Inerzia escrita por Captain Marvel


Capítulo 18
Volendo Trovarti




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Quase uma semana se passa. Pâmela finalmente oficializou sua rescisão na empresa de telemarketing. Seu dinheiro rapidamente entrou em sua conta, portanto, ajudou seus pais com uma parte, guardando o restante.

Manteve contato com Elaine e Carolina unicamente para sondá-las a fim de pegar a responsável pela última agressão que sofreu de Daniel. Aliás, notou em seu guarda-roupa algumas peças esquecidas pelo mesmo. Mandou mensagem perguntando se as queria de volta, todavia não obteve resposta. Decidiu que caso não se manifeste, as queimará.

Em meio à correria de seus dias, não vira Thiago nenhuma vez. Embora quisesse evitar contato com o mesmo, por não se sentir confiante. Recebera algumas mensagens dele no começo da semana, contudo as ignorara para não alimentá-lo com falsas esperanças.

No entanto, no terceiro dia que o desdenhou, não recebeu mais nada. Entristeceu-se. Apesar de saber que era sua culpa, não conseguia parar de pensar no homem de cabelos compridos e olhar hipnotizante.

Thiago, por outro lado, continuava a trabalhar na polícia durante o dia e atuar como o justiceiro à noite. Notara que alguns crimes ligavam a drogas e ao tráfico. Depois de torturar alguns transgressores, descobriu que havia um traficante que comandava tudo.

Pediu a Rodrigo que investigasse algo relacionado ao nome “Ave da Noite”, porém, não encontrara nada. Aparentemente não deixava rastros por onde passava. Cria que se não tivesse matado seus compradores, o próprio faria o serviço.

Ainda que andasse extremamente ocupado, sua mente insistia em pensar na vizinha da casa à frente. De vez em quando, se pegava olhando pela janela empenhando-se em vê-la. Não sabe por que, mas continuava a rejeitá-lo. Assim sendo, decidiu não insistir.

Daniel recebera uma intimação para comparecer à justiça. Irritou-se. Amassou o papel, depois o rasgou. Socou a parede. Não podia acreditar que a ex-namorada insistia em denunciá-lo. Queria seu amor. Em troca, recebeu ingratidão. Elaine lhe mandou mensagens, tentando acalmá-lo. Tinha um plano maior para que se vingasse dela. Faria a sugestão assim que se vissem pessoalmente.

Enquanto isso, o homem misterioso continuava a bisbilhotar a vida dos vizinhos. Notara que ambos não haviam se encontrado mais. Passara a informação a seu chefe, que o orientou a se focar no ex-policial. Todavia, até o momento não captara nada de interessante para passar ao mandante.

[x]

É uma sexta-feira à tarde. Pâmela fora chamada para comparecer à delegacia novamente junto de Rodrigo para que entrem com o processo. Nervosa, bate os dedos no braço da cadeira de madeira, na qual aguarda a chegada do advogado.

Repara-o se aproximar com uma feição conturbada, carregando uma pasta embaixo dos braços. É a primeira vez em que o vê usar terno, gravata, sapatos sociais.

— Está chique. Porém atrasado. — alfineta.

— Obrigado. — joga um beijo no ar. — O Thiago já veio?

— Ele virá? — seus olhos se arregalam ao mesmo tempo em que seu coração dispara.

— Claro. É uma testemunha! E trabalha aqui. — responde simplório. — Bom, vamos aguardar. —senta-se. Arruma os papéis dentro de sua pasta.

— Por que está com uma cara tão preocupada? — questiona-o.

— Desculpe. — suspira pesadamente. — Acabei de sair do tribunal. Consegui ganhar o caso daquela idosa que falei para vocês. — sorri. — Mas agora estou fazendo uma investigação que tem tirado umas horas de sono minhas... — morde o lábio. Falara demais.

— Uau! Então você é tipo Sherlock Holmes também? — zomba. Fita-a sério, caindo na gargalhada em seguida. — Posso saber que caso é esse que está investigando?

— Bem... — tateia as palavras. Teria de ser cauteloso para não entregar a identidade do justiceiro, nem seu envolvimento ele. — Existe um traficante aqui em São Paulo, parece que está importando um novo tipo de droga e vendendo por um preço mais caro. Por isso a onda de roubos tem crescido. Os caras estão malucos pra usarem essa merda!

A jovem digere a informação.

— Por que não divulga isso no jornal?

— Porque ainda não temos provas concretas.

— Temos? — indaga.

Respira fundo. Tenta pensar numa forma de se corrigir.

— Estou investigando junto com a polícia. — mente. — Estamos tentando seguir os passos do Ave da Noite, mas não há nada que nos leve a ele.

— Ave da Noite? — ri. — Que nome ridículo!

— Não é? — entra na brincadeira. — Como se isso colocasse medo em alguém!

— Boa tarde! — ouvem uma voz conhecida. Viram-se na direção.

— Até que enfim, Thiago! — levanta-se para cumprimentar o amigo.

— Oi Pâmela. — acena de longe.

— Oi. — retribui com um sorriso sem graça.

[x]

Após cumprirem com as burocracias, com a notícia de que o caso será levado aos tribunais, Thiago e Rodrigo conversam, enquanto Pâmela vai ao banheiro. Não se sente em paz estando perto do homem que tanto deseja, porém insiste em afastar de si.

