Hero escrita por spyair


Capítulo 19
Impureza


Notas iniciais do capítulo

Yo, minna!
Seguinte, esse capítulo veio mais pesado e tenso, mas é algo bem necessário pro desenrolar da história, então não me crucifiquem, okay?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/740045/chapter/19

 

Destruída. Era como eu estava após aquele dia. Tive que fazer um esforço gigantesco para carregar Shoji na primeira aula, tivemos uma corrida de obstáculos antes do almoço (Correr não é meu forte!), e um treinamento em dupla na penúltima aula, no qual eu flutuei uns vinte metros acima do chão com a Individualidade de Uraraka. O ponto alto do meu dia foi o cochilo que eu tirei na hora do intervalo da tarde.

E a última aula daquele dia. Uma longa e lenta aula de Deveres Heróicos, onde passamos mais da metade da aula vendo documentários sobre grandes heróis da história. Ao fim da aula, eu demorei a arrumar meus materiais na mochila, pois ainda estava meio grogue pelo meu cochilo no meio do documentário. Uraraka e Asui me esperavam na porta para voltarmos juntas aos dormitórios, mas quando eu já ia me juntar á elas, Midnight-sensei me chamou.

— Midoriya-chan, você poderia me fazer um favorzinho? — indagou, um sorriso pidão brincando em seu rosto. Suspirei, balançando a cabeça em concordância — Pode levar esses papéis até a Reitoria pra mim?

— Claro… — peguei a pilha de papéis que estava depositada em sua mesa, direcionando meu olhar para Uraraka e Asui — Podem ir na frente, eu alcanço vocês — na verdade eu não iria alcançá-las e teria que voltar para os dormitórios sozinha. Ambas concordaram, despedindo-se de mim com um aceno e sumindo pelo corredor, enquanto eu ia à direção oposta. Caminhei vagarosamente pelos longos corredores iluminados pelos últimos raios de sol do dia até avistar o corredor em que se encontrava a Reitoria. A porta para a sala ficava no final do corredor sem janelas e mal iluminado. Era praticamente a única sala daquele andar, fora algumas outras que ninguém usava. Bati na porta diversas vezes, até que alguém apareceu pra abri-la. Era um garoto bem alto e de rosto estranho.

— Ahn… A Midnight-sensei me mandou entregar esses papéis aqui… — apontei para a pilha que eu carregava nos braços.

— Ah, obrigado! Eu estava esperando esses papéis para fechar a sala. — o garoto sorriu amigavelmente, apanhando os papéis e os depositando numa mesinha que havia ali para em seguida sair e trancar a sala. Mostrei-lhe um sorriso cansado antes de arrumar a mochila nos ombros e me virar para ir embora. Antes, porém, que eu fizesse isso, senti ele agarrar meu braço. — Espera, seu nome é Hanae, não é? Vi você no Festival Esportivo…

Ergui a sobrancelha. Ele é algum tipo de stalker?

— Sua Individualidade é bem legal… Pode liquefazer seu corpo à vontade, né? — um sorrisinho surgiu em seu rosto, o que me assustou. Não era estranho que as pessoas soubessem da minha Individualidade, já que ela fora exibida pra praticamente todo o Japão. Mas a forma como ele falava… — É como se você não tivesse fraqueza nenhuma!

— Não é bem assim… — olhei para sua mão em meu braço, ele estava apertando bem forte, pra falar a verdade. — Pode me soltar?

Ignorando meu pedido, ele apertou ainda mais forte, o que me fez ter que liquefazer meu braço. Mas antes que eu pudesse puxar meu braço, a água ferveu. Sim, ela começou a borbulhar e esquentar a ponto de eu ter que solidificar meu braço novamente.

— Sua Individualidade combina perfeitamente com a minha, não acha? Eu posso ferver líquidos, como água… E convenientemente, você pode se transformar em água! Coincidência, né?

— O que você quer?! — tentei puxar meu braço sem liquefazê-lo, o que foi um erro, pois eu pude sentir todo o meu interior queimar.

— Sabia que o sangue humano é 95% composto de água? — inclinou a cabeça, puxando-me para mais perto dele a ponto de nossos corpos se chocarem.

— O que você quer? — repeti.

