Inerzia escrita por Captain Marvel


Capítulo 13
Perfetto Ritmo


Notas iniciais do capítulo

O flashback chegou!
Gente, só esclarecendo uma coisa... Não quero romantizar relacionamento abusivo aqui, ok? As palavras em itálico são por causa do flashback e os nomes dos lugares estarão em negrito.

Boa leitura ♥



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Pâmela pisava fundo, enquanto caminhava rapidamente na passarela do Terminal Bandeira*. Sentia-se brava como nunca por ter sido reprovada na entrevista do estágio dos seus sonhos. Trabalharia numa renomada revista, com grandes chances de efetivação. A bolsa-auxílio seria maior que sua pretensão, assim ajudaria mais sua família.

Já preparava seus ouvidos para o discurso que ouviria de seu pai, que a lembraria do quanto era fracassada, dependente deles. Mesmo que não dissesse isso diretamente, era o que sentia cada vez que lhe falava sobre como conseguiu seu primeiro emprego.

Fábio nunca compreenderia que estavam em épocas diferentes. Para achar um emprego não bastava chegar à porta da empresa, dizer “Ei, eu estou desempregado, posso trabalhar aqui?”, a pessoa aceitaria de bom grado. A crise no Brasil era iminente, o que aumentou a taxa de pessoas desempregadas e afunilou o mercado de trabalho.

Seus pais não queriam magoá-la. Só queriam que se esforçasse mais, seguisse sua vida. Porém, por ser filha única, sempre tivera muitas coisas de maneira imediata. Era só fazer birra, que a atendiam prontamente. Julgavam-se culpados por isso. Talvez a tivessem mimado demais, prendido-a numa bolha. Agora — como um pássaro que sempre viveu engaiolado — queriam soltá-la à natureza, todavia, não conseguia voar.

Enquanto andava em meio ao mar de pessoas que iam e vinham no terminal, xingava-se mentalmente pelo seu revés. Também ralhava consigo mesma por estar usando uma porcaria de roupa social, com saltos não tão altos, entretanto que a incomodavam e não serviram para nada.

Não tinha costume de se vestir assim. Aliás, não se sentia bem trajando aquilo. Em um momento de distração, virou seu pé. Tomaria um tombo horrível que a faria ser pisoteada pelos transeuntes preocupados com suas próprias vidas; indisponíveis a ajudarem qualquer um. Contudo, sentiu duas fortes mãos a segurando pelos braços.

Recompôs-se; se ergueu, virando em direção ao dono das mãos. Foi paixão à primeira vista quando o arrostou. Um homem louro, com aproximadamente 1,85m., a fitava com um sorriso simpático.

— Você está bem, moça? — franziu o cenho.

Ficou tão concentrada em admirá-lo, que por pouco não o respondeu.

— E-Estou. — titubeou. — Muito obrigada! — espontaneamente o abraçou.

Surpreso, esbugalhou os olhos, cravando-a assustado. No entanto, depois de uns momentos de hesitação, retribuiu o gesto.

Como se não bastassem todas as coisas que haviam dado errado para ela, começou a chorar, sem que tivesse controle sobre si mesma. Ficou preocupado, pensou que talvez tivesse feito algo errado. Soltou-a; empurrando-a pelos ombros, coagiu-a a fixá-lo.

— Moça... Tá tudo bem? Eu fiz alguma coisa?

— Me desculpa moço! — exprimiu em meio às lágrimas. — Não queria molhar sua camisa... — passou as mãos sobre o ombro do rapaz, no qual havia encostado seu rosto. — É que tá tudo uma merda na minha vida e eu tô tão feliz de ter encontrado uma boa alma!

— Então, isso são lágrimas de felicidade? — levantou uma das sobrancelhas.

Assentiu com a cabeça, entretanto logo após negou e deu risada.

— Pra falar a verdade, não sei por que estou chorando! — expressou sincera.

— Venha comigo. — passou um dos braços por seus ombros. — Vamos tomar um café... Mas sem cair dessa vez! — brincou.

[x]

Estavam em pé, em frente a uma banca de comida. Ela devorava um segundo pão de queijo, enquanto vez ou outra bebericava seu café com leite. Ele comia uma coxinha, bebia um café puro. Admirava-a, ouvindo-a desabafar sobre o sonho frustrado de trabalhar na tal revista famosa, sobre o sermão que seu pai lhe daria, sobre o quanto estava farta das reclamações de sua família em relação à falta de dinheiro e sobre os trabalhos acumulados da faculdade, a qual fazia gratuitamente graças a uma bolsa integral.

Ainda que prestasse atenção em suas reclamações, foi impossível não notar sua beleza. Aqueles olhos verdes como esmeraldas, os cabelos medianos castanhos claros balançando ao vento, os lábios rosados e carnudos que pronunciavam aquelas palavras cheias de conhecimento, pesar.

— Ai moço... Perdoe-me! Eu tô aqui falando um monte de baboseira pra alguém que eu mal conheço e está sendo tão gentil comigo! — disse, em seguida mordendo o último pedaço de seu pão de queijo. – A propósito... Qual é seu nome mesmo?

O semblante assustado, confuso da garota o arrancou um riso alto.

— Puta merda... Estamos conversando há meia hora e não sabemos o nome um do outro! — comentou divertido. — Vamos recomeçar... Olá, prazer. Meu nome é Daniel e o seu? — estendeu-lhe a mão.

