— Me solte Izuku, ou eu vou matá-lo junto com ele! — bradei, encarando bem no fundo dos olhos verdes do meu irmão. Sua mão afrouxou na hora, liberando meu braço de seu aperto. Voltei-me para o pirralho encolhido atrás do garoto que me informou no exame de admissão. Qual era mesmo seu nome? Sei que começava com I... Ah, sim. Iida!

— Iida-san, eu não te conheço, nem sei nada sobre você, mas imagino que você deva querer uma vida próspera. Então saia da minha frente para eu poder matar esse baixinho de merda, ou terei que te bater até você virar do avesso! — gritei, tendo que erguer um pouco o rosto para encará-lo. Droga, é mais fácil intimidar garotos baixinhos como o Izuku.

— Perdão, Midoriya-san, mas receio que esse tipo de violência seja proibida — Iida disse calmamente, ajustando os óculos quadrados na ponte do nariz.

— Ora, e o que alguém inútil como você poderia fazer, Água de Esgoto? — Bakugou provocou  com os braços cruzados e o pé sobre a mesa despreocupadamente.

— Quer comprar uma briga, Bakugou?! —exclamei, esmurrando sua mesa e agarrando seu colarinho. O mesmo repetiu meu gesto, segurando com força a minha gravata, sua face se contorcendo em raiva.

— H-Hanae! K-Kacchan! —Izuku tentou apartar, puxando-me pela cintura.

— Me solta, Izuku!

— Cai fora, Deku!

— Vão pra outro lugar se quiserem brincar de amigos — uma voz arrastada ordenou. Virei-me lentamente, apenas para encontrar uma grande minhoca amarela. — Isso aqui é o curso de heróis — na verdade a minhoca se revelou como sendo uma pessoa. O nosso sensei. — Levou oito segundos para que ficassem em silêncio... Eu sou seu professor, Aizawa Shouta. — e puxando de dentro de sua fantasia de minhoca amarela o uniforme azul concedido pela escola, ele finalizou — É meio repentino, mas vistam isso e vão para o campo. 

Todos se direcionaram para os vestiários, onde os uniformes estavam previamente guardados nos armários de seus respectivos donos. Ao encontrar meu armário, abri-o e comecei a me despir. Nenhuma das meninas falava muita coisa, aparentemente ninguém havia formado muitas amizades concretas ainda. Droga, preciso mudar isso!

Virei-me para a garota do armário ao meu lado, arregalando os olhos de surpresa ao notar que aquela era a garota com quem Izuku havia conversado no exame de admissão.

— É você! — deixei escapar acidentalmente — Digo, claro que é você, se fosse outra pessoa não seria você... Ah, não estou falando coisa com coisa! Midoriya Hanae, muito prazer — sorri, estendendo a mão para cumprimentá-la. Obrigada, nervosismo.

— Uraraka Ochako! —igualmente sorrindo, ela apertou minha mão. — Que bom, já estava começando a pensar que não iria arrumar amizade com ninguém e passar o ano inteiro sozinha!

Rimos juntas enquanto trocávamos de roupa, e após estarmos prontas, deixamos o vestiário em direção ao campo de treinamento. Ochako se mostrou uma pessoa bastante amigável durante o percurso, embora meio maluquinha.

***

— Um teste de avaliação de Individualidade? Mas é o primeiro dia de aula! Aizawa-sensei, e a cerimônia de entrada? —indaguei, o braço erguido no ar.

— Heróis não tem tempo para tais eventos de lazer — seguido de um pequeno discurso, o sensei pediu que Bakugou desse um passo á frente para testar o quão longe ele conseguiria atirar uma bola de softball usando sua Individualidade. Droga, isso só servirá para inflar o ego dele.

— 750 metros?! Incrível! — um garoto de cabelos vermelhos exclamou, ao meu lado.

— Cala a boca! — gritei, virando-me para ele com uma expressão assassina.

