Inerzia escrita por Captain Marvel


Capítulo 21
Irreversibile




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Thiago se lamenta por alguns instantes, dando tapas na própria cabeça; chuta a mesa de centro de sua sala com tanta força que a derruba. Por sorte, não havia nenhum objeto sobre ela. Joga o uniforme do justiceiro em cima do sofá e vai à casa da namorada. Toca a campainha insistentemente, bate na porta, chama seu nome pedindo para que o perdoe. Todavia, absolutamente nada responde, deixando-o desolado.

Durante o restante do dia, liga várias vezes em seu celular. Nas primeiras vezes até chama, porém, depois cai diretamente na caixa postal. Pensa nas possibilidades de como se desculparia. A essa altura, não está pronto para perdê-la. Hesitou ficar com ela tempo demais, portanto, não desistiria agora que a tinha nos braços.

Em outro canto da cidade, Pâmela abre os olhos devagar, sentindo uma forte dor de cabeça. Varre o local com a visão, percebendo estar em uma espécie de galpão abandonado. Balança seu corpo, constata que está com mãos e pés amarrados a uma cadeira. Cinco homens mascarados, vestidos completamente de preto a vigiam. Percebendo sua movimentação, um deles se manifesta:

— Chefe... Ela acordou!

Um homem aparece em meio à escuridão do local. A princípio não consegue ver seu rosto, contudo; aos poucos se abaixa, ficando em seu tamanho e exibe sua feição:

— Oi Pam...

— Daniel??? — fala num sussurro, devido à fraqueza de sua voz. — O-O que pretende fazer comigo?

Solta um riso debochado.

— Não é óbvio? Você vai pagar por ter me trocado por aquele bosta!

— Vai se foder! — esperneia-se, tentando se soltar, porém falha. — O que acha que vai conseguir com isso? Eu sabia que você era filho da puta, mas não pensei que fosse tanto assim!

Mais uma gargalhada, desta vez com ar de superioridade. Posteriormente, Elaine aparece com os punhos cerrados, um sorriso sádico no rosto.

— E então, Pam... Tá confortável? — questiona-a.

— Ah cala sua boca, piranha imun... — antes de poder concluir, leva uma bofetada no rosto.

— Eu odeio esse seu jeito de sonsa! — a loira comenta, puxando seu cabelo. — Vai pagar caro por isso.

— Você não passa de uma invejosa, traiçoeira!

Solta-a, saindo de seu campo de visão acompanhada de Daniel. Volta alguns minutos depois, trazendo um balde com água gelada, a qual joga nela, fazendo-a tremer de frio.

— Seremos o seu pior pesadelo! — adverte.

Depois, o loiro se aproxima com um pote trazendo algo indecifrável a ela.

— Lembra quando namorávamos e você me pedia para matar as baratas para você, pois morria de medo? — indaga-a. Mantém-se calada, tremendo. — Espero que ainda tenha medo delas!

Despeja o conteúdo sobre suas pernas, revelando duas baratas. A garota grita; chora; implora para tirarem o inseto de cima dela. Todavia, apenas riem e assistem à cena como se fosse um entretenimento.

[x]

Já é quase madrugada, Thiago está sentado em sua sala com a TV ligada e uma garrafa de cerveja como suas companhias. Bebe, enquanto se lamenta por não ter conseguido falar com a garota que domina seus pensamentos.

Contara a Rodrigo o acontecimento de mais cedo, então, o mesmo achara melhor que deixassem o plano de pegarem o Ave da Noite para o dia seguinte. Até havia se oferecido em visitá-lo, entretanto preferira ficar só.

Desperta de suas lembranças quando a campainha toca. Sente-se confuso. A única coisa que consegue pensar é: “Quem diabos viria me visitar a essa hora?”. Por garantia, pega a pistola que sempre fica escondida próxima à caixa de luz. Coloca-a no bolso. Ao abrir a porta, vê um Fábio muito irado, enquanto Maria está desolada:

— Onde está nossa filha, seu filho da puta?

