Destinada escrita por Benihime


Capítulo 37
Capítulo XXXV




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Atena

O exército inimigo era gigantesco, com cerca de dez deles para cada um de nós. A queda no moral das tropas ante essa disparidade foi óbvia, quase palpável.

Então Lydia apareceu. Envergava uma belíssima armadura de ouro e tinha os cabelos negros presos em uma grossa trança. Nas mãos, carregava a Espada do Destino, sua postura emanando poder e autoridade.

— Sim, essa em minhas mãos é a verdadeira Espada do Destino. — Minha irmã anunciou. — A arma original de Uranos, selada há éons para que jamais fosse empunhada novamente. Porém, hoje, eu a empunho. Não posso garantir que venceremos Cronos e Caos, mas posso garantir que darei minha vida por essa possibilidade, se necessário, porque a derrota não é uma opção. Hoje, luto por nossa família. Pelo Olimpo!

Todos os deuses, assim como o restante dos guerreiros, explodiram em vivas a seu pequeno discurso. Com orgulho, me juntei a eles.

Ares

O grito de guerra soara tão alto que praticamente sacudiu a terra. 

Acompanhei Lydia com o olhar, pronto para defendê-la se qualquer coisa acontecesse, mas me vi surpreendido. Todos os inimigos caíam perante sua espada. Ela girava, bloqueava e atacava com a graça de uma pantera, praticamente dançando pelo campo de batalha.

Pela primeira vez, percebi realmente o quão forte era aquela mulher. Ela, com certeza, havia nascido para governar o mundo.

Lydia

Expulsei qualquer pensamento, focando mente e sentidos na batalha. Entrei em um frenesi de violência, meu ódio impulsionando a Espada do Destino.

Tudo em que eu conseguia pensar era matar Nyx. A batalha sendo travada era apenas uma distração de meu verdadeiro objetivo. A voz dela soou pelo campo de batalha, chamando meu nome.

— Maldita! — Urrei — Venha me enfrentar, covarde!

Num segundo ela estava à minha frente, seus olhos luzindo de expectativa. Havia algo mais, porém. Seria preocupação? Parecia que sim, mas não me permiti acreditar em tal tolice.

— Acha mesmo que pode me vencer?

— Precisa mesmo me perguntar isso toda vez que nos enfrentarmos? — Ela simplesmente abriu um sorriso irônico em resposta a minha provocação. — Lute justo. Nada de truques.

— Juro pelo Estige que lutarei nos seus termos.

Nós nos encaramos, uma avaliando a outra. Fiz como Gaia recomendou, refreando meu ódio. Nyx atacou primeiro, e foi fácil bloquear seu golpe vindo de cima. Ela atacou novamente, chicoteando a espada com velocidade incrível. Pulei para longe do alcance da lâmina.

— Fugindo. — Ela troçou — Eu já imaginava. Você não é diferente desses covardes.

— Cale a boca e lute.

Nyx arremeteu contra mim e bloqueei seu golpe pela esquerda. Ela era forte, mas não muito boa com a espada. Estava claro que se valia demais de seus poderes e isso criara uma vulnerabilidade.

Gaia me dissera para usar meus poderes e foi o que fiz, deixando a magia fluir e fazer seu caminho. Senti uma dor lancinante entre as omoplatas, apenas por um segundo, e em seguida elas surgiram. Asas. Gloriosas asas de fogo que obedeciam à minha vontade como se comandadas por pensamento.

— Não sabia que você era uma feiticeira. — A Deusa da Noite troçou. — O que acontece com a sua luta justa?

— Nunca fiz nenhum juramento, Nyx. Ou não percebeu isso?

— Ora, sua garota desgraçada!

Nyx arremeteu contra mim. Pensei que ela usaria sua espada, mas fui agarrada pela cintura e imobilizada contra seu corpo. A espada da Deusa da Noite estava em meu pescoço e eu sabia que ela acabaria comigo se eu fraquejasse. 

Ignorando o asco que o ato me causava, consegui virar-me um pouco, tomei seu rosto entre as mãos e a beijei na boca. A surpresa a fez me soltar. Eu me pus fora de seu alcance com uma batida das asas.

— Engenhosa. — Ela sibilou. — Mas não é forte o bastante.

— Engraçado, Zeus também disse isso. — Zombei. — E ele agora está morto.