O garoto encolheu-se no lugar. Bufando, voltei meu olhar para o sensei, que explicava como ocorreria o teste. Seriam oito provas de aptidão as quais poderíamos usar nossas Individualidades à vontade, e ao fim do teste, se alguém tirasse zero em todas as provas, seria expulso.

— Expulsão no primeiro dia de aula?! — Ochako murmurou, aparentemente nervosa.

— Calma Ochako-chan — acalmei-a, pondo a mão em seu ombro — Nós vamos arrasar!

A primeira prova seria a corrida de 50 metros.

Meu ponto fraco! Correr nunca foi meu forte, só quando algo me irrita fortemente a ponto de me fazer correr em disparada. Que eu pegue um oponente fraco, que eu pegue um oponente fraco!

— Midoriya Hanae e… Kirishima Eijirou — Aizawa-sensei anunciou, checando sua prancheta.

Kirishima? Quem diabos é Kirishima?

Direcionei-me para a pista, desejando do íntimo do meu coração que o tal Kirishima fosse alguém lento e lerdo, mas tamanha foi a minha surpresa ao descobrir que Kirishima Eijirou era o garoto de cabelos vermelhos satanista seguidor de "Bakugounismo".

— Ah, eu mereço — sussurrei, me colocando em minha posição.

— Você vai comer poeira! — gabou-se Kirishima.

— Sensei, para ganhar a corrida, todo o corpo tem que ultrapassar a linha? — indaguei, deixando Aizawa-sensei confuso.

— Hum... Não, acho que não… Sendo alguma parte sua a ultrapassar a linda de chegada, acho que é válido…

— Obrigada — sorri simpaticamente, agora mais confiante.

— Preparar… Já! — dada a largada, eu fechei minha mão em punho, e ela se fez uma bola de água compressa. Mirei na linha de largada e atirei como uma bola de baseball. Percorrendo toda a extensão da pista, minha mão atingiu a linha de chegada com 4,04 segundos. Calmamente, caminhei até onde Kirishima respirava fundo, as mãos apoiadas nos joelhos. Apontei o toco de meu braço para a mão decepada no chão, que voltou para seu lugar de origem como se fosse um ímã.

— Sem ressentimentos, Kirishima-kun — dei uma tapinha fraca na sua bochecha e fui me juntar à Uraraka.

Fora esse, os testes seguintes foram um completo desastre, com exceção do alongamento sentado, que precisei apenas liquefazer minha cintura para que meu nariz tocasse o chão, e o teste de força, quando novamente o baixinho de cabelos roxos tentou me aliciar, e eu segurei com tanta força o medidor para arremessar na cabeça do baixinho que este quebrou. Estou começando a perder a paciência com esse pirralho.

O penúltimo teste seria lançamento de bola, um tarefa realmente problemática para mim. Minha Individualidade não é do tipo que eu possa usar para arremessar coisas, a não ser que…

— Midoriya Hanae! — o sensei chamou, anunciando que era chegada a minha hora.

— Hai, aqui!

Agarrei a bolinha que me foi entregue e adentrei o círculo que havia sido desenhado no chão com giz. Okay, é a minha única chance.

Com a unha do indicador e muito esforço, consegui fazer um buraco na bola grande o suficiente para que meu dedo entrasse. Já com a bola presa na ponta do meu indicador, imitei o formato de uma arma de fogo com a mão e apontei para o céu, liquefazendo meu dedo e comprimindo a água para o formato de uma bala, disparando em seguida. A bola fugiu do alcance da minha vista tão rápido que eu mal pude verificar se funcionara. Virei-me para o Aizawa-sensei para receber o resultado, ficando surpresa ao saber que a bola alcançara 634,3 metros.

— Parabéns, Hanae-chan! — Uraraka abraçou-me — Alcançou uma pontuação de herói!

— Fácil pra você falar, Ochako-chan, sua bola alcançou "infinito" — revirei os orbes, rindo.