— Esperem... Ela não está na casa de vocês? — replica, sentindo o corpo gelar.

— Claro que não! Deve estar aqui, né? — insiste, irritado. — Olha, não sei quais as suas intenções com ela, mas com certeza não são boas... — exprime, adentrando à casa mesmo sem autorização.

— Espera! Nós brigamos hoje de manhã. Ela foi pra casa! Ao menos que tenha ido para... — o telefone toca, interrompendo sua justificativa. — Só um momento...

Aproxima-se do aparelho. Vê que o número é restrito. Atende sem falar nada, esperando que alguém diga do outro lado:

— Alô, Thiago? — a voz se manifesta.

— Quem é?

— Puxa, não se lembra de mim? Que consideração! — zomba. — Bom, vou te mostrar uma coisa bem legal, escuta... — gritos de mulher são ouvidos. Implora por socorro. Soluça em meio a súplicas. — Sabe quem é essa?

— Pâmela? — interroga, sentindo as pernas bambearem. Fábio e Maria arregalam os olhos ao ouvirem-no falando o nome da filha. Aproximam-se, a fim de obterem mais informações.

Acertô mizerávi! — redargue. — Agora sabe quem sou eu, Thiago? Ou deveria dizer... Justiceiro? — dá ênfase no final.

O ex-policial pressiona os dedos contra a palma de sua mão.

— Daniel, ou devo dizer Ave da Noite? — retribui no mesmo tom. — Solte Pâmela imediatamente! Seu problema não é com ela, mas sim comigo!

— Isso é o que você pensa... Encontre-me no galpão abandonado da fábrica de sapatos no Brás*. Quero um acerto de contas! — encerra a ligação.

Os pais da jovem o cercam, querendo respostas.

— Acalmem-se! Preciso fazer uma ligação. — avisa-os, discando o número de Rodrigo em seguida.

Avisa ao amigo o que está acontecendo. Ele pesquisa o endereço, lhe dá as informações necessárias. Diz que quer ir junto, contudo, o justiceiro não permite. Após isso, assegura aos responsáveis que irá resgatar a filha deles. Vai ao quarto, deixando-os intrigados.

Volta à sala trajando seu uniforme que enfrentara muitos criminosos e pessoas más. Nunca quisera usá-lo para causas pessoais, todavia, abriria esta exceção. Porta armas dentro de seus vários bolsos. Fábio e Maria o examinam, perplexos. Não havia tempo para se explicar, no entanto a revelação de sua identidade é óbvia.

Como de praxe, vai para a porta dos fundos, sendo seguido pelo casal questionador. Sem respondê-los, monta em sua motocicleta e fala pela última vez:

— Vou trazer Pâmela em segurança. Eu prometo! Só não chamem a polícia, pois ele disse que se fizermos isto, ela morre.

Chegando ao endereço informado pelo advogado, é cercado pelos mesmos cinco homens que a ruiva vira ao acordar. Todos estão bem armados, assim como ele. Estava preparado para o que possivelmente enfrentaria.

Desce da moto, puxando duas pistolas de alta potência, alvejando tudo ao seu redor. Apesar de serem acertados, seus uniformes extremamente resistentes os protegem. Dois homens seguram seus braços, enquanto os outros três lhe distribuem chutes; socos; entre outros golpes.

Ajoelha-se, dá uma rasteira que derruba os que o seguram. Pega mais duas armas em seu uniforme, atirando na cabeça de um dos homens, ao mesmo tempo em que outro lhe crava um punhal no ombro esquerdo. Berra de dor. Vira-se na direção deste, puxando-o pelo pescoço, dando-lhe um mata-leão.

Está prestes a enforcá-lo, os outros três tentam ajudar o comparsa. Um deles aponta uma pistola em sua cabeça, ameaçando atirar caso não o solte. Porém, Thiago toma o revólver de sua mão, atingindo o homem que segura e o dono dela em seguida.

