Para Lawliet escrita por Charbitch


Capítulo 1
Capítulo Único




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ǂ Para Lawliet ǂ

Um tributo intimista ao maior detetive do mundo

ǂ Por Charbitch ǂ

~*~

All that glitters is cold.

—Marilyn Manson

ǂ

PRÓLOGO

Ninguém nunca soube muita coisa sobre mim. Os poucos que sabem que eu sou o ℒ já chegaram perto demais. Há um mundo de possibilidades dentro do que afirmam ser a mente humana, mas não tenho a mesma liberdade das outras pessoas para me abrir com quem amo. Talvez faça parte do meu ofício, talvez eu só queira um pouco de paz.

Tudo o que os outros têm de mim é uma letra preta em fonte Old English MT num telão branco. É inegável que eu sempre fui o mais reservado possível. Não me lembro muito bem se eu me tornei introspectivo porque preciso proteger a minha identidade ou se foi porque eu realmente desaprendi a criar uma conexão com as pessoas.

Não que isso me incomode, mas às vezes parece que eu vivo em um mundo à parte, onde tudo são enigmas, códigos, pistas, detalhes, investigações, estratégias, variáveis e soluções. Sei que a minha dedicação é nobre e eu tenho muito orgulho do meu trabalho, no entanto sou apenas humano. Eu compreendo o funcionamento da mente, por isso não nego a mim mesmo que sou um ser social. Humanos não foram feitos para viver alheios ao restante do mundo. E, apesar da minha vocação para eremita, eu já quis largar tudo, eu já quis ser apenas mais um na multidão. Eu já quis dar a minha mão a uma criança e correr com ela pela grama. Essa criança poderia ser a minha filha.

Mas eu tenho consciência de que levar uma vida como a minha significa jamais poder ter filhos. Eu não teria tempo para as crianças e ainda poria a vida delas em risco. Além disso, que tipo de pai eu estou pensando que seria? Nem a capacidade de amar eu tenho. O que eu poderia fazer pelos meus pequenos seres? Eu provavelmente só daria a cada uma das crianças uma fatia de bolo e sairia correndo para o trabalho, torcendo para que nada de ruim acontecesse a elas enquanto eu estivesse fora. Talvez isso fosse amor, talvez isso não fosse nada. Mas se alguém tivesse feito isso por mim quando eu era pequeno, eu seria eternamente grato.

Às vezes acho que eu só tenho esse paladar infantil porque tenho saudades da infância normal que nunca me permitiram ter.

~*~

ATO I

Eu não dormia há dias. O caso Kira estava sugando quase todo o restante da minha sanidade. Eu já não tentava dormir há muito tempo, por isso procurei por um mínimo instante interromper os meus pensamentos, antes que eles me interrompessem. Era difícil pegar no sono quando todas as minhas ideias lutavam pela sobrevivência no anfiteatro da minha mente. Fechei meus olhos, mas eles se abriram logo no segundo seguinte, pois me assustei com o estrondo de um trovão. Era uma forte chuva se aproximando – e não precisava ser o maior detetive do mundo para saber isso.

— Bom, quem precisa de oito horas diárias de sono, não é mesmo? – bufei, comendo o último morango que restava no meu prato – Não faz mal ir lá em cima dar uma olhada.

Levantei-me de minha cadeira e subi as escadas até o terraço do prédio. Watari me abordou no caminho:

— Vai lá fora assim, Ryuuzaki? Não precisa de um guarda-chuva?

— Não, obrigado. – continuei subindo as escadas, até que me virei para Watari e disse: – Eu já te disse que você é como um pai para mim?

— Ryuuzaki, eu... – ele parecia sem jeito.

— Não precisa dizer nada. – curvei-me gentilmente para saudar meu "pai" e voltei a subir as escadas.

Eu gostaria de não precisar colocar a palavra pai entre aspas.

~*~

A chuva estava ainda mais forte do que eu esperava.

Melhor assim, pensei.

Ouvi badaladas ininterruptas. Era o inconfundível som de um sino. Eu particularmente gostava de sinos. Isso porque, quando eu era criança, estava pondo os meus pezinhos no orfanato, de mãos dadas com Watari. Era hora cheia quando me deparei com a suntuosa construção: os sinos não paravam de bater na torre do relógio. Para completar, os funcionários da belíssima Wammy’s House decoravam todo ano o velho casarão empoeirado com sinos, pisca-piscas e bolinhas de Natal. Era um jeito Ocidental de comemorar o Natal, mas o orfanato se localizava na Inglaterra – e não no Japão.

O dono da Wammy’s House era Watari. E Watari era bastante condescendente até certo ponto. Para ser sincero, eu que tive que ensiná-lo a se impor. "Papai" era uma pessoa boa demais. Afinal, só alguém como ele para ter resolvido ficar comigo, de longe a criança mais esquisita do orfanato inteiro.