— O que eu quero é que você fique bem quietinha — sibilou, levando sua mão livre até minha gravata para começar a desamarrá-la — Ou pode ser pior pra você — a mão que prendia meu braço começou a esquentar, e o calor foi distribuído pelo meu corpo, me fazendo arregalar os olhos. Não... Isso não podia realmente estar acontecendo, foi o que eu pensei ao olhar para o rosto do garoto. Mas quando eu senti sua mão livre escorregar pelos botões do meu blazer para abrir cada um dos botões lentamente, eu esqueci qualquer um dos meus pensamentos otimistas. Era um andar praticamente abandonado, ninguém passava por ali nesse horário, eu não podia fugir...

Engraçado como alguém com Individualidade relacionada á água tem tantos problemas com calor, se torna até mesmo irônico. Eu poderia rir disso, se não estivesse numa situação tão deplorável. Cada segundo, cada longo e agonizante segundo, eu sofri cada segundo.

Sofri quando senti ser prensada contra a parede fria do corredor, sofri quando minha roupa foi aberta violentamente e contra a minha vontade, e eu sofri com os apertos e toques violentos do garoto que eu não sabia o nome, nem ao menos me interessava saber. Só o que eu queria era me livrar dele. Cada um de seus toques me fizeram sentir suja, e aquilo pareceu não ter um fim. Parecia ser incrivelmente prazeroso para ele, mas na verdade foi tenebroso o modo como aconteceu. Eu mal pude tentar me soltar, mal tive a chance de fugir dali, pois ele tinha me feito ficar a sua mercê. A forma como ele me encarava era de puro prazer, quase sádica.

Ele não parou em nenhum momento, nem quando eu implorei ou quando chorei pela dor, nem mesmo quando eu já não aguentava mais aquilo. Parou apenas quando seus próprios prazeres já estavam saciados. E esse momento pareceu durar a noite inteira para chegar.

***

Demorei muito, muito tempo para sair da sala que eu havia me trancado. Depois o infeliz acontecido, a escuridão me acolheu numa sal vazia, à qual eu me tranquei até o horário do toque de recolher, apenas refletindo sobre minha própria vida. Eu realmente devo ter feito algo de muito errado para alguém, ou então essas coisas não me aconteceriam. Primeiro, Dabi, que trucidou meu braço. Em seguida, esse garoto que eu nem ao menos sabia quem era, arrancou de mim minha pureza. Com certeza em algum momento da minha vida eu devo ter sido um ser humano horrível e agora as forças divinas estão me castigando, é a única explicação.

Expulsei aqueles pensamentos da minha mente, levantando-me do chão gélido. Suspirei, caminhando com dificuldade até a porta trancada da sala para poder deixar aquele local. Àquela hora da noite não havia mais ninguém rondando pela escola, e foi justamente por esse motivo que eu me tranquei naquela sala após meu agressor ir embora. Eu não aguentaria explicar para ninguém. Não responder porque eu tinha demorado tanto, ou de onde haviam surgido as marcas roxas nas minhas pernas e nos meus braços. Foi com esse pensamento que eu adentrei o prédio dos dormitórios da 1-A, torcendo para que ninguém mais estivesse passeando pelo saguão.

Aparentemente, as forças divinas ouviram as minhas preces, e não havia ninguém no primeiro andar, muito menos na escadaria que levava até o andar do meu quarto. Ao chegar nele, passei direto até o banheiro, trancando a porta antes de abrir o registro do chuveiro e me sentar embaixo do mesmo, apenas sentindo a água escorrer pelo meu corpo e camuflar as lágrimas que desciam pelas minhas bochechas.

Fiquei ali a noite toda, apenas desejando que nada daquilo tivesse acontecido e que a água que caía do chuveiro lavasse a sensação de sujeira e impureza que eu sentia por todo o meu corpo.

***

Na manhã seguinte, quando eu já havia conseguido ir para a minha cama, não atendi a nenhum dos chamados dos meus colegas. Primeiro o de Jirou, que dormia no mesmo andar que eu, me chamando para ir para a aula, não lhe dei resposta alguma. Depois vieram Uraraka e Ashido, depois Asui com Kirishima e Kaminari, e por último Izuku.

