Destinada escrita por Benihime


Capítulo 31
Capítulo XXIX




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Atena

Inclinei-me para poder ler a profecia, sentindo o pergaminho aquecer minhas mãos.

O casal deverá buscar

E o tesouro

Para o amor verdadeiro

Sempre o guiará

Pensei imediatamente em Lydia e Ares, mas me forcei a expulsar aquela linha de raciocínio e tentar descobrir que outro casal poderia assumir a tarefa.

Poseidon

Li a profecia por cima do ombro de Atena e sorri comigo mesmo. Poderia ser a chance que eu estava esperando.

— Acho que já sei quem é o casal certo para isso.

— Me poupe, Poseidon.

O tom insolente de sua voz só me provocava ainda mais.

— Ora, vamos, Atena. Não foi o que você me disse naquele verão.

— Aquela mulher não existe mais. Você a destruiu.

— Sofia, por favor …

Num segundo o soco já me atingira e Atena me tinha preso contra a parede, seu cotovelo em meu pescoço. Isso não teria me impedido de beijá-la, é claro, mas seu rosto vermelho de fúria impediu.

— Nunca ... — Sua voz soou baixa e letal — Jamais me chame assim novamente.

Após proferir essas palavras ela se virou e correu para fora da sala.

Atena

Horas depois

Olhei para as estrelas e me encolhi por causa do vento frio. De repente uma figura saiu das sombras. Apesar de estar escuro, seus olhos quase iridescentes não deixavam dúvidas sobre sua identidade.

— Lydia?!

— Oi, Atena.

— Você ... Isso é real?

Ouvi seu riso baixo, tão meu conhecido. Pude até mesmo imaginar os cantos de seus lábios se curvando em um sorriso, o que sempre a fazia parecer uma garotinha travessa.

— O que você acha? — Provocou. — É claro que é real, cara de coruja.

— Ah, meus deuses, Lydia! — Eu pulei de pé e a abracei apertado. — Nunca mais faça isso comigo! Senti tanto a sua falta!

— Eu também, minha irmã.

Lydia

Atena e eu caminhávamos lado a lado em silêncio. Ela obviamente estava dispersa demais para dizer alguma coisa.

— Devia dar uma chance a ele. — Sugeri. — Poseidon.

— Como espera que eu confie nele depois do que aconteceu com Medusa?

— Não foi o que eu quis dizer. Apenas ... Não se feche, ok? Dê a ele uma chance de provar se merece sua confiança.

— Está bem, Lydia. — Cedi. — Eu … Vou tentar.

— E eu estarei por perto para ver isso.

No dia seguinte

Contenha-se!, pensei, irritada.

Eu não conseguia parar de tremer. Respirei fundo, tentando me controlar. Poseidon se virou ao me ouvir entrar e o olhar que me lançou só me fez ficar mais nervosa. Alguém poderia se perder nas profundezas daqueles olhos azuis …

— Atena, você está bem?

Balancei a cabeça para clarear meus pensamentos. Ele sempre me fazia esquecer de tudo, me atrapalhar toda ...

Poseidon

Os cachos loiros esconderam sua expressão, mas eu vira o bastante de seus olhos tempestuosos para perceber sua confusão.

— Estou. — Sua voz não tinha emoção. — Eu ... Vim lhe perguntar uma coisa.

— Vá em frente.

— Quero a verdade sobre Medusa. Cada detalhe. E não minta, porque eu saberei.

— Por que agora? — Questionei. — Depois de tanto tempo …

— Uma promessa. — Seu tom foi duro, cheio de irritação. — Essa é sua última chance, Poseidon, tente não estragar tudo.

— Última? Para isso precisaria ter havido uma primeira. Você nunca me deixou explicar.

— Agora é diferente. — Atena declarou, agora mais suavemente. — Por favor, apenas responda. Eu não quero mais brigar.

Atena

— Está bem. — Ele cedeu — O que quer saber, exatamente?

— Você me amava?

— Sim. — Respondi imediatamente. — Mais do que a qualquer outra.

— Então por que me traiu?

— Aquilo foi por vingança. — Confessei. — Fiquei bêbado, estava furioso porque tínhamos brigado e quis provar a mim mesmo que o que havia entre nós não era nada do que eu pensava, que eu não te amava tanto assim. Fui um idiota, e sei disso.

— E por que não falou comigo logo depois e me explicou tudo?

— Porque você nunca permitiu! — Exclamei, exasperado. — Cada vez que eu tentava você me recebia com hostilidade e acabávamos brigando então pensei ... Em deixar a situação esfriar. Esperar até que você estivesse pronta.

— Devia ter me dito a verdade. — Atena declarou simplesmente. — Eu teria compreendido. Talvez não perdoado, mas … Seria um começo.

— Eu sei. — Admiti. — Por favor, me perdoe.

— Veremos, Pescador. Depois que conseguirmos a relíquia eu digo o que decidi. 

Poseidon

Uma hora depois

O mapa indicara as Catacumbas de Paris, e era lá que Atena e eu estávamos.

— Essa parte é proibida. — Ela disse baixinho. — Ninguém entra aqui.

— Por isso mesmo, loirinha.

Rapidamente descobrimos o motivo de aquela parte ser proibida: pedras soltas dificultavam a caminhada e a escuridão fora do círculo de luz da lanterna era total, tornando aquilo uma armadilha mortal. Atena gritou e agarrou meu braço de repente, fazendo a lanterna cair e se apagar.