Lembro-me até hoje de quando eu morava naquele orfanato e não fazia nada além de criar códigos secretos com os sinos de Natal. Eu fazia aquelas coisinhas barulhentas vibrarem de tal forma que elas sempre emitissem uma mensagem cifrada em Código Morse. Obviamente ninguém entendia por que eu preferia brincar com sinos a interagir com as outras crianças. Mas eu na verdade desejava brincar. As mensagens em Morse eram quase sempre um convite gentil para que os outros se aproximassem, mas ninguém era sensível aos meus apelos. Eu sabia que seria mais fácil se eu tentasse falar inglês, em vez de tentar ingenuamente embaralhar as coisas com a minha obsessão por códigos. Mas se fosse para ser daquele jeito tão trivial, não teria graça nenhuma brincar.

~*~

— Você é autista? – uma funcionária me perguntou.

Eu usei o sino para dar a resposta.

— É autista mesmo – ela me respondeu amargamente.

Sempre quando me tratavam daquela forma, eu chorava como se fosse a primeira vez.

Ao menos o choro era uma linguagem universal.

~*~

Anos depois, com a personalidade já adulta e estragada, o sino fazia novos sons, novíssimos sons em minha mente. Eu naturalmente tentei encontrar um padrão nas badaladas, até porque eu sempre tentava encontrar um padrão em tudo. Era uma mania que eu tinha. Eu era tão racional que às vezes me esquecia de que nem tudo era linear, classificável ou explicável. Certamente eu sofria de apofenia, desordem caracterizada por uma obsessão doentia em encontrar padrões nas mais absurdas aleatoriedades.

Porém, nem sempre havia escapatória: as badaladas daquele sino eram rápidas demais para ser Código Morse. Talvez fossem os anjos me dizendo que eu deveria apreciar mais o desconhecido, em vez de tentar ficar ordenando tudo por cor e ordem alfabética. Havia lacunas na minha vida, assim como havia lacunas em todos os casos que eu investigava. E não eram as lacunas que tornavam tudo ainda mais instigante, quem sabe até mais bonito e... poético?

Ah, sim, poesia... Eu nunca fui muito bom nisso. Na verdade, eu nunca fui muito bom em nada que envolvesse me expressar de alma nua. Eu deixava isso para os poetas legítimos, pois todos os artistas de verdade já haviam ido dormir.

Eu odiava não ter acesso fácil ao que os outros humanos chamavam de sentimentos.

Agucei meus ouvidos aos sons próximos e repetitivos de passos rígidos e decididos – eles se misturavam ritmicamente ao barulho da chuva e dançavam no exato compasso das badaladas do sino.

Light?

— O que você está fazendo aí, sozinho na chuva? – perguntou ele.

Na... chuva?

Era difícil ouvi-lo com clareza, talvez em função da sinfonia – quase cacofonia – que era ouvir o sino, a chuva, a voz dele e o barulho dos meus pensamentos... tudo ao mesmo tempo. Não obstante, eu tinha entendido a pergunta dele de primeira. Mas como as coisas belas eram difíceis, fingi não ouvir e elevei a minha mão na altura de meu ouvido, como que pedindo educadamente para que ele repetisse.

— O que você está fazendo aí, sozinho na chuva? – repetiu ele, visivelmente impaciente.

Ah, Light, você é tão imediatista...

Eu mal pude conter um sorriso sapeca quando mantive a minha mão na altura de meu ouvido, só para que ele se desse ao trabalho de falar a mesma frase pela terceira vez.

Ele se aproximou de mim, sabendo que eu permaneceria naquele joguinho infantil por horas caso ele não se mexesse. Voltei à minha típica feição inexpressiva, quando ele me perguntou novamente:

— O que está fazendo aqui, Ryuuzaki?

— Ah, eu não tô fazendo nada de mais... – falei, olhando para o chão – É que... – ergui meu rosto sereno – Eu ouço o sino.

— Sino? – ele parecia confuso.

— É... O som do sino tá bem mais alto hoje... – ergui meu rosto e voltei a me concentrar seriamente nas badaladas.

— Hum, não tô ouvindo nada... – ele disse com descaso.

Mas... Mas como? Como Light não podia ouvir o sino? O som estava tão alto que quase me ensurdecia. Parecia até que ele estava tocando... dentro da minha cabeça.

Então são mesmo anjos...

— É mesmo? Você não ouve? – questionei. – O sino toca sem parar o dia todo... Eu acho muito desconcertante. Será que é uma igreja? De repente um casamento, ou...

Eu já ia falar sobre a minha teoria dos anjos, mas Light me interrompeu:

— Onde você quer chegar, Ryuuzaki? Sai dessa chuva, vamos voltar pra dentro!

