Clichês escrita por Miss A


Capítulo 2
Sutiãs no espaço sideral


Notas iniciais do capítulo

OIIII, JayRose shippers!
Eu estou TÃO feliz por saber que vocês existem. Parece que ainda há salvação para o mundo, não é mesmo?
Espero que vocês gostem desse capítulo, porque eu particularmente amo.
Boa leitura :3



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Estava eu tendo uma conversa muito estimulante com Roxy sobre a Bulgária quando um babaca pegou o livro que eu havia esquecido debaixo de uma almofada. Saí em disparada, para tirar meu precioso daquelas mãos, possivelmente imundas, daquele ser, provavelmente bêbado, que inevitavelmente iria causar a destruição do meu livro com um copo trêmulo de álcool. Ou talvez ele me furtasse.

— Ei! Isso é meu - Eu disse apontando para o livro. O babaca, felizmente ou infelizmente, fica a dúvida, era bastante agradável aos olhos.

— Kafka, é? Estou impressionado - Ele disse me devolvendo o livro.

— Pois é. Você já leu?

— Sim. “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”¹.

Encarei-o surpresa.

— Agora quem está impressionada sou eu - Admiti.

— Alguns memorizam poemas, eu memorizo começos de livros.

— E qual é o seu preferido?

“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu da boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta.”².

Eu ri.

— Isso deve fazer sucesso com as garotas - Brinquei.

— Não sei. Me diga você - Ele deu um sorriso ambíguo. Quer dizer, nem tão ambíguo assim.

— Meu nome é Rose, aliás - Eu disse, estendendo a mão. Ridículo, eu sei. Você flerta com alguém e ela te estende a mão, é brochante. Mas não consigo ser descortês, especialmente com pessoas que eu acabo de conhecer.

— Scorpius - Ele apertou a minha mão.

— Prazer em conhecer, Scorpius.

— O prazer é todo meu.

Tentei não torcer o nariz para o seu clichê.

— Então, de onde veio esse amor pelos inícios de livros?

— Começou na faculdade. Eu estava fazendo um trabalho sobre um ganhador Nobel de literatura e o começo de um dos livros dele era “No dia seguinte ninguém morreu”³. Achei aquilo incrível. Impactante. Comecei a reparar nos começos de livros e a decorá-los só pra impressionar garotas bonitas que eu conhecesse em festas.

Ok. Direto. Dei um sorrisinho.

— E você cursou o que na faculdade?

— Inglês. Sou professor.

As alunas dele devem usar babadores durante as aulas.

— Para qual ano?

— Colegial.

Aposto que ele dorme com as alunas.

— E o que você faz da vida?

— Curso Psicologia e tento colocar minhas leituras em dia nas horas vagas - Eu respondi, balançando o livro - Mas agora estou curiosa, como é que o Fred conhece um professor?

— Nos conhecemos num seminário de mitologia grega.

Fred adorava mitologia grega, era quase uma obsessão.

— Você conheceu o Fred em todo o seu ápice então - Eu zombei. Fred ficava super entusiasmado quando falava sobre mitologia, imagine conversando com alguém que entende do assunto - Aposto que foi como estar na Disneylândia para ele.

Ele riu.

— Não foi tão ruim assim. Ele parecia uma pipoca numa panela, não parava quieto, mas foi muito simpático.

Antes que eu pudesse fazer algum comentário debochado, James gritou o meu nome e fez sinal para que eu fosse até lá. Lancei lhe um olhar de desagrado, que ele ignorou, e insistiu em me chamar.

— Eu vou ver o que ele quer.

Scorpius assentiu. Dei um último sorriso e segui para a cozinha.

 

 

— O que você quer? - Perguntei parando na frente de James. Dominique estava ao seu lado.

— Você estava conversando com Scorpius Malfoy?

Que pergunta estúpida.

— Não, eu estava falando com Napoleão Bonaparte como você mesmo viu.

James ignorou o meu sarcasmo.

— Acho melhor você não ter contato com esse cara, Rose.

Franzi o cenho.

— Por quê?

— Ele não exatamente um cara de boa índole.

— Vai me contar o que você sabe ou não?

— O que eu sei não vem ao caso. Você só precisa ficar longe dele.

Troquei um olhar cético com Dominique.

— Você quer que eu não converse com alguém e nem ao menos vai me contar o porquê?

— Acho que isso é ciúme - Observou Dominique.

Eu ri enquanto James a encarava com raiva.

— Oh, pobrezinho. Você sabe que com os outros é só sexo, só com você é amor - Pisquei para ele. James revirou os olhos.

— Estou falando sério, Rose. Não dê mole para esse cara.

— James, eu dou mole para quem eu quiser.

Ele suspirou irritado.

— Eu só quero o seu bem.

— Então me conte o que você está escondendo.

— Você não confia em mim?

Maldito. Aquilo era jogo baixo. James era meu melhor amigo, a pessoa em quem eu mais confiava no mundo.

— Ok, ok. Mas você me deve uma excelente transa - Resmunguei e abri a geladeira atrás de bebida alcoólica.

— Certo - Ele deu um sorriso malicioso.