Ensaiei um golpe pela esquerda para fazê-la baixar a guarda, mas não funcionou. Por mais que eu tentasse, sua espada sempre bloqueava a minha. 

Frustrada, passei a usar minhas asas como instrumento de combate, confundindo Nyx ao batê-las ou então adejando em volta dela rapidamente e atingindo-a de vários lados. Por mais rápido que eu lutasse, porém, não parecia estar funcionando. Nyx defendia meus ataques e os que a atingiam mal pareciam afetá-la.

Num golpe mais próximo, minhas asas roçaram seu rosto e a ouvi ofegar de dor. Isso me deu uma ideia. Fingi cair, como se estivesse exausta demais para continuar a batalha. Nyx tentou se aproveitar disso e agarrei seu pulso com tanta força que a fiz soltar a espada. 

Puxei-a para perto de mim, abraçando-a com as minhas asas. Nyx gritou de dor e contive um sorriso, soltando-a e vendo as queimaduras em sua pele. Minha intenção era acabar com ela, mas a memória me deteve.

— Se matá-la, não será melhor do que eles. — Gaia diz. — É isso que você quer, Lydia?

— Claro que não. —  Respondo. — Mas eu mereço justiça.

— Isso é apenas vingança, querida.

— São a mesma coisa.

— Vingança é executada com ódio. — Ela rebate gentilmente. — Não se esqueça de que, uma vez escolhido esse caminho, não haverá mais volta. O ódio prende mais do que qualquer corrente.

A lembrança das palavras de Gaia contiveram minha fúria. Olhei para Nyx. Seu rosto estava cheio de queimaduras, mas seus olhos não se desviavam dos meus, me enfrentando com orgulho até o último segundo.

— Vá em frente. — A dor era óbvia em sua voz. — Faça logo.

— Não, Nyx, você não vai morrer. É fácil demais.

Da pulseira que Hades me dera, retirei a água do rio Lete. Segurei o queixo de Nyx, forçando-a a beber todo o líquido. Ela logo depois desmaiou em meus braços.

Algum tempo depois

Observei Ares lutar por um momento, orgulhosa de sua habilidade. Ele realmente sabia o que estava fazendo. Como o Deus da Guerra, claro que isso não era surpreendente, mas era algo que eu sempre gostaria de observar.

— E aí, se divertindo? — Provoquei.

— Mais do que nunca, morena.

— Qual é a situação?

— Nyx está fora, como você já sabe. — Ele respondeu. — Os outros cuidaram de Cronos.

— Então eu cuido de Caos.

— Perigoso demais. — O Deus da Guerra declarou. — Temos que agir juntos. Todos nós.

Nem me incomodei em responder. Eu podia defender minha família, salvar aqueles que amava. Se eu agisse, a visão que Nyx me mostrara talvez não se concretizasse.

Ares

Observei Lydia correr para longe por apenas um instante. Uma vez tomada a decisão, só levei alguns segundos para emparelhar com ela.

— Se vai mesmo fazer isso, não vou deixá-la ir sozinha. — Declarei.

— Ares, eu não preciso que você me proteja.

— Já tivemos essa conversa, amor. Eu quero fazer isso.

— Está bem — O tom dela tinha um quê de satisfação. — Mas tente não atrapalhar.

Lydia

Embora não fosse admitir, eu me sentia mais segura sabendo que Ares estaria ao meu lado até o fim.

Como eu já esperava, Caos estava afastado da batalha, deixando que seu exército nos enfraquecesse antes de atacar. Covarde.

Fiquei surpresa com sua aparência. Ele era alto, mais alto do que qualquer homem que eu conhecia, e seu corpo era um feixe de músculos. Seus cabelos eram negros, assim como seus olhos. Olhos que brilharam de satisfação ao me ver.

— Ora, ora, então você é a famosa Deusa do Infinito.

— Não me subestime. — Adverti — Sou mais do que pareço.

Fiz como Gaia me ensinara, mas Caos era incrivelmente rápido e não consegui bloqueá-lo. Só precisei disso para perceber que todo meu treinamento seria inútil contra ele.

Caos atacou de novo e, por reflexo, bloqueei seu golpe segundos antes que atingisse meu ombro esquerdo. Depois disso a luta caiu no instinto, bloqueando seus golpes e atacando sempre que tinha uma chance. Funcionou bem por um tempo, até ele me atingir na garganta com o cabo da espada.