Não, eu não podia falar com Light sobre os anjos. Ele certamente riria da minha cara. Onde já se viu um cara racional como eu falar como um artista sonhador? Eu não era um artista sonhador. Eu era o maior detetive do mundo. E detetives só acreditavam no que podiam ver.

Mas eu ouvia o sino.

Light é Kira, Light é Kira, Light é Kira.

Eu não quero estar errado. Eu não posso estar errado.

~*~

❝E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam ouvir a música❞.

—Friedrich Nietzsche

~*~

Nietzsche era um clichê, mas eu o admirava por ao menos ser um clichê inteligente, quem sabe até elegante. Afinal, eu podia muito bem ser um clichê elegante também: um garoto largado à própria sorte num orfanato? Clichê. Jocosamente referido como louco pelos que se julgavam tão normais? Clichê. Fez uso de sua inteligência acima da média para dar a volta por cima, tornando-se alguém importante? Clichê.

Eu era o clichê do gênio louco, com um passado triste e um intelecto invejável. Estava tudo lá. Tudo se encaixava. As únicas lacunas eram a minha obsessão por doces, meu desprezo por sapatos, meu jeito peculiar de me sentar e de segurar um celular, minhas costas curvadas, minhas olheiras e minhas roupas de maltrapilho. Isso nenhum clichê explicava. Talvez fosse porque eram as minhas idiossincrasias que me tornavam memorável; elas me faziam único num mundo de iguais. E eu gostava de acreditar que tinha sempre alguém pensando em mim não como um gênio louco qualquer, mas como uma pessoa simples de mente complexa.

Talvez Light pudesse fazer isso por mim e...

Não.

Light não podia ouvir o sino, então ele também não podia ouvir os meus apelos. Ele não era muito diferente das crianças ou dos funcionários do orfanato. Ele não me entendia; ele estava apenas tentando ganhar a minha confiança para depois puxar o meu tapete. O seu único trunfo era ser Kira. Eu sabia que ele era Kira. As regras de uso do Death Note provavam o contrário, mas ele tinha que ser Kira. Porque, se ele não fosse Kira, de que valiam as minhas "brilhantes" deduções? Ele continuaria matando tanto criminosos quanto inocentes que se pusessem em seu caminho, pois ninguém acreditaria em mim.

Até que ele me matasse.

— Lamento – suspirei, resignado. – Nada do que eu digo faz sentido mesmo... Se eu fosse você, não acreditaria em nada...

As gotas de chuva escorriam vivas pelas pontas dos meus fios de cabelo. O que eu tinha feito de errado? Que peça estava faltando para completar a lacuna final? Ou o sino estava tentando me dizer que eu teria que morrer para vê-la preenchida?

— Hum, sabe, eu acho que você tem razão. – Light interrompeu a minha avalanche de paranoias – Sinceramente, a maioria das coisas que você diz parece bobagem. Eu teria problemas se levasse você a sério o tempo todo. – ele me brindou com uma risada desagradável. – Eu devo saber disso mais do que qualquer um...

Light... Sempre pensando que sabe mais sobre as pessoas do que elas próprias... Não é sem razão que você pune criminosos como se estivesse em posição para tal.

— É... Você tem razão. Eu diria o mesmo sobre você – retruquei.

— Hum? O que quer dizer com isso? – ele dissimulou uma expressão surpresa.

Não se faça de desentendido, Light... Falta pouco para acabar, mas ainda não acabou. Eu ainda tenho a minha cartada final, a minha última frase emblemática... o meu último apelo.

Meu epitáfio:

— Me diz, Light, desde a hora em que nasceu, houve algum momento em que você realmente disse a verdade?

...

A chuva até pareceu parar por alguns instantes... Sem a cacofonia da mentira, restava apenas o silêncio da verdade.

E a verdade era que Light era Kira.

Olhei-o fixamente, como sempre olhei. Às vezes eu imaginava que, se eu olhasse fundo o bastante, a sentença seria escrita bem acima da cabeça dele. E não era uma sentença de morte. Eu só queria sentenciar que ali batia um coração. Mas nós éramos parecidos demais, apesar de termos optado por direções totalmente opostas. E eu sabia que, se eu não tinha um coração, era porque ele provavelmente também não tinha um.

— De onde você tirou isso, Ryuuzaki? Eu admito que manipulo a verdade aqui e ali, mas encontre uma pessoa no mundo inteiro que nunca tenha dito uma mentira. Não é fácil! Seres humanos não foram feitos para ser perfeitos. Todo o mundo mente de vez em quando. Mesmo assim, eu sempre fiz esforços conscientes para ter cuidado de não contar uma mentira que ferisse outras pessoas. Essa é a minha resposta.

Dando a resposta mais politicamente correta, Light? Isso não diminui os seus crimes, pois o que você diz não corresponde ao que você faz. Gosto de teorias, mas qual é o seu problema em aplicá-las na prática? Uma boa conduta é utópica demais para um monstro frio como você?

