Destinada escrita por Benihime


Capítulo 32
Capítulo XXX




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Apolo

Ártemis estava atrasada, e eu estava preocupado. Ela enfim chegou, tão pálida que parecia doente.

— Caramba, Miss, o que aconteceu?

— Nada. — Respondi. — Só estou um pouquinho cansada.

— Ártemis, eu sou seu irmão gêmeo. — Lembrei-lhe — Não pode mentir para mim. Ainda é sobre Lydia?

Ela suspirou e sentou-se ao meu lado.

— Os pesadelos com ela continuam.

Estávamos no meu quarto. Fechei a porta, fui até minha irmã e a abracei.

— Se você quiser parar …

— Não! — Ela me interrompeu bruscamente. — Eu quero fazer isso, Apolo.

— Está bem, mas vamos com calma. Você está exausta, precisa descansar.

— Não. Eu não quero ter pesadelos de novo!

— Beba isto. — Entreguei-lhe um sonífero forte, que eu mesmo desenvolvera — Vai fazê-la dormir algumas horas sem sonhar. Beba tudo.

Ela assentiu e bebeu. Alguns minutos depois, estava dormindo profundamente. Eu também estava cansado, então acabei adormecendo do lado dela.

Ártemis

Abro os olhos, surpresa por ter dormido tão bem. Vejo Apolo ao meu lado, dormindo a sono solto, sua expressão tão inocente que ele quase parece um garotinho novamente.

Ouço a porta do quarto abrir e me viro para ver uma mulher. Seu rosto ainda está nas sombras perto da porta, mas, quando ela se aproxima, reconheço aquele rosto.

— Lydia?

— Oi, Lilly.

Sorrio, extasiada. Somente Lydia conhece esse apelido, baseado no nome que uso entre os mortais, Hillary. Pulo da cama e me jogo em seus braços, o que a faz rir.

— Pensei que você estivesse morta.

— Apenas ferida demais para continuar, por enquanto. — Ela esclarece gentilmente. — Agora, preciso que me escute. Cronos descobriu sobre as relíquias e sabe qual é a próxima. Você e Apolo devem ir agora. E tomem cuidado. Vou estar de olho em vocês.

— Está bem. Mas como você ... ?

— Agora não, Miss. Prometo explicar tudo depois, mas agora vocês precisam ir. Ah, e tente não estrangular Apolo. Ele só quer ajudar.

— Ártemis, acorda. — Ouvi Apolo chamar. — Tem algo errado.

— O que foi? — Inquiri, já sentada na cama.

— Temos que ir. Cronos descobriu nosso plano.

Gelo correu por minhas veias. Não fora um sonho comum, então. Apolo e eu corremos até um local afastado, de onde partimos em busca das relíquias.

Floresta Negra, Alemanha, minutos depois

— Tem certeza? — Inquiri.

— É claro. Olhe e veja por si mesma.

Ele tirou o mapa de dentro da mochila que trouxera. Não contive minha surpresa, encarando-o abertamente.

— Precaução, irmãzinha. — Meu irmão declarou. —  Cronos não pode pegar esse mapa.

— Sabe de uma coisa, maninho? — Provoquei enquanto desenrolava o pergaminho. — Às vezes até que você faz as coisas direito.

Apolo

Ártemis definitivamente parecia melhor, pensei, enquanto a observava ler a profecia.

Separados devem buscar

Duas metades

Do que se perdeu

Recuperadas somente

Pelo perdão

— Sério? — Minha irmã reclamou. — Só isso? Nenhuma pista?

— Profecias nem sempre fazem sentido no começo. — Lembrei-lhe. — Saberemos o que quer dizer quando a hora certa chegar.

— Ok, então vamos nos separar e nos encontramos aqui ao pôr do sol.

Ártemis

Embrenhei-me na floresta, atenta, usando meus poderes para ajudar na busca.

Ouvi um sibilo, um farfalhar de folhas, e de repente fui atacada por uma cobra enorme. Saquei minha adaga no momento em que a peçonhenta dava o bote. Consegui desviar, mas uma de suas presas roçou meu ombro. Doeu como ácido, tão intensamente que me tirou o equilíbrio e a capacidade de raciocinar por um momento.

Usei uma árvore como apoio, mas a cobra enrolou-se em meu tornozelo. Não consegui conter um gemido de dor ao senti-lo se torcer. Olhei em volta, freneticamente procurando uma saída daquela situação, até enfim perceber que minha melhor opção seria lutar de cima.

Segurei a adaga entre meus dentes e subi na árvore o mais rápido que consegui, cuidando para não apoiar o tornozelo torcido. Não foi tarefa fácil, mas consegui. A cobra vinha serpenteando atrás de mim e arremessei a adaga, acertando sua cabeça  e prendendo-a contra o tronco. Vi o réptil se contorcer até parar, morto finalmente.

Notei um brilho alaranjado estranho em suas escamas e me inclinei para analisar mais de perto. Era uma pedra olho de tigre. Eu a peguei, esfregando-a levemente com o polegar para ter certeza de que era verdadeira. Quando tive certeza, chamei Apolo. Ele não demorou mais que alguns segundos para aparecer.

— Ártemis?

Ele olhava ao redor, confuso. Segurei o riso, agarrei um punhado de folhas e joguei na cabeça do meu irmão. Ele finalmente olhou para cima e me viu empoleirada na árvore.

— Devia ter visto a sua cara, maninho.

