Ela estava muito bonita com aquelas roupas à moda Omelas. Os cabelos soltos e cacheados estavam realçados pela tiara que os prendia atrás da orelha. Algumas mechas caíam sobre os ombros, castanhas pela morte em ocasião urbana.

Encarei-a por algum tempo naquela distância, não só porque ela sempre pareceu intocável depois de crescer, mas também porque eu nunca tinha parado para pensar no que faria em uma situação daquelas. Finalmente, cruzei aquele caminho e a abracei muito forte. A tinha visto pela última vez em Daegu e, na dimensão anterior, na casa dela em Seoul, no meu aniversário. Naquela ocasião, que foi a única vez em que a havia encontrado adulta, eu não pude abraçá-la. Era a primeira vez que nos tocávamos depois da separação em Daegu.

— Olha só pra você! Tá tão alta!

— Eu era pequena porque era criança, Agust. Não fala bobagem. Então… Essa é a sua casa?

Conversamos um pouco sobre a Casa do Juízo, sobre Omelas, sobre o Segundo Mundo e como funcionavam as coisas ali. Expliquei sobre os espectros e muitas dessas coisas, até que ela me perguntou sobre o Baekhyun.

— Você sabe onde ele está?

— Como assim? Ele… Ele morreu também?

— Sim. Foi uma troca de tiros, eu também o matei.

— Credo. Tipo Romeu e Julieta. Então… Não sei, mas posso descobrir.

Perguntei a um espectro que me informou que Baekhyun estava sendo punido. Eu fiquei me perguntando quem tinha permitido uma coisa dessas, e fomos atrás na tentativa de parar se ainda estivesse acontecendo. Entramos sem bater na porta da sala que o espectro tinha indicado, e encontramos Baekhyun deitado sem camisa e de bruços em uma mesa de metal, e Sunghee fazendo uma tatuagem em suas costas.

— Ahn… O que é isso? — perguntei, confuso.

— É uma punição, não tá vendo? — perguntou Sunghee, sem tirar a atenção do desenho.

— Não parece uma punição — eu disse, rindo.

— Não parece? — perguntou Baekhyun. — Tá doendo pra caralho.

— Tá — dei de ombros. — Quando vocês terminarem mandem chamar a gente em Daegu.

Eu fechei a porta e recebi a esperada pergunta da Minji, querendo saber como a gente ia parar em Daegu. Então, expliquei a ela sobre meu segundo lar. A levei para conhecer minhas crianças, que ficaram muito felizes em recebê-la. Nunca imaginei que um dia pudesse levar Minji para conhecer a casa inspirada em nossa cidade natal. Ela ficou encantada com tudo o que viu. Depois de mostrar a ela todas as salas e apresentar todas as crianças, ficamos passeando pelos corredores e conversando sobre como estavam indo as coisas. Ela me contou que o trabalho ia bem e tudo estava dando certo, mas chamaram ela para ir atrás da gangue, porque tinha saído no jornal que eles estavam foragidos e pessoas que os viram em Taebaek denunciaram. Havia sido um longo trabalho até finalmente encontrarem seu esconderijo e esperaram que saíssem. Chen e Xiumin também foram atingidos no tiroteio, mas ela não sabia o que tinha acontecido com eles. Só tinha certeza de que Baekhyun estava morto porque ela ainda conseguiu resistir um pouco depois de ser atingida, então o viu. Tinha atirado na cabeça dele, e ele no tórax dela, logo abaixo da clavícula. Depois de um assunto tão alegre, ela perguntou como estava a minha esposa. Depois de responder ironicamente com “Que esposa?”, contei a ela todo o drama das minhas duas e inacessíveis Sunghees. Ela ficou preocupada com meu emocional e perguntou como eu estava. Decidi não mentir. Eu estava em crise comigo mesmo, sem nenhuma motivação para lutar pela Sungheezinha, sem nenhuma esperança com relação à Sunghee Noona e sem força nenhuma para acreditar que ainda havia algum sentido na minha existência.