Por que não estou surpreso?

— Eu imaginei que você diria uma coisa dessas. – respondi com amargura – Vamos voltar lá pra dentro. A gente tá encharcado.

— Hum, é – ele rapidamente concordou.

Há algo sobre você que me intriga, Light.

~*~

ATO II

Light e eu nos sentamos nas escadas do prédio. Ele estava quase tão maltrapilho quanto eu.

Só a chuva nos iguala.

— Com certeza foi uma saída desagradável – comentei ao vê-lo descalço; pés encharcados, tentando inutilmente se enxugar com uma toalha.

— E a culpa é sua! – insinuou Light. – O que esperava com uma chuva dessas?

— Tem razão. Desculpa – respondi sem pensar.

Ao me dar conta do que tinha acabado de dizer, olhei para Light com uma expressão assustada. Na verdade, eu queria olhar para dentro de mim mesmo naquele momento. Diziam que até entre inimigos podia haver respeito, por isso pedi desculpas ao meu maior inimigo, rendi-me ao meu famigerado algoz, ajoelhei-me frente ao jovem que me queria morto a qualquer custo. O que custava? O sino e os anjos já escreviam o meu nome de batismo em alto-relevo numa das lápides do cemitério. Eu sabia que Light me trairia, assim como todos os que um dia me prometeram o mundo fizeram – e me cravaram o punhal nas costas sem o menor arrependimento.

Era preciso ter humildade para admitir uma derrota.

— O que está fazendo? – exclamou Light ao me ver abaixado para secar seus pés.

Bondade te assusta, meu primeiro amigo?

— Eu achei que podia ajudar... Você estava se enxugando, Light – respondi; olhos nos olhos mortos.

— Olha... Tudo bem... Não precisa fazer isso...

— Eu posso fazer uma massagem também. – acrescentei – É o mínimo que eu posso fazer para purgar os meus pecados... Eu sou muito bom nisso!

— Ótimo... Faça o que quiser – ele finalmente aceitou.

— Tá bom! – sorri.

O tom resignado de Light me fez sereno ao encarar a morte. Eram raros os momentos em que eu conseguia desarmar alguém tão inteligente quanto ele. Apesar disso, pelas vias tortuosas de toda aquela convivência corrida e desajeitada, eu havia descoberto a maior fraqueza de meu carrasco; era a mesma fraqueza que a minha: ele tinha a incapacidade de compreender o que significava um gesto de amor.

— Ai! – ele protestou quando eu apertei um de seus pés com um pouco de mais força.

— Você vai se acostumar – busquei tranquilizá-lo.

Era um pouco desconfortável estar naquela posição de submissão, como que esperando que Light estendesse a sua adaga e me desse o golpe final. Era certo que eu gostava de dar as ordens, tanto que o FBI e a polícia sempre me procuravam quando as coisas saíam do controle. Eu sabia, do fundo do meu âmago eu sabia que havia nascido para ser um líder, ainda que um pouco desajustado. Mas em questão de minutos eu me convertera em frágil servo, com meus cabelos pingando água da chuva, de cabeça baixa e aguardando os sons vazios da morte me silenciarem para sempre.

Meus cabelos "choveram" sobre os pés de Light. Gota a gota, os pingos fizeram pequenas poças em sua pele.

Aquelas gotas de chuva podiam muito bem ser as minhas lágrimas.

— Você também está encharcado – Light me disse, enxugando o meu rosto com delicadeza.

Será que encontrei alguma bondade em você, Light? Ou você está apenas dissimulando de novo?

— Desculpa – repeti.

Continuei secando e massageando os pés de Light. Eu não sabia muito bem por que estava sendo gentil com o cara que eu acreditava ser Kira. Mas me dava paz ser útil de alguma forma a alguém, principalmente quando eu tinha a honra de estar frente a frente com esse alguém. Muitas vezes era doloroso solucionar mil e um casos ao redor do mundo, mas nunca ter a oportunidade de abraçar ou de ouvir os agradecimentos das vítimas que eu indiretamente ajudava a salvar. Em suma, ser um herói anônimo era em partes cansativo, pois eu nunca podia conferir ao vivo as boas consequências das minhas descobertas. Era certo que para um jovem com superdotação que mais se assemelhava a um robô sem emoções do que a um ser humano, parecia forçado cobiçar algo tão supérfluo. Mas eu ainda sonhava com o dia em que uma criança me segredaria em sua mais sagrada inocência que eu era a sua maior inspiração para continuar acreditando na bondade das pessoas.

