Quando voltarmos para casa escrita por DarkAurora


Capítulo 6
O confronto final e a academia de boxe


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo ficou um pouquinho maior, me perdoem. Tive que adiantar alguns acontecimentos adasjdasd.
Boa leitura ♥



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Zed

— Não gosto disso.

— De usar terno ou do fato de estarmos indo para uma festa? – Syndra riu com o desconforto de Zed.

— Dos dois, para ser exato.

Então eles entraram no hotel, passando por seguranças e por uma porção de pessoas muito bem vestidas.

— Por que a festa é em um hotel? Que eu saiba, hotéis servem para dormir. Ou para outras coisas mais divertidas, se é que me entende. – Ele perguntou, num tom irônico, fazendo Syndra revirar os olhos.

— O hospital onde eu trabalho é particular. E o dono possui este hotel cinco estrelas também. Além disso, este saguão é ótimo para festas.

— Agora eu entendi porque você gosta disso. Tudo parece ser mais caro do que órgãos no mercado negro. Aliás, nesta dimensão também existe um mercado negro de órgãos?

— Sim, existe, e não, eu não me importo com a decoração ou com as comidas caras. Gosto de ver as pessoas felizes, interagindo e se divertindo. – Ela respondeu, enquanto atravessavam o salão em direção a uma das mesas vazias.

— Como assim você gosta de ver? Você não participa?

— Não muito. Não sei se consigo, mas também não me importo. Só de estar aqui já me sinto bem.

Zed não a compreendia. Dos dois, ela era a que mais se parecia com um humano da dimensão em que estavam.

Os dois beberam vinho e conversaram por um tempo, até começarem os discursos dos funcionários principais do hospital. Agradecimentos de fim de ano foram misturados com motivações pelo dono do hotel. Depois dos aplausos, as pessoas começaram a se divertir de verdade: músicas mais agitadas foram colocadas e as batidas com álcool foram servidas.

— Você precisa experimentar a batida de morango! – Syndra levantou correndo e arrastou Zed consigo até o bar, do outro lado do salão.

— Então é isso o que eles fazem em uma festa? – Ele perguntou, enquanto esperavam pela bebida.

— Eu acho isso lindo. Olha como essas pessoas estão se divertindo!

— É, mas... você está?

— Você quer tanto assim ir embora?

— Não é isso. Se você estiver gostando, eu fico.

Syndra pensou por um instante e não respondeu. Apenas pegou o copo de batida e esperou para ver se ele ia gostar.

— Horrível.

— O quê?! – Ela arregalou os olhos, indignada.

— Um copo de Whisky, com gelo. – Zed pediu ao atendente do bar, enquanto jogava a batida no lixo.

— Você é estranho. Whisky é horrível.

— O gosto não é muito bom, mas tenho certeza de que a festa vai ficar melhor depois dessa dose. Você devia beber também. – Ele ofereceu o copo para ela.

 

 

— Ok, agora chega! Syndra, me dá esse copo! – Zed parecia uma babá tomando conta dela.

— Não vou entregar nada!

— Inferno, o digníssimo Jake tinha que dar as caras bem na hora que eu te ofereço bebida! As pessoas estão olhando, vamos para fora, agora!

Então ele saiu puxando-a pelo braço, mas tomando cuidado, porque Syndra mal conseguia caminhar. Os dois atravessaram as portas de vidro, entrando na varanda do hotel. Zed a colocou sentada em um banco de madeira, na esperança de que ela parasse quieta por algum tempo.

— Você só me dá trabalho!

Ela ignorou o comentário e voltou sua atenção para dentro do salão. De repente, começou a chorar.

— Bosta. Me desculpe Syndra, era brincadeira. É normal beber em uma festa, relaxa. – Zed começou a ficar desesperado, sem saber o que fazer. Até que olhou para o salão e entendeu o motivo: Jake estava junto com a médica.

— Ele sabe que eu não gosto dela! E chamou ela para vir com ele. Jake é um imbecil!

— Você ainda gosta dele. – O ninja sentou-se ao lado dela.

— E você não está ajudando!

— Tudo bem, então vamos falar sobre algo que te deixe feliz.

— Gatinhos.

— O quê?!  - Zed virou-se para ela, processando o que tinha acabado de ouvir.

