Me chamam de Corvo (Bulletproof) escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 23
EPILOGUE Pt. 1: Mais vale um pássaro na mão do que dois voando


Notas iniciais do capítulo

Vamos abrir nossa trilogia de Epilogue. Ai, eu amo esse Epilogue, cara...



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MSGON~

Fazia algum tempo que eu estava incomodado com aquela situação desconfortável. Eu era amigo dela, conversávamos durante muitas horas e às vezes até fumávamos sentados em alguma sacada bem alta. Mas foram raras as vezes em que tive coragem de abraçá-la, mais raras ainda as vezes em que me senti à vontade para deixar em seu rosto um beijo de boa noite. Às vezes ela sumia, e eu sentia uma espécie de vazio perturbador que não sabia explicar. Ela não era minha esposa, eu não deveria sentir sua falta. Ah, sim… Outra parte terrível da minha nova morte. Minha esposa era um bebê em um plano diferente do meu. Que azar, não? A tinha visto pela última vez no Campeonato Nacional. A desculpa de ser coach serviu para que eu a visse, mas… engraçado… Eu também não me sinto nem um pouco à vontade com ela. Ela é um bebê, ora. Não tem como imaginar ela como a Sunghee que eu conheço. Ah, como sinto saudade da MINHA Sunghee… Ela meio que não existe no momento. O que não faria nenhuma diferença se eu não lembrasse dela. Ah, seria um grande alívio. Assim eu não perderia tanto tempo pensando no meu amor inalcançável… De novo. Eu tenho muito azar com isso, você deve ter percebido. Tem duas Sunghees e eu não consigo me sentir bem com nenhuma!

Pois é… Sobre DUAS Sunghees… Decidimos no Juízo que seria melhor fazermos algum tipo de diferenciação. A Sunghee que fica conosco em Omelas é chamada por todo mundo de Sunghee Noona ou Sunghee Unnie. Só a Géssyca é mais velha que ela. Já a bebê do primeiro mundo é chamada de Sungheezinha, e não pense que é um nome inútil. Falamos muito sobre ela aqui em casa, porque afinal, os pais dela adoram saber como ela está… Dá até pena do Hoseok.

A minha sorte é que as crianças me distraem. A Sunghee Noona não pode sair da nossa casa, já que ela não deveria nem sair da dimensão dela… Então eu posso ir para a Casa Daegu quando quero ficar sozinho. Jimin, Nana e Géssyca sempre foram ótimas companhias, e minhas crianças também.

Numa dessas conversas com a Sunghee Noona, eu decidi desabafar sobre algo que vinha me incomodando já fazia algum tempo. Contei para ela aos poucos sobre minha preocupação. Eu tinha medo do que aconteceria quando Sungheezinha chegasse.

— Hoseok disse que eles têm muito tempo ainda.

— Então por que você tá preocupado? Quer que eu vá embora logo?

— Afe. Não. A questão não é você ou ela, noona, a questão é que eu não sei como vai ser isso. Porque vamos ficar tanto tempo afastados... Estamos falando de anos, e não sabemos quantos anos. Como vai ficar nossa relação depois disso?

— Ai, Yoongi, você sempre foi tão convencido de que era o máximo… Cadê a confiança?

Eu olhei para ela com minha não-expressão. Não existia nenhuma expressão para responder àquilo.

— Criatura… Como você acha que eu posso estar confiante de que essa menina que vai passar a vida toda no Primeiro Mundo, sem mim e sem piano, vai chegar aqui tão apaixonada quanto a que passou 11 anos do meu ladinho?

Sunghee Noona começou, do nada, a roer o lábio inferior. Ela tinha essa mania. Mordeu um pedacinho de pele ressecada e o arrancou. Logo, o lábio dela começou a sangrar. Ela colocou dois dedinhos como se quisesse conferir que isso realmente estava acontecendo. Então, me mostrou se dedo manchado de vermelho.

— Sabe o que é isso?

— Masoquismo?

— Fala sério, Yoongi.

— É sangue, ué.

— E também é DNA. É aqui que está o amor por você. Isso não depende de convivência ou memória. Mas, se você quiser garantir… Fala com Hoseok e tenta um passe.

Um passe? É, eu não sabia o que raios era um passe, mas, basicamente, a ideia dela era que eu tivesse autorização para poder para projetar sem o Hoseok. Assim, ficaria mais livre para visitar a Sungheezinha e tentar algum tipo de proximidade ao longo dos anos. Assim, mesmo estando em planos diferentes, ela já saberia da minha existência ao morrer, e ficaria muito mais fácil de assimilar as memórias do Segundo Mundo. A Sunghee Noona estava certa com relação à Sungheezinha se lembrar de mim quando morresse, porque a memória do Segundo Mundo é cumulativa. Ou seja, ela se lembraria da linha do tempo anterior, correspondente à dimensão da Noona; teria as memórias da Noona mais as memórias da nova vida. O contato com ela seria só para garantir, como ela mesma disse, então não valia à pena incomodar o Hoseok se eu não conseguisse o tal passe. A sorte foi que ele conversou com a Eva e conseguiu isso para mim. A partir daquele momento, eu poderia visitar sozinho a sala da Eva e projetar com autonomia. Hoseok me recomendou cuidado porque Eva é muito atrevida às vezes.

