Destinada escrita por Benihime


Capítulo 7
Capítulo V




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Ares

Molhei o pano na água e passei pelo rosto de Lydia, numa tentativa de diminuir sua temperatura, rezando para que Atena encontrasse uma cura entre seus livros. Lydia parecia mais pálida a cada hora, apesar da febre.

— Vamos, Lids. Abra os olhos. — Instei baixinho, não querendo que a loira sabe-tudo abelhuda me ouvisse. —  Eu sei que você consegue.

— Ela não vai acordar, Ares. — Atena declarou, embora sem aquele seu habitual tom de superioridade que tanto me irritava. — Não por conta própria, pelo menos.

Virei-me para a loira, surpreso ao ver quem estava ao seu lado.

— Hécate!

Por reflexo me posicionei na frente de Lydia, disposto a protegê-la por quaisquer meios necessários.

— Calma, irmão. — Atena disse  — Ela conhece uma cura.

— É verdade, Hécate?

— É sim. — A Deusa da Magia confirmou — Não é fácil, mas será eficaz.

— O que é preciso?

Ela abriu o livro que trazia consigo, chegando mais perto de mim para que eu visse, oferecendo-me o tomo aberto. Nunca entendi muito de magia, mas aquele feitiço parecia particularmente complexo.

— São só quatro ingredientes. — A Deusa da Magia explicou. — Mas não são de fácil obtenção.

— Apenas me diga o que fazer.

Seus olhos se arregalaram levemente de surpresa, mas ela logo recobrou a compostura.

— O primeiro de tudo é uma lágrima de Lydia. Precisamos da essência dela.

— Com ela inconsciente, isso é impossível.

— Não, não é. Eu posso fazer isso. Com o feitiço certo.

Hécate se aproximou de Lydia e segurou uma de suas mãos, ajoelhando-se e sussurrando tão baixo que não pude entender suas palavras. Lydia começou a estremecer violentamente e então soltou uma exclamação abafada de dor. Quando eu estava prestes a interromper, sem suportar mais vê-la daquele jeito, uma lágrima correu por sua bochecha. Hécate fez surgir um pequeno frasco e a coletou.

— O que vem agora? — Inquiri.

Hécate me lançou um olhar astuto, de quem podia ver dentro de mim.

— Antes preciso saber por que está se envolvendo. E quero uma resposta sincera.

— Porque é Lydia. — Foi a minha resposta, dada antes que eu sequer pudesse parar para pensar. — Não posso ficar de braços cruzados. Eu jurei jamais deixar ninguém machucá-la.

A Deusa da Magia sorriu levemente, como se minha resposta a agradasse.

— O próximo passo é uma flor. — Ela abriu o livro novamente, apontando para um desenho — Mas a Raio de Luar não é uma flor comum. Só floresce na Floresta Negra, uma vez a cada século.

Hécate me entregou o livro e analisei a imagem da flor. Parecia uma dama da noite, como as que Lydia havia me mostrado quando éramos mais jovens, mas as pontas de suas pétalas eram negras.

— Floresta Negra, não é?

— Isso — Ela confirmou. — Mas tome cuidado. A Raio de Luar só floresce à noite. Da última vez que ouvi, Licáon e seu bando de lobos estavam rondando por lá.

 — Tomarei cuidado. — Garanti.

Horas depois

Admirado, parei para ver a flor aninhada entre as raízes da enorme árvore. Era mais bonita do que Hécate descrevera, suas pétalas bicolores brilhando sob a luz da lua cheia. Estendi uma das mãos para colhê-la, mas algo me fez parar. Eu me sentia ... Observado.

— Quem está aí?

Um lobo cinzento saiu de entre as árvores, imediatamente assumindo a forma de um homem que eu conhecia.

— Ora, ora, Deus da Guerra. — Ele disse friamente — O que faz aqui? Não sabe que esse território é dos lobos?

— Não vim para brigar, Licáon. — Anunciei — Estou aqui apenas como um favor a Hécate.

Obviamente eu disse a coisa errada. Licáon pareceu se inflamar com a fúria.

— Aquela bruxa de araque! — Esbravejou. — Ela tem a audácia de mandar alguém até aqui!