— Gosto de gatos. Eu queria um, mas não sei se tenho tempo ou jeito para cuidar.

— Seu bicho iria fugir assim que visse o seu modo demônio pela primeira vez.

Syndra revirou os olhos.

— E você, do que você gosta? – Ela perguntou.

— Não perco tempo com essas coisas.

— Qual é, deve ter algo que você goste.

— Matar pessoas. - Ele sorriu de forma diabólica.

— Estou falando sério.

Zed pensou. Ele realmente nunca teve muito tempo para “se divertir”.

— Gosto de observar a lua, eu acho. Principalmente sentado em cima de uma cachoeira. Tinha uma, em Ionia, que...

— Skogafoss. – Syndra o interrompeu, fazendo com que ele ficasse curioso. Como ela sabia?

— Como você sabe? - questionou.

— Você não mudou nada. Continua meio chato ainda.

— Sério? Nada mesmo?

Zed decidiu dar corda para que ela confessasse. Talvez o álcool circulando no sangue da mulher a fizesse dizer tudo. Ele sabia que os dois já haviam se conhecido antes, porém não conseguia se lembrar.

— Nadinha. Desde que eu te vi pela primeira vez e você tentou me matar, é a mesma pessoa. O cabelo mudou, mas o outro era melhor.

Ele assustou-se com a naturalidade que Syndra mencionou o fato de que tentara matá-la. Talvez ela houvesse o perdoado, ou estivesse bêbada demais para dar importância. Ele planejava descobrir.

— Por que me perdoou, Syndra?

— Eu já te contei isso. Você não lembra?

— Eu acho que não.

— Burro. É óbvio: você não teve coragem de me matar, porque é um franguinho, e então começou a me ajudar.

— Ajudar como?

— Com os Ionianos. Eles queriam me matar porque me consideravam uma ameaça. E então você me protegeu por um tempo. E nós...

Syndra parou de falar. Zed estava quase chegando no ponto que queria, ela não poderia parar agora.

— Nós o quê? – Ele tentou incentivá-la.

— Nós não. Eu. Me apaixonei por você e.... nossa, olha aquela mulher caindo ali dentro!

— É sério, Syndra, foco. Você o quê?

— Me apaixonei. Você não era a pessoa horrível que as pessoas tanto falavam.

— E o que eu fiz? – Ele teve medo. Não conseguia se lembrar, e tinha quase certeza que havia magoado a mulher.  

— Ué, você disse que estava se sentindo estranho, que nunca havia conhecido uma mulher como eu e.... acho que foi isso.

— E nós ficamos juntos? – Ele precisava saber mais, precisava conseguir recordar.

— Sim, claro. Você me levou na cachoeira, em algumas praias e estávamos felizes. Nunca me senti tão bem e não conseguia me imaginar sem você, até que... até que você acordou um dia e não me reconhecia mais, foi embora. E um dia nós nos encontramos sem querer, e eu me apaixonei de novo. Você também, eu acho. Esse ciclo ficou acontecendo por um bom tempo. Eu sentia que precisava parar, aquilo não me fazia bem. Só que eu nunca consegui.

Zed pensou por um tempo. Isso explicava as memórias que ele via constantemente.

Algumas lágrimas desceram dos olhos de Syndra. Só que, dessa vez era diferente, ela estava chorando sem fazer drama. Era possível perceber que Zed a machucava mais do que Jake.

— Todas as vezes que nos conhecíamos de novo você estava igual, Zed. – Ela continuou, depois de respirar fundo. – Sempre cuidou de mim e me deu o apoio que eu nunca tive. E parece que você está exatamente igual antes, não mudou nada. Acho que eu nunca deixei de amar você.

Ela começou a chorar mais, então Zed a abraçou.

Ele queria pedir desculpas por tudo, mas não tinha certeza se as doses de whisky iriam permitir que ela se  lembrasse de tudo no dia seguinte. Então decidiu esperar, falaria com ela outra hora.

Quando se afastaram, estavam com os rostos perto demais um do outro. E Syndra aproximou-se lentamente.

— Não, você não quer isso. – Zed chegou alguns centímetros para traz. Ele queria, porém não conseguiria magoá-la de novo. – Syndra, eu não quero magoar você de novo.

Ele colocou a mão sob a dela, tentando passar algum conforto.