— Atena!

— A-a-a-Aranhas! — Sua voz tremia de pânico — Por toda parte.

Passei um braço por seus ombros, trazendo-a para bem perto de mim, enquanto tentava ligar a lanterna, porém sem sucesso.

Atena

Estava escuro e mesmo assim eu  praticamente podia ver as aranhas nas paredes. Eu estava a ponto de desmaiar. De repente, uma figura luminosa apareceu à nossa frente na forma de um grande pássaro que voou ao nosso redor, se afastou alguns metros e parou como se nos esperasse.

— Devemos segui-lo? — Inquiri.

— É o que parece.

Acabamos seguindo o pássaro até um túnel estreito que terminava em um corredor sem saída. A figura então assumiu a forma de uma mulher e atravessou a parede.

— Me ajude. — Ordenei. — Há uma passagem aqui em algum lugar.

Foi Poseidon quem descobriu a entrada, revelando um túnel ainda mais estreito. Fiz menção de avançar, mas ele segurou meu braço.

— Eu vou na frente.

— Não é necessário.

— Atena, pare com isso. Sei o quanto você é forte, mas não vou deixar que se coloque em risco desnecessariamente.

Sua atitude protetora me agradou, pois a única outra pessoa que sempre me protegia daquela forma era Lydia. Aquiesci e, um momento depois, seguíamos pelo túnel escuro, que parecia não ter fim. Quando enfim atingimos o final havia uma fenda, grande demais para que pulássemos por cima.

— E agora? Não dá pra passar.

— Podemos simplesmente nos transportar para o outro lado.

— Não. — Respondi. — Esse lugar foi alterado, não percebeu? Não há como saber o que pode acontecer se usarmos nossos poderes.

Olhei em volta e vi que à nossa direita havia uma barra de ferro grossa o bastante para nos equilibrarmos em cima. A barra ia até metade da fenda. Entendi o motivo de a profecia especificar que deveria ser um casal. Aquele teste não poderia ser superado por uma única pessoa.

— Tive uma ideia. — Anunciei. — Venha comigo e faça o que eu disser.

Ele obedeceu. A parte difícil foi irmos até o final da barra, mas, com um pouco de ajuda, Poseidon conseguiu não cair. Ele se pendurou na pelas pernas, ficando de cabeça para baixo.

— Tem certeza de que consegue? — Perguntei.

— Claro. E você, tem certeza de que aguenta?

— Claro. — Respondi, espelhando seu tom esnobe.

Peguei as mãos de Poseidon, permitindo que me puxasse. Ele começou a balançar como um pêndulo, ganhando impulso. Segurei suas mãos o mais forte que pude.

— Se me deixar cair, eu te mato.

— Não vou. — O Deus dos Mares riu. — Relaxa, corujinha.

O balanço ia ficando cada vez mais rápido e cada vez mais estava difícil de segurar.

— Pronto? Solte quando eu mandar.

— Tem certeza?

— Absoluta. Um, dois, três ... Solte!

Poseidon obedeceu ao mesmo tempo em que eu tentava dar o maior impulso possível com as pernas. Pulei para o outro lado da fenda sem problemas. Poseidon continuou a balançar, dessa vez usando as mãos, e conseguiu pular também.

— Viu só? — Provocou — Até que formamos uma boa dupla.

Não resisti a retribuir seu sorriso.

— É, até que nos viramos bem juntos.

Voltamos a caminhar. Um tempo depois vimos uma pequena fenda, suficiente para uma pessoa esguia. Espiei para dentro e vi algo prateado reluzir na parede oposta.

— Acha que é a relíquia?

— Acho. — Respondi. — Vou lá buscar.

— Tenha cuidado. Não gosto nada disso.

Penetrei na fenda sem problemas. Incrustadas na parede haviam duas bússolas de prata. No momento em que as peguei, a passagem atrás de mim se fechou. Assustada, esmurrei a parede, esperando que a passagem abrisse por dentro. Não abriu. Forcei-me a ficar calma e pensar.

Reparei que uma das bússolas tinha uma corrente. Pendurei-a em meu pescoço e guardei a outra no bolso. A bússola me mostrou uma pequena fissura que eu poderia escalar. Não hesitei diante da tarefa e logo estava de pé em uma das galerias centrais.

Comecei a procurar por Poseidon. Eu tinha uma vaga ideia do caminho que fizéramos, então usei a bússola como guia novamente. Foi surpreendentemente fácil encontrá-lo. Ele estava tentando derrubar a parede com seu tridente.

— Pare com isso, idiota. — Ordenei. — Vai derrubar o teto.

— Atena! — Ele exclamou. — Como saiu dali?

— Inteligência. — Respondi jocosamente. — Infelizmente, algo que você não tem.

Ele atravessou o espaço entre nós em um piscar de olhos, tomou meu rosto nas mãos e me beijou. Aquele beijo foi tão arrebatador, tão selvagem, que me vi correspondendo sem nem pensar. Ofegante, ele se afastou alguns centímetros, mas não me soltou.

— Me perdoe por ser um idiota.

— Você é bem pior do que isso. — Eu sorri. — Mas eu já superei.

— Isso significa que estou perdoado? — Assenti, sem conseguir manter a fachada de raiva por mais tempo. — Graças aos deuses!

Ele então tomou meus lábios em mais um beijo. Eu não me sentia tão bem há séculos.


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