A propósito, as pessoas às vezes se esqueciam de que existia um menino frágil e necessitado por trás do respeitável detetive ℒ. Ter que manter a seriedade o tempo todo era extremamente exaustivo e desinteressante para o pequeno Lawliet. Mas era justamente por isso que eu me permitia andar de mãos dadas com a minha infantilidade vez ou outra. Não era tão difícil, na verdade era até automático para mim: eu descarregava o meu brincalhão latente e aquilo não me fazia menos adulto. Talvez apenas me fizesse mais humano.

Porém, em contraste com o doceiro infantil, havia um detetive indiferente, quase sem empatia. Era o lado que as pessoas viam primeiro, pois era o mais aparente. Não que eu deixasse muitas coisas aparentes... Mas eu tinha uma razão bastante justificável para agir como um drogado com sono, indiferente a tudo e todos: era incontável o número de crimes bárbaros que eu investigava dia e noite. Construir a reputação de maior detetive do mundo significava ir atrás das cenas mais dantescas e dos criminosos mais impiedosos. Aquilo inevitavelmente deixava danos em meu inconsciente. Eu tinha que diariamente fazer esforços quase sobre-humanos para diminuir os impactos de tudo o que eu via, analisava e constatava. Por isso, eu tinha apenas duas regras: (1) jamais me acostumar à mentira e (2) jamais desacreditar na verdade. Eu não sabia se era normal ser louco ou se era louco ser normal, mas aqueles criminosos jamais me convenceriam de que a bondade era uma doença, nem de que a maldade era a única saúde. Eu sabia muito bem que não havia como retornar o mesmo de uma guerra, principalmente quando ela era travada nos mais sombrios corredores da mente humana. Mesmo assim, eu tentava o meu máximo para não fazer as coisas que eu não faria se estivesse em meu juízo perfeito. Era um exercício perigoso, embora eu já estivesse habituado a ele. Ter controle sobre as armadilhas da própria mente e construir uma base de autodefesa fazia parte de qualquer profissão arriscada. Mas o maior efeito colateral de todo aquele criterioso condicionamento era a palavra que me definia: apatia.

Eu invejava quem era facilmente impressionado. Eu invejava quem era facilmente entretido.

Apesar de tudo, eu sabia que, apático como eu havia me tornado, o meu construto mental estava pronto para uma imersão completa no mundo do crime. Eu estava pronto para me colocar no lugar de criminosos sem ser afetado irreversivelmente pelos seus conceitos distorcidos de justiça. Eu tentava entender o que se passava na mente deles, ou ao menos almejava encontrar justificativas plausíveis e padrões para os seus atos. Aquilo me ajudava a chegar mais rápido ao culpado – e ao veredicto mais cabível para seus crimes. Era um raciocínio básico: "Se eu fosse o suspeito, o que eu faria para me safar?”. Parecia abstrato demais, mas quase sempre dava certo. O único problema era que eu quase me sentia como se fosse eu cometendo todos aqueles crimes. Era quase como se o sangue das vítimas estivesse escorrendo pelas minhas mãos. Eu me sentia cúmplice, embora fosse rival. E eu temia que eu não conseguisse voltar ao meu estado mental normal após sentir na pele o mais alto grau da dor humana, condenado permanentemente a pensar e a tomar decisões como um psicopata.

Não perca a sua criança interior, . A cada doce que você come, é ela sussurrando em seu ouvido: "Não me sufoque, não me abandone. Eu sou tudo o que você tem, eu sou tudo o que você é, eu sou tudo o que você ainda pode ser. Então acredite em mim quando eu te disser isso".

...

E quando eu deixei de acreditar em você, pequena criança?

~*~

— Daqui pra frente vai ser uma solidão – quebrei o silêncio.

— Hum? – Light se fez de desentendido, pra variar.

Levantei-me. Meu cabelo cobria um de meus olhos. Fui de apatia extrema a emoção desesperada em questão de segundos, pois nunca fora tão melancólico em toda a minha vida. A iminência da morte me levava a caminhos inimagináveis. Eu inclusive já não me incomodava tanto com a falsa ingenuidade de Light: algo nele remetia a algo que eu faria. Nós tínhamos personalidades quase idênticas, embora estivéssemos prestes a nos dividir para todo o sempre.

Será que nós vamos nos convergir um dia de novo, pela última vez, Light Yagami?

Eu espero que sim.

— Eu e você vamos nos separar em breve – anunciei.

— Ah?

Isso é tudo o que você tem a dizer, Light?

Acho que encontrei alguém ainda mais apático do que eu.

Pensei em dizer algo, mas o meu celular tocou antes que eu pudesse esboçar em minha mente qualquer coisa que valesse a pena. Como já não havia mais nada a ser dito, apenas atendi ao telefonema:

— Alô? – captei atentamente as informações dadas do outro lado da linha. – Entendo... Eu tô indo.

Finalizei a ligação.

— Anda. Vamos, Light – falei serenamente, mas sem olhar nos olhos dele. – Parece que tá tudo resolvido.