— Peste. — Ele riu. — O que está fazendo aí em cima, afinal?

— Nossa amiga aqui me deu uma luta difícil. — Apontei para a cobra ainda pregada na árvore. — Tive que me vingar por ela ter torcido meu tornozelo.

Apolo subiu na árvore e ficou um pouco abaixo de onde eu estava. Ele enrolou meu tornozelo em uma tala e depois usei seu ombro como apoio para descer.

— E aí, qual é o próximo lugar? — Perguntei, assim que atingimos o chão da floresta. Apolo conferiu o mapa.

— É ... Veneza.

— Só isso? Não pode ser mais específico?

— Deixe de ser difícil, irmãzinha.

— Não me chame de irmãzinha.

— Ok, relaxa, Miss. — Ele ergueu as mãos em sinal de rendição. — Quer acampar? Podemos ficar aqui esta noite.

— Com certeza.

Horas depois

Apolo caçara um coelho para nós e armara o acampamento. Eu fizera uma fogueira. Foi quase como antigamente, quando costumávamos acampar juntos o tempo todo.

— Lembra da última vez que acampamos juntos?

— Se eu disser que sim você vai me deixar em paz?

— Ártemis, não adianta fingir. Sei que não gosta de lembrar do que aconteceu, mas uma hora ou outra vamos ter que falar sobre isso.

Seu tom foi duro, o que me surpreendeu. Apolo raramente era ríspido comigo.

Apolo

Seus olhos castanhos se arregalaram de surpresa. Me arrependi por ter sido ríspido, mas valeria a pena se a fizesse ceder e falar comigo.

— Quer falar sobre aquilo? — Ela esbravejou. — Certo! Você jurou me proteger e não estava lá quando mais precisei. Onde você estava, Apolo?

— Com Lea, mas …

— Exato! — Ela bufou ironicamente. — Se divertindo com uma de minhas Caçadoras. Você nunca vai crescer? Sempre o mesmo irresponsável, agindo como se nada nunca fosse ter consequência alguma.

— Já chega! — Foi a minha vez de gritar. — Você me acusa sem nem me dar a chance de explicar. Quantas vezes preciso dizer, Ártemis? Não é o que você pensa!

Isso a fez recuar. Ainda estava vermelha de raiva, mas era possível ver seus olhos esfriarem.

— Ok. — Seu tom foi cortante. — Explique, então.

— Eu estava com Lea naquela tarde, mas não desse jeito. Éramos amigos, só isso, e eu a convidei para um passeio. Perdemos a noção do tempo. Quando ouvi a Quimera, voltamos o mais rápido que pudemos. Lea queria que eu fosse na frente, mas eu não quis deixá-la para trás, no caso de haver mais monstros por perto. O resultado você já sabe: não cheguei a tempo de impedir que a Quimera a atacasse. Mesmo assim, fiz tudo o que pude. Suas Caçadoras sabem disso.

Eu apenas o encarei, surpresa demais para dizer qualquer coisa.

— Apolo, eu …

— Não, Ártemis — Ele interrompeu, sua voz sem emoção alguma — Não diz nada. O que passou, passou.

Quando terminou de falar, Apolo simplesmente virou para o lado no saco de dormir, ficando de costas para mim. Logo depois pude ver sua respiração se tornar profunda com o sono. Quanto a mim, não consegui dormir, uma vez que minha cabeça ainda girava com o relato do Deus do Sol.

No dia seguinte

Veneza, Itália

— Pronto?

— Como sempre.

Entramos na pequena capela e nos dividimos para procurar. A temperatura caiu bruscamente, sobressaltando-me. Apolo parou ao meu lado, em alerta.

— Quando eu mandar, você sai daqui. Ok?

— Sem chance!

— Ártemis, seu tornozelo ainda está machucado. — Ele insistiu. — Saia daqui e pare de ser teimosa.

O Transfigurador apareceu. Apolo empunhou seu arco dourado e, com a outra mão, me empurrou em direção à saída lateral. Obedeci, saindo antes que aquela coisa me visse. Não parei de andar até estar no final do beco, quando me decidi. Eu não iria me esconder como uma covarde e deixar meu irmão assumir os riscos por mim.

Num segundo eu estava dentro da capela, escondida nas sombras, meu arco em punho.

Apolo

O Transfigurador investiu de novo contra mim e pressenti que seria o golpe final.

De repente uma chuva de flechas de prata o atingiu. Olhei em volta, surpreso, até detectar Ártemis escondida em um canto escuro. Se eu não a conhecesse tão bem, não a veria. Tinha esquecido o quanto minha irmã era habilidosa.

O Transfigurador voltou sua atenção para ela e então me lembrei da única arma para afugentá-los: luz. Eles não resistiam à luz. Usei meus poderes e raios de luz se infiltraram pelos vitrais, diretamente sobre a criatura, que ficou paralisada e logo depois se desfez em cinzas.

Ártemis estava ao meu lado antes que eu me desse conta, suas mãos apoiadas em meus ombros, me olhando com preocupação.

— Você está bem? — Perguntou à queima-roupa. — Não se machucou?

— Estou bem. E encontramos a pedra.

Abaixei-me e peguei o anel com a pedra da lua que repousava no lugar onde o Transfigurador antes estivera.

Ártemis

Aliviada por Apolo estar bem e feliz por termos conseguido, não consegui conter as lágrimas. Ele me abraçou e eu me deixei ir. Foi a primeira vez em muito tempo que chorei no ombro do meu irmão.


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