— Não, está tudo bem. Eu preciso ir ao banheiro. – Ela respondeu, depois de alguns segundos em silencio.

Então Syndra levantou-se e foi caminhando com dificuldade até o banheiro feminino.

Zed aproveitou o momento sozinho e ficou de pé, andando de um lado para o outro, pensando no assunto. Ele deveria controlar a Sombra, não o contrário. Ele quem deveria decidir o que é importante para ser lembrado ou não.

Sentiu raiva de si mesmo e arrependeu-se por ter desafiado seu mestre e por ter buscado poder.

Sua mente foi ocupada por milhares de pensamentos e, de repente, a dor de cabeça voltou. Mas desta vez estava pior do que antes, mal conseguiu parar em pé. Colocou as mãos na cabeça, enquanto fechava os olhos com força. Quando os abriu, eles estavam vermelhos, brilhando mais do que o normal, apesar das lentes de contato. Era a Sombra lutando contra as vontades de seu corpo.

Caído no chão, sentiu a presença de alguém na varanda. Pensou que era apenas alguém da festa vindo perguntar se estava tudo bem, mas, quando levantou o rosto, pôde ver com clareza um rosto que não via sem máscara há anos: Shen.

— Então é ela. Esta é a mulher que conseguiu dar trabalho à Sombra, que fez o ninja mais temido da Runeterra baixar sua guarda e ficar vulnerável.  – Shen apontou com o rosto para dentro do salão e, quando Zed olhou através das portas de vidro, viu Syndra se divertindo com algumas mulheres. – Eu não vou criticar, ela é realmente impressionante.

— Por... favor... não a machuque. – Zed disse com dificuldade, a dor em sua cabeça estava piorando.

— Não se preocupe, não sou como você. Sabe, é realmente hilário te ver caído desse jeito. Não parece ser temível.

Os dois ficaram em silêncio por poucos segundos, então Shen continuou:

— Ele foi um pai para você, te criou como se fosse meu irmão. E você não hesitou na hora de matá-lo. Tudo isso por poder?

— Sabe o quanto eu me arrependo, Shen.

— Eu acho que não. Você tem o maior poder que um ninja poderia ter. Por que se arrependeria?

— Você fala como se fosse fácil conviver com isso.

— VOCÊ ESCOLHEU ISSO! VOCÊ MATOU ELE, FOI EGOÍSTA E MERECE CADA GOTA DE SOFIRMENTO QUE ISSO TE TROUXE! – Shen não conseguiu conter sua raiva e aumentou o tom de voz.

— Eu sei. E não há um dia em que eu não pense em voltar atrás. Quer a droga da Sombra para você? É simples, é só me matar. Nosso mestre ia passá-la para você, de qualquer jeito. – Zed começou a levantar-se do chão, devagar e com certa dificuldade.

— O quê?

— Ah, você não sabia? Como acha que eu consegui a Sombra? Abrindo aquela droga de baú proibido? O mestre tinha a Sombra, Shen. E mentiu para nós dois. Na época eu não podia permitir que você adquirisse tal poder e eu não.

— Você está mentindo.

— O baú era uma farsa. Quando eu abri, encontrei pergaminhos e aprendi a trabalhar com sombras. Mas o espírito não pode ser guardado em um objeto.

Shen levou certo tempo para processar a informação. Tinha sido enganado a vida toda por seu pai, que dizia que ninjas não deveriam mexer com as técnicas proibidas ou tocar no baú, onde a Sombra supostamente estava aprisionada.

Zed olhou para o salão novamente e estremeceu quando reconheceu Akali, num vestido longo e verde, caminhando na direção de Syndra. Não pensou duas vezes antes de sair correndo, com dificuldade, na direção das duas.

Ele seguiu por outro caminho, camuflando-se no meio das pessoas, e puxou Syndra para um canto.

— Precisamos ir. Agora.

— Qual é, para de ser sem graça! A festa acabou de ficar mais legal. – Ela protestou.

Então ele saiu, puxando-a pelo braço. Quando chegaram na rua, percebeu que sua dor de cabeça estava passando.

— Pode me explicar o que está acontecendo? – A mulher perguntou, enquanto passava as mãos pelos braços, tentando livrar-se do frio.

— Um velho amigou veio me visitar. Agora corre.