Até hoje eu fico sem acreditar muito no que aconteceu em seguida. Eu fui loucamente empurrado para uma parede em um canto mais escuro da casa. Minji era uma policial, então me imobilizar não foi nem um pouco difícil para ela. Antes que eu pudesse me assustar com o ataque repentino, Jeon Minji me beijou.

No primeiro momento, eu fiquei levemente em pânico por puro reflexo. Eu era casado, né? Não. Não era. Essa foi a única coisa na qual eu precisei pensar. De resto, foi só lembrar e sentir. Lembrar que aquela era Jeon Minji e sentir que, depois de tanto tempo sem ao menos poder tocá-la, eu finalmente tinha a oportunidade de tê-la junto a mim por um instante. Me deixei levar para onde meus sentimentos estavam me guiando, e correspondi. Ela sentiu que eu não tinha mais resistência e foi me soltando. Eu segurei o rosto dela e perdemos alguns minutos em Daegu.

Se eu amava a Minji? Pergunta complexa. Pode soar estranho quando você pensa na cena anterior, mas a Minji sempre foi e sempre seria como uma irmã. Aquilo era uma exceção, um reencontro no qual a situação muda por um momento onde possamos compensar toda a ausência dos últimos anos. Esse foi o sentido que atribuí àquela demonstração de carinho, mas ainda havia algo a mais.

— Isso é pra te dar força, Agust D — disse ela, ao me soltar. Eu não pude deixar de rir um pouco, e ela fez o mesmo. — Vê se não desiste.

Pois é. Nosso jeitinho de demonstrar apoio quando a situação está ruim. Pode parecer loucura e talvez seja, mas a minha relação com Minji nunca foi normal.

Fomos andando de volta para a entrada da casa, na intenção de voltar à Casa do Juízo. Finalmente, comecei a pensar racionalmente sobre o que tinha acabado de acontecer. Eu não tinha nenhum problema em beijá-la, já que minhas duas Sunghees eram simplesmente amigas naquele momento. Já com relação a Minji… Bom, ela tinha alguém para chamar de seu, mesmo que ainda não estivesse oficializado. Todo mundo já sabia que isso aconteceria muito em breve. Pensei se deveria me sentir mal por fazer a Minji “trair” o Baekhyun de certa forma… mas era o Baekhyun. Se fosse qualquer outra pessoa, talvez eu me importasse, mas era o Baekhyun.

Assim que saímos da casa direito para o jardim de Omelas, notamos uma pessoa voando.

— O que é isso? — perguntei, meio confuso.

— É uma pessoa voando, né? Achei que isso fosse normal aqui.

— E é, mas… Essa pessoa tem uma asa só. Como se voa com uma asa só?

Depois de observar mais um pouco, descobrimos que era Baekhyun. Ele pousou na parte superior da casa, onde Sunghee Noona o observava atentamente. Eu e Minji abrimos as asas e voamos até lá. Preciso admitir que as quatro asas dela eram impressionantes.

Lá em cima, Sunghee Noona estava com seu traje de voo que a fazia parecer uma super-heroína. Baekhyun ainda estava sem camisa, que nos deixava ver sua tatuagem com o desenho de uma asa na parte esquerda das costas, em oposição à sua única asa branca na direita.

Sunghee explicou que o Juízo criou um novo tipo de punição para casos como o de Baekhyun, quando a maldade é imposta. O réu não chega a ganhar asas para não precisar arrancar, porque é demasiadamente doloroso e não é justo. Para que consiga voar e tenha a chance de recomeçar, ele ganha uma asa branca de verdade como forma de salvação e uma asa negra de mentira como forma de punição. A tatuagem é mágica e projeta a força invisível de uma asa que reflete os comandos da primeira, por isso a primeira tem que ser do lado de comando (o lado da mão que se escreve). Ela o estava ensinando a voar.

Cara, se tinha algum restinho de culpa por aquele beijo, foi embora.