Ele emitiu um longo assobio e de repente eu estava cercado por lobos. As palavras de Hécate me atingiram novamente: Lembre-se, Ares: seja rápido. O antídoto só funciona se for ministrado em menos de um dia. Lydia tem pouco tempo.

Era óbvio que Licáon pretendia brigar, o que me atrasaria. Eu precisava de um plano, mas não conseguia pensar em nada. A urgência da situação parecia ter deixado meu cérebro completamente travado, incapaz de formular qualquer plano.

— Eu não quero confusão, Licáon. — Foi só o que pude pensar em dizer. — Apenas me deixe terminar o que vim fazer e tem minha palavra de que irei embora em seguida.

— E o que exatamente você veio fazer aqui, Ares?

— A flor. Raio de Luar. Hécate me pediu para colhê-la.

— Para que a falsa feiticeira precisaria da Raio de Luar?

— Eu não ... Não posso lhe dizer.

— O que acaba com seu argumento. Infelizmente.

Ele fez um sinal e os lobos atacaram. Estendi a mão direita, meus dedos instintivamente segurando o cabo de minha espada quando ela se materializou. 

Teria sido uma excelente estratégia, se eu tivesse levado em conta que os lobos sempre atacam em bando. Pelo menos dez deles saltaram sobre mim e me vi soterrado sob um mar de dentes e garras afiadas.

Sem outra opção, puxei a adaga em meu cinto, usando-a para mantê-los longe enquanto tentava me levantar. Um deles cravou as presas em meu ombro, outro na perna. Arranhões já cobriam meu corpo. Se eu fosse mortal, não teria resistido a um ataque tão selvagem.

Lembrei de quando Lydia e eu treinávamos juntos. Ela tinha um truque que nunca falhava. Pensar em Lydia, imaginar seu rosto cada vez mais pálido, me deu ainda mais forças para agir.

Fingi ceder, deixando meu corpo relaxar, mas não baixei a guarda. Quando os lobos investiram novamente, pulei de pé e consegui afastá-los, lançando-os longe. Somente por um segundo, me permiti desfrutar daquele feito, sentindo o orgulho que provém de uma boa luta.

 — Licáon, já chega. — As palavras  deixaram minha boca antes que eu pudesse impedir — Tenho que voltar. Lydia precisa de mim!

— Lady Lydia?

O tom dele foi brando, curioso. Lydia tinha sido uma das poucas olimpianas a defender o deus lobo. Ele, obviamente, não esquecera a gentileza dela. Com um estalar de seus dedos, os lobos que rosnavam silenciaram.

— Ela foi envenenada. — Expliquei — Se eu não levar a flor, permanecerá dormindo para sempre.

— Está bem, Deus da Guerra. — Ele cedeu finalmente. — Em honra à dívida que tenho para com Lady Lydia, permitirei que leve a Raio de Luar.

— Obrigada.

— Não agradeça. — Foi a resposta — E espero jamais ver um olimpiano em meu território novamente.

— Cuidarei disso.

Licáon meneou a cabeça em sinal de agradecimento e eu retribuí o gesto, vendo-o reassumir a forma de lobo e afastar-se com sua alcateia. Com os lobos fora do caminho, finalmente pude colher a flor e voltar ao Olimpo.

Minutos depois

Atena estava sentada na beira da cama de Lydia, ainda tentando manter sua temperatura estável. Hécate lia sentada em uma poltrona no canto do quarto.

Minha morena parecia ainda mais pálida, como uma boneca de cera. Ao olhar para Atena logo vi, pelos lábios mordidos e a testa franzida, que algo não estava certo.

— Como ela está? — Inquiri.

— Piorando. A febre aumenta a cada minuto.

— Você conseguiu? — Hécate inquiriu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

Entreguei-lhe a flor sem dizer uma palavra e ela sorriu em aprovação.

— Qual é o último ingrediente? — Atena exigiu.

— O último ingrediente é sangue. — Foi a resposta — Sangue daquele que verdadeiramente a ama.

— Mas como saberemos quem é essa pessoa? — Eu quis saber.

Hécate me olhou como se eu fosse especialmente estúpido.

— Já sabemos, Ares. Ou melhor, você já sabe.

Quase neguei imediatamente, por puro reflexo, mas algo me calou. Hécate tinha razão. Eu já sabia.


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