Ofeguei de dor e minhas pernas fraquejaram pela falta de ar. Caos aproveitou a chance e sua espada abriu um talho em meu peito, logo abaixo dos seios, que se estendia até o quadril do lado oposto. Prostrada de dor, fui segura por Ares.

Ares

Apesar do ódio que sentia, tentei ser gentil ao recostar Lydia contra o tronco de uma árvore. Voltei-me para Caos, que apenas abriu um sorrisinho irônico.

— Vai se arrepender de tê-la ferido.

Depois disso ataquei sem pensar em mais nada. A razão fora deixada de lado e só o que sentia era cólera, a fúria cega de um animal selvagem defendendo sua parceira.

Lydia

Minha visão estava embaçada e era difícil pensar. Mesmo fraca, eu ainda lutava. Não queria ceder à inconsciência, porém sabia que era mantida à tona apenas por minha força de vontade.

De repente senti algo quente sobre meu coração. O calor se espalhou pelo meu corpo, me dando forças. Consegui levantar e, surpresa, percebi que não havia mais ferimento algum em meu peito, porém o pequeno ponto de calor ainda permanecia. O Cristal de Almas, concluí, ao perceber o belo pingente brilhante. Ele me salvara.

Use o medalhão. Gaia disse Abra-o, Lydia.

Obedeci e houve um abalo poderoso na atmosfera, o que fez com que Caos e Ares olhassem para mim. Caos me avaliou com franca curiosidade.

— Como você foi curada? — Em resposta, mostrei-lhe o cristal. — Ah, eu devia saber. Gaia sempre encontra um modo de atrapalhar meus planos.

— Chega de conversa. Vamos resolver logo isso.

— Como quiser, madame.

Na luta, surpreendi-me. Eu estava muito mais forte, e mais rápida. Isso, porém, não era o bastante, eu sabia. Só havia uma forma de garantir a vitória.

Me concentrei, invocando cada grama de poder que possuía, e então pronunciei o encantamento do Ignis Draco. Um vento forte começou a soprar e então, como se formado de névoa, um portal apareceu. Caos tentou evitar, mas foi sugado para dentro dele.

No momento em que o portal se fechou, foi como se mil raios de energia zunissem por meu corpo. Longe de ser de alguma ajuda, a energia parecia sugar cada centelha de vida em meu corpo. De repente senti medo. Gaia disse que o feitiço me tornaria mortal, e isso significava ... Estremeci de puro pavor ante a mera possibilidade.

Não consegui me manter de pé, mas senti os braços fortes de Ares me segurando. Minha visão estava começando a escurecer. Eu sabia que aquela era a última vez, e precisava de mais tempo.

Tempo, claro! Usei o fragmento da Pedra Cronos para conseguir mais alguns momentos. Minha fraqueza se dissolveu. Eu estava bem novamente, pelo menos por um momento.

— Ares, me escute. — Minha voz era baixa. — Usei a Pedra Cronos. Eu precisava de mais tempo. Não poderia partir sem dizer adeus.

— Não. — A dor era óbvia em sua voz. — Você prometeu, Lids.

— Eu disse que seria sua esposa quando tudo isso acabasse. — Lágrimas arderam em meus olhos. — O problema é que nunca vai acabar. O feitiço tirou minha imortalidade, Ares.

— Isso não é uma despedida, Lydia. — Ele declarou. — Vou encontrar um modo de ficarmos juntos. Eu juro pelo Estige. E você, jure que não me esquecerá.

— Claro que não, Ares. Eu juro pelo Estige.

— Está com o anel que eu te dei?

— Estou.

— Ótimo. Mantenha-o com você. Nós fizemos um juramento …

— E não serei eu a quebrá-lo. — Completei, tentando sorrir através das lágrimas. — Agora me beije, meu amor.

Ele obedeceu, reclamando meus lábios em nosso último beijo. Tinha gosto de lágrimas, ainda mais amargo pelo que eu sabia que precisava fazer. Assim que seus lábios libertaram os meus, baixo demais para que ele pudesse ouvir, sussurrei o encanto.

Esqueça

Ele não sofreria como eu, não se lembraria de nada. Foi quando não pude mais manter o poder da Pedra Cronos e o tempo voltou a fluir. Minha visão escureceu, minhas forças me abandonaram e desabei nos braços de Ares.


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