Dangerous Girl escrita por WeekendWarrior


Capítulo 6
Next to Me




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A semana passou prazerosamente calma. Dias nublados, pouco sol, noites agradáveis com a presença de Carmen em sala de aula. Cabelos longos, saias curtas e blusas de alças coladas, parecia tentar-me.

Direcionava um “boa noite” ao passar por mim ou um “até mais, professor”. Sempre com o sorriso perfeito no rosto alvo, fazendo com que as bochechas se enchessem e abrilhantassem os olhos verdes.

Do fundo da sala observava-me calma, sempre sozinha, sem colegas para papear, andava sozinha pelos corredores quando não estava acompanhada de meninos. Tentei não abater-me por isso, pois eram meros garotos.

O sinal de saída bateu, todos rapidamente arrumaram os materiais e zarparam felizes para fora da sala. Lá no final avistei Carmen calmamente fechando o livro depois colocando-o na mochila. Moveu-se como um anjo em minha direção, sentou-se na primeira mesa, a da frente.

— Quando vai me convidar pra sair? – indagou balançando os pés.

Sorri meneando a cabeça, continuei encostado ao quadro. A menina retribuiu o sorriso para meu agrado.

— Não sei se é certo.

— Somos amigos – deu de ombros – Amigos fazem isso, não?

— Alguns.

— Eu gosto de várias coisas. Ir à praia, dias de sol, sorvete, montanha-russa, coca-cola… você…

Fitou-me sapeca ao proferir a última palavra.

— Poderíamos sair sim.

— Agora? – indagou sorrindo enquanto se levantava e vinha até mim.

Encarei a feição feliz da garota a minha frente quase cedendo.

— É tarde.

— Eu sei.

— E seus pais?

O rosto da menina transformou-se imediatamente. Uma seriedade que nunca antes vi na face angelical.

— Minha mãe não se importa.

— E seu pai?

Ela bufou dando-me as costas, ficou alguns segundos passando os dedos na mesa a sua frente.

— Não tenho pai.

— Todo mundo tem pai, Carmen.

— Você entendeu o que quis dizer.

Quando a pequena virou-se vi a tristeza e arrependi-me de ter tocado no assunto.

— Tudo bem, podemos sair.

— Sério? – aproximou-se sorrindo – Aonde vamos? Vamos comer?

Ri junto dela.

— Aonde quer ir?

A verdade é que não fazia ideia de onde ir, não costumo sair, não frequentemente.

— Que tal fast food?

— Acha que não posso comprá-la comida decente?

A garota riu feliz.

— Não é isso. Faz tempo que não como hambúrguer e sou americana, isso me assusta.

Dei de ombros.

— Feito.

A menina se afastou até a porta de saída.

— Lhe encontro a uma quadra daqui, ok? Porque você sabe, eles adoram falar. Ninguém mais pode ser amigo hoje em dia, muito menos um mero professor com sua mera aluna.

Piscou-me e sumiu porta afora. Meneei a cabeça, arrumei meu material e rumei ao encontro de meu mais puro pecado.

 

Já na famosa filial de fast food, pedimos nossos lanches. Carmen pediu um com bastante bacon e cheddar, juntamente de batata frita e Coca-Cola de cereja. Sentamo-nos numa mesa quadrada um de frente para o outro. Observava a garota devorar o sanduíche sujando os lábios, não dando-se ao trabalho de limpá-los, sorri ao contemplá-la.

— Pare de me encarar assim – falou, finalmente limpando os lábios.

— Estava faminta – deduzi.

Ela assentiu tomando um gole de seu refrigerante.

— Sim. Sabia que Cherry Cola é meu refrigerante preferido?

— Imagino, pelo jeito que toma.

A garota esticou-se até minha pessoa.

— Tome um gole – dito isso, colocou o canudo perto de minha boca – Anda, prova.

Provei e era realmente bom.

— Muito bom.

— Nunca provou? – neguei num aceno – Não sai muito também, não é?

— Apenas quando preciso.

Ela mordeu seu sanduíche, mastigou-o depois respondeu entre um gole de refrigerante.

— Você apenas precisa de uma companhia e eu sou uma boa companhia – falou sorrindo travessa.

— Não sei se podemos.

Ela arqueou as sobrancelhas.

— Por que não poderíamos? Você tem muitos conhecidos?

— Zero conhecidos.

— Eu também, então podemos sair juntos sim. Evitar lugares que outros professores frequentam.

Assenti calado.

