Destinada escrita por Benihime


Capítulo 38
Epílogo




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Lydia

A noite está fria, e passo um xale sobre meus ombros antes de sair para o jardim dos fundos, protegido por seus altos muros cobertos de hera.

Caminho devagar, ouvindo o som de risos e conversas na casa ao lado. Mordo o lábio, contendo o impulso ridículo que já me assaltara mais de uma vez nos últimos anos. 

Às vezes, tenho vontade de contar a eles. Contar minha história. Contar que amei alguém com todo o meu coração, mas isso não foi suficiente no final. Contar que poderia ter sido poderosa como as outras pessoas apenas sonham. Contar que às vezes a saudade me machuca mais do que qualquer golpe fatal. Esta noite fazem quarenta anos. Quarenta anos desde que perdi tudo o que mais amava.

Caminho devagar e enfim chego ao meu destino: a roseira tricolor, presente de Gaia. Um último dom do Olimpo, para que eu jamais esquecesse.

Toco levemente suas pétalas prateadas, vermelhas e azuis. A flor é perfeita e a toco sem medo, pois aquela roseira não tem espinhos. O movimento faz com que o anel de opala que pertencera à minha mãe adotiva brilhe na luz.

Algumas semanas depois de eu me tornar mortal, encontrei uma Dama da Noite em meu criado mudo. Reconheci imediatamente o perfume denso e misterioso, o mesmo que eu sentia perto de Nyx. Preso ao caule da flor, um bilhete: 

Ela diz que sente muito e que tem algo que pertence a você. Willow Creek às 22h. Vou entender se não quiser vir.

Gaia escrevera o bilhete, e eu jamais poderia negar nada a ela. Fui a Willow Creek, onde Nyx e Gaia me esperavam.

— Primeiro escute. — Gaia diz — É diferente agora, eu lhe garanto.

— Gaia tem razão — Nyx se manifesta. — Aquela derrota mudou muita coisa. Eu mudei. Para melhor, embora ninguém acredite nisso.

— Eu acredito. — Digo, surpreendendo até a mim mesma. — Se não fosse verdade, Gaia não a ajudaria.

— Eu a convenci. — Nyx ri suavemente. — Queria lhe devolver isto pessoalmente.

Ela abre uma das mãos, revelando o anel de opala que minha mãe adotiva me dera tantos anos antes.

Naquela noite perdoei Nyx. No dia seguinte a roseira nascera em meu jardim. O cheiro pungente das rosas me transporta novamente ao passado e, por um breve momento, sou novamente a Deusa do Infinito. Mas então o momento passa e tenho setenta anos novamente.

Deito na grama de olhos fechados, imaginando que consegui encontrar uma forma de voltar para casa. A brisa que sopra traz o saudoso cheiro de flor de laranjeira e alecrim. O sussurro das folhas se torna a mais bela canção que Apolo poderia tocar em sua lira. Posso ouvir as vozes de minha família, e todos estão bem.

Abro os olhos novamente e a ilusão se desfaz. Agora só há silêncio. Observo as estrelas cintilantes e deixo uma lágrima escapar. Só uma, porém, pois, apesar de tudo, não consigo me arrepender da escolha que fiz.

Uma de minhas mãos instintivamente busca o colar que nunca tirei em todos esses anos. Pendurado na corrente está o anel que Ares me deu, o símbolo da derradeira promessa que fizemos. Mesmo após tanto tempo, ainda espero. Na verdade, sempre estarei esperando, e gosto de acreditar que ele também espera por mim.

Ares

Trinta anos depois

— Ainda não entendi por que isso é necessário.

Afrodite apenas riu de meu mau humor e continuou caminhando.

— Porque sim. — Ela respondeu. — Não discuta comigo, Ares. Apenas espere um pouco e vai entender.

Desisti de argumentar. Afrodite sabia ser teimosa quando queria.

— Odeio você.

— Também te adoro, grandalhão.

Sentamos em um dos bancos dispostos ao longo da trilha no parque e ela puxou assunto novamente. Me distraí com a conversa e só voltei à realidade quando alguém se aproximou.

Ela era baixinha, foi a primeira coisa que percebi. Seus cabelos eram ruivos, quase da cor do fogo e seus olhos eram enormes, cor de chocolate. Alguma coisa no modo como aquela garota sorriu me pareceu muito familiar. Olhando para o lado, vi Afrodite retribuir o sorriso e acenar.

