Dangerous Girl escrita por WeekendWarrior
A semana passou prazerosamente calma. Dias nublados, pouco sol, noites agradáveis com a presença de Carmen em sala de aula. Cabelos longos, saias curtas e blusas de alças coladas, parecia tentar-me.
Direcionava um “boa noite” ao passar por mim ou um “até mais, professor”. Sempre com o sorriso perfeito no rosto alvo, fazendo com que as bochechas se enchessem e abrilhantassem os olhos verdes.
Do fundo da sala observava-me calma, sempre sozinha, sem colegas para papear, andava sozinha pelos corredores quando não estava acompanhada de meninos. Tentei não abater-me por isso, pois eram meros garotos.
O sinal de saída bateu, todos rapidamente arrumaram os materiais e zarparam felizes para fora da sala. Lá no final avistei Carmen calmamente fechando o livro depois colocando-o na mochila. Moveu-se como um anjo em minha direção, sentou-se na primeira mesa, a da frente.
— Quando vai me convidar pra sair? – indagou balançando os pés.
Sorri meneando a cabeça, continuei encostado ao quadro. A menina retribuiu o sorriso para meu agrado.
— Não sei se é certo.
— Somos amigos – deu de ombros – Amigos fazem isso, não?
— Alguns.
— Eu gosto de várias coisas. Ir à praia, dias de sol, sorvete, montanha-russa, coca-cola… você…
Fitou-me sapeca ao proferir a última palavra.
— Poderíamos sair sim.
— Agora? – indagou sorrindo enquanto se levantava e vinha até mim.
Encarei a feição feliz da garota a minha frente quase cedendo.
— É tarde.
— Eu sei.
— E seus pais?
O rosto da menina transformou-se imediatamente. Uma seriedade que nunca antes vi na face angelical.
— Minha mãe não se importa.
— E seu pai?
Ela bufou dando-me as costas, ficou alguns segundos passando os dedos na mesa a sua frente.
— Não tenho pai.
— Todo mundo tem pai, Carmen.
— Você entendeu o que quis dizer.
Quando a pequena virou-se vi a tristeza e arrependi-me de ter tocado no assunto.
— Tudo bem, podemos sair.
— Sério? – aproximou-se sorrindo – Aonde vamos? Vamos comer?
Ri junto dela.
— Aonde quer ir?
A verdade é que não fazia ideia de onde ir, não costumo sair, não frequentemente.
— Que tal fast food?
— Acha que não posso comprá-la comida decente?
A garota riu feliz.
— Não é isso. Faz tempo que não como hambúrguer e sou americana, isso me assusta.
Dei de ombros.
— Feito.
A menina se afastou até a porta de saída.
— Lhe encontro a uma quadra daqui, ok? Porque você sabe, eles adoram falar. Ninguém mais pode ser amigo hoje em dia, muito menos um mero professor com sua mera aluna.
Piscou-me e sumiu porta afora. Meneei a cabeça, arrumei meu material e rumei ao encontro de meu mais puro pecado.
Já na famosa filial de fast food, pedimos nossos lanches. Carmen pediu um com bastante bacon e cheddar, juntamente de batata frita e Coca-Cola de cereja. Sentamo-nos numa mesa quadrada um de frente para o outro. Observava a garota devorar o sanduíche sujando os lábios, não dando-se ao trabalho de limpá-los, sorri ao contemplá-la.
— Pare de me encarar assim – falou, finalmente limpando os lábios.
— Estava faminta – deduzi.
Ela assentiu tomando um gole de seu refrigerante.
— Sim. Sabia que Cherry Cola é meu refrigerante preferido?
— Imagino, pelo jeito que toma.
A garota esticou-se até minha pessoa.
— Tome um gole – dito isso, colocou o canudo perto de minha boca – Anda, prova.
Provei e era realmente bom.
— Muito bom.
— Nunca provou? – neguei num aceno – Não sai muito também, não é?
— Apenas quando preciso.
Ela mordeu seu sanduíche, mastigou-o depois respondeu entre um gole de refrigerante.
— Você apenas precisa de uma companhia e eu sou uma boa companhia – falou sorrindo travessa.
— Não sei se podemos.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— Por que não poderíamos? Você tem muitos conhecidos?
— Zero conhecidos.
— Eu também, então podemos sair juntos sim. Evitar lugares que outros professores frequentam.
Assenti calado.