Então, lá fui eu, para minha primeira projeção solo. De fato, Eva me provocou com algumas gracinhas, mas eu não estava nem aí. Ela me levou para um centro de treinamento cheio de tatames e equipamentos de ginástica. Vários atletas estavam espalhados. Que eu conhecia, só vi Jin Hyung, Namjoon e Yonseo. Pasmem, Yonseo com uniforme de treino de Cheerleading. Pois é. Fora ela, não tinha nenhum atleta familiar.

Yonseo disse que ia beber água e veio me contextualizar. Foi nessa hora que eu percebi como o tempo passa rápido quando você está morto. Jin Hyung e Namjoon estavam formados, mas mantinham-se como coaches da atlética e ganhavam para isso, além de trabalhar na Big Hit Entertainment. Que vida mole.

Finalmente, notei as crianças na cama elástica. O time Corvos contava com dois mascotes, que não eram simplesmente para ser bonitinhos. Eles eram atletas mesmo, inclusive estavam treinando os saltos. Sunghee era extremamente talentosa como ginasta, nas palavras de Yonseo. Ela se desenvolvia muito rápido e era cheerleader melhor que muito veterano do time. A outra criança era o Samha, o primo da Yonseo, que tinha dez anos.

Eu esperei o intervalo, que era a hora que as crianças paravam para comer. Samha foi comprar alguma coisa na cantina, mas Sunghee, é claro, tinha um pai que levava comida bastante a sério. Então, ela pegou na mochila o potinho com o seu lanche que havia sido preparado pelo Jin Hyung (não que alguém tenha me dito isso, eu simplesmente deduzi), sentou no banquinho e começou a comer o sanduíche. Então, comecei o meu primeiro papo com a Sungheezinha.

— Annyeong.

— Meus pais me ensinaram a não falar com estranhos.

— Que bom. Realmente muito útil não falar com estranhos. Sorte que eu não sou um estranho.

— É sim.

— Não sou! Eu sou amigo dos seus pais. Não foi o Jin que fez esse rango aí?

A criança olhou para seu potinho como se a resposta estivesse ali. Ela era extremamente fofa, e eu estava até com saudade de vê-la tão pequenininha.

— Foi — ela olhou para mim. — Mas isso não prova nada.

Eu ri, notando que aquela menininha ia me dar trabalho. De novo.

Eu conversei bastante com aquele pingo de gente. Ela era bastante desafiadora, então eu passei metade da conversa tentando provar que era de confiança. Depois de entender que só ela me via, ela pareceu menos relutante. Me perguntou o que eu fazia ali, e eu disse que procurava uma amiga para conversar. Então, nosso papo se tornou um pouco mais agradável, mas ainda estranho, até que o intervalo acabou e ela voltou a treinar. Dessa vez, as elevações. Ela já era uma flyer de excelência. Não resisti e fiquei durante algum tempo observando. Era estranho como ela me lembrava as crianças da Casa Daegu. Como sempre, os sentimentos por Sunghee não eram explicáveis. Eu já a amava, mas de um jeito diferente. Não como uma namorada ou esposa, mas como uma filha. Não como alguém que se quer beijar, mas como alguém que se quer proteger a todo custo.

Eu tinha uma grande missão pela frente, mas eu estava determinado a não falhar. Eu iria continuar lutando para conquistar a amizade dela, e isso era tudo o que eu precisava por enquanto.

~MSGOFF



JCON~

— Ela está falando com o Yoongi — informou-me Yonseo.

— Olha só — murmurou Namjoon, curiosamente observando nossa filha conversar com o nada.

Poucos segundos depois, ela tampou e guardou o tupperware na mochila e voltou.

— Vamos treinar elevação? — perguntei.

— Sim — disse ela, animada.

Eu senti vontade de falar com ela sobre seu novo amigo, mas deixei para depois, para quando estávamos indo para o carro.

— Com quem você estava falando?

— Hum… Eu não sei. Ele não disse o nome, mas… Disse que é amigo de vocês.

— Ele é mesmo — contei, colocando as coisas no carro.

— Vocês sabem quem é?

— Sim, a Yonseo nos disse.

— Então qual o nome dele?

— Eu não posso te dizer, porque ele tem vários nomes. Se você perguntar pra ele, ele vai escolher por qual nome ele gostaria de ser chamado por você.

~JCOFF

 

MSGON~

Logo no começo da segunda visita solo, recebi a pergunta sobre o meu nome. Escolhi que ela me chamasse de Suga, como faziam minhas crianças. Ela era como se fosse uma deles, a partir daquele momento, o que me fez pensar como seria divertido se Samha também pudesse me ver. Acho que era melhor do jeito que estava. Eu podia focar nela toda a minha atenção.