— É sério? — Resmunguei — Pensei que tínhamos um acordo.

— Prometi parar de tentar te arrumar encontros. — Ela lembrou. — Mas, com Melanie, não vai ser só um encontro.

— Afrodite …

— Dê uma chance, ok? — A Deusa do Amor insistiu. —  Nunca se sabe. Pode acabar surpreso.

Concordei de má vontade enquanto a garota chamada Melanie se aproximava. Tinha alguma coisa nela ...  Algo diferente, e ao mesmo tempo familiar.

— Hey, Lilly.

— Oi, Mel. — Afrodite soava animada demais para o meu gosto, como se soubesse algo que eu não sabia. — Que bom que conseguiu vir.

— Eu precisava mesmo sair um pouco. — Foi a resposta, dada em tom de timidez. — Obrigada por me convidar.

— Amigas são para isso — A loira riu — E este é Johnny, meu irmão.

— Prazer em conhecê-lo.

Aceitei a mão que ela estendia. Ao tocá-la, senti um choque elétrico percorrer meu braço.

— O ... Prazer é meu. — Respondi, meio desconcertado.

O celular no bolso de Afrodite vibrou. Ela olhou rapidamente e lançou um olhar malicioso para mim.

— Ah, droga, o dever chama! — Seu tom de lamento era tão falso que quase qualquer um perceberia. — Sinto muito, Melanie.

Ela fez um gesto discreto para mim, que imediatamente percebi a indireta.

— Provavelmente é algo rápido. — Sugeri. — Podemos esperar um pouco. Se você não se importar, é claro …

Melanie corou, mas assentiu, indicando que não se importava. Afrodite acenou uma despedida e se afastou a passos rápidos.

— Lilly …

O tom de repreensão era óbvio na voz da ruiva.

— Não ligue para ela. — Falei — Lilly sempre teve um parafuso a menos.

Melanie riu baixo e ergueu aqueles enormes olhos castanhos. Alguma coisa no modo como ela me olhava me fez pensar que já a conhecia.

— Isso é bem óbvio — Brincou — E então ... O que quer fazer enquanto esperamos?

Afrodite

Eu sorri ao ver os dois se afastarem juntos. Fiquei tão concentrada observando que não percebi que tinha companhia.

— Os dois ainda ficam bem juntos.

O comentário de Gaia me fez pular de susto.

— É, eles ficam. — Concordei enfim, já recuperada — É bom ver Ares e Lydia juntos de novo.

Nós duas observamos por mais um momento, apreciando a reunião, e depois nos afastamos, deixando o casal a sós.

Lydia

Um ano depois

Senti alguém cobrindo meus olhos e sorri.

— Não pensei que você teria coragem de vir me encontrar — Johnny sussurrou em meu ouvido. — Não sem sua escudeira.

Quase ri com sua provocação boba, me virando para fuzilá-lo com os olhos.

— Até parece. — Rebati. — Até onde sei, era você quem estava com medo. Afinal, olhe só quanto tempo me fez esperar.

— Eu não a fiz esperar. — Ele rebateu. — Só queria saber se você teria coragem para ir atrás do que quer. E você não teve. Você é uma pequena covarde.

Eu ia retrucar, mas ele me fez calar a boca. Literalmente. Fiquei ocupada demais retribuindo seu beijo para sequer me lembrar de falar.

Eu não era nenhuma santa, já havia beijado antes, é claro. Mas aquele beijo ... Aquele beijo foi diferente de tudo o que eu já havia experimentado. Explodiu como fogo em minhas veias, me fez perder o fôlego em um único segundo. E, infelizmente, acabou cedo demais.

Johnny me deu mais um beijo curto e então se afastou, abrindo um sorriso de moleque travesso que fez meu coração já acelerado disparar.

— Boa noite, ruivinha.

Naquela noite demorei a pegar no sono, tomada por lampejos de imagens. Eram apenas flashes de imagens borradas, rápidos demais para que eu as assimilasse. Quando finalmente consegui dormir, tive o sonho mais estranho de todos:

Estou perto de um lago. No ar, cheiro de água, sol e laranjeiras. Me permito fechar os olhos, desfrutando a paz daquele lugar. Passos soam de repente atrás de mim, fazendo com que eu me vire rapidamente. A mulher sorri, e seu sorriso é uma saudação muda. Algo em seu rosto ... Eu jamais a vi mas, ao mesmo tempo, sei que a conheço.