Syndra olhou para trás e viu um homem com um terno preto, acompanhado por uma mulher de vestido longo.

Os dois dobraram algumas esquinas até chegarem em uma rua pouco movimentada. Zed parou, segurando a mulher pelo braço.

— Eu preciso que vá para casa. Mas não sozinha, chame um taxi, você não está em condições muito boas. O problema deles é comigo e eu me sentiria bem sabendo que você está segura.

— Não vou deixar você aqui.

— Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Zed falou sério, ele não tinha tempo para ficar discutindo com ela.

Syndra hesitou por um tempo, mas depois saiu correndo pela neve. Quando Zed a perdeu de vista, virou-se e esperou por Shen e Akali. Ele não estava armado, portanto enfrentaria a dupla apenas com as mãos. O único problema é que, desde que havia começado a morar com Syndra, tinha diminuído a frequência de seus treinamentos.

A dupla levou dois segundos para alcançar Zed parado no meio da rua.

— Você é um covarde. – Shen disse, assim que avistou o ninja.

— Vocês iam matá-la. E ela não tem nada a ver com isso. – Ele respondeu.

— Eu não ia tocar na sua namoradinha. Ela era só uma garantia de que você não fugiria desta vez. Agora, vamos ao que realmente interessa. – Akali manifestou-se, enquanto retirava do vestido duas kamas.

— Guarde-as. Ele está desarmado, nós ainda temos honra. – Shen ordenou e a mulher obedeceu.

A luta começou quando Akali foi correndo na direção de Zed que, mesmo sem treinamento, ainda conseguia vencê-la.

— Você não merece o poder que possui. Eu vou arrancá-lo de você. – Ela gritava, enquanto tentava, de todas as maneiras, atingir o ninja.

As coisas ficaram mais difíceis quando Shen entrou no meio. Zed movia-se pelas sombras, mesmo assim Shen conseguia acertá-lo.

Akali investiu junto com parceiro, porém foi jogada violentamente para trás, caindo na neve. Quando se levantou, a primeira coisa que viu foi um policial saindo de uma viatura, indo abordar o trio. Levou um segundo para que o oficial estivesse caído no chão, nocauteado por ela.

Alguns metros à frente, Shen continuava tentando acabar com Zed. Porém era noite e as sombras formadas dificultavam o processo.   

Depois de algum tempo, Zed ficou esgotado. Não tinha mais energia suficiente para mover-se pelas sombras ou para lutar com a dupla. Aos poucos ele foi tomando golpes e então, quando caiu na neve, cercado pelo seu próprio sangue, Akali saiu do combate, deixando Shen finalizá-lo.

— Parece que a sua preciosa Sombra não tem tanto poder aqui. E sem ela você não é nada. – Shen disse, enquanto encarava o ninja.

— Você foi cegado pelo seu ódio, irmão. – Zed começou a falar devagar, com dificuldade, e Shen desmoronou psicologicamente ao ser chamado de “irmão”. – Me arrependo muito das coisas que fiz, mas um ninja não morre sem lutar. Eu ainda sou um mestre. 

Quando ele terminou de dizer, seus olhos mudaram de cor. As lentes foram inúteis, eles brilhavam num tom escarlate, de forma mais forte do que quando Zed estava no saguão do hotel. Seu rosto mudou o tom, ficou sério, inexpressivo. A Sombra havia assumido o controle.

Com uma mão, ele jogou Shen na parede de um dos prédios da rua.

— Eu avisei – Akali disse, enquanto ajudava o parceiro a se levantar.

Os próximos dois minutos foram feitos de pura catástrofe: Akali e Shen tentaram, inutilmente, acertar Zed, que os jogava para trás com apenas uma mão e movimentava-se com muita facilidade pela escuridão. A rua estava sendo completamente destruída, sorte que estava tarde e o local não era muito movimentado.

Chegou um ponto onde não era possível distinguir qual sangue pertencia a qual ninja. A neve estava completamente manchada.

Akali foi obrigada a pegar suas kamas.

Zed quebrou uma das lâminas da mulher com facilidade, enquanto, com a outra mão, segurava-a pelo pescoço. Quando ele a soltou, ela caiu, quase inconsciente.

Então, Zed virou-se para Shen, que, apesar de cansado e muito machucado, não hesitou diante do mestre das sombras.  