Hoseok era um cara com quem eu conversava bastante nos últimos tempos. Não só porque ele era líder do Juízo, mas porque ele estava em uma situação parecida com a minha. Ele também tinha duas Michungs. A diferença era que a Michung Noona, assim como Namjoon e Jin, nunca saía da dimensão dela, e a Sunghee Noona saía, então eu ficava em uma situação mais apertada. Hoseok tinha seguido meu exemplo e visitava a Michunginha sempre que podia. Era ainda mais importante no caso dele, porque ela vivia naquele hospital, então ele fazia o que podia para ser sua companhia. Sungheezinha não precisava tanto de mim, já que era bem o oposto. Ela não só podia andar; usava bastante as pernas, treinando. Tinha a companhia do Samha, que sempre fazia as mesmas atividades extracurriculares que ela, e os amigos de todas essas turmas. Eles faziam Cheerleading, dança, violão e inglês. Era legal ver que a Sungheezinha tinha tipo um irmão mais velho, e eu não me sentia tão culpado de não visitá-la tanto. Até que veio a confissão. Estávamos conversando no quarto dela, quando ela me contou que os colegas da escola estavam fazendo piada com ela por ela ser filha de dois homens, e aquilo me deixou muito irritado. Perguntei se ela não tinha vontade de aprender alguma luta para dar uma surra naqueles moleques, já que ela já fazia um monte de aulas, mas ela me surpreendeu com sua pureza novamente.

— Eles não sabem o que fazem, Suga. Eles não fazem isso porque acham que é errado, mas a sociedade ensinou que isso é errado.

— É, eu acho que você está certa. Mas você já tem sete anos. Não pode deixar que eles continuem achando errado.

— Não posso fazer muita coisa. Não importa quantas vezes eu fale se eles não querem ouvir. São ignorantes, não há nada para ser feito.

De repente, Namjoon entrou no quarto.

— Filha, a gente vai ter que dar uma saída.

Sungheezinha logo notou que ele estava estranho.

— Aconteceu alguma coisa?

— Sim. A Michung…

— Foi pro meu lado — notei. — Já estava na hora. Eu vou ter que ir, e você também. Não deixe ninguém ficar triste, Sun. Ela pode correr e voar agora.



A chegada de Michung foi um motivo de festa. Todo mundo estava esperando por ela, principalmente o Hoseok. Ah, cara, bateu uma invejinha branca. Hoseok era sortudo de já ter a SUA Michung. Eu não sabia quanto tempo ainda teria que esperar, eu não tinha previsão. Esperava que o trabalho com Sungheezinha estivesse indo certo, mas não podia ter certeza. A chegada de Michung implicou em sua adesão ao Juízo, nos fazendo ser um grupo de dez.

Para te atualizar, Minji e Baekhyun se casaram aproximadamente duas semanas depois de chegarem. Os dois passaram a morar em uma ilha urbana próxima a Omelas e atuar na Ala A da Casa Daegu. No começo, Minji achava estranho não precisar de açúcar, e acabou não se acostumando. Afinal, virou mania, então ela continua sempre comendo doce.

O tempo passa rápido quando a vida é feita de julgamentos e espetáculos. Aliás, a vida não, né… A morte. Mas enfim. Não é tão diferente. A única coisa que me fazia entender que o tempo corria era o acompanhamento à Sungheezinha, que estava cada vez menos “inha”. Quando fui ver, estávamos às vésperas do seu aniversário de 15 anos.