— Gaia!

O nome escapa de meus lábios antes que eu possa evitar e a mulher assente, indicando que estou certa.

— Mas ... Como?! O que você está fazendo aqui?

— O "como" não importa. — Ela diz gentilmente. — Importa somente o motivo. E estou aqui por você. Para lhe mostrar quem você realmente é.

— Eu sei quem sou.

— Será que sabe? — Ela ri suavemente. — Olhe para o lago.

Obedeço. Por um segundo vejo apenas meu próprio rosto, mas então as águas se encrespam e a imagem muda. Agora é uma mulher de cabelos negros refletida na água. Espantada, levo uma das mãos aos meus cachos. A mulher na água faz o mesmo. Fico mesmerizada por seus olhos azul-esverdeados. Seus, não. Meus olhos. Arquejo de surpresa quando a memória retorna e me volto para encarar Gaia.

— Enfim você se lembra, Lydia.

Lydia ... Lydia ... O nome ressoa em meus ouvidos, e uma parte longínqua de mim o reconhece. Meu nome.

— Agora que você recuperou sua memória ... — Gaia continua. — Há uma escolha que precisa fazer.

Ela toma minhas mãos entre as suas, virando minha mão direita com a palma para cima e depositando ali uma pulseira negra. Meus olhos se arregalaram ao reconhecer a jóia.

— Você a entregou a mim. — A Mãe-Terra diz. — Agora ela volta a você. Sabe o que fazer, Lydia. E lembre-se: a escolha é sua.

Acordei rapidamente, meu coração aos pulos, e sentei na cama respirando com dificuldade. Me forcei a respirar profundamente três vezes, tentando convencer a mim mesma de que fora apenas um sonho. Mas meus olhos não me deixavam negar. Ali, em meu pulso direito, brilhando agourentamente à luz do luar que entrava pela janela, estava a pulseira de ferro estígio.

Uma alegria selvagem e inesperada tomou conta de mim quando meus olhos se fixaram no pequeno pingente de citrino. Minha mão se estendeu para ele sem um comando consciente e, quando meus dedos o tocaram, o pingente virou um frasco contendo um líquido âmbar. Eu sabia o que era, ou pelo menos aquelas estranhas memórias sabiam.

Hesitei, erguendo o frasco até o nível dos meus olhos e encarando  intensamente o líquido. Outro lampejo de memória me atingiu, a visão de um par de olhos verdes que queimavam ao se fixar nos meus. Esses olhos acabaram completamente com minha hesitação. Sem pensar em mais nada, bebi o conteúdo do frasco.

Foi a sensação mais libertadora de todas. A onda de calor que se seguiu se espalhou por todo o meu corpo, varrendo cada músculo e trazendo uma nova energia. Fiquei parada um segundo quando acabou, esperando para ter certeza de que acabara, e então abri os olhos, que nem percebera haver fechado.

Meu olhar vagou pelo quarto, indo finalmente encontrar seu alvo: o espelho fixo na parede perto da janela. A surpresa foi tanta que pulei de pé e me aproximei do objeto. Ali, refletida no espelho, estava algo completamente inacreditável. Sorri ao erguer uma das mãos, meus dedos se enrolando nas mechas negras de meu cabelo.

Lydia

A voz de Gaia em minha mente era familiar, e meu sorriso se alargou.

Gaia E eu sabia que ela podia me ouvir também. Muito obrigada.

Pude praticamente ouvir seu riso, aquela risada satisfeita e cheia de si que eu aprendera a amar.

Que bom que está de volta, Lydia.

Ainda não, respondi Agora, é hora de voltar para casa.

E o que você está esperando?

Uma risada exultante escapou de meus lábios quando me concentrei e senti a familiar sensação de viajar através do espaço.

Gaia me esperava quando cheguei aos portões do Olimpo. Caí em seus braços sem me importar com mais nada. Aquela mulher era, e sempre seria, como uma segunda mãe para mim.

— Lydia. — Ela sorriu quando a soltei e recuei alguns passos. — É bom vê-la de novo.