— Meu nome é Pâmela! — apertou-a, dando uma balançada de leve. — Mas então... Daniel — realçou seu nome. — O que faz da vida?

— Ah, nada muito interessante... Sou vendedor de uma empresa de produtos naturais. Estava voltando pra casa, que não é muito perto, quando vi uma moça se estabacando no chão. A princípio, pensei em dar risada; tirar uma foto pra postar no Instagram, a fim de fazer chacota. Mas meu lado humano me impediu, me obrigando a ajudá-la.

Ao concluir aquela frase, mordeu os lábios a fim de segurar a risada. Encarou-o com os olhos semicerrados, incrédula com o que havia acabado de escutar.

— Queria me transformar em meme? Que filho da... — tampou a boca para não completar a frase. — Desculpa, eu nem te conheço pra te tratar assim! — sorriu sem graça.

— Ah tudo bem... Estamos conversando há tão pouco tempo, mas parece que nos conhecemos há anos! — expressou.

Um silêncio se instaurou entre eles. Porém, foi cortado quando a mesma sentiu o celular vibrar. Era seu pai ligando para saber se já estava indo para casa. Estava de férias do trabalho, Pâmela sentia como se ele tivesse prazer em perturbá-la. Atendeu; ouviu algumas reclamações do mesmo, dizendo para que voltasse logo, pois era perigoso etc.

Ao desligar o telefone, sua expressão antes leve e animada, deu lugar a uma triste, pesarosa.

— Preciso ir embora. Meu pai está me esperando para fazer o jantar! — explicou ao rapaz. Depois, vasculhou a bolsa, a fim de encontrar seu dinheiro. — Vou só pagar o que comi e já vou...

— Deixa que eu pago! — interrompeu-a.

— Acho que quatro reais eu ainda tenho. — falou com um sorriso amarelo.

— Fui eu quem te convidei para tomar um café. Nada mais justo que eu pague! — retrucou. — Mas em troca, quero uma coisa... — olhou-o espantada. — Que tal me passar seu Facebook?

— Ah... Claro! — sentiu-se aliviada. — Procure por Pâmela Martins.

Prontamente, pegou o celular; digitou ligeiramente a informação.

— Qual destas é você? — mostrou o visor a ela.

Apontou seu perfil, o viu lhe enviar a solicitação.

— Não vá recusar, hein! — gracejou, arrancando-lhe um riso nasal.

— Até logo, Daniel! — beijou-o na bochecha.

— Até mais, Pâmela! — acariciou de leve seu ombro.

[x]

Após o jantar, aproveitou o dia livre da faculdade. Ligou seu notebook, viu a solicitação do seu salvador do Terminal Bandeira. Abriu um sorriso largo. Apesar de todas as reclamações que ouvira de seu pai, seu dia fora excelente e sentia como se fosse explodir de alegria.

Aceitou-o. Começou a ver suas fotos. Se vestido já era um deus grego, sem camisa era um anjo. Não demorou que recebesse uma mensagem dele.

“Oi. Como foi com o seu pai?”

Achou fofa sua preocupação. Respondeu-lhe de imediato. Sabia que dali em diante, nada seria a mesma coisa em sua vida.

Reencontraram-se novamente dias depois, no Parque do Ibirapuera**. Caminharam por quase toda sua extensão, até que decidiram se sentar em frente a um lago, cansados de tanto andarem.

Conversaram por mais alguns minutos; até que após um silêncio longo, se aproximou e a beijou, calma e vagarosamente. Retribuiu sentindo seu corpo tremer, o estômago revirar. Era a primeira vez que beijava alguém depois de um ano e meio. Nem se lembrava ao certo como fazer aquilo.

Ele era a terceira pessoa que beijava em sua vida. Notou que seria especial.

Em menos de duas semanas, já assumiram o namoro; apresentou-o aos pais. No começo, Fábio se enciumou. Todavia, logo percebeu o quanto gostava de sua filha e se sentiu em paz ao entregá-la em suas mãos.

Divertiam-se muito. Foram a parques naturais e de diversões; praia; outras cidades; quase toda semana jantavam fora.

Eram perfeitos um para o outro. Cheios de sincronia e amor. Um casal invejável a outras pessoas.

Pâmela está com os olhos inchados de tanto chorar, relembrando essa época ao lado de Thiago. Não sabe dizer quando, nem como o relacionamento começou a desandar. Talvez já estivessem fadados a fracassarem.

O vizinho apenas se aproxima dela e a abraça, dando-lhe o apoio necessário para chorar.

— Eu sei que o que viveram foi muito intenso. Mas não pode se prender ao passado. Ele mudou. Quer te manipular, te ter como propriedade. Você não merece isso.

— Você já amou alguém tão intensamente que pensou que sufocaria caso essa pessoa não existisse mais?

Sorri de lado. Solta-a, respira fundo. Levanta-se, caminhando em direção ao seu quarto.

— Vou te mostrar uma foto de Bruna!

 


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Notas finais do capítulo

* Terminal Bandeira é um terminal de ônibus localizado no centro da cidade de São Paulo. *
** O Parque Ibirapuera é o mais importante parque urbano da cidade de São Paulo, um ponto turístico da mesma. **

"Então, foi aí que o problema começou. Aquele sorriso. Aquele maldito sorriso...": http://gifimage.net/wp-content/uploads/2017/08/stephen-amell-gif-6.gif



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