A festa tinha sido planejada durante um ano por Jin e Namjoon, que queriam que tudo fosse um sonho. Sungheezinha estava empolgadíssima com esse dia de princesa que ela ia ganhar, pensava o tempo todo em todos os detalhes. Ela era cheia de amigos, ao contrário da Sunghee Noona, que só tinha a Michung naquela época. A noona devia estar lá com seus 30 anos de existência, já, com aquela carinha de anjo de 15. As duas estavam cada vez mais parecidas fisicamente, mas as mentalidades eram um tanto diferentes, por terem tido criações distintas. No fundo, o caráter era o mesmo. Jin Hyung e Namjoon a tinham criado bem. O que as diferenciava era a personalidade. Elas se vestiam e se penteavam completamente diferentes, é óbvio, embora eu já estivesse prevendo algo mais à moda de Omelas para a festa. Sunghee Noona tocava piano, Sungheezinha tocava violão. Todo sábado à noite, Sungheezinha ia ao shopping com algum dos grupos de amigos que ela tinha (ou com a turma do violão, ou com a turma da escola, ou com a turma do inglês, ou com os juniores do time), e Sunghee Noona passeava no jardim que só existia em sua própria dimensão, já que tinha sido feito pelo Jin de lá. Era onde ela ia quando queria pensar sem o estresse do Juízo.

Para Sungheezinha, esse sábado seria uma exceção. Ela não teria que escolher entre um grupo de amigos ou outro, porque todos estariam presentes em sua festa. De manhã, ela e os pais já tinham ido para o salão maravilhoso que eles alugaram. Quer dizer, maravilhoso para ela, porque para mim era só mais um salão como qualquer outro da minha casa. Ela ficava andando pela festa, doida para que cada detalhe estivesse em seu devido lugar. Eu fiquei observando pelo espelho d’água, rindo de como ela estava eufórica, e de como ficava nervosa quando algo parecia estar dando errado, como por exemplo, os guardanapos de pano chegaram em uma tonalidade diferente daquilo que ela estava pensando. Mais ou menos nessa hora, Jin apareceu ali e ficou igualmente doido. Já Namjoon disse que era tudo a mesma coisa e que havia coisas mais importantes para se preocuparem.

— Por exemplo, você não devia estar no spa?

— Eu vou só depois do almoço, pai.

— Sam vai trazer comida pra gente almoçar aqui, aí ele vai levar ela lá — explicou Jin. — Inclusive, vai juntando suas coisas que ele já deve estar vindo, né…

De fato, Samha não demorou muito para chegar. Eles almoçaram e depois os dois foram para o spa. Samha estacionou o carro em frente ao spa.

— Pronto. Vê se não se atrasa.

— Aí já não é comigo, moço. Depende do pessoal do spa.

— Entendi. Bom, então tenha uma boa tarde de princesa e fique linda… Quer dizer… Eu sei que você vai ficar ainda mais maravilhosa.

Algo começou a se mexer dentro mim. Aquilo me pareceu ligeiramente estranho. Sungheezinha riu igual uma bobinha, agarrou no pescoço do Samha e tascou-lhe um beijão. Assim, do nada. Preciso dizer que meu queixo caiu.

Eu não sei no que eu estava pensando. Eu não sei se estava pensando em alguma coisa específica, mas acho que foi como se os dois mundos desabassem na minha frente. Tudo o que eu tinha visto nos últimos onze anos era uma ilusão. O que eu achava que fosse uma relação de irmãos era algo a mais. E o que eu queria que fosse algo a mais... era só amizade. A tosca amizade de uma garota e um fantasma idiota que achou que sua simples existência seria o suficiente para conquistá-la de novo, exatamente do mesmo jeito. Não era. A situação era diferente, o contexto era diferente. Não era uma menina solitária em uma casa imensa, era uma menina muito bem-acompanhada em um mundo imenso, cheio de gente interessante e palpável, com corações pulsantes e hormônios à flor da pele, e ela nem precisou ir tão longe assim.

Eles devem ter dito algo mais antes que ela entrasse no spa, mas eu não fiquei para ver. Saí da Sala da Eva me segurando para não jogar tudo para o alto. Onze anos de trabalho jogados no lixo! Fui direto para a sala de jantar, onde estava tendo um tipo de reunião de confraternização pelo aniversário da noona. Não que eu estivesse pensando direito, mas consegui me controlar para não sair quebrando tudo. Mesmo assim, todo mundo notou meu mau-humor e parou de rir na mesma hora.

— Credo, o que aconteceu? — perguntou Taehyung. Logo ele, coitado.

