Destinada escrita por Benihime


Capítulo 6
Capítulo IV




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Ártemis e eu treinávamos juntas, e ri alto ao me desviar de sua estocada. Não pude evitar aquela risada ante seu gesto desajeitado.

— Vamos, Arty, faça melhor do que isso. Sei que você consegue.

Meu encorajamento não surtiu efeito. Se tanto, apenas fez com que ela me dirigisse um olhar irritado, tão mortífero quanto uma de suas flechas.

— Ah, pare com isso, Lidy. Já sabemos quem venceu.

— Sim, sabemos. Quer parar por hoje?

Encerrei a luta com uma estocada que a desequilibrou, mas segurei seu pulso antes que caísse, puxando-a para perto de mim e lhe dando um beijo estalado na bochecha. Ártemis riu e me empurrou.

— Vai ser bom. — Ela respondeu. — Antes que seu ego aumente ainda mais.

— Até parece. Eu sou um anjo e nós duas sabemos disso.

Nós duas nos deitamos na grama, não muito longe do campo de treinamento. Fechei os olhos por um momento, sentindo o sol aquecer meu rosto. A sensação do sol e da brisa fresca era simplesmente maravilhosa.

— Sabe de uma coisa, Miss? Você precisa melhorar seu ataque. É fraco. — Provoquei, sem abrir os olhos. — Acho que você passou tanto tempo usando um arco e flecha que esqueceu como usar uma arma de verdade.

— E você precisa ser menos metida. — Minha irmã rebateu, fazendo-me rir.

— Não sou — Discordei. — Só conheço bem meus pontos fortes, e você também devia.

Ela revirou os olhos e virou o rosto para o outro lado, enfadada. Contive uma risada. Eu sabia que Ártemis era sensível, mas às vezes ela exagerava.

Ignorando minha irmã, fechei os olhos e me concentrei apenas no calor que nos envolvia. 

De repente o sol se escondeu e o ar esfriou vários graus. Ainda de olhos fechados, pude ouvir sussurros sendo trazidos pela brisa. Pulei de pé imediatamente, quase ao mesmo tempo que Ártemis, meus sentidos em alerta máximo.

Corremos juntas, entrando na mata cerrada logo ao lado do campo de treinamento. A ruiva era mais habilidosa do que eu naquele terreno, e logo fiquei para trás. Ártemis agarrou meu pulso e me puxou consigo.

— Merda! — Ela exclamou ao tropeçar em algo, perdendo o equilíbrio e caindo de joelhos.

Ficou óbvio assim que ela se pôs de pé que a deusa das caçadas não conseguiria mais correr. Ela mal conseguia apoiar o peso do corpo sobre seu calcanhar esquerdo.

— É uma boa hora para usar seu arco e flecha, não acha?

— Um arco e flecha é inútil quando não se pode olhar para o alvo.

Peguei Ártemis no colo e recomecei a correr. Eu era forte, mas nem tanto, e o peso extra me tornava mais lenta. Logo seríamos alcançadas, e sabíamos disso.

— Luz do sol — Ela disse de repente — É claro! Temos que ficar no sol, Lidy. Transfiguradores odeiam luz.

Olhei para a brecha entre as árvores, a uns oitocentos metros de distância. Eu podia sentir o bafo gélido do Transfigurador, o que quer que aquilo fosse, atrás de mim. Jamais conseguiria. Só havia uma opção.

— Feche os olhos — Ordenei.

Ártemis obedeceu sem protestar no exato instante em que uma forma indistinta, quase uma sombra, saiu de entre as árvores e veio ao nosso encontro.

 — Lidy, não. Não faça isso. Ele vai …

— Não, não vai. — Garanti, sabendo instintivamente o que fazer. — Porque eu não estou com medo.

Eu cheguei a pensar que tinha uma chance de vencer, pensei realmente que conseguiria. Ergui os olhos e encontrei o olhar daquela coisa à minha frente. Seus olhos eram como buracos negros, e fiquei presa ali. Era impossível me afastar, impossível desviar o olhar. Aqueles olhos negros preencheram meu campo de visão, e me vi dentro de meu pior pesadelo.

O campo de batalha está muito escuro, mas posso sentir que não sou a única aqui. De repente as chamas se erguem com um rugido, iluminando tudo. Vejo todos que eu amo ou um dia amei à minha frente, sendo torturados por mãos invisíveis, gritando meu nome. Apenas eu estou livre, somente eu posso lutar. Tento fazer alguma coisa, mesmo o menor movimento, mas estou presa por correntes invisíveis. Ouço as risadas demoníacas, que se comprazem com meu desespero.

Depois disso senti-me fraca, amedrontada demais para continuar. Aquela coisa era mais do que eu podia enfrentar. Tudo ficou escuro e perdi a noção de qualquer coisa que não fosse o pesadelo que me cercava.

— Lydia? Lydia, pode me ouvir?

A voz era familiar, mas eu não conseguia identificar. Estavam todos acorrentados ... Eu precisava ajudar!

— Não! Não, me solte! Eu preciso salvá-los.

O grito escapou antes que eu pudesse evitar, e mãos me seguraram com firmeza pelos ombros.