~*~

ATO III

A ligação telefônica era na verdade um chamado de meus companheiros de investigação. Eles pareciam todos muito confusos, aguardando minhas explicações. Não era problema: assim que adentrei a sala de controle, já sabia o que fazer. Meus atos falariam por si só.

— Ryuuzaki, o que significa isso? – indagou Matsuda. – Você conseguiu a aprovação de outro país pra usar o caderno pra uma execução?

Eu não respondi. Apenas me sentei na minha cadeira, ficando diante do computador que eu usava para me comunicar com Watari.

— Watari, excelente trabalho, obrigado – falei ao microfone.

— Não foi nada – Watari me respondeu do outro lado.

— Uma coisa de cada vez. – salientei – Por favor, providencie o transporte do caderno imediatamente.

— Certo – respondeu Watari.

— Ryuuzaki, o que está tentando fazer? – questionou Light.

Ah, Light, estava demorando para você se meter...

Eu apontei uma colher de sobremesa para o Death Note, dando pistas do que eu pretendia fazer:

— Eu vou experimentar o caderno de verdade.

Todos exclamaram em uníssono um grande: "Ah?!".

Como era de se esperar, fui soterrado por uma avalanche de protestos:

— Não podemos fazer isso! – exclamou Shuichi Aizawa – E não há por que testar agora quando já sabemos que o poder do caderno é verdadeiro!

— Além disso, quem vai escrever o nome? – perguntou Matsuda. – Se alguém começar a escrever no caderno, vai ter que obedecer à regra dos treze dias e continuar escrevendo nomes sempre!

— Isso já foi resolvido. – expliquei calmamente – A pessoa que vai escrever no caderno é um criminoso pronto pra ser executado depois dos treze dias. Se ele ainda estiver vivo treze dias depois que escrever o nome, vai ser perdoado da execução.

— Ah! – Matsuda parecia surpreso.

— Mas ainda? – protestou o pai de Light. – Sacrificar uma vida?

Eu sabia que o Sr. Yagami não concordaria comigo. Ele sempre foi muito correto. Um homem exemplar, ao contrário do filho, que de exemplar só tinha o intelecto.

Mas eu não tinha tempo para moralismos ou lisonjeios. O barulho do sino estava cada vez mais intenso.

Blém, blém...

A anunciação da verdade estava prestes a desacobertar a mentira.

E eu já quase podia sentir a morte brincando com os fios do meu cabelo.

Blém, blém...

— Nós estamos perto! – declarei firmemente, mesmo sabendo que era eu que estava perto da morte. – Se conseguirmos isso, o caso todo vai ser resolvido.

"Se conseguirmos isso". Se.

Blém, blém...

Se.

Eu sei que você vai me trair, Light.

De repente, como que anjos soando as trombetas de meu destino sórdido, relâmpagos incessantes marcaram presença, trazendo consigo a minha velha amiga cacofonia de volta à tona. A chuva, também companheira minha de longa data, aumentou drasticamente, aparentemente a níveis anormais. Estaria ela se despedindo de mim? Estaria ela tentando me avisar de algo?

Não precisa, chuva... Eu... Eu já sei de tudo...

Adeus, amigos, embora eu nunca tenha demonstrado claramente a vocês que eu os considerava meus amigos...

E não, Light, esse adeus não inclui você. Seja franco ao menos uma vez na vida: não era a minha morte o que você queria o tempo todo, antes mesmo de me olhar nos olhos?

Seu cretino.

Você nunca me verá dizer adeus.

Assim que os raios se intensificaram, a energia começou a falhar. As luzes se apagaram e a comunicação via computador se encheu de estática.

— O que é isso? Um blecaute? – perguntou Matsuda.

Eu não sabia ao certo se era de fato um blecaute, mas sabia que não era coisa boa.

— Watari? – perguntei ao computador, sem resposta. – Watari!

Quando eu já estava começando a me desesperar, surgiu em letras grandes a minha sentença, como num tapa com luva de pelica. Todos os televisores da sala de controle exibiram a temida, porém já esperada mensagem: "Todos os dados deletados".

Watari...

— Todos os dados deletados? O que está havendo? – questionou Shuichi Aizawa.

— Eu disse ao Watari que ele deveria apagar toda a informação... caso alguma coisa acontecesse a ele.

Não... Watari não...

Papai...

— Caso alguma coisa acontecesse... – Shuichi finalmente compreendeu.

— Será... – ponderou Matsuda.

Não, já era tarde demais. Watari estava morto.

E eu era o próximo.

— Cadê o Shinigami? – inquiri.

— Boa pergunta. – comentou o pai de Light – Eu não estou vendo...

— Ele desapareceu! – afirmou Shuichi Aizawa.

— O que que está acontecendo? – interpelou o Sr. Yagami.

Nem precisava ser gênio para saber o que o Shinigami estava tramando.

Ele estava escrevendo o meu nome.