— Mas e os alunos? – indaguei.
— Ah é, tem aqueles idiotas espinhentos.
— Você é um deles, Carmen.
Ela virou os olhos contrariada, ri de sua atitude.
— Não me compare a eles, Jake, por favor. Estou a cima disso, não vejo a hora de sair do colegial.
— Pretende cursar faculdade?
— Pretendo ir embora.
Franzi o cenho.
— Ir embora?
— Sim, da minha casa, da cidade, do país, qualquer lugar. Apenas preciso de alguém que cuide de mim.
Dito isso fitou-me subjetiva, o canudo entre os lábios carnudos, por fim sorriu.
— Satisfeita? – indaguei-a sobre o lanche, mudando de assunto.
— Sim, um pouco.
— Um pouco?
Ela sorriu lindamente.
— Quer me fazer um pouquinho mais feliz? Me compra um sorvete?
Ri e imediatamente realizei seu pedido.
Já no carro, mentalmente eu media a direção que tomar, a de sua residência.
— Me leve para sua casa – falou a garota.
— Já é bem tarde, Carmen.
Ela deu de ombros.
— Eu sei, não é problema pra mim.
— E seus pais?
A menina bufou.
— Já te disse que não é problema. Eles não se importam comigo, se eu morresse hoje, não sentiriam minha falta na manhã seguinte e na semana que se seguiria.
E com tais palavras fiquei sem reação, só agora notando o ódio que Carmen nutria pelos pais. Senti a raiva e repulsa em cada palavra proferida. Por fim decidi por ceder a seu pedido, mesmo que fosse tentador para mim.
— Tudo bem. Iremos para minha casa.
— Obrigada.
Lá chegando a garota sentou-se no sofá e ficou a fitar a televisão desligada a sua frente.
— Tudo bem, Carmen? Aconteceu algo? – indaguei ao colocar as chaves sobre a mesa.
Ela negou num aceno de cabeça.
— Eu entendo – continuei a falar – Não precisa dizer nada. Me desculpe se a chateei.
A menina suspirou e finalmente fitou-me.
— Senta aqui? – pediu passando a mão no local ao seu lado.
Hesitei por um segundo, porém cedi ao avistar a face tristonha da garota. Acomodei-me ao lado dela, quem sorriu minimamente.
— Não é culpa sua, Jake. Me desculpe. Sei que você não quer me machucar.
— Nunca.
— Apenas há algumas coisas que eu não gosto de falar. Você não gosta de falar sobre o que sente por mim e eu dos meus pais.
— Carmen, eu-
Interrompeu-me colocando os dedos sobre meus lábios, não posso negar a sensação boa que senti.
— Apenas me deixe ficar, ok? Me deixe entrar na sua vida, deixe-me infiltrar-me aqui – tocou meu coração – Me deixa fazer parte da sua vida. Eu só quero estar com você, sem romance, sem nada. Só quero estar perto.
Quase chocado com suas palavras indaguei-a:
— Por quê?
— Porque você é o único que não quer nada em troca por estar comigo.
— Você sabe que o que está me pedindo é errado, não?
Ela sorriu.
— O que estou lhe pedindo, Jake? É apenas sua amizade, sua companhia.
— Você é impossível, Carmen.
Toquei-lhe a face ainda com resquícios de tristeza.
— Vai me deixar ficar?
— Há muito tempo você já está.
A garota sorriu e aconchegou-se ao meu lado colocando sua cabeça sobre meu ombro. Não havia nada tentador no momento, apenas o calor que emanava do corpo pequeno ao meu lado.
— Podemos gastar muito tempo aqui no seu apartamento. Ninguém nos veria ou nos interromperia.
— E o que faríamos por acaso?
— Compartilharíamos silêncio? Já que percebi que você gosta tanto.
Sorri e acariciei-lhe os fios em tom cobre.
— Pode vir quando quiser.
— Sério? – indagou alegre aprumando-se.
Assenti sorrindo de canto.
— Sim.
E no ímpeto ela abraçou-me passando os braços pelo meu pescoço, fazendo com que eu sentisse o cheiro que dela se despregava. Sabia que não era um ato de malícia, era puro e sincero, por isso sentia-me enjoado por estar excitado nessa situação.
Desprendeu-se do abraço e apoiou sua cabeça em meu peito. Para ser sincero, eu poderia ficar nessa posição para sempre.
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E aí? Onde será que tudo isso dará?