— Está tudo bem — A voz garantiu — Abra os olhos, Lydia. Olhe para mim. Você está segura.

Braços fortes me envolveram. Eu me deixei ir por instinto, aninhando-me naquele cheiro familiar. Chorei como uma criança assustada, e em nenhum momento o abraço se afrouxou ao meu redor.

Mais calma, finalmente me permiti entreabrir os olhos. Preto. Tudo o que vi foi preto. Era bom, pois mesmo a luz indistinta filtrada por todo aquele pretume já feria meus olhos. Respirei fundo, permitindo que o cheiro me acalmasse. Era um perfume familiar, de colônia masculina e ... Couro!

Consegui finalmente reunir forças para erguer o rosto, surpresa e humilhada ao perceber que era Ares quem me abraçava.

Normalmente, minha primeira reação seria empurrá-lo para o mais longe possível, mas naquele dia não consegui. Naquele dia me agarrei a ele, aproveitando a sensação de proteção enquanto ele continuava a me abraçar. 

Eu sabia, talvez melhor do que ninguém, o quão forte aquele homem realmente era. Mesmo que ele estivesse me abraçando com força suficiente para quase me tirar o fôlego, aquilo não chegava nem a um décimo de sua verdadeira força. Ares estava obviamente se contendo, talvez receando me ferir, o que por uma estranha razão fez com que mais lágrimas corressem por meu rosto.

— Por que? — Inquiri, enfim. — Pensei que você não me suportasse.

— Mas você ainda é minha irmã. — Ele respondeu — Além do mais, fiz uma promessa.

Aquelas palavras calaram fundo em mim. Por um momento não consegui entender o que havia de especial nelas, mas então a memória veio à tona.

Olho para o sátiro inconsciente e depois para Ares, tentando sorrir.

— Obrigada.

Ele abre um sorriso largo, estufando o peito com orgulho. Sendo tão jovem como é, o gesto é quase cômico.

— Sempre que precisar, Lids. Afinal, você é minha irmãzinha.

Me aproximo e o abraço. Ares retribui com o braço livre, aquele que não está segurando o porrete.

— E se um dia algo assim acontecer de novo? — Considero, assustada.

Ares segue meu rosto gentilmente para que eu o olhe nos olhos.

— Não vai, Lids.

Só ele me chama de Lids. É reconfortante ouvir esse apelido, tão bom que quase me dá vontade de chorar.

— Como você sabe?

— Porque, se alguém quiser fazer mal a você, tem que passar por mim primeiro. E eu sempre vou te proteger.

— Promete?

— Prometo.

Olho naqueles olhos cor de esmeralda, vendo a seriedade em seu semblante. Naquele momento, Ares parece ser o mais velho. E eu acredito nele.

— Nós éramos …

Ares me ergueu nos braços sem esforço, minha cabeça apoiada em seu ombro como se eu não fosse mais do que aquela garotinha novamente, a mesma que um dia ele salvou de um sátiro lascivo. Para surpresa de nós dois, não ofereci resistência ao gesto.

— Depois falamos disso. — Ele disse simplesmente. — Agora descanse.

— Mas nós dois …

— Apenas descanse, Lids. Você precisa.

Não tive forças para discutir. O Transfigurador parecia ter sugado tudo de mim. A última coisa que senti foi que Ares me carregava, seus braços formando um casulo ao meu redor.

Muitas horas depois

???

Silenciosamente, entrei no quarto escuro. Lydia estava profundamente adormecida, iluminada por um raio de luar. Ao olhá-la, quase mudei de ideia sobre o que tinha prometido fazer. Ela parecia tão inocente.

Balancei a cabeça para me livrar desse pensamento e abri o frasco de cristal que trouxera. Apenas uma gota seria o suficiente, ela me garantira. Sem acordá-la, derramei o líquido entre seus lábios. Esperei alguns segundos para ter certeza de que faria efeito.

Sua testa se vincou e ela soltou uma exclamação baixa de dor, virando-se agitada na cama. Sorri comigo mesma. O veneno já estava agindo.

Lydia

Acordei no meio da noite sentindo-me horrível. Era como se alguém estivesse tentando abrir minha cabeça e me fritar por dentro ao mesmo tempo. Meus membros pesavam como chumbo, incluindo as pálpebras. Apesar da dor de cabeça, acabei voltando a dormir, pois a fraqueza venceu as dores.

Atena

Na manhã seguinte

Não recebi resposta ao bater na porta do quarto de Lydia. Tentei a maçaneta. Para meu espanto, estava aberta.

— Precisa tomar mais cuidado, Lydia — Sussurrei para mim mesma.

Ao entrar, não foi difícil localizar minha irmã. Ela ainda estava na cama.

— Lidy — Chamei — Lydia, sua preguiçosa, já são dez da manhã. Hora de acordar.

Não houve reação alguma, nem o menor indício de movimento. Havia algo estranho no ar, também, um cheiro tão doce que chegava a ser enjoativo, quase repugnante.

Me aproximei de Lydia, notando o quanto estava pálida. Ela parecia uma boneca de cera. Toquei-a e senti meus dedos queimarem. Minha irmã estava ardendo em febre.

— Ah, meus deuses! — Exclamei involuntariamente. — Veneno de Escorpião do Estige!


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