Talvez ainda haja tempo, ou...

Bradei minhas últimas palavras, sem nem ao menos ter consciência de que eram realmente as últimas:

— Pessoal! O Shiniga...

Aviso inútil e descartável. Eu ouvia o sino novamente, daquela vez intenso e melancólico, quase que quebrando a barreira do som, decerto beirando o nível do insuportável. Se havia barreiras em minha mente, corpo e alma, estavam todas para sempre quebradas também. Previsível como beijo de novela e doloroso como último suspiro de mãe, meu mais doce apelo foi cortado pela metade, dentro de uma fração de segundo do tamanho de um alfinete. E por falar em alfinete, era como se houvesse um milhão deles espetando todos os meus vasos sanguíneos, fazendo vazar por infiltrações minúsculas toda a minha energia vital. Senti uma dor repentina no coração, como se a morte tivesse finalmente parado de brincar com os meus cabelos e, em vez disso, tivesse preferido puxá-los com toda a sua força, arrebentando todos os fios da minha existência.

O que me mantinha preso àquele mundo?

A colher de sobremesa que eu estava segurando caiu em câmera lenta de minha mão. Minha vida, antes tão significativa, fora abreviada por um roteirista maldoso. Estaria tal tragédia apoteótica impressa no script desde o início? Era quase palpável: havia linhas me puxando e me repuxando lá de cima, como que dizendo: "Mexa-se! Sei de cada um de seus passos, apenas tente escapar. Esforce-se! Como pode gritar por socorro se eu cortar todos os seus alicerces e te largar à própria sorte? Vinde a mim e admita: você está acabado".

Light... Ele premeditava minhas estratégias; eu era apenas uma marionete nas mãos de Kira. Era o fim: não havia mais histórias doces, amargas ou agridoces a serem escritas em minha linha do tempo, pois lá estavam todas as letras do meu nome, escritas cuidadosamente nas linhas de um Death Note:

ℒ-A-W-ℒ-I-E-T.

Efeitos baratos de slow motion, luzes coloridas disformes, flashes psicotrópicos, vitrais de igreja, mil e uma badaladas em Código Morse e sons de crianças chorando. Oh, papai, que aquilo me mantivesse respirando, oh, mamãe, que aquilo não me permitisse ser esquecido...

Perdi meu equilíbrio e caí da cadeira. Nada mais importava. A morte havia se cansado de apenas respirar na minha nuca e preferiu dar de uma vez uma bela garrafada metafórica no meu bulbo. Ora, ora, ora, ℒ, mas que jeito mais poético de descrever a própria morte... Light provavelmente riria da sua cara. Não obstante, tudo o que me consolava naquele momento era que talvez eu fosse mais artista do que eu imaginava. Ou quem sabe eu fosse apenas mais um palhaço de circo que imaginava fazer graça, quando na verdade só dançava em cima da própria desgraça.

Então é assim que a vida acaba?

Nunca pensamos que o fim está próximo. Acho que só pensamos quando ele chega.

~*~

Prezado Light,

Embora eu esteja dramatizando tal qual o melhor dos atores, não quero que você se lembre disso como algo tragicamente bonito. Nenhuma morte é tão bonita que possa se equiparar ao espetáculo da vida.

Mas do que eu estou falando, afinal? Eu nunca tive tesão pela vida. E vamos combinar, é muito fácil ter tesão pela vida depois que ela acaba.

Foi bom pra você?

ℒ.

~*~

Assim que eu estava prestes a me estatelar no chão, senti mãos ágeis me segurarem com força. Foi uma das últimas sensações que eu tive antes de apagar. E eu ainda estava consciente o bastante para saber quem era o dono daquelas mãos:

Li...ght...

— Ryuuzaki! O que aconteceu? – inquiriu Matsuda, certamente assustado.

Eu estava de olhos abertos, estático, sem conseguir mexer um único dedo. A consciência já se despedia tristemente de minh’alma, como num beijo de boa noite. Faltava-me oxigênio, faltavam-me forças, faltava-me tudo. No entanto, eu não queria que fosse rápido: almejava vislumbrar segundo por segundo de meu último sopro de vida. Eu poderia muito bem suportar mais alguns minutos agonizantes se aquilo significasse ter vivido em toda a minha plenitude. Afinal, meus lábios tão logo se fariam incolores tal qual folhas de árvores infrutíferas, meus olhos em breve se fechariam tal qual zíperes de fantasias infantis e meu corpo, antes tão quente, mergulharia em dilacerante decomposição.

Eu me converteria em fogo fátuo.

Mas não havia mais nada a perder para quem já havia disparado o gatilho de uma roleta russa. Viver era condição obrigatória para morrer. E se eu já estava atrasado e tinha que ir, era porque eu sabia que um dia eu tinha marcado presença.

Veni.

Vidi.

