Destinada escrita por Benihime


Capítulo 36
Capítulo XXXIV




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Zeus

Quando Lydia caiu, eu a segurei. Minha filha, apesar de alta e forte, parecia leve como uma pluma. Eu a ajeitei em uma posição mais confortável, aninhando sua cabeça em meu ombro. Quase me sentia culpado por ter que nocauteá-la daquela forma, mas era um mal necessário.

— Achou mesmo que eu a deixaria ir adiante com esse plano ridículo? — Sussurrei.

Ela se moveu levemente, como se tivesse me ouvido. Por via das dúvidas, apressei o passo.

Lydia

A dor de cabeça era quase insuportável. Abri os olhos devagar, tentando ignorá-la. Eu mal conseguia enxergar. Minha visão estava embaçada.

— Lids! — Ares exclamou baixinho, sua voz bem ao meu lado. — Ainda bem! Ele te machucou muito?

— Ares, o que aconteceu? Quanto tempo fiquei inconsciente?

— Você está aqui embaixo há quase uma hora.

Assenti para indicar que compreendera. Minha dor de cabeça amainara e eu podia enxergar claramente agora.

— Conseguimos?

— Ainda não, mas é questão de tempo. Zeus não vai conseguir se manter por muito mais.

— Eu cuido de Zeus. — Decretei — Ele me deve.

Ares sorriu e me ajudou a levantar.

— Eu nem pensaria em fazer de outro jeito, princesa.

Minutos depois

Ares abriu as portas duplas para mim, me surpreendendo ao conseguir executar o gesto tão silenciosamente.

Agradeci-lhe com um meneio de cabeça e ele retribuiu do mesmo modo. Entrei na sala e ele voltou a fechar as portas, trancando-as em seguida.

Lacrei a sala com magia de modo que Zeus não pudesse escapar e nem pedir ajuda. Ele não me ouvira entrar, estava absorto demais olhando por uma janela.

— Oi, papai.

Meu tom foi irônico. Ele enfim virou-se e tive a satisfação de ver que parecia preocupado. Assustado, até.

— Lydia! — Seu tom foi de pura surpresa. — Pensei que você estivesse …

— Inconsciente e acorrentada. — Completei. — Pois é. Que surpresa, não?

Eu podia ouvir os sons da batalha abaixo de nós. Parecia grande demais para uma simples distração.

— Seja lá qual for seu plano, é tarde demais. A batalha já começou. Caos está aqui.

Suas palavras me gelaram até os ossos, mas tentei manter uma aparência firme.

— Mais um motivo para eu acabar logo com você.

— Lydia, não. Não cometa o mesmo erro que eu.

— Qual deles, pai? —  Desafiei —  Trair aqueles que confiam em mim? Ou ser um covarde que esfaqueia pelas costas?

— O que?! — Zeus exclamou —  Quem lhe disse isso?

— Gaia. —  Respondi. — Ela me contou muitas coisas sobre você.

— Pense por si mesma, Lydia. —  Meu pai insistiu. —  Ela está tentando manipular você.

— Será mesmo ela quem está tentando fazer isso?

Eu estava sem a Espada do Destino, então ataquei com um chute giratório. Zeus agarrou minha perna, fazendo com que eu girasse sobre mim mesma e caísse no chão.

— Pare e me escute, filha. —  Ele insistiu. — Não é o que parece.

— Já escutei demais.

Pulei de pé e investi com uma série de socos. Ele desviou de quase todos, mas o último o atingiu. Recebi como paga um soco no estômago que me fez voar pela sala e bater contra uma das paredes. Ainda que meio zonza, consegui me levantar de novo. Investi com um chute duplo. Zeus tentou me acertar com sua espada, mas desviei com uma pirueta.

— Covarde! — Rosnei. — Atacar uma oponente desarmada é baixo demais até para você.

Ele investiu novamente e me desviei com um spacatto. Aproveitei a posição em que estava para roubar a adaga que meu pai levava em uma bainha no quadril.

— Esperta — Ele elogiou. — Mas isso não vai salvá-la.

— Por que todos sempre me subestimam?

A adaga era encantada e eu sabia disso. Zeus me contara que aquela era uma das poucas armas que poderiam matar um deus. Obviamente ele se esquecera desse fato, ou talvez não me considerasse capaz de fazê-lo.

Antes que eu pudesse agir ele me agarrou, prendendo-me contra si, sua espada em meu pescoço. Apliquei minhas unhas, arranhando-o sem piedade até afrouxasse o aperto. Usei esse deslize para dar uma cotovelada em seu estômago com toda a força que pude reunir. Isso me libertou.

— Eu não vou te matar, Zeus. — Declarei. — Seria fácil demais. Vou te deixar provar do seu próprio veneno.