— O que aconteceu? Aconteceu que seu primo é o maior fura-olho, Taehyung! Foi isso que aconteceu. Depois de esperar fucking quinze anos na esperança de ter a MINHA Sunghee, descubro que ela está super apaixonada por outro cara.

— Samha? — perguntou ele, todo confuso.

— E toda aquela palhaçada de visitar a Sungheezinha toda semana serviu pra merda nenhuma. Eu sou só o fantasminha camarada, mas fui idiota de achar que meu esforço seria recompensado pela segunda vez.

— Calma, Yoongi — pediu Michung. Se alguém no mundo tinha autoridade para me pedir calma, era ela. Não só por ser uma empata, mas também por ela ter passado por uma situação semelhante à Sunghee. — Não é bem assim que funciona. Quando ela chegar aqui, vai lembrar de tudo.

— Mi, sabe porque funcionou com você? Porque a história se repetiu, exatamente igual à primeira vez. Mas esse não é o meu caso. Eu confiei que seria a mesma coisa, mesmo ela estando em um plano diferente, mas eu estava errado. Eu nem sei quando ela vai vir, talvez ela envelheça no primeiro mundo, e o que eu posso fazer? Absolutamente nada. Talvez seja para ser assim dessa vez, não é? — perguntei para Abel.

Era outro que eu tinha aprendido na marra a não ter raiva, mas ela começava a voltar. Tudo o que estava diferente tinha relação direta com a existência dele e inexistência do irmão.

— Você acha que eu fiz algo de mau? — perguntou ele, um pouquinho revoltado, o que era tipo… inédito. — Você REALMENTE acha que eu faria algo de mau?

— Não, é um santo, mesmo! A pura inocência! Você não percebe? Não tem como tudo ser perfeito, Abel. Sempre que você faz bem a alguém, faz mal a outra pessoa, que no caso sou eu. Valeu mesmo pela consideração.

Eu não estava mais aguentando ficar ali. Muita gente querendo me consolar, e eu não queria ser consolado. Eu não queria que tentassem justificar ou dizer que tudo ia ficar bem. Estava tudo errado, e ia continuar daquele jeito. Não havia nada para ser feito, então eu só queria ficar sozinho e sofrer sozinho com a minha própria sina.

Eu saí da sala cheio de raiva, e surpreendentemente, a Sunghee Noona veio atrás de mim.

— Quero ficar sozinho — tratei de deixar claro, enquanto continuava andando.

— É assim que você trata as situações ruins? Se afastando de todo mundo? — inconvenientemente, ela me seguia.

— Eu achei que você soubesse. Achei que me conhecesse bem, mas pelo visto você não é a mesma Sunghee, de fato.

Percebi que ela não ia me largar, então fui em direção a uma janela.

— Você sabe que eu sou mais sua do que ela, não sabe? Você mesmo disse. Ela não é apaixonada por você. Eu sou.

— Você é apaixonada pelo Yoongi do seu tempo.

Alcancei a janela e me sentei nela, pronto para pular.

— E eu sei que ele está aí em algum lugar.

Eu estava prestes a pular, ignorando-a completamente, quando ela me abraçou por trás, envolvendo meus braços com os seus e me impedindo de fugir para onde ela não pudesse alcançar.

— Não vai embora — pediu ela, dessa vez sem parecer agressiva ou mandona. Era realmente um pedido, carregado de medo.

— Eu preciso ficar sozinho um tempo — insisti, tentando ser duro, embora a proximidade dela estivesse me machucando a ponto de me amolecer.

— Então vai. Eu vou tentar resolver isso.

Sunghee Noona me soltou e começou seu caminho para a distância, enquanto eu tentava entender o que ela pretendia fazer.

— Como assim? — eu disse me virando para dentro. De repente, a ideia começou a me preocupar. — Noona, aonde está indo?

— Ao Primeiro Mundo. Bater um papo comigo mesma.

~MSGOFF


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Notas finais do capítulo

PAH
Próximo (e último capítulo): Sunghee VS Sunghee



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