— É bom estar de volta. — Respondi. — Meus deuses, imagine só a cara de todo mundo quando me virem. Ares vai …

Me interrompi, subitamente lembrada do que fizera no dia em que perdera minha imortalidade.

— Ele não vai reconhecê-la. — Gaia completou gentilmente. — Eu sei, Lydia. Sei o que você fez naquele dia.

— Oh, Gaia, eu cometi um erro enorme!

— Você precisa vê-lo. — Ela disse simplesmente. — Nem mesmo a magia mais poderosa é páreo para um sentimento verdadeiro. Se ele a ama, vai se lembrar.

Ares

Quando a vi, achei que estava sonhando de novo. Era a mesma mulher que eu via quase todas as noites e, exatamente como em meus sonhos, eu não conseguia ver seu rosto.

— Ei, idiota. — Atena chamou, impaciente. — Quer se concentrar para eu poder te derrotar de uma vez?

A provocação me trouxe de volta, fazendo com que eu me concentrasse em nossa batalha. Quando arrisquei mais uma olhada para a mulher, ela já não estava lá.

Lydia

Covarde. Eu xingava a mim mesma em pensamento.

Não tive coragem de me mostrar, de ir até ele. Ao invés disso, me escondi e fiquei assistindo de longe. Por um momento, Ares olhara diretamente para meu esconderijo, como se soubesse onde eu estava.

A luta não durou muito mais. Eu já havia parado de assistir, sabendo perfeitamente que minha irmã sabe-tudo venceria. Ela sempre vencia. Quando me virei para sair dali, ouvi uma voz me chamar.

— Aonde você pensa que vai, garota?

Me virei sem conseguir conter um sorriso.

— Atena!

— Gaia me contou, mas eu não acreditei. — Minha irmã confessou, rindo. — Você não imagina o quanto é bom vê-la de novo, Lydia!

— A recíproca é verdadeira, irmã. — Eu sorri. — Então ... Uma melhor de três?

— Com prazer! Aposto que ainda consigo derrotar você.

— Veremos, maninha.

Atena abriu um sorriso malicioso enquanto disparava em uma corrida. Ela voltou não muito depois, acompanhada por Ares.

Ares

Não consegui não encará-la, embasbacado. Ela era muito mais bonita do que nos meus sonhos. Foi difícil julgar a pequena competição, quando meus olhos quase não conseguiam se desviar da mulher de cabelos escuros.

Ela acabou vencendo no final, e trocou um cumprimento com Atena antes de se afastar. Foi então, encarando aquelas mechas negras que lhe caíam pelas costas, que finalmente me lembrei.

Lydia

— Lydia!

Meu coração quase parou no peito ao ouvir Ares dizendo meu nome. Parei de andar, mas não consegui me virar para encará-lo.

— O que foi, Ares?

— Por que você estava se escondendo? — Ele exigiu furiosamente. — E por que não me disse quem você era assim que me viu?

— Ares, eu …

— Foi obra sua, não é? —  O Deus da Guerra insistiu. —  Por isso eu não conseguia lembrar.

Sua acusação imediatamente despertou a antiga Lydia dentro de mim e me vi avançando, encarando-o nos olhos. Isso, por algum motivo, me fez relaxar. Estávamos brigando. Claro que sim. Era isso que fazíamos.

— Eu pensei que ia morrer, seu idiota! — Rebati. — Acha que eu queria que você se lembrasse da minha morte? Além do mais, você faria o mesmo por mim.

— Não, não faria. — Ele rebateu. — A escolha seria sua. Você, Lydia, agiu exatamente como Zeus, sempre impondo a própria vontade independentemente das consequências.

— Se você vai apenas me acusar, Ares, não vejo motivos para continuarmos com essa conversa. 

Fiz menção de me virar e ir embora, mas ele me segurou pelo pulso.

— Nem pensar, Lydia. —  O Deus da Guerra esbravejou. —  Você não vai me dar as costas de novo! Eu não vou permitir!

Ares estendeu uma das mãos, entrelaçando os dedos em meu cabelo. E de repente seus dedos se firmaram em minha nuca, me puxando para si. Foi tão repentino que me choquei contra seu peito. Nossos lábios ficaram a centímetros de distância. 

O contato entre nossas peles me fez perder o ar. Foi como uma descarga de milhões de volts correndo por meu corpo, e meu coração pareceu querer fugir de meu peito ao reconhecer a expressão nos olhos de Ares.