Lava o rosto. Retoca o batom. Decide-se: está na hora de se desculpar, se entregar de uma vez por todas a este sentimento. Não se pode relutar contra uma paixão ardente.

— Meninos... — chama a atenção de ambos. — Desculpem interromper o papo, mas preciso conversar com o Thiago. — encara-o.

— Ok. Recado entendido. — o advogado exprime, retirando-se, deixando-os a sós.

— Quero te pedir desculpas. Fui uma idiota, cuzona. Você é um cara maravilhoso! Eu só não me sinto pronta, nem o suficiente pra você. Por isso fiquei tentando te afastar, mas a verdade é que eu to muito a fim de você.

Boquiaberto, reflete, enquanto tenta respondê-la.

— Fiquei preocupado, sabia? Você não me respondeu, achei que tivesse feito algo errado! Tentei te deixar em paz, pois achei que não sentisse nada por mim...

— Mas eu sinto!

— Também sinto! Toda vez que te vejo, pareço um adolescente bobo vendo a garota dos seus sonhos. Você me traz energia, vitalidade. Te beijaria agora se não tivesse tanta gente olhando...

— E qual o problema?

Nas pontas dos pés, puxa-o para baixo, beijando-o com desejo. Não ficam muito tempo juntos.

— Ok, você me beijou na frente do meu trabalho... Isso está ficando um pouco sério.

— Por que não me chama pra jantarmos hoje?

— Porque você tem aula, não?

— Não estava a fim de ir mesmo!

Põe as mãos na cintura, preparado para lhe dar uma bronca. Um riso leve lhe escapa.

— Passo na sua casa às 20 horas. Coloque algo bonito, pois iremos a um lugar chique.

— Nossa! Que clichê! — põe a mão no peito. — Adoro! — dá as costas, indo em direção ao ponto de ônibus.

Rodrigo se aproxima com um semblante orgulhoso.

— Vejo que se acertaram! — comenta. — Quer ajuda pra escolher a roupa do encontro?

— Acho que seria bom!

[x]

Chegam ao restaurante de braços cruzados. Estão esplêndidos como nunca. Ela usa um vestido preto, brilhante, com uma sapatilha preta de salto baixo. Ele traja um colete de mesma cor do vestido por cima de uma camisa branca, com uma gravata cinza amarrada e calças sociais.

Uma recepcionista os guia até a mesa. A ruiva pede licença, enquanto vai ao toalete retocar a maquiagem. A funcionária se retira, dando espaço para um garçom.

— Boa noite, senhor! O que deseja como entrada?

— Por enquanto traga só vinhos.

— Sua filha é maior de idade para poder consumir?

— Filha? — faz uma expressão confusa. — Refere-se à moça de preto que foi ao banheiro? — o outro assente. — Ela é minha... — dá uma pausa. — namorada. — transparece.

— Oh, desculpe! Perdão pela minha gafe!

— Relaxa! Mas só pra confirmar, apesar de ela ter idade pra ser minha filha, é maior de idade, sim! — graceja.

O homem anota o pedido, afastando-se da mesa, sem graça. O ex-policial permanece risonho. A jovem se aproxima.

— O que foi? — interroga.

— Acharam que você era minha filha!

— E o que disse? — franze o cenho.

— Que você é minha namorada.

Seu estômago dá um nó. Sente seu rosto queimar. Não pensava que receberia esse título tão cedo.

— Por que está com essa cara? — indaga-a. — Os jovens de hoje em dia não namoram mais? Ou ainda se fazem pedidos de namoro?

— Na verdade, as pessoas costumam ficar antes de namorar. Mas eu gosto das coisas à moda antiga! — sorri, se sentando em seguida.

[x]

Depois do jantar, passeiam pelo centro de São Paulo. A cidade brasileira que nunca dorme tem suas belezas noturnas. Veem o famoso “Elvis Presley da Paulista” *, dançam ao som de suas músicas.

Posteriormente, sentam-se no Vão do MASP**, onde acontecia uma apresentação de capoeira. Comem pipoca, tomam sorvete, durante a exibição.

Divertiam-se demasiadamente. Porém, já está tarde. Opta em levá-la para casa visando não preocupar Maria e Fábio. Deixa-a na porta, dando-lhe um longo beijo.

— Até amanhã, linda!

— Até amanhã!

Custa a soltar de sua mão. Quando o faz, não consegui tirar o sorriso persistente de seu rosto. O mesmo acontece a ela. Indo em direção à sua moradia, tem uma sensação estranha. Suprime-a e prossegue.

O homem de preto os vigia novamente:

— Chefe... Eles se beijaram. Aparentemente estão juntos. Executar o alvo?

— Não. Ainda está muito cedo. Quero massacrá-los primeiro!


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Notas finais do capítulo

* Avenida Paulista é a Avenida principal da capital de São Paulo, onde corriqueiramente artistas (como o famoso cover de Elvis Presley citado no capítulo) se apresentam. A avenida também é conhecida como o coração da cidade. *
** O Vão Livre do MASP (Museu de Arte de São Paulo) é palco para diversas manifestações, feiras livres, exibições de filmes, flashmobs e apresentações de artistas de rua. **



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