— Mas e os alunos? – indaguei.

— Ah é, tem aqueles idiotas espinhentos.

— Você é um deles, Carmen.

Ela virou os olhos contrariada, ri de sua atitude.

— Não me compare a eles, Jake, por favor. Estou a cima disso, não vejo a hora de sair do colegial.

— Pretende cursar faculdade?

— Pretendo ir embora.

Franzi o cenho.

— Ir embora?

— Sim, da minha casa, da cidade, do país, qualquer lugar. Apenas preciso de alguém que cuide de mim.

Dito isso fitou-me subjetiva, o canudo entre os lábios carnudos, por fim sorriu.

— Satisfeita? – indaguei-a sobre o lanche, mudando de assunto.

— Sim, um pouco.

— Um pouco?

Ela sorriu lindamente.

— Quer me fazer um pouquinho mais feliz? Me compra um sorvete?

Ri e imediatamente realizei seu pedido.

 

Já no carro, mentalmente eu media a direção que tomar, a de sua residência.

— Me leve para sua casa – falou a garota.

— Já é bem tarde, Carmen.

Ela deu de ombros.

— Eu sei, não é problema pra mim.

— E seus pais?

A menina bufou.

— Já te disse que não é problema. Eles não se importam comigo, se eu morresse hoje, não sentiriam minha falta na manhã seguinte e na semana que se seguiria.

E com tais palavras fiquei sem reação, só agora notando o ódio que Carmen nutria pelos pais. Senti a raiva e repulsa em cada palavra proferida. Por fim decidi por ceder a seu pedido, mesmo que fosse tentador para mim.

— Tudo bem. Iremos para minha casa.

— Obrigada.

Lá chegando a garota sentou-se no sofá e ficou a fitar a televisão desligada a sua frente.

— Tudo bem, Carmen? Aconteceu algo? – indaguei ao colocar as chaves sobre a mesa.

Ela negou num aceno de cabeça.

— Eu entendo – continuei a falar – Não precisa dizer nada. Me desculpe se a chateei.

A menina suspirou e finalmente fitou-me.

— Senta aqui? – pediu passando a mão no local ao seu lado.

Hesitei por um segundo, porém cedi ao avistar a face tristonha da garota. Acomodei-me ao lado dela, quem sorriu minimamente.

— Não é culpa sua, Jake. Me desculpe. Sei que você não quer me machucar.

— Nunca.

— Apenas há algumas coisas que eu não gosto de falar. Você não gosta de falar sobre o que sente por mim e eu dos meus pais.

— Carmen, eu-

Interrompeu-me colocando os dedos sobre meus lábios, não posso negar a sensação boa que senti.

— Apenas me deixe ficar, ok? Me deixe entrar na sua vida, deixe-me infiltrar-me aqui – tocou meu coração – Me deixa fazer parte da sua vida. Eu só quero estar com você, sem romance, sem nada. Só quero estar perto.

Quase chocado com suas palavras indaguei-a:

— Por quê?

— Porque você é o único que não quer nada em troca por estar comigo.

— Você sabe que o que está me pedindo é errado, não?

Ela sorriu.

— O que estou lhe pedindo, Jake? É apenas sua amizade, sua companhia.

— Você é impossível, Carmen.

Toquei-lhe a face ainda com resquícios de tristeza.

— Vai me deixar ficar?

— Há muito tempo você já está.

A garota sorriu e aconchegou-se ao meu lado colocando sua cabeça sobre meu ombro. Não havia nada tentador no momento, apenas o calor que emanava do corpo pequeno ao meu lado.

— Podemos gastar muito tempo aqui no seu apartamento. Ninguém nos veria ou nos interromperia.

— E o que faríamos por acaso?

— Compartilharíamos silêncio? Já que percebi que você gosta tanto.

Sorri e acariciei-lhe os fios em tom cobre.

— Pode vir quando quiser.

— Sério? – indagou alegre aprumando-se.

Assenti sorrindo de canto.

— Sim.

E no ímpeto ela abraçou-me passando os braços pelo meu pescoço, fazendo com que eu sentisse o cheiro que dela se despregava. Sabia que não era um ato de malícia, era puro e sincero, por isso sentia-me enjoado por estar excitado nessa situação.

Desprendeu-se do abraço e apoiou sua cabeça em meu peito. Para ser sincero, eu poderia ficar nessa posição para sempre. 


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Notas finais do capítulo

E aí? Onde será que tudo isso dará?



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