— Era para você ser o mestre. Mas agradeço por não ter sido. Zed não é fraco como você. – Era a própria Sombra quem estava falando, enquanto aproximava-se de Shen com uma kama em mãos. Pretendia matá-lo.

De repente, Zed foi jogado na parede por uma força familiar. Não houve tempo para que ele sequer encostasse no irmão. Com o impacto,  voltou a si e seus olhos voltaram ao normal, porém ele não conseguia lembrar-se de nada do que tinha feito desde o momento em que permitiu que a Sombra assumisse seu corpo. Olhando o caos e as poças de sangue ao seu redor, deduziu o que havia acontecido.

— Vocês podem parar com essa palhaçada? – Syndra estava parada, no meio da rua. Suas esferas até tremiam, refletindo um estado emocional descontrolado. Ou demonstrando o quão bêbada ela estava.

— Eu estou falando com vocês! – Vendo que eles não diriam nada, ela continuou, aumentando o tom de voz. – Qual é, querem mesmo continuar essa briga besta até aqui? Estamos em outra dimensão e, mesmo se estivéssemos em casa, vocês se matarem não vai resolver nada. Não podem apenas tentar viver como pessoas normais? Zed, vamos para casa. Agora! – Syndra falava com tanta raiva que sua voz saiu duplicada e algumas lâmpadas dos postes em volta foram quebradas, somente com a aura irritada dela. 

Shen franziu o cenho. Ela era mandona e até corajosa, difícil de ser controlada. Olhou para o lado e viu Zed levantando-se, com uma das mãos na cabeça. Cambaleando, ele seguiu a mulher como um cachorrinho e era difícil dizer quem estava em pior estado: o mestre das sombras, machucado, ou Syndra, que ainda estava sob os efeitos do whisky.

— Eu disse para você ir embora, Syndra.

— Cala a boca e anda logo. – Ela não queria discutir, estava nervosa demais e o ninja resolveu apenas segui-la.

Quando a dupla sumiu, Shen arrastou-se até Akali. Ela estava deitada, olhando para cima, estática.

— Nós falhamos. – Ela disse, sem tirar os olhos do céu escuro.

— Eu sei. Mas acho que isso não importa mais. Aquela mulher doida tem razão. – Shen suspirou. – É melhor irmos para casa.

 

    

    Vi

Tristana quis ficar no carro. O que foi uma boa ideia, pois Gnar estava elétrico aquela manhã e Teemo quis que ele ficasse também. 

Atravessaram a rua os três: Annie, Teemo e Diana, rumo à academia de aulas de boxe. Bateram na porta de vidro, mas não foram atendidos. De dentro do estabelecimento, saía um rock pesado acompanhado com algumas batidas em um saco de pancadas.

Teemo tentou a ilustre façanha de empurrar a porta, que, para a surpresa do trio, estava aberta.  

Quando entraram, viram uma mulher, de cabelos curtos e rosas, destruindo um saco de pancadas. Ela não notou a presença deles, até que Teemo arrancasse o rádio da tomada.

— Odeio esse tipo de música. – Ele resmungou.

— Quem foi o infeliz que... – a mulher parou de dar socos no saco de pancadas, mas entrou em choque quando reconheceu o trio. – Ah, merda. A academia está fechada, o que vocês querem?

— Vi? Você sabe quem somos? – Diana perguntou.

— Claro que sim. – Ela disse, enquanto pegava uma garrafinha de água e secava o rosto com uma toalha. – Você é a babaca que destruiu a aldeia do Sol. Aquela é a menina esquisita que morava na floresta e tinha um urso gigante. E ele, bem, ele era mais peludo e bem menor, mas ainda consigo reconhecer esse rosto de capeta. O trio mais agradável que já colocou os pés na minha academia.

— Ok, primeiramente, eu não destruí a aldeia do Sol. – Diana tentava ser paciente, enquanto Vi olhava para ela com uma cara de “sério? ”. – Tudo bem, talvez eu tenha destruído sim, mas não foi por querer.  Enfim, não é por isso que viemos aqui. Nós precisamos conversar.

 

 

Enquanto Diana fazia o seu discurso motivacional baseado em frases como “precisamos de você” e “há uma forma de voltar”, Annie e Teemo estavam sentados na beirada do ringue de boxe. A garota ainda estava visivelmente confusa.