— Vocês viram a Roxy?

— Não tenho certeza, mas acho que ela se enfiou em algum quarto com um garoto - Contou Dominique.

— Não sendo o meu - Dei de ombros e me sentei em cima da mesa.

— Vou ali falar com o Fred. Vejo vocês depois - Dominique pulou da cadeira e sumiu no meio das pessoas. A cozinha estava quase vazia. Além de James e eu havia dois rapazes num canto conversando e com garrafas na mão. Já a sala estava lotada. Cerca de vinte pessoas exprimidas naquele pequeno apartamento.

— Sabia que as pessoas com síndrome de Asperger têm os sentidos super apurados? - E esta era eu puxando assunto.

 

 

Algumas garrafas de cerveja e um shot de vodca depois eu estava alterada e com o

raciocínio lento, mas as paredes ainda estavam estáveis.

— É claro que não! - Minha voz saiu mais alta do que deveria - Napoleão era terrível. Cruel. Hediondo. Imundo. Parvo. Frívolo. Egoísta. Detestável.

— Seus adjetivos já acabaram? - James perguntou.

Parei um momento para pensar.

— Hm... Não, tem cuzão também.

Ele riu.

— Talvez ele tenha sido tudo isso, mas essas coisas podem ser perdoadas por causa dos grandes feitos dele.

Eu ri com escárnio.

— Tipo o grande feito na Rússia? - Perguntei. Napoleão havia se declarado vencedor, mas não era a verdade. Tinha perdido cerca de 30 mil homens numa batalha contra os russos, tomou Moscou para depois de um mês marchar de volta para a França, principalmente por causa da neve. No caminho, perdeu mais homens por conta da situação deplorável em que viviam. Cometeram até canibalismos - alguns chegaram a comer a si mesmo - porque não havia alimento. Grande vitória. Rá.

— Isso foi um erro, fato. Mas e a campanha do Egito? Ele foi incrível.

— Aposto que os egípcios não concordam com isso.

— Ninguém liga para eles e suas pirâmides de areia.

Eu ri. Não porque eu concordasse, mas porque “pirâmides de areia” eram palavras absolutamente engraçadas.

— No caso deles o lobo mau é a chuva, saca? - Eu disse - Sorte que o lobo não sopra lá – Soprei seu em seu rosto para demonstrar.

James deu alguns passos para trás.

— Assopre as pirâmides, não a minha cara.

Eu pensei por um momento na hipótese.

— Meus pulmões não teriam forças - Admiti por fim.

Ele me olhou incrédulo.

— O quanto você está bêbada?

— Eu não estou bêbada - Eu disse e pulei para o chão. Péssima atitude. Saltar da mesa me fez perder o equilíbrio. Segurei nos braços de James para não cair.

— Estou vendo - Ele debochou.

— Shiu - Coloquei o dedo sobre a boca - E vá pegar ponche para mim.

Ele fez uma expressão de sofrimento.

— Por favor Jay - Estendi todas as vogais O.

James soprou minha cara e se virou em direção à sala.

— Descendente boboca do Bonaparte! - Eu o ofendi. Depois ri, porque boboca era uma palavra muito engraçada.

Uma garota me olhou de modo censurador e eu mostrei o dedo do meio para ela. Ela fez uma cara feia e voltou a conversar com o garoto à sua frente. Bufei.

Pessoas sóbrias eram tão chatas. Elas me davam sono.

Resolvi contar as veias do meu pulso, mas aquilo só me deu mais sono.

— Oi Rose.

— SCORPIUS! Oi! - Eu disse, minha voz subindo duas oitavas. Finalmente algo para me salvar da sonolência.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Você está bêbada?

— Não e você?

— Não estou.

— Eu também não - Confessei. Só depois percebi que já havia falado aquilo. Dei um sorriso enorme para que ele reparasse no meu belo sorriso e não no que eu tinha falado. Mas desfiz o sorriso assim que imaginei que cogumelos poderiam estar crescendo entre meus dentes.

Eu estava bêbada ou drogada?

— Você sabe se o Fred tem algum amigo traficante?

Talvez ele tenha jogado droga no ar para todo mundo ficar doidão. Eu claramente o podia ver apertando um spray e espirrando droga gasosa em todo mundo.

Scorpius franziu a testa.

— Não sei.

Espera. Drogas em spray existiam?

— Você sabe se é possível espirrar drogas? - Perguntei, intrigada.

— Como é?

— Nada - Eu me abanei com a mão - Está calor aqui, né?

— Muito - Ele colocou as mãos no bolso - Você quer sair lá fora um pouco?

Será que ele queria transar comigo no telhado? Porque lá provavelmente tinha insetos. Antes que eu pudesse verbalizar a minha preocupação, James apareceu com o meu ponche.

— Ponche! – Gritei, um pouco animada demais. James entregou-me o copo e passou um braço pela minha cintura. Aquilo atrapalhava a mobilidade dos meus braços, mas não chiei.

— Scorpius.

— James.

Bebi olhando para eles por cima do copo. Porque eles falaram com um tom estranho?

— Beba com calma - Advertiu James. Afastei o copo da boca.