Os dois restantes ficam amedrontados com as habilidades do justiceiro. Batem na porta do galpão, apavorados. Daniel a abre. Acertá-los-ia quando vê o verdadeiro culpado daquilo tudo apontando uma arma para a cabeça de Pâmela que está amordaçada, chorando.

— Solte as armas, se entregue e ela vive. — no começo, hesita. Entretanto, vê que não tem outro jeito, sendo assim o obedece. — Bom garoto! — sua cabeça é impactada com algo pesado, fazendo-o desmaiar.

[x]

Acorda sentindo gosto de sangue em sua boca. Sente algo quente escorrer em sua nuca, provavelmente é a mesma coisa. Ao olhar na direção de uma forte luz, vê Elaine tirando fotos suas. Ao percebê-lo de olhos abertos, mostra o celular a ele:

— Oi docinho! Olha que lindo você está nessa foto... — exibe a tela, revelando que está sem máscara. — A essa altura do campeonato, um homem da sua idade querendo dar uma de justiceiro? Estou excitada! Aposto que depois de divulgar isso na internet, mais menininhas ficarão também... — comenta soltando um riso libertino seguidamente.

Olha para seu lado, notando que Pâmela está em silêncio, aos prantos. Daniel surge, encarando-os com ar vitorioso.

— E aí justiceiro! Como é fazer tantos sacrifícios para nada?

— Por que não me diz, Ave da Noite? — confronta-o.

A ruiva o olha confuso.

— Pois é, Pâmela... — o loiro se abaixa diante dela. — Todo esse tempo em que namoramos e você nunca desconfiou. — dá uma risada anasalada. — Sabe o emprego lá na multinacional? Tudo fachada! De onde acha que eu tirava dinheiro para viajarmos tanto? Para te dar presentes caros? Você é muito burra!

— É tão rico, mas mora numa casa tão simples... — a refém se manifesta. — Pensei que fosse modéstia da sua parte.

— Claro que não! Só dei preferência para construir algo melhor para mim fora desse país de merda! As leis não funcionam aqui. Por isso nunca vou pagar por nada do que fiz e estou fazendo. — disserta. — Vou contar a vocês minha triste história de infância. Quem sabe assim a Pâmela fique com dó de mim, assim como tem pena de outros bandidos... — então, começa a lhes narrar sobre como sua mãe morreu, o quanto tivera uma infância dolorosa.

— Você deveria se vingar do seu pai, não descontar em nós! — o mais velho esbraveja.

— Acham que não fiz isso? — ergue uma das sobrancelhas, se colocando de pé. — Eu matei meu pai! Quer dizer... Na verdade, mandei algumas pessoas fazerem isso para mim. Não gosto de sujar minhas mãos! — ergue-as no ar. — Mandei matar minha tia também que não quis deixar a mídia divulgar nossa história por medo de pessoas fazerem justiça contra ele... Eu sou como você, Thiago. Um justiceiro.

— Não se compare a mim! — ordena, com os dentes cerrados.

— Ora, você deve ter alguma motivação para fazer o que faz. Eu fiz porque prometi que mataria a todos que me juraram amor eterno e não cumpriram isto. Trafico drogas para enriquecer e sair daqui. Esse país é sujo; injusto. Vai dizer que não pensa igual a mim? — pergunta de maneira retórica. — Fique tranquila, Pâmela... Vou te matar antes dele, pois foi você quem jurou amor a mim. Ele é apenas alguém que quero ver sofrer lenta e dolorosamente...

 De repente, um barulho de algo sendo jogado contra a porta do local é ouvido. Elaine vai até lá ver.

— O amigo desses cuzões está aqui e veio acompanhado da polícia! — informa.

— Ótimo! O mataremos primeiro! — contravém, carregando um revólver.


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Notas finais do capítulo

* Brás é um distrito situado na região centro-leste de São Paulo, conhecida por suas várias fábricas e lojas com preços baixos. *



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