— Hanae? Está tudo bem? — Izuku indagou do outro lado da porta — Kaminari ligou pra mim, para que eu voltasse e falasse com você. Eu estranhei, pois a aula já ia começar, mas ele parecia bem preocupado então eu…

— Eu estou bem — menti. Respirei fundo, desenterrando o rosto do travesseiro. — Só com dor de barriga, não precisa se preocupar.

— Tem certeza? Posso ficar aqui com você… Se precisar.

— Não… Pode ir pra aula, hoje tem uma aula importante com o Aizawa-sensei, não é? Não quero que perca.

— Okay… Mas se precisar de qualquer coisa é só ligar pra mim que eu venho correndo — assegurou, ao passo que eu murmurei um barulho estranho em concordância.

Nos dois dias seguintes, eu não saí do meu quarto nenhuma vez, nem mesmo para comer. Recusei todas as tentativas dos meus amigos de me tirar do quarto, até que o caso ficou sério e convidaram Yaoyorozu para criar uma chave mestra e abrir a porta do quarto, por onde entraram Uraraka e Izuku.

As janelas do quarto estavam fechadas e cobertas por cortinas, e fazia algumas horas que eu não olhava para fora, então não tinha muitas noção de que horas poderiam ser, mas como ambos estavam de uniformes e com mochilas, deduzi que era de manhã.

— Hanae-chan, você precisa sair desse quarto — Uraraka pediu, sentando ao meu lado na cama.

— Hanae… — foi a única coisa que Izuku conseguiu dizer, ao deparar-se com meu estado deplorável.

Ignorei os dois, cobrindo-me com o cobertor da cama. Simplesmente não queria encarar ninguém, porque uma hora ou outra iriam me perguntar o que aconteceu comigo, e eu iria deixar escapar, mais cedo ou mais tarde. Então todos me olhariam com estranheza, e eu não queria isso. Eu não queria ser a garota imunda que foi estuprada — Hanae. — ouvi Izuku chamar, firme, para em seguida puxar o cobertor de mim, me expondo aos seus olhos e aos de Uraraka. — Eu não sei o que aconteceu com você, mas seja lá o que for, você não pode ficar escondida disso para sempre. Heróis enfrentam seus problemas.

Convicto de suas palavras, Izuku puxou Uraraka para fora do quarto, e antes de sair, murmurou um "se arrume logo para ir para a escola", o que me fez engolir em seco. Izuku sabe ser bastante firme quando ele quer.

Suspirei, levantando-me da cama com muita dificuldade e caminhando até o banheiro, onde tomei um banho reforçado e fiz minhas higienes, para então voltar ao quarto e vestir meu uniforme. Mas havia um problema, uma grande marca roxa que aquele infeliz havia deixado na minha coxa, e que nem com maquiagem eu consegui esconder. Tive que usar a saia mais longa (a escola nos dava uma saia longa, só que ninguém a usava assim, todo mundo dobrava o cós e a deixava curta) para conseguir cobrir aquilo, mas usar a saia daquele jeito me fez sentir muito estranha.

Amaldiçoei todas as gerações daquele garoto no caminho do quarto até o térreo, onde quase todos moradores da casa me esperavam. Todos os presentes me olhavam com receio, como se eu fosse uma boneca de porcelana prestes a quebrar se alguém dissesse algo. Apenas Izuku se mexia, ele vinha até mim com um prato de comida, que colocou em minhas mãos, murmurando um “coma”.

— Não estou com...

— Hanae, eu não vou sentar e observar minha irmã definhar, então você vai comer isso — mandou. Eu nunca o havia visto tão sério assim, e acho que isso não foi uma surpresa só para mim, como para todos os presentes na sala. Cada pessoa seguiu meus passos com os olhos e me observou sentar á mesa e comer obedientemente, para em seguida ser levada para fora do prédio por Izuku. — Não vou obrigar você a falar o que aconteceu com você — começou, caminhando ao meu lado — Mas mesmo que não queira me falar, tem que lembrar que somos irmãos e que eu me preocupo com você. Então de um jeito ou de outro, eu vou cuidar de você

— Talvez um dia eu consiga contar — sussurrei.