Vici?

(In)felizmente, morrer nos braços de Light me parecia o jeito mais (in)certo de morrer.

Por favor, Light, me diga que você não é o Kira, me diga que você não é o Kira... Me abraça e fala que você não fez isso, me fala que você não fez isso! Porque uma parte de mim quer que você seja o Kira, mas a outra parte... A outra parte só quer que você seja inocente! A minha criança interior implora de joelhos para que você seja meu amigo, para que você brinque comigo quando todas as outras crianças já tiverem ido embora... Meu semblante desolado, meus grandes olhos de íris escuras... Eles só querem que você esteja de mãos dadas comigo quando todas as minhas sinapses se desligarem... Por favor, Light, você não... Você também não...

Light?

Ele abriu um sorriso quando olhou nos meus olhos. Um sorriso sarcástico. Um sorriso... de satisfação?

Era o mesmo sorriso que eu rascunhava no meu rosto quando os meus objetivos eram devidamente concretizados.

Então você tinha algum objetivo com a minha morte, Light?

Por que diabos você está sorrindo?

LIGHT!

Ah, sim, como eu pude me esquecer?

Você é Kira. E está sorrindo porque acredita piamente que a partir de agora não haverá mais nada em seu caminho...

Eu... Eu sinceramente pensei que você pudesse ser melhor do que isso, Light. Eu realmente pensei que a sua integridade pudesse ser muito maior do que essa estúpida e ilusória sensação de poder, advinda de um caderno injusto aliado a uma mente podre, corrompida e impiedosa – e é claro que eu estou falando da sua mente.

Deus do novo mundo, é?

Não sou seu servo.

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Notas finais do capítulo

Para você que me lê: estou escrevendo as notas finais oito meses após a postagem da fanfic. Pode parecer estúpido, mas só agora consegui expressar algo que faça sentido para meus leitores. Em primeiro lugar, não há palavras para descrever como a minha própria história me toca até hoje. Eu misturei um pouco dos sentimentos do L aos meus... e é isso. Eu reli essa história centenas de vezes e sempre segurei as lágrimas em alguns trechos. Eu escrevi "Para Lawliet" enquanto ouvia o álbum Mechanical Animals, a maior obra-prima de Marilyn Manson, minha banda favorita. E bom, o que pode ser mais dramático do que narrar a morte do L ao som de "The Last Day On Earth"? Se você realmente gostou dessa história, peço que pare tudo o que estiver fazendo agora e escute "The Last Day On Earth" (o link está embutido na cruz de Lorraine logo abaixo da última linha da fic). Eu tenho uma história com essa música. Eu já me imaginei dançando no chão da sala com o L ao som dessa música. Eu já me imaginei cantando essa música enquanto fazia carinho nos cabelos dele até ele conseguir dormir. Para mim, é um belo modo de dizer que tudo ficará bem, ainda que a gente já saiba de todo o trágico desfecho... e da porra do melodrama. Acho que nunca a morte de um personagem me tocou tanto. Eu me peguei chorando durante várias madrugadas. Então, tive que escrever essas 5610 palavras para externar um pouco do que eu sentia. Foi como lavar a alma. Eu escrevi essa história no calor do momento e, nossa, foi, foi... eu não sei. O peso da morte dele ainda era recente na minha mente, não fazia nem uma semana que eu tinha descoberto... Só sei que eu fui escrevendo sem parar, meus dedos pegavam fogo. Eu estava à beira de enlouquecer. Chame-me de psicótica, chame-me do que quiser, mas quando vi L morrer, foi como se eu tivesse perdido alguém que eu amava. Logo... de toda a minha loucura saiu essa melancolia, meu lamento mais espontâneo, uma das coisas mais bonitas que já escrevi. Talvez eu esteja me gabando, mas acho que ninguém seria capaz de descrever a morte do L tão bem quanto eu, pois ninguém sentiu tanto a dor dele quanto eu senti. Loucura? Sim, mas genialidade e loucura andam de mãos dadas, meu clichê favorito. A história teve vários títulos provisórios até chegar ao título final "Para Lawliet". Lembro-me de que nos primeiros rascunhos a história se chamava "Angel Down", mas preferi intitulá-la "Para Lawliet" porque achei que ficaria mais intimista. Afinal, esse texto é o meu último presente a ele, meu tributo póstumo, o mais puro e o mais sincero. É uma história de Charbitch para Lawliet. Agora, para você também. A propósito, gostaria de agradecer aos leitores pelos favoritos, comentários e pela lindíssima recomendação que recebi. Hoje em dia, estou melhor, venci o meu luto e estou finalmente livre. Porém, como diria Marilyn Manson: "O que não te mata vai deixar uma cicatriz". Obrigada por tudo, meus caros leitores. Vocês fizeram desse tributo uma verdadeira poesia em prosa. L continua vivo.