Virando do avesso escrita por calivillas


Capítulo 5
Uma atração estranha




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Ele era um dos pilotos das motocicletas, Júlia sentiu-se um tanto tonta quando teve a impressão, que ele olhou para ela e sorriu, o mesmo sorriso travesso daquela manhã. Confusa, ela quis ir embora, rapidamente, mas acabou sendo conduzida pelo público, que saía no final do espetáculo, andando em passos lentos para fora da tenda do circo. Já estava quase alcançando a saída, quando ela sentiu uma mão segurar seu braço, olhou assustada, para ver o mesmo rapaz, ainda vestido com o macacão do espetáculo, com seus olhos ardentes e seu lindo sorriso, que iluminava o rosto dele.

— Oi, eu sou Ricardo – ele disse para ela que o olhava admirada, ainda a segurando pelo braço, os dois parados, atrapalhando a saída.

Então, ele a puxou de lado, para liberarem o caminho, ela pensou em fugir, no entanto, não conseguiu, naquele momento, sentia um misto de surpresa e curiosidade.

— Meu nome é Júlia.

— Eu vi você hoje de manhã.

— Eu sei.

— Você pode ficar para a gente conversar?

— Não sei.                                                

— Júlia!

Ela ouviu alguém chamar, olhou assustada para o lado, e viu Maria e o marido se aproximando, Ricardo soltou braço dela.

— Venha amanhã depois do espetáculo, eu quero falar com você – Era quase uma ordem

— Eu não sei.

— Eu estarei esperando.

Depois ele se afastou bem depressa, enquanto o casal chegava mais perto, parecendo não entender o que estava acontecendo ali, mas Júlia não se esforçou em explicar.

— Júlia, você veio assistir ao espetáculo? – Maria perguntou, um tanto desconfiada.

— Decidi na última hora, logo depois que vocês saíram. Estava cansada de ficar sozinha naquela casa. Venham! Eu dou uma carona para vocês de volta – Júlia deu um sorriso nervoso, mas antes de se afastar, olhou para os lados, procurando por Ricardo, mas ele não estava mais por perto.

Voltaram para casa comentando o espetáculo, mesmo o marido de Maria, um homem de poucas palavras, havia ficado impressionado com as velozes motos no globo da morte, enquanto Julia não conseguia parar de pensar naquele moço,

Na manhã seguinte, Júlia acordou sobressaltada, com a respiração ofegante, sentindo seu corpo em chamas, como nunca sentira antes, depois do sonho que tivera com Ricardo. No sonho que Júlia recordava muito bem, ela observava Ricardo com a mulher de cabelos vermelhos transando atrás da árvore, então ele olhou diretamente e sorriu, sedutor, e naquele exato momento, era ela que estava nos braços deles, sentindo seu corpo contra o dele, a aspereza do tronco da árvore nas suas costas, sua respiração quente no pescoço dela, os braços fortes deles a sua volta e o movimentos ritmados e fortes dos quadris deles contra o dela e todo o prazer que aquilo a proporcionava.

Não entendi o porquê aquilo estava acontecendo com ela, esse descontrole, essa curiosidade, esse tesão que desconhecia.

Para se acalmar, resolveu aproveitar o friozinho do começo da manhã, dando uma boa caminhada, ajudaria espairecer, gastar toda aquela energia acumulada. Decidiu que iria pelo mesmo caminho do dia anterior, mas não chegaria até o lugar, onde tinha visto Ricardo e a mulher desconhecida, não pretendia ter outra surpresa como aquela, principalmente, depois de conhecê-lo.

Ainda, não havia resolvido se iria ao circo aquela noite, encontrá-lo. Porém, não podia negar que estava com bastante vontade, havia uma atração estranha entre eles, mas ao mesmo tempo tinha medo daquela circunstância, dessa sensação que nunca experimentou, não sabia o que poderia acontecer ou se queria ou mesmo estava pronta para isso.

 - Como você está hoje?

Enquanto caminhava, uma voz chamou sua atenção, Júlia olhou para o lado e viu o mesmo homem do dia anterior se aproximar da cerca da sua casa, ela parou para falar com ele, que estava sem camisa, suado e bronzeado por estar trabalhando no jardim.

— Bem melhor, obrigada. Não estou acostumada a correr daquele jeito.

— Então, não exagere hoje, já está muito quente.

— Pode deixar, não vou correr, só caminhar. Tenha um bom dia

— Um bom dia para você também!

Ela voltou para a sua caminhada e ele para o seu trabalho no jardim.

Finalmente, após andar e meditar, decidiu que não voltaria mais ao circo, passaria uma noite tranquila em casa, lendo, vendo TV, sozinha. Sua vida já estava complicada demais para ela arranjar mais problemas.

Apesar da decisão, sua noite foi longa e agitada, demorou muito a dormir, revirando-se na cama, sua cabeça não parava, pensando em Leandro e no rapaz do circo e sua incomoda fascinação por ele, até que conseguiu adormecer.

O dia seguinte era um domingo, Júlia acordou tarde, com preguiça e passou o dia todo assim, entediada, mas já no meio da noite, olhou para o relógio, pensou que o espetáculo do circo acabaria em 30 minutos, então como se ouvisse uma flauta encantada, tirou o anel de noivado que havia esquecido no dedo e o colocou dentro da bolsa, pegou as chaves do carro e foi até a praça. Ainda ficou um tempo dentro do carro estacionado, ainda em dúvida, então, saiu e andou vagarosamente em direção contrária os espectadores, que já deixavam o lugar, no final do espetáculo. Ela estava insegura, cheia de receios, sem entender o que fazia ali, já estava preste a dar meia volta, mas naquele momento, Ricardo surgiu e parou bem na sua frente, ainda com a roupa do espetáculo, com seu sorriso encantador e seus olhos cheios de promessas.

— Pensei que você não viria.

— Bem, eu estou aqui.

— Está mesmo. Isso é muito bom. Vem, deixa eu trocar de roupa para a gente poder conversar.

E sem cerimonias, Ricardo a segurou pela mão, guiando-a pelo meio das pessoas, para o perímetro do circo, onde ficava os trailers dos artistas estavam dispostos um do lado do outro, tal qual uma pequena vila, cujos moradores retomavam sua vida cotidiana, alguns já de roupas trocadas, estavam sentados do lado de fora, comendo ou conversando. Enquanto passavam, Júlia sentia os olhares curiosos dos outros recaírem sobre ela, que não combinava com ambiente. Ricardo andava feliz, segurando sua mão, sem se importar, falando com todos, apresentando-a e ela respondia os cumprimentos com um sorriso sem graça.

— Aqui é meu trailer – Eles pararam em frente de um velho trailer prateado com detalhes vermelhos - Eu vivo aqui com o meu irmão. Ele já deve estar lá dentro. Então me espere aqui fora, que eu já volto – ele sorriu para ela e entrou.

 Lá dentro, Júlia pode ouvir Ricardo falar alto e brincar com o outro rapaz.

Sozinha, Júlia se sentou em uma cadeira dobrável, bem na frente da porta do trailer, pensando no que estava fazendo ali, se não devia ir embora, naquele momento, e esquecer tudo aquilo.

— Olhe! O que temos aqui! – Ela deu um pulo na cadeira, ouvir aquela voz.


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