Não tive tempo para hesitar. Droga, Ares não me deu tempo nem sequer para pensar! Um milésimo de segundo depois seus lábios cobriram os meus num beijo faminto que fez meus joelhos amolecerem. 

Ele passou um braço por minha cintura, sustentando facilmente meu peso. O beijo foi feroz, quase animal, e só acabou quando senti que iria desmaiar se não respirasse logo. Ares não me soltou, apenas se afastou um pouco para que eu pudesse respirar. 

— Nunca, jamais, tente fugir de mim de novo. — Ele declarou. — Entendeu, Lids?

— E o que você vai fazer se eu tentar?

— Qualquer coisa. — O Deus da Guerra respondeu. — Vou atrás de você até o fim do mundo. Até as profundezas do Tártaro, se precisar. Entendeu, morena?

— Eu entendi. — Afirmo, sorrindo. — Não vou a lugar nenhum dessa vez, eu prometo. Juro pelo Estige.

Ares me abraça novamente. Dessa vez não houve cuidado, apenas a força esmagadora de seus braços.

— Eu senti sua falta, Lids. — O Deus da Guerra sussurra em meu ouvido. — De verdade.

— E eu a sua, Ares.

Ele me solta, mas não me afasto. De repente uma de suas mãos está aninhando minha bochecha, seus dedos se entrelaçando em meus cabelos. Fecho os olhos, esperando mais um beijo, porém apenas sinto-o abrir o fecho de meu colar.

— Fizemos uma promessa, lembra? — Ele declara ao encontrar meu olhar de surpresa. — E acho que já esperamos por tempo demais.

— De acordo. — Sorrio, estendendo minha mão direita. — Eu te amo.

Mesmo o sol parece pálido em comparação com a expressão exultante de Ares ao colocar o delicado anel de prata em meu dedo.

— Assim como eu, princesa. — Suas mãos deslizam para minha cintura, mais uma vez puxando-me para si. 

Mais tarde naquele mesmo dia, troquei minha armadura por um elegante vestido azul-escuro. Afrodite domou meus cabelos em um suntuoso coque, deixando alguns cachos soltos para emoldurar meu rosto, e todo o Olimpo se reuniu no majestoso salão de baile do palácio de Zeus.

Hera e Hefesto se aproximaram juntos, meu irmão carregando uma caixa negra nas mãos. Quando ele a abriu, revelou uma coroa de ouro, a peça mais linda que eu já vira, feita para lembrar os caules entrelaçados de flores. Enormes rubis enfeitavam a delicada trama, lapidados na forma de rosas.

— Hefesto, isso é lindo! — Eu disse baixinho. — Como você … ? Quando … ?

— Não questione, apenas aceite. — Meu irmão declarou, sorrindo. — Foi uma honra.

Hera delicadamente ergueu a coroa do ninho de cetim em que se encontrava aninhada, aproximando-se de forma que a magnífica joia finalmente descansasse entre meus cachos.

— Minha filha agora assume seu lugar de direito. — A Rainha dos Deuses declarou. — Vida longa à nova rainha do Olimpo.

Minha família repetiu a saudação, num coro que era quase um canto de vitória. Ares, que estivera ao meu lado aquele tempo todo, passou um braço por minha cintura.

— Bem … — Ele sussurrou em meu ouvido. — Agora não posso mais chamá-la de Princesa. De hoje em diante você é a rainha do Olimpo … E do meu coração.

Corei com suas palavras, mas fiz meu melhor para disfarçar, sem querer dar a ele a satisfação de conseguir me provocar.

— Ora, seu bobo! — Exclamei simplesmente.

Eu ainda estava rindo quando Ares me puxou para si, reclamando meus lábios em um beijo. Segundos depois, pude ouvir nossa família explodir em aplausos e gritos de felicidade.

— Eu vou te matar. — Consegui dizer baixinho. — Seu brutamontes cabeçudo.

— Deu tudo certo, não deu? — Ele sussurrou em resposta, me soltando, porém mantendo um braço ao redor de meus ombros. — Agora sorria e aproveite o seu momento, minha rainha.

— Com uma condição. — Respondi. — Quero meu rei ao meu lado esta noite.

— Tente me impedir. — Ares rebateu, rindo e beijando o topo de minha cabeça.


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