Assim que virei as costas ele saltou sobre mim de espada em punho. O que Zeus não sabia é que eu já estava esperando por isso. Fora um teste. Virei-me e enterrei a adaga em seu abdômen com a maior força que pude. Sua espada acertou meu ombro de raspão, abrindo um pequeno corte, já ele caiu ao chão, derrotado.

Abri as portas duplas com ímpeto, fazendo-as bater na parede. Ares estava esperando, na certa, pronto para me defender se houvesse o menor sinal de que Zeus venceria a luta. Seus olhos se arregalaram ao ver meu ombro.

— Pelo visto a luta foi feia. — Ele comentou. —  Vem, vamos fazer um curativo nesse ombro.

— Vai curar sozinho. — Protestei. — Precisamos descer logo. Caos está aqui.

— Lydia, isso é imprudente. Esse ferimento precisa de um curativo.

— Super protetor. — Acusei — Eu vou ficar bem. Vamos descer logo.

— Lydia …

— Ares, deixe de ser bobo. Olhe meu ombro. — Ele analisou de perto o ferimento já quase curado — Vai estar curado em alguns minutos. Não se preocupe tanto.

Sem pensar, peguei sua mão e o puxei comigo pelos corredores.

Ares

— Preciso da Espada. — Lydia disse. — Teremos que ir escondidos pegá-la.

— Posso fazer isso. Onde está?

— Escondida na torre. —  Ela revelou. — Ares, eu mesma posso …

— Sem discussão. — Rebati. — Eu pego a Espada, você arranja uma armadura.

Ela pareceu que ia protestar, mas assentiu. Disparei pelos corredores, disposto a fazer aquilo o mais rápido possível.

Lydia

Foi com uma estranha sensação de aperto no peito que observei Ares se afastar. Ignorei a inquietação e entrei na antiga sala de armas do palácio, meus olhos imediatamente se focando nas armaduras de bronze.

Encontrei uma aproximadamente do meu tamanho e a vesti sem perda de tempo. Ares voltou logo depois.

Ares

Lydia se voltou de um pulo e relaxou ao me ver. Quanto a mim, a visão dela em uma armadura me deixou sem fala. Seus cabelos negros brilhavam em contraste com o bronze e eu nunca a havia visto parecer tão determinada. Linda. Uma legítima guerreira.

Lydia

Eu precisava admitir, estava com um pouco de medo. Ainda que gostasse de uma briga, seria minha primeira vez em uma guerra de verdade. Ares não se deixou enganar por minha fachada. Apesar da rivalidade constante, ele me conhecia como ninguém mais.

Num gesto inesperado, ele me abraçou. Por um momento fiquei surpresa, mas depois retribuí, afundando meu rosto em seu ombro.

— Não vai ser tão ruim assim. — Garantiu. — Vou estar com você, não vou deixar que a machuquem..

— Por que? —  Eu a encarei, confusa. —  Devia se concentrar na luta.

— Lydia, eu ... Eu descobri que …

— Temos que ir, Ares. —  Protestei, interrompendo-o. — Caos está lá fora.

— Espere! Deixe-me fazer isso antes que eu perca a coragem.

— O Deus da Guerra perdendo a coragem?

— Isso é muito mais difícil do que lutar. — Ele sorriu, aquele sorriso torto e travesso que eu amava. — Lydia, eu te amo. Descobri que você é a única mulher com quem eu gostaria de passar a eternidade. Não existe outra para mim.

Ele se ajoelhou à minha frente, seus olhos nunca se desviando dos meus.

— Você é a única que eu quero. Se alguma coisa acontecer com um de nós hoje, quero ter certeza de que você sabe o quanto é importante para mim. Aceita casar comigo?

As palavras de Gaia sobre o Ignis Draco ecoaram em minha mente. Eu fizera minha escolha no momento em que ela falara. Olhando nos olhos de Ares, lembrei das palavras da profecia: "Dividida entre dever e amor estará" Eu não podia mais negar que o amava, mas aceitar seria mentir. Contudo, era demais esperar que o destino fosse encontrar uma forma de nos manter juntos?

— Eu aceito.

— Prometa. —  O Deus da Guerra insistiu. —  Quero sua palavra. Jure pelo Estige.

— Eu juro pelo Estige. — Uma de minhas mãos se enrolou em seus cabelos escuros, acariciando-o. — Quando tudo isso acabar, serei sua esposa.

Ele pegou uma de minhas mãos, virou-a para cima e depositou um anel na palma.

— Quando tudo isso acabar eu o colocarei em seu dedo. — Ares prometeu solenemente. — E faremos isso apropriadamente, na frente de nossa família.

Tirei o colar com o Medalhão do Infinito e pendurei o anel na antiga corrente de prata, como um símbolo da nossa promessa. Ares me ajudou a colocar o colar novamente.

— Agora vamos. — Falei. — É hora de lutar.


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