— Mas eu estou com sede - Retruquei.

— Então... Vamos, Rose? - Scorpius indagou. Para onde? Franzi a testa. Ah, sim. Claro. Vamos.

Scorpius me encarou. James também.

O que foi?

Ah. Eu me esqueci de falar.

Quando eu abri a boca, James me interrompeu:

— Ir para onde?

— Lá fora. Tomar um ar - Respondi.

— Nesse estado? Você está bêbada demais para ir a qualquer lugar que não seja a sua cama.

Apertei os olhos.

— Eu não est...

— Aliás, você deveria ir dormir agora. Você está cansada. Seus olhos estão quase fechados.

Hum. Na verdade dormir seria bom. Acho.

Fechei os olhos só por um segundo e, sem querer, derrubei meu copo e ele escorregou para o chão, molhando minhas pernas e pés.

— Ah - Choraminguei, olhando para o chão, de forma dramática.

— Vamos. Você seca isso no quarto - James disse. Ele fez um sinal com a mão para o Scorpius - Com licença.

— Tchau, tchau, Scorpius – Despedi-me, enquanto James me arrastava dali.

— Não seja descortês, James - Ralhei.

— Eu estou te salvando de um pervertido, você deveria me agradecer e não reclamar.

— Eu gosto de pervertidos.

Ele balançou a cabeça, incrédulo.

Foi quando me lembrei do livro. Eu esperava que Scorpius não fosse um pervertido ladrão.

James abriu a porta do meu quarto e por sorte não havia ninguém transando lá.

— Eu consigo andar sem você - Falei, fazendo-o tirar o braço de mim. Cambaleei um pouco, mas cheguei ao pote de ouro, que neste caso, era só a cama mesmo. Deitei nela com as pernas molhadas para fora da cama. Fechei os olhos. Uma enorme sonolência me apunhalou.

Segundos depois James estava secando os meus pés. Depois ele subiu até os meus joelhos e voltou até os meus pés. Suas mãos começaram a massageá-los e soltei um gemido involuntário. Ele riu.

Quando ele parou, soltei um gemido de protesto.

— Pronta para dormir?

— Não - Eu choraminguei - Tenho que tirar essa... - Apontei para as minhas roupas. Eu não tinha forças nem para falar imagina para tirar aquela roupa. O saco é que eu não conseguia de jeito nenhum dormir de sutiã.

— Eu te ajudo.

— Me puxe ou não vou conseguir levantar - Estendi os braços. Ele me ergueu e consegui ficar em pé. Fechei os olhos porque não conseguia mantê-los abertos por muito tempo.

— Erga os braços.

Fiz o que ele pediu e senti suas mãos arrastando minha blusa para cima. Só quando a blusa libertou-se pela minha cabeça é que percebi que estava sendo despida por James. Abri os olhos imediatamente. Seus olhos verdes me encararam de volta.

Entreabri a boca para comentar que aquilo era esquisito, porém me acabei admirando sua boca. Era bonita. Bem delineada.

Senti vontade de encostar meus lábios ali e o fiz.

Uau. O quão bêbada eu estava para beijar James Sirius Potter?

James segurou meus ombros e me afastou.

— O que você está fazendo?

— Estava - Eu o corrigi, aborrecida por ter sido interrompida. E daí que eu queria lamber seus lábios? Eu não estava pedindo para... Sei lá, montar uma cozinha industrial em miniatura na barriga dele.

— Rose, você está bêbada.

De onde tirei cozinha industrial?

— Não muito.

Na verdade eu havia despertado da minha letargia e as paredes não estavam se mexendo.

— Não vou me aproveitar de você.

Franzi a testa. Ele não queria me beijar porque eu estava bêbada, portanto, inconsciente dos meus atos e ele estaria se aproveitando de mim? Em algum lugar dentro do meu cérebro, a Rose feminista celebrou. Porém a Rose bêbada queria gritar foda-se para isso.

— Eu não estou tão bêbada a ponto de não conseguir decidir o que eu quero - Falei e tomei o cuidado de não desviar os olhos do dele e nem de enrolar as palavras.

— Eu...

Interrompi-o, beijando-o.

Dessa vez, ele retribuiu. Caímos na cama, com ele por cima de mim e minhas mãos tateando a sua barriga, tentando achar a barra de sua camisa.

— Tem certeza? - James perguntou, tirando a camisa.

— Sim - Eu respondi encarando o seu peitoral definido. Eu talvez não tivesse certeza disso amanhã, mas isso é problema da eu de amanhã.

Minha saia e o meu sutiã foram para o espaço sideral. Não literalmente, é claro. Imagina um astronauta encontrando um sutiã gravitando no espaço?

James beijou meu pescoço e eu fechei os olhos.

E dormi.

 


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Notas finais do capítulo

1. O livro da Rose que Scorpius recita o primeiro paragrafo é A metamorfose, do Kafka.
2. Do livro Lolita, de Vladimir Nabokov.
3. Do livro As intermitências da morte, de José Saramago. ♥


É, eu sei.
Eu diria mais alguma coisa, mas estou ocupada demais rindo.