A minha amizade com a Sungheezinha estava melhorando. Ela era cada vez menos fria e começava a confiar em mim, me contando coisas que eu achava incríveis. Eu passei a ser um tipo de diário onde se depositavam todos os segredos, porque ela sabia que eu não poderia contar para ninguém. Ela contava quando ficava chateada com os pais adotivos quando eles eram muito rígidos. Passávamos horas no quarto dela conversando sobre o que quer que fosse, e como ela era muito nova, via graça em tudo. Ela ria quando eu parava e ficava pensando em coisas muito complicadas. Dizia que eu ficava com cara de bobo e, então, nós começávamos a brincar de careta e rir juntos. Fazia muito tempo que eu não via graça em coisas simples e idiotas como aquilo.

A projeção me cansava demasiadamente às vezes. Eu tinha passado algumas vezes pela experiência de flagrar Hoseok em péssimo estado, mas só agora entendia o que era aquilo.

— Nossa, você tá péssimo! — ouvi a voz adiante no corredor. Isso porque meus olhos estavam fechados.

— Eu sei — murmurei. — Fiquei mais do que devia.

— Tô vendo — disse Sunghee Noona, se posicionando ao meu lado e segurando meus braços para me apoiar.

Eu me deixei cair um pouquinho sobre ela, sem culpa, já que ela era muito forte. Ela me levou para a biblioteca, que era um dos cômodos mais próximos. Ela sentou no maior sofá que tinha ali e pegou o livro que estava na mesa ao lado, já todo marcado pelas várias leituras feitas. Ela não precisou me oferecer, nem eu precisei pedir. Automaticamente deitei no sofá com a cabeça apoiada em sua perna.

— O que anda lendo?

— Relendo. Alice no País das Maravilhas.

— Você ainda não decorou esse livro?

— Você não ia dormir?

— Tá. Então pode ler em voz alta, porque esse livro me dá sono.

Surpreendentemente, — ou não, — Sunghee começou a passar os dedos entre os fios dos meus cabelos.

— “‘Talvez seja sempre a pimenta que deixa as pessoas tão esquentadas’, continuou a pensar, satisfeita por ter encontrado um novo tipo de regra, ‘e o vinagre, o que as deixa azedas... e a camomila, o que as deixa amargas... e o açúcar, o que deixa as crianças doces e amáveis. Queria que as pessoas grandes soubessem disso: assim, não seriam tão mesquinhas com bombons…’”.



— Menino, acorda! — disse a voz, do nada.

Abri os olhos sobressaltado, dando de cara com Abel. Uma surpresa nada agradável.

— O que foi, peste? — perguntei, ainda sonolento.

— Afe. Por que você me trata tão mal? Só quero ajudar! Você tá atrasado pro seu turno.

— O quê? — levantei de uma vez só. — E cadê a Sunghee Noona?

— Eu sei lá. Tecnicamente, ela saiu do turno há pouco...

Saí correndo deixando Abel de lado. Eu não me importava nem um pouquinho com ele. No começo, ele era muito próximo da Sunghee, e isso me irritava. Depois, ela acabou me contando que ele era perfeitinho demais, e que ela gostava de meninos malvados. Fui direto para a Sala de Julgamentos, passando por um hall que tinha um relógio bem grande. Já eram 18:20.

— Vinte minutos atrasado! Hoseok vai me matar de novo.

Ah, deixe-me atualizar você sobre a situação do Juízo. Estávamos em nove, então nos dividimos em três trios para aumentar o tempo livre. Meu turno era o da noite, com Hoseok e Taehyung. Ah, esqueci de dizer, Hoseok era o líder do Juízo, e da minha unit também. Jimin, Yumi e Abel eram do turno da manhã, e Jungkook, Géssyca e Sunghee eram do turno da tarde. Em alguns casos, aconteciam julgamentos especiais onde todos estavam presentes. Os grupos e turnos mudavam uma vez por mês e eram decididos por sorteio. Mas voltando á minha cena de perseguição ao julgamento esquecido.

Eu corri muito, mas não podia chegar todo esbaforido. Tinha que ser discreto, então parei e respirei dois segundos antes de entrar. Estava disposto a agir naturalmente, mas encontrar aquela ré não estava nos meus planos.

— Tá fazendo o quê aqui? — perguntei, meio confuso, meio indignado.

— Aish, Min Yoongi — reclamou Hoseok. — Isso é jeito de falar com a ré? Como se não bastasse chegar atrasado.

— Miane — eu disse, rumando em passinhos rápidos para a minha cadeira. — Podem continuar.

— Então, — disse Taehyung, retomando a conversa. — Eu não te conheço de algum lugar?

— Só se for de vidas passadas. Mas esse aí eu conheço.

— Tá — disse Hoseok, antes que o assunto começasse a se desviar. — Jeon Minji, pode contar para nós o que te trouxe aqui?

— A bala de um revólver Taurus calibre 36, disparada por Byun Baekhyun.

~MSGOFF


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Notas finais do capítulo

Eitaaaaaaaaa...



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