— May é a única que acredita em você? – Teemo perguntou, referindo-se à mulher que cuidara de Annie desde a época do orfanato. 

— Na verdade ela é a única para quem eu contei. E ela me viu também.

— Como assim?

— Quando fugi da polícia, no dia em que viemos parar aqui, eu não estava entendendo nada. Estava frio, a única coisa que me preocupava era manter a chama acesa em minhas mãos. May me encontrou e ela viu que eu conseguia usar magia. Acho que ela não acreditou muito, mas eu ainda não sabia que precisava esconder meu poder e continuei usando-o. Depois que a convenci sem querer, ela me ensinou a controlá-lo, até que eu o perdi. May como uma mãe para mim, mesmo não podendo me adotar.

— Ela não podia adotar você?

— Na época ela tinha três filhos pequenos, seria complicado adotar mais um. Cuidou de mim pelo orfanato.

— E como foi a despedida? – Ele perguntou, referindo-se ao momento em que Annie fora despedir-se de May antes de partirem.

— Um pouco triste, eu acho. Mas ela entendeu. Me desejou boa sorte e disse que, caso eu quisesse voltar, ela ainda estaria de braços abertos.

Teemo sorriu de canto, e Annie olhou para ele, confusa.

— Ela gosta mesmo de você. – Ele explicou - Deve ter se sentido em casa desde o dia em que ela te encontrou.

— Não funciona assim. Gosto dela, mas nunca senti que pertencia a este lugar. Tris também gosta de você e, aparentemente, você nunca se sentiu em casa.

— Não é gostar nesse sentido. E, particularmente, Tris só fez eu me sentir desconfortável e culpado.       

— Então você percebeu?

— Não sou tonto, Annie. Eu só finjo que não sei. Talvez assim a machuque menos do que dizer que gosto dela como minha irmã.

— Vocês dois nunca...?

— Não. Ela nunca tentou nada, nem me disse nada. Guarda tudo para ela, acho que essa é a pior parte. Ela precisa falar com alguém.

— Talvez você devesse falar com ela, acho que seria menos pior. Você é compreensivo, Teemo, vai acabar ajudando Tris a superar isso tudo.

Ele olhou para Annie, pensando. Ele tinha medo da reação de Tristana, pois realmente se importava com ela.

— Acho que eu vou tentar. – Respondeu, fazendo com que Annie sorrisse.

 

 

No escritório da academia, Vi estava tensa após ouvir toda a história. Diana, dando um tempo para que a mulher tomasse sua decisão, observou toda a pequena sala onde estavam.

Na escrivaninha, ao lado de alguns papéis, havia um porta-retratos, com um desenho de Caitlyn.

— Você sente falta dela, não é? – Perguntou.

O problema era que Vi, mesmo sendo durona, não conseguia falar sobre o assunto.

— Eu amei ela. Na verdade, ainda amo. – Vi levantou-se, caminhou lentamente até o desenho e o segurou nas mãos – Ela fez com que eu conseguisse passar pelo portal: viu que ele estava fechando e me empurrou, ficando para trás. Eu quero, mais do que tudo, vê-la novamente. Mas se ela estiver... estiver morta, eu prefiro não voltar.

Quando ela levantou o rosto, Diana viu uma lágrima ameaçando cair de um de seus olhos. Pôde sentir a dor dela e acabou lembrando-se de seu próprio passado, quando também teve um caso com uma mulher.

Respirou fundo, esquecendo as memórias que invadiam sua mente, e disse:

— Ela está viva. Eu te garanto, Vi. Mas eu não tenho muito tempo para esperar você tomar uma decisão.

— Tudo bem. – Vi se recompôs em um segundo. – Eu vou.

Depois de algum tempo, ela estava carregando uma mala, fechando as portas de vidro de sua academia de boxe. Suspirou e começou a andar, junto com os três, rumo ao carro.


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Notas finais do capítulo

Sobre Skogafoss:
Eu estava pesquisando sobre as principais cachoeiras do mundo e encontrei essa, que acho maravilhosa. É um nome bem estranho, mas não tenho criatividade suficiente para inventar outro jkkk.
Enfim, foi isso, espero que tenham gostado.
Até o prox capítulo ♥



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