***

Durante todo aquele dia, segui com uma sensação constante de receio. Eu não conseguia passar em locais onde só tivesse garotos, mesmo acompanhada, não conseguia sair da sala sozinha em horários de aula, não conseguia nem mesmo trocar de roupa no vestiário sem estremecer, sentindo-me observada a todo o momento.

Na hora do almoço, eu estava rodeada de gente. Nem passou pela minha cabeça sentar-me sozinha ou na ponta da mesa. Também não ousei sair da mesa sozinha, saí apenas com Kaminari e Izuku me escoltando até a sala, mas meu corpo congelou alguns passos antes da porta.

Lá estava ele, despreocupadamente conversando com pessoas que eu não conhecia, escorado á parede.

— Hanae, o que houve? — Kaminari indagou, tocando meu braço e me fazendo despertar.

— É… Eu preciso ir ao banheiro — lancei um último olhar ao meu agressor, me certificando de que ele não havia me visto, antes de sair correndo dali para o banheiro feminino mais próximo. Esbarrei em alguém no caminho, mas ignorei os xingamentos direcionados a mim e segui meu caminho. Adentrei o banheiro cheio de garotas, trancando-me num dos boxes. Fiquei ali por alguns minutos, controlando minha respiração, até criar coragem para tornar a sair. Verifiquei minha aparência ao passar pelo espelho, fazendo cara feia para aquela saia longa. Detestava-a, me fazia lembrar...

Balancei a cabeça, saindo do banheiro para voltar para a sala. Mas ao passar pela porta do banheiro masculino, a mesma foi aberta, por onde saiu um garoto bastante conhecido por mim, no qual eu esbarrei com força, caindo para trás com o impacto e o fazendo cambalear.

— Olha por onde anda, Água de Esgoto! — vociferou, retomando o equilíbrio.

Bufei, eu realmente não precisava discutir com Bakugou Katsuki num momento como aqueles. Observei-o, o visual desleixado o deixava com a típica aparência desleixada de valentão, enquanto levantava.

— Que diabos de saia de merda é essa? — indagou, erguendo a sobrancelha.

— E o que diabos você tem a ver com a minha saia?! — cruzei os braços, fechando a cara.

— Eu... — parei de lhe dar atenção quando uma nova figura apareceu atrás dele, fazendo com que eu arregalasse os olhos.

— Kouhei... — murmurou, um sorriso brincando em seu rosto enquanto passava por Bakugou, esbarrando em seu ombro e dirigindo-se até mim. Vi o rosto de Bakugou se contorcer em ódio, enquanto o meu estava completamente sem reação. — Estava com saudades de você, onde se meteu nesses dias?

— Eu... — murmurei, engolindo em seco. Direcionei um olhar de súplica para Bakugou, desejando que ele esquecesse nossas diferenças, esquecesse o quanto nos odiamos, e me ajudasse. Que me tirasse dali.

— O gato comeu sua língua? — senti sua mão tocar meu pescoço, e fechei os olhos com força. Meu interior esquentou, e o calor se espalhou pelo meu corpo.

— Acho melhor vazar daqui, Estudos Gerais de merda — ouvi Bakugou ordenar, e nesse exato segundo o calor cessou, assim como o toque do garoto. Abri os olhos lentamente, vendo os dois se encararem com fúria, Bakugou com sua mão direcionada para o rosto do outro.

— Nos vemos por aí, Hanae — murmurou, virando-se para sair dali.

Soltei a respiração que estava presa em meus pulmões, aliviada por ter me livrado daquilo por aquele momento, e voltei a olhar para Bakugou, meus lábios se curvando num pequeno sorriso.

— Obrigada, Katsuki — nem percebi que o havia chamado pelo nome, mas posso jurar que vi um leve rubor em suas bochechas.

— Que seja...

Continuei a sorrir. Bakugou podia negar o quanto fosse, mas ele havia me ajudado. Me salvado pela segunda vez. E sim, eu era grata por isso.

— Vai ficar parada aí? A aula já vai começar, idiota!

Argh, mas eu ainda o odeio!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Odiaram? Me descupeeem por ter que fazer isso, mas como eu já disse, é muito importante, então, não me matem nos comentários!
Vá além, PLUS ULTRA!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hero" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.